505 escrita por A L Souza


Capítulo 9
Nove - Livre


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pessoal, tive bloqueio de escrita durante um tempo e não brotava nada. Enfim isso passou e por isso escrevi esse novo capítulo. Espero que gostem!



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Cartazes espalhados por toda a cidade. Após aquela estranha noite Anne acordou em seu quarto e tudo desapareceu do apartamento inclusive Peter e Emily. Anne encontrou-se numa situação solitária e depressiva. Sua mãe mesmo ausente na maior parte do tempo via que a filha se mantinha no quarto o dia inteiro. Todos os acontecimentos passavam pela mente de Anne, várias e várias vezes. Os acontecimentos conturbados finalmente começaram a fazer efeito em seu cérebro. Começava a incomodá-la. Tinha a impressão de todos eles a sua volta gritando seu nome. Apoiava o queixo nos joelhos sobre a cama e tapava os ouvidos só querendo que todas aquelas vozes parassem de rondá-la daquela forma.

   — Parem! Parem! — gritava se balançando para frente e para trás com os olhos fechados para não ver os fantasmas que lhe rondavam.

   Tudo foi silenciando no segundo em que gritou. Lágrimas desciam em sua face. Lágrimas de saudade, angústia e solidão. Anne estava de dar pena em qualquer um. Emagrecera bastante, olhos fundos e sem vida, cabelos e lábios ressecados. A pele pálida se confundia com os lençóis da cama. Olhava seu reflexo no espelho e podia enxergar Emily e Isabele atrás dela sorrindo. Mas no fundo sabia que aquilo só era sua imaginação, de certa forma sentia quando o espírito de Isabele realmente estava lá. O telefone tocou. Não se daria ao trabalho de levantar caso morasse sozinha, mas podia ser uma ligação para sua mãe.

   ­— Alô? — Anne surpreendeu-se com o próprio som da voz a qual nem se lembrava mais.

   — Anne? — a voz de Emily era abafada e parecia um sussurro.

   Os olhos dela se arregalaram ao ouvir a amiga.

   — Onde você se meteu? Procurei-lhe no clube, perguntei aos seus pais e ninguém sabia seu paradeiro. Onde você está?

   — Não posso lhe contar onde estou, mas só quero que saiba que estou bem. Diga aos meus pais que amo eles. Tenho que desligar agora.

   — Mas Emily...

   Já era tarde, Emily havia desligado. Anne colocou o telefone novamente no gancho. Ficou em pé um tempo até ouvir o barulho de algo caindo. Vinha do corredor.

   Abriu a porta e se deparou com a Senhora Madison caída de bruços no chão.

   — Senhora Madison!

   Anne correu até a senhora caída e antes que chegasse foi surpreendida. A velha num salto foi para no teto. Cravando as enormes garras. Num estralar de ossos virou a cabeça para as costas e os olhos negros encaravam Anne. Um sorriso malévolo revelava dentes pontudos e tortos. Uma língua malacafenta e enorme serpenteava da boca da velha e começava a ir à direção de Anne que estava caída ao chão.

   — Socorro!

   O grito de Anne foi seguido pela risada medonha da velha presa no teto parecendo estar possuída por algo. Anne começou a engatilhar de costas pelo chão enquanto a velha andava pelo teto quebrando as luzes e deixando uma escuridão atrás de si. Ela chegou às escadas. Levantou-se com agilidade e desceu os degraus correndo.

   O asfalto do estacionamento machucava seus pés descalços. O ar gelado da noite fazia seu nariz arder enquanto corria. Pisou num caco de vidro e acabou caindo ao chão. O pedaço de vidro entrou todo na carne do pé de modo que nem sangue saia da dilaceração provocada. Ralou as mãos ao apoiar-se no momento da queda. Olhou para trás e viu que a velha estava em pé na porta. Tirou o vestido e revelou as enormes asas de morcegos num rugido voraz e monstruoso, que fez a garota estremecer. Anne tomou impulso e levantou-se com dificuldade agora.

   — Socorro! — os gritos de pavor de Anne rondava o estacionamento, mas ninguém passava na rua para ajuda-la.

   Mancava todo o trajeto, agora o sangue começava a jorrar do seu pé e deixava um rastro de sangue o qual servia para guiar a fome do monstro. Anne virou-se e não viu nada. Uma risada vinha do alto e quando percebeu a criatura já descia em sua direção. Pousou a sua frente num impacto que jogou Anne para longe onde bateu a cabeça no chão. Todo o asfalto a volta da criatura se quebrou. Tinha um corpo estranho. A pele parecia ser composta por escamas marrons, os cabelos brancos e longos lembrava o que ainda tinha de humano naquilo. As garras eram gigantescas e a criatura também. Os olhos negros e demoníacos refletiam a imagem assustada de Anne no chão.

   Ela não tinha para onde correr. Estava encurralada. Mas não aceitava morrer tão facilmente assim.

   — Socorro!

   Bastou mais este grito para alguém que passava naquele exato momento na rua ouvisse. Um homem barbado de certa idade correu até Anne. Achou estranho ela estar gritando daquela forma.

   — O aconteceu? — o senhor agachou-se e examinou o pé de Anne. Ela estatelava de tanto chorar sempre olhando para cima.

   O medo daquilo era pior do que Anne sentiu por Peter. Um nó se formou em sua garganta e nenhuma palavra saia. Esquecera como falar. Não pronunciava uma palavra sequer.

   — O que aconteceu com você? — o homem perguntava a ela que nada fazia além de olhar para o céu — O que está olhando?

   Anne ainda trêmula apontou sobre o ombro dele e antes que pudesse virar o rosto, a criatura veio com tudo e enfiou as enormes garras nas costas no homem. Anne gritou o mais forte que podia. As veias de seu pescoço dilataram e seu rosto ficou vermelho enquanto as lágrimas quentes escorriam até seu queixo. O monstro carregou o corpo do pobre homem até o céu e com o contraste da lua no fundo Anne pôde ver a cabeça do homem ser arrancada.

   Mais uma vez gritou e nada aconteceu além de ter chamado a atenção da criatura que voava sobre o local rondado sua presa. Anne arrastou-se com dificuldade de volta para o prédio. O monstro veio numa grande velocidade na sua direção e arranhou suas costas, rasgando sua camiseta e sua pele como faca na manteiga. Um veneno era liberado nas pontas das unhas da criatura. Anne gritou de dor, mas continuou se arrastando. Subiu degrau por degrau e ganhou certo tempo enquanto a criatura voltava a sua forma de velhinha lá fora para poder entrar no prédio novamente e terminar de mata-la.

   O veneno da criatura começou a fazer efeito e a visão de Anne ficava embaçada e vagava de um lado para o outro. Seus braços e suas pernas começavam a ficar dormentes. Teve a vertigem de Patrick Weiss no corredor logo a sua frente com os olhos verdes e tranquilizadores direcionados para ela. Podia estar com raiva dele, mas sentia sua falta. Aqueles olhos reconfortantes fez Anne não se importar mais se morreria ali.

   Mas o que Anne via não era vertigem coisíssima nenhuma. Patrick Weiss realmente estava lá. Poderia matar Anne já que ele era o gato preto da velha, mas ele não faria isso. Anne apagou o meio do corredor e Patrick correu para ajuda-la. Tirou o moletom de capuz azul e jogou sobre ela.

   — Olha se não é meu gatinho querido! — disse a velha chegando ao corredor onde estavam.

   Os olhos semicerrados de Patrick levantaram-se da garota desacordada no chão e encararam a Senhora Madison com um ódio sem igual.

   — Você disse que não faria mal algum a ela! — lembrou Patrick.

   — Não posso fazer nada meu querido, estava sem comer a dias e sabe como a espécie dela é saborosa?

   A risada sarcástica dela deixou o sentimento de ódio de Patrick ainda mais. Mas ele estava em vantagem. Ele revelou a mão que escondia atrás das costas. Segurava uma lâmina arredondada, com uma luz da mesma cor verde de seus olhos, lembrava um bumerangue. O sorriso no rosto dela desapareceu no mesmo instante em que ele revelou a arma.

    — Engraçado seu sorriso sumir tão facilmente quando eu mostrei isso!

    — Onde o encontrou? — a voz da velha ficara mais tensa e contida.

    — Não esperava que encontrasse, não é? — Ele sorriu e começou a brincar com a arma no ar — Aproveitei somente esta distração para encontrar a soiar num compartimento secreto, debaixo do chão da sala. Não tinha nenhum lugar melhor?

    — Me devolva agora isso!

    — E ficar mais cem anos preso a você? Nem pensar!

   A velha começou a transformar-se ali mesmo no corredor. Patrick se pôs a frente de Anne que estava desacordada no chão. As enormes asas quebraram o reboco das paredes fazendo o prédio tremer. A criatura era três vezes maior que a forma original de velhinha indefesa. Patrick sabia que aquela luta definiria se estaria livre ou preso novamente e também custaria a vida de Anne que a cada minuto ficava mais próxima da morte. Foi preso há muitos anos na forma de gato por ela que era uma Manananggal. Uma criatura que se disfarçou como velha por séculos e que a cada cem anos tem de se alimentar. Mas aos poucos Patrick aprendeu a voltar à forma humana.

   Ele segurou firmemente a lâmina já sabendo que a Manananggal faria de tudo para tê-la novamente. A língua foi lançada como uma cobra na direção de Patrick que com agilidade pulou e girou no ar na horizontal esticando a mão e cortando a língua que passava pelo seu caminho, pousando com esplendor ao chão.

    — Ops! Acho que o seu gato aqui comeu sua língua! — ele riu da própria piada enquanto a criatura gritava.

   O que restou da língua voltou à boca se debatendo e sangrando. Um sangue escuro salpicou o teto, o chão e as paredes. A criatura separou-se ao meio e deixou as pernas para trás. As pontas das asas grudavam no teto e a parte superior da Manananggal avançava na direção de Patrick.

    — Não caio mais nessa!

    Em questão de segundos, Patrick lançou o bumerangue na direção das pernas ainda erguidas no meio do corredor. O monstro distraiu-se olhando para trás, para onde o disco iria. Patrick saltou e com as duas pernas chutou em cheio a criatura jogando-a para onde a sua parte inferior estava. O bumerangue cortou os dois joelhos de uma vez só e voltou para suas mãos suja de sangue.

   Com o polegar Patrick limpou o sangue que escorria na lâmina e passou na testa verticalmente. Levantou o bumerangue no alto e gritou:

    — Fogo!

    — Não! — a criatura gritou, mas de nada adiantou.

   Um fogo consumia todas as partes dela. As pernas cortadas e a parte superior do corpo eram queimadas e resumidas apenas a cinzas. O sol nascia e Patrick sabia que logo a mãe de Anne chegaria.


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Notas finais do capítulo

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