Chase

Foram 24 horas de tensão. Obviamente tive insônia e ao encostar as pálpebras, tinha pesadelos. Mas o pior é que quando eu abria-as novamente e o pesadelo não acabava. Em consequência disso tive tanto pressão baixa quanto alta, além de desidratação.

Com o objetivo de diminuir o estresse, fui beber um copo d’água no corredor e é quando vejo Megan, sem aparelho algum, me parecendo extremamente saudável, indo em uma maca até a sala de exames cerebrais.

[...]

Eu não saí da frente daquela porta nem por um segundo se quer. Até que Megan sai, caminhando com o olhar perdido. Assim que ela me vê, vem correndo em minha direção e me abraça. Passo minha mão em seu cabelo e ela me aperta mais. Megan está trêmula. Não é difícil perceber que ela está assustada. Me afasto e nós ficamos nos encarando por um tempo.

Ponho minha mão em sua nuca e a puxo para mais perto. Vejo seus olhos se fecharem devagar e então a beijo.

Fraco, mas um beijo.

Assim que nossas bocas se afastam ela pousa sua cabeça em meu peito e suspira. Ficamos assim por um tempo até que pergunto o que aconteceu. Megan sorri fraco e começa a explicar:

– Bati minha cabeça com muita força duas vezes no mesmo lugar... Minha memória está muito fraca e eu vou começar a esquecer tudo com muita facilidade, e quando for mais velha, terei 75% de chance de ter Alzheimer. – Ela solta tudo aquilo como se tirasse um peso das costas. Depois de um suspiro, Megan completa – Eles vão me dar alguns medicamentos para ver se diminuem as chances disso acontecer, mas é pouco provável.

Logo um médico a tira da minha frente pedindo licença e leva-a para seu quarto. Fico parado no meio do corredor sem saber o que fazer. Me sento no mesmo banco e ponho minhas mãos na nuca.

Está mais do que óbvio que tudo isso foi minha culpa. Eu fui irresponsável. Além de dirigir após ter ingerido álcool, não prestei atenção na parte mais crítica da estrada de terra. Megan poderia ter morrido, Lia poderia ter morrido, Colin poderia ter morrido e até eu poderia estar morto agora.

Não sei como são os pais das meninas, bem provável que eles passem a me odiar, afinal, nos conhecemos há pouco tempo e eu já fiz essa merda.

Tudo bem, acidentes acontecem, mas não é nada fácil pensar que você mesmo poderia ter causado a morte de pessoas bem próximas a ti.

Me levanto e vou, meio sonolento, para meu quarto. Talvez agora que eu sei que Megan está “bem” eu consiga dormir.

Pff, quem me dera. As cenas do acidente passam na minha cabeça. Tudo está um caos. E foi tudo minha culpa.

Não sei como, nem quando, mas eu consegui dormir, e acordo com o meu medico chamando meu nome. Acabei de receber alta. Assim como os outros. Pego as minhas coisas e saio para o corredor. Os três sentados nos bancos de espera se levantam assim que me vêem. Caminho até eles sem jeito e ficamos nos encarando por um tempo. A sobrancelha de Colin tem um corte e sua bochecha está raspada. Lia tem um gesso no braço esquerdo, e Megan... Bem, o problema dela não está no exterior.

Sem conseguir me controlar começo a chorar e peço desculpas a todos.

–Eu causei isso.

–Chase, acidentes acontecem! – Colin fala me puxando para um abraço.

–Tu não pode se culpar por isso pelo resto da tua vida. Nós estamos bem! – Lia fala passando a mão em meu braço.

Os médicos aparecem nos corredores e falam que nossas famílias estão nos esperando, e fazem um sinal para nós acompanhá-los. Seguimos por uns três corredores ainda e assim que passamos pela porta automática, o pai de Megan se levanta e vem, não em direção a ela, mas sim em minha direção.

–Seu irresponsável! – Ele grita apontando o dedo para mim. – Você sabe o que poderia ter acontecido?! – É claro que sei, penso. – Você acha que depois dessa eu vou te deixar sair com a minha filha novamente? – Consigo ver Megan se apavorar e então começar a brigar com ele. Eu não ouço nada, apenas vejo os dois gritando. Ambos estão chorando. Sinto um braço em minha volta e vejo meus pais. Abraço eles procurando um refúgio e novamente escuto as palavras “Acidentes acontecem”.