505 escrita por A L Souza


Capítulo 7
Sete - O que aconteceu com a realidade?


Notas iniciais do capítulo

Acabei de criar algumas coisas e caso queiram ficar atualizados sobre a história:
https://twitter.com/Alysson406
http://www.facebook.com/pages/505/118948844937232?ref=ts&fref=ts
Boa leitura!



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— Anne? Acorde! — a voz de Emily vinha de bem longe, quase inaudível.

Aos poucos Anne foi abrindo os olhos e vendo sua amiga, a qual acariciava seus cabelos com carinho e cuidado. Um sorriso branco entre os lábios vermelhos surgiu no rosto de Emily. Dando lugar em seguida a um olhar de preocupação.

— O que você estava fazendo no Lotus Flower? — hora de inventar uma mentira, mas seria incapaz disso na situação que estava.

Zonza e muito abalada com tudo o que vira, levantou-se assustada e percebeu estar em casa. Olhou para os lados e nada viu além das paredes desbotadas de seu quarto. Acalmou-se e olhou para Emily novamente, ainda um pouco tonta.

— Fui procurar você, depois que a... — não seria boa ideia falar que foi lá porque o fantasma de Isabele lhe disse —... Depois que descobri que estava mentindo para seus pais e indo para aquele clube!

Estava chateada agora, voltou a se deitar na cama e olhava para Emily que parecia tentar encontrar respostas no chão que era para onde olhava. O rosto logo corou e a sua voz quase não se podia ser escutada.

— Eu... — uma fina linha de voz surgia entre os lábios que Emily logo começava a limpar na manga do casaco verde —... Você nunca me entenderia.

Emily virou o rosto e caminhou até a janela do quarto de Anne de braços cruzados. Aqueles pensamentos a perturbavam de tal forma que Anne não imaginava, sua vida corria risco e a de todos a sua volta. A amiga deitada a cama achava que era um simples clube noturno como qualquer outro da cidade. Bastou pisar uma única vez lá e nada mais foi como era antes. Emily estava aprisionada e não podia contar a ninguém, pois as paredes, o chão, o teto, os objetos, tudo, tinha ouvidos. Seu futuro agora não passava de uma incerteza qualquer do tempo, mas de uma coisa sabia: Não podia contar a ninguém aquilo!

Os olhos já cheios de lágrimas, de Emily, encontraram os olhos consoladores de Anne. As duas se abraçaram fortemente. A sensação de estar sozinha naquele lugar não saia da mente de Emily. Não poder contar aquilo a alguém deixava sua mente fraca, vulnerável a qualquer um que tentasse dominá-la. Nem que fosse por um milésimo de segundo queria se sentir segura ao lado de Anne, mas isso já não era possível. Tinha de ir para a casa. O céu já era de um azul vivo, começava a amanhecer quando se ouviu o barulho da porta bater. Era a Senhora Campbell.

— Emily? Tudo bem querida? — a mãe de Anne apareceu na porta do quarto ainda com a roupa de enfermeira — Perdi alguma coisa?

As duas balançaram a cabeça ao mesmo tempo dizendo que não.

— Por que estão acordadas?

Começou a interrogação, pensou Anne.

— Por que não me avisou que traria Emily para dormir aqui querida? Pelo menos teria comprado algo para as duas comerem durante a festa do pijama ou qualquer que seja o nome que vocês dão!

Um sorriso carismático surgiu no rosto da mãe de Anne que não percebeu a face de Emily encharcada de lágrimas, talvez por estar cansada demais.

— Vou descansar um pouco, estou acabada, até logo meninas e se comportem! — a mãe de Anne saiu da mesma forma que entrou, num piscar de olhos.

As duas se entreolharam e riram do que acabaram de ouvir. Realmente dizer para se comportar era algo patético, se fosse contar tudo que já tinha acontecido com as duas. Num momento as risadas cessaram e o ar ficou pesado novamente.

— Prometo que um dia lhe direi o que realmente faço lá, mas acredite, se não lhe contei é para seu bem! — Emily levantou-se e penteou com os dedos a recente franja loira — Agora tenho de ir, minha mãe deve estar preocupada!

Ela já estava quase saindo do quarto quando...

— Emily — chamou Anne — lembre-se que sempre estarei aqui, para o que der e vier!

Emily sorriu e assentiu antes de sair do quarto. Um tempinho e se pôde ouvir a porta da entrada bater.

Anne afundou-se em seus pensamentos. Tudo estava gravado em sua mente, os beijos, a luz em suas mãos, PETER! Enfim o nome foi revelado, Peter Huston. O garoto que tanto incomodava Anne, mas o qual ela beijou, abraçou, acariciou e quase matou. O garoto por quem se apaixonou. Não queria ceder e dizer que aquilo era verdade, mas todos os sinais de uma nova paixão estavam à flor da pele. O garoto a seduziu de tal forma que ela não tinha noção até que ponto poderia manter controle sobre os seus sentidos na presença dele.

Sentou-se na cama novamente. Apontou a mão para a parede e tentou repetir o que tinha feito lá no Lotus Flower, mas nada aconteceu. Depois de um bom tempo desistiu e quanto estava prestes a sair do quarto, algo chamou sua atenção. A figura negra sentada no assento da janela olhando para Anne. O gato preto da senhora Madison. Como aquele gato foi parar ali? Ela lembrou-se que não via a senhora Madison há séculos e as últimas vezes que viu o gato, foi sem a companhia da dona. Será que aquela velha morreu no apartamento e ninguém estava sabendo? Caminhou até a pequena criaturinha que quando percebeu a aproximação da garota começou a miar. Anne pegou-o no colo e o levou para a cozinha. Colocou leite em uma tigela e pôs no chão para onde o gato correu rapidamente ao encontro do alimento.

Ela voltou para seu quarto e deitou-se na cama. Estava disposta a tentar dormir novamente. Com facilidade adormeceu. Ainda estava muito cansada com tudo que havia acontecido.

Após tomar todo o leite o gato caminhou sorrateiramente até o quarto de Anne e subiu na cama dela, deitando aos seus pés e dormindo também.


Lufadas de ar siam de sua boca a cada passo que dava no corredor escuro. Sem janelas e com lâmpadas queimadas, somente uma luz amarelada na fresta da porta de um apartamento iluminava com dificuldade o local. As sombras dos números na porta fizeram Anne parar por um tempo. 505! Ninguém morava naquele local. Quem estava lá? Acho melhor voltar para o meu apartamento antes que minha mãe acorde! Eram os pensamentos conflituosos que tomavam conta da mente de Anne. A camisa branca e velha, que usava para dormir, roçava na sua coxa nua com um vento que saia da porta meio aberta do apartamento e chegava a ela. Era um cheiro maravilhoso. Algo gostoso e indescritível.

O vento que trazia o aroma ficava cada vez mais forte, hipnotizando Anne. Um pé, depois o outro. O movimento era praticamente involuntário, mas ela ansiava por identificar a fonte daquele aroma surreal que faziam seu nariz arder. Os cabelos longos e castanhos dançavam no vento que aos poucos abria porta. Numa fração de segundos a porta já estava lá, escancarada. A espera de Anne que caminhava em sua direção sem pestanejar, sem medo, sem aflição. Ela sentia que estava cada vez mais perto de onde surgia aquela fragrância hipnotizante.

Uma lâmpada velha piscava no meio do teto do corredor do apartamento. À direita alguém estava sentado em uma poltrona no meio de um quarto velho. Uma pintura desbotada, antes verde. Uma janela aberta iluminava o pequeno cômodo. A luz do luar estava de um vermelho sangue, estranho. Algo que Anne nunca tinha visto antes. Ela caminhava lentamente. Pequenos passos, um de cada vez. Suas mãos suavam, seu coração acelerava, um frio atravessava sua espinha, as pernas tremiam, a qualquer momento ela iria desabar.

À medida que ela adiantava os passos cada vez mais rápidos, cabelos loiros e espetados foram revelados a luz vermelha da lua, mas ainda estava de costas para ela. Precisava ver quem era. Quem era a pessoas que trazia aquele aroma tão gostoso que hipnotizava Anne de uma forma sobrenatural. Antes que pudesse fazer algo à pessoa que estava à poltrona saiu numa rajada de vento.

Um garoto loiro estava atrás dela. Peter Huston! Seu vizinho. Olhos azuis brilhantes que aos poucos assumiam um tom violeta e em seguida vermelho. Da mesma forma que aconteceu no Lotus Flower. Ela olhava para os lados sem ter ideia de onde ele estava. Anne deu um salto ao sentir o perfume mais forte, ao virar-se, lá estava o seu vizinho. O garoto loiro de olhos... Vermelhos? Ela ficou confusa e com medo, andava de costas embaraçando nos seus próprios pés descalços. Peter avançava.

Agora ela estava sem saída, sentiu a parede do quarto atrás de si. Não tinha para onde correr e o garoto continuava avançando. Seu corpo a poucos centímetros do dela. Anne conseguia sentir a respiração dele no seu rosto. Alguém empurrou Peter jogando-o do outro lado da sala. Era o mísero gato da Senhora Madison. Como aquela criatura empurrou Peter? De repente Patrick apareceu e beijou Anne tão rapidamente que ela ficou sem reação. O gato preto havia desaparecido e Peter Huston junto. Patrick afastou-se e tirou os óculos escuros, revelando os incríveis olhos verdes. Ele enxergava Anne e voltava a beijá-la intensamente. Ela correspondia e aos poucos a imagem foi tomando um tom fraco e fosco e tudo desapareceu.

Anne acordou assustada. Algo pesado estava sobre suas pernas. Esfregou os olhos e sentou-se. Ficou boquiaberta ao ver o que fazia peso em suas pernas. O medo foi tomando conta de sua mente. Seu grito de pavor ecoou por todo o apartamento. Patrick Weiss estava deitado em sua cama. Despertou rapidamente com o grito e olhava assustado para Anne. Sem os óculos Anne notou seus olhos incrivelmente verdes. Ele não era cego coisíssima nenhuma.

Patrick correu até a janela e a abriu. Tomou uma boa distância e saltou por ela. Dando um belo salto como se estivesse na piscina em mais uma de suas aulas de natação. Anne correu até a janela e pôde ver Patrick mergulhando numa minúscula poça de água no estacionamento do prédio. Mais que merda foi aquilo? Anne esfregou os olhos, mas não adiantava, estava realmente acordada. Aquilo tinha acontecido. Já eram nove da manhã. A mãe de Anne já tinha saído de casa novamente e ela estava mais que atrasada para o colégio. Caiu sentada no chão, abraçou as pernas e se perguntava milhares de vezes: O que aconteceu com a vida normal que eu levava?



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Notas finais do capítulo

O que acharam???



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