Soulless escrita por SparklingBat


Capítulo 1
I dare you to face the dark paths of my soul


Notas iniciais do capítulo

"I dare you to face the dark paths of my soul" - Eu te desafio a encarar os caminhos escuros da minha alma.



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Calor... Fogo... Dor.

A jovem mulher dormia em seu sono inquieto, o mesmo sonho. O mesmo sonho que tivera após a primeira semana que sucedeu o incêndio, tempo que passou sem ao menos dormir. Agora, o maldito sonho tinha a audácia de se


repetir torturavelmente no inconsciente dela. Abriu os olhos negros, derramando uma lágrima solitária. Com o tempo, ela aprendera a sufocar os gritos que fugiam de sua garganta com a agonia daquela noite.

Sentou-se na cama em um movimento delicado, tomando cuidado para não fazer barulho. Olhou para a figura que dormia de bruços a seu lado com certo asco. Ele teria o merecido, eventualmente. Levantou-se e cobriu o corpo com seu robe felpudo, apertando-o contra si por conta da noite fria. A sacada estava aberta. Estranho... Pelo que se lembrava, tivera o bom senso de fechá-la antes de dormir, e fora a última a se deitar.

Direcionou-se ao espaço aberto, para interromper a corrente de ar, quando, de relance, captou um reflexo branco no parapeito. Era um pedaço de papel. A passos lentos, aproximou-se e estendeu o braço preguiçosamente para pegá-lo.

O papel era retangular e bem cortado, com arabescos decorando os quatro cantos. Ela reconheceu de imediato – era o papel de carta que sempre mantinha em sua pasta, quando era adolescente. Presente de seu pai. Seu coração pareceu ter parado de bater, por um instante. Em seguida se acelerou. Os papéis haviam sido queimados no incêndio.

Resolveu ler a frase que se instalava no centro do bilhete em tinta escarlate.

“Algum dia, em algum lugar”

Seu melhor amigo e namorado na época, Cameron Richards. O seu Cam. O motivo pelo qual fazia todo um teatro para Luke e tantas outras pessoas. Balançou a cabeça, tentando afastas as memórias. Ela sabia que não conseguiria se segurar por muito tempo, não com a pegadinha que estavam lhe pregando. Guardou a nota em sua mochila de couro, que descansava sobre uma cadeira de mogno. Em seguida, voltou para a cama, mas desta vez o ruído da madeira sob o colchão acordou o homem a seu lado. Luke. Um verdadeiro filho da mãe, que achava ter o amor da garota.

– Lily, tudo bem?

– Tudo sim, amor – nojo. Muito nojo – Só fui fechar a porta da sacada. Volte a dormir.

Com um muxoxo, ele voltou para seu sono. Algo que não foi possível para nossa protagonista, entretanto. Ela fechou os olhos, as memórias vieram, as lágrimas silenciosas banhavam as bochechas macias.

Uma semana se passou, na mesma situação que se repetia desde que resolvera terminar o projeto que começara com Cam. Luke ia trabalhar para a praga que acabou com seus sonhos, enquanto ela pesquisava feito uma cientista ensandecida à procura de uma cura para o câncer.

Chegara o dia 31 de Outubro, o ‘aniversário’ do incidente. Fazendo uma viagem ao ano de 2007, estava uma festa linda. Ela, vestida de Christine Daae, ele, Erik, o Fantasma da Ópera. Bem irônico. O fogo começou.

Acordou mais uma vez durante a noite com a invasão da mesma corrente de ar – que desta vez preferiu ignorar, concentrando-se em espantar a visão do passado. Um perfume estranhamente familiar invadiu as narinas atentas, fazendo-a abrir os olhos alarmados.

Jenny...

Jen...

Uma voz rouca e masculina a chamou. Após um silvo pesaroso, resolveu levantar. Ninguém sabia seu nome verdadeiro. A entrada para a varanda estava entreaberta. Abriu o resto, esperando encontrar mais um bilhete.

Ao sair, no entanto, encontrou uma figura coberta por roupas negras, banhada pela luz da grande lua cheia. Era um homem. Sua pele assumia um tom prateado devido à iluminação, os cabelos cor de ébano eram razoavelmente longos e mal cortados, a face coberta por uma barba de alguns dias ainda por fazer.

Lily – agora Jenny, como antigamente – encarou os olhos azuis à sua frente.

Aqueles olhos.

Ela não pode deixar de piscar repetidamente e beliscar o próprio braço, certa de que finalmente se encontrava em um sonho, após perder-se entre tantos pesadelos. A imagem não sumiu. Ele realmente estava ali.

Ignorando o susto e o medo de estar enlouquecendo, atirou-se aos braços dele, sentindo-o segurá-la em um abraço apertado e pressionar os lábios no topo de sua cabeça em um beijo terno.

– Cam... – chamou-o com a voz fraca, antes de romper em um choro incessante.

– Shhh. Eu sei, eu sei. Farei tudo isso passar.

Ela estava tão bêbada com a felicidade, que nem ao menos notou quando o outro a soltou do parapeito, e enquanto caía livremente pelos sete andares do prédio, lançou um último olhar de desespero, antes de se misturar à escuridão das noites de Monte Carlo.

– Descanse em paz... – murmurou ele, com um sorriso preenchido por sua maldade melancólica estampado mo rosto.

Adentrou cautelosamente o aposento, resgatando a bolsa de couro que retia informações necessárias e perigosas, logo voltando para o lugar de onde veio.

Com uma agilidade quieta e quase felina, pulou de andar para andar, até chegar à simpática rua de pedras que se tornava sufocante no silêncio sepulcral.

Aproximou-se do corpo frágil estendido no chão e olhou para a pessoa agachada a seu lado, que examinava a situação minuciosamente como ótima perita criminal que era, envolvendo os
cachos ruivos em um coque malfeito no topo da cabeça.

– Foi um belo trabalho o que você fez. – a voz grave e sedutora saiu dentre os lábios carmim como a confissão de uma criança travessa sobre seu novo “plano infalível.”.

– Mereço um prêmio? – perguntou Cameron, arqueando a sobrancelha esquerda.

– Não seja tão ansioso, Richards, - levantou-se, revelando a silhueta feminina bem delineada. – temos muito trabalho a fazer.

– Amelia, Amelia... Controladora como sempre.

Ela entrelaçou os dedos compridos no pescoço do outro, e arranhou-lhe a nuca com as unhas negras e longas, levando uma mordida no lábio inferior como resposta.

– Que bom que me conhece, docinho. – sussurrou, de maneira irônica – Agora, ande logo, antes que alguém acorde.

Partiram pela noite, após Cam retirar as luvas de borracha que cobriam sua mão e jogá-las no bolso interno do sobretudo. Ele a descartaria mais tarde.

Caminhando, refletiu sobre tudo que fizera até o momento. “Ela sabe demais sobre o sistema”, repetiu a explicação que Amy lhe dera para tirar a vida da garota.

Sim, esse sempre fora seu plano, desde o início. Jenny Pensworth não confiava nas pessoas, e foi abrir uma excessão logo para a pessoa que acabaria com sua existência.

Ela era bonita, sem dúvidas, mas era muito doce. Intensa o suficiente para fazer qualquer coisa pelo amor de sua vida. A relação estabelecida com a indefesa Jen foi para descobrir tudo sobre os negócios de seu pai, dentre outros magnatas sujos espalhados pelo mundo.

Ele mesmo não era “limpo”, e gritaria isso aos quatro ventos, se necessário. De qualquer modo, era seu trabalho, sua vida. Não conseguia remoer suas entranhas por remorso como qualquer um por aí.

Não possuía uma alma para tal.






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Notas finais do capítulo

Heey! A minha primeira shortfic aqui. O que acharam? Eu gosto de comentários e críticas construtivas, só lembre de criticar com fundamento. Qualquer erro? Comente, e ficarei feliz em corrigir. Bem, comentem de qualquer forma. Adoro opiniões...!
Vou parar de enrolar.
Au revoir,
S.Bat.



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