Chorei tanto que acabei dormindo, e sonhei com minha familia. Todos estavam na sala da nossa casa. Minha mãe tinha os olhos vermelhos de tanto chorar e olhava para o nada, ela estava bem triste. Meu pai, ao seu lado, falava algumas coisas tentando consola-lá, a cicatriz em seu rosto havia sumido, mas tinha uma aparência abatida. E minha tia andava de uma lado para o outro falando chorando e preocupada. Até Fifi estava deitadinha em um canto olhando tudo, triste.

- Não, não, não e não. Como que deixamos eles pegarem ela? O que será que estão fazendo com Sofia? Será que ela ainda está viv...

- Não fale isso - disse meu pai apontando para minha mãe. - A casa é horrivel mas não a ponto de fazer uma coisa dessas. Sofia está bem, e vai ficar bem... eu espero.

- Eu sei, mas eu tenho medo. - minha tia se sentou no sofá e olhou para os meus pais. - Nem o dom dela ela sabe.

- Mas vai saber - falou meu pai com firmeza. -  E vai saber logo.

Meu sonho começou a acabar e uma voz bem distante me chamava. A voz era de Lara e ela falava pra eu acordar. Assim que levantei já era a hora do almoço. Tive que (infelizmente) colocar aquela roupa preta igual Lara usava, e ela me disse que já que não poderia usar maquiagem para pelo menos tentar arrumar bem os cabelos pra ter alguma coisa bonita na aparência. No fim ela que acabou arrumando os meus cabelos ruivos. A única coisa que mudou foi que ela enroulou-os no final, deixando-os cacheados só nas pontas. Confesso que gostei já que nunca fui boa em arrumar meu cabelo.

Enfim, entramos em um elevador. Aquele era o elevador 14. Lara me explicou que todo elevador 14 ia para o refeitorio e que se fosse pra eu ir pra lá meu "alarme" - um pequeno controle que ela me entregou, ele servia para nós sabermos pra onde ir e pra casa poder nos achar caso tentassemos fugir - iria aparecer um aviso e eu teria que procurar o elavador 14 pra poder ir pro refeitorio.  Lara também disse que pra todos os elevadores tinham um número e pra eu poder ir para lugares dentro da casa teria que decora-los.

- Olha pra minha cara que vou decorar esses números! - falei.

Lara riu.

- É muito chato eu sei - ela disse. - Mas nós temos que saber. E adivinha de quem foi esse ideia?!

- Sr.Thomas! - revirei os olhos.

- Logico que foi ele - confirmou Lara. - Parece que ele fez até um livro com todas as regras das casas que existem. Sr.Thomas é muito...

- Chato! - falei, e ela apenas riu.

A porta do elevador abriu e saimos no refeitorio, e foi naquele momento que eu senti falta da minha escola. O refeitorio era normal, mas os jovens que eram diferentes. Eram todos quietos, não falavam entre si, apenas comiam e bebiam, alguns estavam lendo jornais e livros.

- É assim sempre? - sussurrei para Lara.

Ela assentiu triste.

Fui até uma fila a minha esquerda e peguei meu almoço que era arroz, frango, batata frita ( na verdade, foi eu que escolhi a batata frita, não a mulher que colocava comida em nosso prato) e salada. Me sentei em uma mesa com Lara e mais três pessoas, um menino e duas meninas gemeas. E ver duas meninas gemeas me lembrou dos meus amigos gemeos. Tentei procura-los mas nem sinal de Edu e Vitor e muito menos e Pablo. Pensei em perguntar para Lara mas assim que abri e boca ela fez um sinal colocando o dedo indicador na boca: Silêncio.

Quando o almoço acabou entramos em um elevador de número 5, perguntei a Lara que número era aquele e ela disse que aquele elevador iria nos levar a biblioteca.

E que biblioteca. Era grande com prateleiras de madeira cheias de livros - não, Sofia, é uma biblioteca mas claro que não vai ter livros nela - de varias capas, de varias cores. No lado direito da biblioteca tinha mesas onde eu vi algumas pessoas lendo.

- Agora, - sussurrou Lara. - Precisamos pegar os seus livros para você começar as aulas.

- Sério? - perguntei. - Aqui é um lugar de herois e temos que estudar...?

- Também acho sem nexo, mas tente falar isso ao Sr.Thomas.

Cara, como eu odiava o Sr.Thomas.

Pegamos uns livros de matematica, inglês, e de outras materias. Entramos em um corredor e Lara me perguntou:

- E ai Sofia? Gosta de livros?

- Eu amo livros. Amo ler! - respondi.

- Sério? Eu também amo. Ler é muito bom.

- É, eu amo ler, mas eu também gostava quando a minha tia me contava historias. - falei.

- Sinto muito. - suspirou Lara.

- Por mais que a última historia que ela me contou eu não tenha entendido direito! - lembrei.

- Qual?

Contei a Lara a historia que me tia tinha me contado quando a coisa com voz horrivel - Martin. - chegou e queria me lavar embora. Quando terminei Lara estava palida e suava.

- Tá tudo bem Lara? Não gostou da historia?

- N-não, to b-bem - gaguejou ela. - É só que temos que ir embora logo, suas aulas vão começar.

Pegamos os livros e entramos no elavdor de número 8 que agora era o número para a minha sala de aula. Dentro do elavador perguntei:

- Mas o que você acha da historia Lara? Porque eu não entendi quando minha tia me contou. E também tentei entender e...

- Eu acho que a garotinha tinha coragem sim, ela não fugiu, ela... - Lara limpou uma lagrima que caia do seu rosto e se virou pra mim. - Chega desse assunto, vamos pra sua sala.

E saimos do elevador. Mas eu sabia que Lara me escondia algo, e eu suspeitava de quem ela era na historia.