Fogo e Gelo escrita por Débora Falcão


Capítulo 4
Passeio




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Sheba acordara estranha aquela manhã. Aliás, sempre acordava estranha. Não estava acostumada a dormir. Até encontrar Gabe no baile, nunca dormira. Então, perdera o fogo eterno e agora dormia como uma humana qualquer. E era horrível.

O que ela mais odiava eram os pesadelos. As saudades de casa a perturbavam de uma forma não compreensível por ela. Quando, durante o sono, ela via o fogo do Inferno, todos os demônios, toda a maldade que ela estava acostumada a fazer, tudo aquilo a aterrorizava, como se fizesse parte de um pesadelo e não de um sonho bom.

Ela odiava acordar daquele jeito. O sol entrando no quarto pela janela. A luz e o calor benéficos a atingindo em cima da cama, preparada especialmente para ela na casa de Gabe. Era extremamente incômodo se sentir feliz daquela maneira.

Mas estava começando a se acostumar. E isso sim, era ruim.

"Daqui a pouco eu vou gostar disso aqui. Aí vai ser o Céu! Droga!"

Levantou-se e foi até o banheiro. Mitzrael e sua esposa prepararam tudo para que ela se sentisse à vontade, já que Gabe se recusava que ela fosse pra qualquer outro lugar que estivesse longe dele. Já era um sacrifício deixá-lo em outro quarto para dormir. Ante aquele pensamento Sheba estremeceu.

Ela gostava muito da proximidade de Gabe, como se precisasse dele. E por isso era muito ruim e perigoso. Não queria abandonar sua vida infernal. Precisava arranjar um jeito de voltar para o Inferno. Mas tudo o que fazia para irritar Gabe dava errado.

Ele sempre a compreendia e ficava do lado dela.

Ela tinha que criar uma nova estratégia.

Mas não sabia qual.

Tomou banho. Outro hábito que tinha de humana. Aquela água fria no corpo era simplesmente horrível.

Abriu a porta do quarto e lá estava ele, esperando, com aqueles olhos azuis profundos e meigos. Sheba não teve defesas. Mergulhou no azul daqueles olhos.

"Está se sentindo mal?" ele perguntou, visivelmente preocupado.

Sheba suspirou. "Não. Estou bem."

"Hum..." Gabe olhou-a com o canto dos olhos. A sensação de tristeza e desespero sumira, agora que chegara perto dela. Mas há poucos segundos o desespero praticamente se materializara dentro daquele quarto, e ele teve de segurar-se para não entrar, ouvindo o barulho do chuveiro.

Guiou-a até a sala de jantar, para tomarem o desjejum.

Sheba estava estranha aquela manhã, isso Gabe podia conferir. Apesar da felicidade começar a voltar ao coração dela, ela ainda mantinha as sobrancelhas franzidas. Ela estava preocupada com alguma coisa. E ele sabia que ela não o diria. Ultimamente, ela estava tentando esconder-lhe coisas.

Eles, quando a hospedaram, tiveram que fazer-lhe algumas compras, pois misteriosamente ela não tinha nada. Apenas o vestido do baile, de um couro macio e vermelho, que nunca tinha visto anteriormente.

Ao comprar roupas, Sheba sempre escolhia preto, vermelho e violeta, nunca nada além dessas cores. Disse-lhe que eram suas cores prediletas. E ficavam muito bem nela, com aquela pele alva e cabelos pretos como ébano, escorrendo por seus ombros até o meio das costas.

Era uma garota lindíssima, e muito triste. Gabe queria ajudá-la, mas ela parecia fazer de tudo para impedi-lo e irritá-lo. O que era difícil, pois Gabe sabia que ela precisava de ajuda.

Como naquele momento.

Sentaram-se à mesa. Os movimentos de Sheba eram automáticos, praticamente sem vida. Ela não estava feliz. Apesar de sentir a alegria invadi-la quando ele estava por perto, ela não estava plenamente feliz.

Algo faltava a ela. E ele tinha que saber o que era.

Após tomarem café, ele a convidou para dar uma volta pelo parque. Estava bonito àquela época do ano, com as folhas do outono caindo e enchendo o chão com seus dourados. Talvez ela lhe contasse algo.

E lá estavam os dois, caminhando lado a lado. Gabe não lhe segurou a mão, como sempre fazia, nem a abraçou. Até conservou uma certa distância, o que alarmou Sheba.

Nem fizera-lhe nada àquele dia! O que será que está acontecendo? Será que ele a mandaria pro Inferno? Ela voltaria para casa?

A esperança começou a surgir-lhe no coração. E Gabe sentiu-lhe o impacto. Dor. Era o que ele sentia vindo dela. Dor, tristeza e desespero, tudo junto.

Ele a conduziu a um banco mais reservado. Estavam finalmente sozinhos.

Ele conversaria com ela e seria franco. Seria ela também franca com ele?

Ele teria que tentar.


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