Be Mine escrita por Tuany Nascimento, Aline Bomfim


Capítulo 25
Capítulo XXIV - The One That Got Away


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem? Sim, eu sumi novamente.
Mas gostaria de avisar que Be Mine será finalizada... Um dia.

Agradeço de antemão todo o apoio durante esses vários anos. Eu ainda sou apaixonada pela escrita e espero terminar essa estória o quanto antes!

Muito obrigada.



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All this money can't buy me a time machine…

(Todo esse dinheiro não pode me comprar uma máquina do tempo...)

 

(Narrador POV)

 

Segunda-feira, 03h04min

Os celulares começaram a tocar alguns minutos depois do relógio indicar que já eram 03 hs da madrugada. A primeira Cullen que atendeu a ligação foi Esme, pois seu sono era o mais leve de todos, sempre atenta a tudo ao seu redor.

— Esme, minha amiga. – a voz de Charlie parecia quebrada – Aconteceu o que mais temíamos. Ele conseguiu chegar perto de Isabella. Oh, Esme... Minha menina.

As próximas palavras do patriarca da família Swan deixaram Esme sufocando um choro, o que acordou Carlisle. Assim que ela desligou o telefone, seus olhos marejados já contavam tudo o que havia acontecido. Ambos não sabiam como dar a notícia a Edward, que já estava bastante abalado com tudo que estava acontecendo entre Bella e James Hathaway.

Porém, foi Emmett quem entrou no quarto do ruivo, tentando conter a bile que subia por sua garganta. Como dizer ao irmão que a mulher que ele amava estava lutando pela vida em uma mesa de cirurgia?

— Edward. – ele balançou o irmão, tomando cuidado para não o assustar – Edward acorda, por favor.

— Me deixa dormir, Emmett. – o ruivo resmungou, afundando ainda mais o rosto no macio travesseiro.

— Edward, eu preciso que você acorde.

A voz do irmão mais velho soou grossa e imponente, como ele nunca havia escutado em sua vida. Seus olhos abriram e o sono se esvaiu, sentindo um frio tomar conta de seus ossos, como se o aquecedor não estivesse ligado.

— Edward, me desculpe. – Emmett sentou-se na cama, com a mão pousada no ombro do irmão – Rosalie acabou de me ligar, completamente abalada. Aparentemente, James atacou Isabella na rodovia, enquanto ela voltava para Nova Iorque. Seu carro capotou e ela ficou gravemente ferida. Bella está no Mount Sinai Hospital, passando por uma delicada cirurgia.

O corpo de Edward funcionava no automático. Ele vestiu um roupão por sobre o pijama, pegou as chaves do carro e saiu porta afora, sem ouvir os chamados de seu irmão e de seus pais que estavam no corredor a caminho de chamarem uma Alice que ainda estava tranquila em seu sono.

O Volvo prateado costurava por entre os carros e passava com uma velocidade absurda pelas agitadas ruas da Big Apple. Algumas lágrimas manchavam o belo rosto pálido do rapaz de 26 anos que apertava o volante até seus dedos ficarem brancos e buzinava para todos que o atrasavam ainda mais.

O jovem herdeiro parou o carro de qualquer jeito no estacionamento do hospital, abriu a porta e saiu rapidamente, não reparando se fora seguido ou não por seus seguranças e não dando a mínima atenção aos poucos repórteres que estavam no local. Esses cuspiam suas perguntas sobre o rapaz, que continuava surdo e seguia completamente transtornado em direção às portas automáticas da entrada do Mount Sinai.

— Isabella. – ele disse, assim que chegou ao balcão de atendimento e informações. Sua voz estava áspera, como se não bebesse água há dias – Eu preciso saber sobre Isabella Marie Swan.

— Um momento, por favor. – a atendente pediu, observando com grande assombro o rapaz de beleza inumana e olhar angustiado – As informações sobre Isabella Marie Swan são restritas à família, desculpe-me.

— Eu sou o namorado dela, Edward Cullen. – ele informou, sentindo a raiva pulsar em suas veias.

— Eu não possuo autorização para passar informações sobre a paciente para pessoas de fora da família Swan.

Os orbes verdes encararam com frieza a mulher de aparência cansada, seus lábios se apertaram em uma linha fina indicando que a explosão estava por vir. A atendente encarava o anjo – que parecia mais vindo do inferno do que do céu – com medo e nervosismo, pulando para trás quando o punho dele bateu firme no balcão.

— Você sabe com quem está falando? – sua voz saía calma e tranquila, conflitando com a face retorcida em raiva e desespero – Eu sou um Cullen e exijo saber sobre Isabella!

— E-eu terei que pedir para que saia... Ou cha-chamarei a segurança.

— Edward?

O ruivo olhou para o lado e encontrou o louro com cabelos desgrenhados, olhos vermelhos, pijama amassado e dois copos de café fumegantes nas mãos. Grandes lápis-lazúli observavam a cena à frente com confusão, mostrando que o jovem Hale não parecia estar atento a nada a não ser em sua dor. Edward correu até Jasper, o abraçando com força, sentindo o corpo do cunhado tremendo como se tudo aquilo fosse demais para ele.

— Jasper, por favor... Como Bella está? Onde ela está? Como isso foi acontecer? – suas palavras saíram atropeladas, sem fôlego, quase confundindo o louro que parecia tonto com tantos sentimentos ao seu redor.

— Vamos subir para a sala de espera, nós fomos encaminhados para lá enquanto notícias sobre Bella não chegam. – Jasper virou-se para um dos seguranças que o acompanhava discretamente – Por favor, Harold, avise a staff do hospital a dar qualquer informação sobre minha irmã aos membros da família Cullen e os guiar até a área designada a nós.

Edward começou a acompanhar o cunhado até os elevadores do corredor norte, ouvindo-o suspirar cansado e bebericar um dos cafés com lábios pálidos. Quando as portas da imensa caixa de aço se fecharam, algumas lágrimas começaram a descer pela bochecha de Jasper e elas brilhavam como pequenos diamantes líquidos.

— Ainda não sabemos nada concretamente, Edward. Recebemos uma ligação pouco depois da 01 da manhã, contando que Isabella havia sofrido um acidente de carro e tinha acabado de dar entrada no hospital. A polícia já estava no local do acidente, colhendo depoimento de um dos seguranças e fazendo buscas pela floresta que rodeia a I-95 atrás do ocupante do veículo que provocou tudo isso. – o louro respirou fundo, limpando com a manga do pijama o rosto – Quando chegamos aqui, apenas nos contaram que Bella está em cirurgia, que o seu estado é delicado e tinha a melhor equipe de cirurgiões com ela. Brad também está em cirurgia, mas seu estado é estável. Porém, Carl, o nosso motorista desde quando éramos crianças, morreu no local. Nós vimos por fotos o estado do carro, Edward. Ele parecia uma folha de papel que foi amassada e jogada para fora de uma janela qualquer.

— Ela... Ela vai ficar bem, não vai? Por favor...

— Rezo para que sim.

As portas se abriram e o andar totalmente branco surgiu, fazendo com que Edward estremecesse ao ver a frieza marcada em cada quanto do lugar. Suas pernas seguiram mecanicamente o cunhado, quando na verdade ele só queria correr até onde Bella estava. Tudo se intensificou mais ainda quando ele viu o estado em que se encontrava o resto da família Swan. A imponência tão marcante em cada um deles estava engolida pelas lágrimas acumuladas em seus olhos.

— Alguma notícia? – Jasper perguntou, encarando seu pai como se buscasse esperanças.

Charlie balançou a cabeça negativamente, cumprimentando Edward com um fio de voz e voltando a abraçar Renée, que estava encolhida com os olhos fechados e um terço em sua mão. Rosalie estava em uma poltrona, com uma mão na barriga e outra apoiando a cabeça, encarando o chão imaculadamente branco com olhos azuis inexpressivos. Ela mantinha sua beleza de deusa Afrodite mesmo com cabelos revoltos e o rosto sem qualquer resquício de maquiagem, não se importando com a camisola de seda negra sendo revelada pelo robe que foi fechado às pressas. Jasper aproximou-se da madrasta, agachando-se para ficar de frente a ela, apertando sua mão e chamando sua atenção. Ele entregou o copo de café para ela, que o agarrou firmemente como se fosse uma âncora. Ela beijou a bochecha daquele que considerava seu filho e sorriu um sorriso sem dentes, que não fazia jus a sua face sempre tão jovem e feliz. Renée Higginbotham Swan era conhecida por todos por seu sorriso e sua felicidade contagiante, sempre a alegria das reuniões da alta-sociedade nova-iorquina. Hoje, ela era apenas uma mulher entregue às orações e ao desespero de uma mãe que não sabia se a filha iria viver ou não.

O jovem Hale levantou-se e sentou-se no braço da poltrona onde sua irmã estava e ficou conversando baixinho com a loura que parecia estar em outro mundo. Edward sentia-se deslocado até ver que seu sogro o olhava com os mesmos olhos castanhos de Bella, de um chocolate derretido, e ele o chamou para sentar-se ao seu lado. A pesada mão de Charlie encontrou seu ombro e ele sentiu um calor percorrer seu corpo gelado, encontrando certo acalento que ele não conseguiria sentir completamente enquanto não visse sua namorada.

Longos minutos se passaram até o silêncio ser interrompido por passos arrastados de um médico de olhos cansados e postura resignada. Ele encarou os integrantes da sala de espera luxuosa e encarou a ficha em suas mãos, sentindo-as suar ao ver o sobrenome que dava nome a uma das alas do hospital, uma doação exorbitante para a ala oncopediátrica.

— Como Bella está? – Rosalie perguntou em um fio de voz, sem conseguir levantar.

— Infelizmente, ainda não podemos afirmar com precisão o estado de saúde da Srta. Swan, apenas que ele é delicado e exige cuidados. Ela está perdendo muito sangue e precisamos de uma doação de sangue B+. Algum familiar possui esse tipo sanguíneo para realizar a doação?

— Papai é B+ e eu sou O+, nós podemos doar. O quanto for possível. – Jasper se levantou da poltrona e encarou o médico – Vamos!

O patriarca beijou a testa da mulher, seguindo o filho e o médico, torcendo para que sua pequena ajuda fosse de grande valor para a vida de sua filha. Cada um dos três restantes voltaram para suas posições, com Edward agora buscando apoio na Sra. Swan e vice-versa.

Os outros Cullen chegaram um pouco antes do amanhecer, rodeados por alguns seguranças e trazendo algumas malas de mão com eles. Alice e Esme trouxeram roupas e produtos de higiene pessoal para os Swan, já imaginando que eles haviam saído apressadamente da mansão, assim como Edward. A matriarca da família havia tomado todas as providências e parecia uma leoa dando ordens e comandando tudo para que seus amigos ficassem o mais confortáveis possível durante o momento tão difícil.

Rosalie era sua maior preocupação. Esme observou com olhos apreensivos sua nora que parecia fora de eixo, completamente desfocada de tudo ao seu redor. Quando Emmett a abraçou, a loura chorou silenciosamente agarrada ao namorado e ambos mantiveram as mãos sobre a barriga ainda plana, como se protegessem o futuro herdeiro das duas famílias. Renée continuava abraçada a Edward, porém ouvia com atenção as palavras carinhosas e gentis de Carlisle, que acalmaram um pouco seu coração. Alice estava sentada ao lado do irmão, segurando carinhosamente sua mão, os dois não trocaram uma palavra, mas eles se comunicavam perfeitamente com seus olhos verdes idênticos.

O sol entrou pelas grandes janelas de vidro iluminando a fria sala de espera, toda decorada em branco e mármore, fazendo com que as famílias percebessem quanto tempo havia se passado sem notícia alguma sobre Isabella. Charlie e Jasper retornaram à sala, contando aos presentes que Brad Johnson havia saído de uma delicada cirurgia na mão que havia sido fraturada em vários pontos e apresentava lesões em alguns nervos, ele estava em observação e ainda adormecido da anestesia. Ambos, porém, decidiram omitir as informações sobre Bella, que pelo que ouviram dos cochichos das enfermeiras, se encontrava em estado crítico por causa de alguns problemas que acarretaram uma hemorragia interna.

(EPOV)

 

Segunda-feira, 07h24min

Nunca percebemos o quanto a passagem do tempo é relativa até estarmos em um hospital, encarando o chão imaculado cheirando a lavanda e enjoando os sentidos pelo cheiro de éter que o corredor trazia em pequenas lufadas. O sofá de tecido caro e macio, a televisão enorme ligada em um canal qualquer, a mesinha de centro com revistas e suas capas com mulheres bonitas e sorridentes, as flores brancas e azuis que mais pareciam de plástico do que reais não diminuíam a sensação de que naquele lugar o tempo não passava, apenas a vida se ia embora com ele. Eu não conseguia encarar o relógio acima da porta, ele me dava ânsia e me desesperava. A ansiedade havia substituído meu sangue e gelava minhas veias a cada pequeno movimento que eu percebia no corredor.

Minha mente era um clarão cego, eu não conseguia focar em nada que não fossem notícias de Bella e de James. As buscas policiais ainda continuavam no perímetro de alguns quilômetros em torno da I-95, já que se acreditava que o responsável pelo acidente estava escondido na mata ou em algum casebre abandonado. Tanto uma parte de seguranças da família Swan quanto da minha auxiliavam nas buscas, o que deixava Charlie e Carlisle a par de qualquer novidade sobre o desenvolvimento da operação. Um dos guarda-costas de Bella, presente na hora do acidente, seguiu os suspeitos por alguns metros, trocando poucos tiros com eles, mas os perdeu de vista devido à escuridão da estrada e da floresta. Ele não sabia dizer se era James ou não, mas que dois homens saíram correndo da caminhonete assim que o avistaram se aproximando. Um motorista e um passageiro, ambos vestidos com roupas escuras, que ao adentrarem a mata se separaram indo cada um para um lado e confundindo quem quer que os seguiam.

O resgate havia sido complicado, devido à posição que o carro se encontrava – completamente tombado –, do cinto de segurança que havia emperrado e das ferragens que prendiam Bella ao Lexus. Ela demorou quase uma hora e meia para chegar ao Mount Sinai, o que agravou um pouco sua condição. Apesar dos atendimentos preliminares na ambulância, não se sabia a extensão dos ferimentos dela, apenas que perdia sangue devido a uma perfuração no abdômen.

Uma movimentação no corredor chamou minha atenção e pude ver uma maca sendo levada até uma das portas a alguns longos passos de nós. Dois médicos e duas enfermeiras escoltavam a cama móvel, sendo que um deles se desprendeu do grupo e veio até nós. Ele usava o uniforme azul tão característico dos médicos e eu me perguntava se um dia conseguiria me deslumbrar novamente com Bella usando a cor que tanto combinava com ela, já que no momento o azul só me fazia lembrar desse momento de angústia.

— Senhor e senhora Swan? – ele chamou, encarando o pequeno grande grupo da sala com seus olhos negros cansados – Sou o doutor Richard Allen, chefe de cirurgia do Mount Sinai. A senhorita Swan acabou de ser transferida para um quarto particular, mas ela ainda está sedada da anestesia. A cirurgia foi um sucesso, porém, tivemos que realizar uma esplenectomia de emergência, que consiste na retirada do baço, devido a uma perfuração no abdômen que traumatizou o órgão e ocasionou uma hemorragia. Além disso, a pressão dela se tornou instável durante o procedimento e ela sofreu uma parada cardíaca e isso é a única coisa que nos preocupa no momento. Os ferimentos secundários dela foram cuidados logo após. Ela teve escoriações no rosto e nos braços por conta dos estilhaços de vidro, mas nada que deixará marcas significativas. Infelizmente, só os pais e talvez os irmãos possam visitá-la no quarto, entrando de um em um para evitar que o estresse externo prejudique sua recuperação. No meio da tarde ela passará por alguns exames, como tomografia computadorizada, para vermos se há algum dano cerebral devido ao impacto do air-bag e do capotamento em si. Senhora Swan, pode me acompanhar?

Renée parecia meio perdida em meio a verborragia médica, mas levantou-se e seguiu o médico com passos decididos. Ela teve que colocar alguns equipamentos de proteção individual estéreis antes de entrar no quarto e nos encarou de longe, como se buscasse forças, antes girar a maçaneta e entrar. Alguns segundos se passaram e Angela surgiu, trazendo consigo um iPad e duas pessoas desconhecidas, que descobri serem as Relações Públicas da Swan Company e do Mount Sinai. A família e o hospital precisavam aprovar uma nota ao público, já que havia uma considerável multidão de jornalistas aguardando notícias na sala de imprensa do hospital. Charlie mudou sua postura e voltou a ser altivo, me fazendo ver uma frieza calculada em seus gestos enquanto resolvia o problema.

Senti meus ombros perdendo a tensão aos poucos ao saber que Bella já se encontrava relativamente perto de mim, esfreguei meus olhos e senti como se pequenos grãos de areia estivessem dentro deles devido ao sono que começava a surgir. Jasper e Emmett tentavam convencer Rosalie a comer algo, agora que já tínhamos notícias e poderíamos nos sentir mais calmos, porém a loura se encontrava irredutível e dizia que só comeria quando visse a irmã caçula.

— CHARLIE!!! NÃOOO! ME SOLTA! CHARLIE!

Os gritos apavorados de Renée reverberaram como faíscas e meus pés agiram por conta própria, me levando até o corredor e a observando ser contida por um enfermeiro que a retirava do quarto, enquanto médicos e outros enfermeiros entravam correndo onde Bella estava. Um segurança dos Swan afastou o funcionário de Renée e a manteve no lugar, enquanto Charlie me ultrapassava e corria até a esposa.

A parede do quarto de Bella que dava para o corredor era de blindex com uma porta corrediça e podíamos ver toda a movimentação que acontecia. Seu monitor fazia um barulho irritante, assim como os gritos dos médicos lá dentro que tentavam estabilizá-la. Ela estava tendo outra parada cardíaca. Uma enfermeira injetava algum medicamento na IV enquanto outra monitorava os sinais, que pareciam cada vez mais confusos para mim.

Emmett precisou segurar Rosalie que começou a gritar e se debater querendo ir até a irmã, enquanto Renée chorava agarrada em Charlie e se recusando a olhar a cena diante de todos nós. Éramos muitos parados no corredor, observando Bella ir-se aos poucos e sem podermos fazer nada.

A injeção não pareceu surtir efeito, pois logo após o monitor fez o pior barulho que já escutei em minha vida. Um dos médicos iniciou a massagem cardíaca e um enfermeiro se aproximou com um carrinho de emergência, onde podíamos ver o desfibrilador sendo ligado.

A cortina do quarto foi fechada e não visualizávamos mais nada da cena que ficaria para sempre em nossas memórias. Meus joelhos cederam e eu caí no chão, ajoelhado como um pecador pedindo perdão a Deus. Porém, minhas orações eram silenciosas e eu só pedia pela salvação de minha namorada, o amor da minha vida. Esme se aproximou de mim e agarrei suas pernas, me encolhendo contra seu corpo como um covarde e finalmente eu deixei as lágrimas que eu segurava caírem com soluços que abafavam qualquer som ao meu redor.

Não se vá, meu amor.

 

Por favor.

 

Não se vá.

 

Não me deixe.

11h40min

O coração de Isabella parou por exatos 133 segundos.

Dois minutos e treze segundos.

Após isso, ela foi encaminhada para um quarto na Unidade de Terapia Intensiva para ficar sob supervisão a qualquer pequena mudança em seu estado. Renée, Charlie, Jasper e eu a observamos através de uma janela de vidro, sem permissão de entrar ao cômodo onde ela estava. Sua pele estava mais pálida do que o normal, com grandes hematomas em seus olhos e em pequenas partes de ambas as bochechas, além disso ela tinha alguns pontos em seu supercílio direito e em seu queixo, assim como o pé direito imobilizado. Rosalie não conseguiu ver a irmã, pois estava sedada após ter um surto ao ver toda a cena do colapso de Isabella, e Emmett ficou com ela no quarto assim como Esme.

— A imprensa continua na porta do hospital e me parece que o número de repórteres aumenta a cada minuto. Pensei que uma nota já os deixaria satisfeitos e eles dariam um tempo para a família Swan. – Alice comentou, me tirando de minhas lembranças – Edward? Você está me ouvindo?

— Sim, estou. – beberiquei o café e passei minha mão por meus cabelos – Mas, eu realmente não quero falar sobre esses abutres.

— Vamos falar sobre aquele belo folheado de peito de peru e queijo que está nos encarando ali? Quer que eu peça um para você?

— Não estou com fome. – fui direto, sentindo meu estômago embrulhar ao menor sinal de comida – Peça para você.

— Eu já estou comendo um belo muffin de chocolate. Quer um pedaço? – ela me ofereceu o bolinho, me irritando.

— Não, Alice. Não quero. Pare de tentar me alimentar! – exultei, empurrando a minha xícara de café para longe de mim.

— Não quer comer, não quer mais nem beber café. – Alice falou olhando minha xícara –  Dessa maneira, você não está ajudando Isabella. Quando ela acordar, vai encontrar uma pessoa precisando de médicos mais do que ela.

As palavras de Alice pareceram surtir algum efeito em mim e pedi mais café e o maldito folheado que ela tinha comentado. Fiz uma refeição rápida e sem sabor, querendo sair da lanchonete o mais rápido possível. Minha irmã caçula havia me feito ir até o estabelecimento que ficava dentro do hospital a mando de meu pai, que queria que eu me alimentasse, mas eu só conseguia prestar atenção nos olhares das pessoas ao redor e na maldita televisão ligada que mostrava imagens do carro capotado e uma pequena foto de Isabella a cada cinco minutos.

— Pronto, já comi. Vamos embora logo, porque se eu ouvir mais uma vez esse âncora da CNN falando sobre o acidente, eu juro que compro essa emissora e o demito. – disse, me levantando e jogando alguns dólares na mesa – Vamos, Alice.

Retornamos até a sala de espera onde a família Swan havia montado um pequeno centro de operações. Havia várias pessoas sob o comando de Charlie e de Jasper... Relações Públicas da Swan Company— uma pequena mulher de olhos enormes chamada Bree Tanner –, seguranças de ambas as famílias, as assistentes de Isabella e dois agentes da polícia. Era uma pequena confusão organizada para que Charlie pudesse cuidar das empresas da família juntamente a Jasper, estar atento a cada movimento nas operações de busca a James e preservando a imagem de Isabella na imprensa. Carlisle havia saído para cuidar de alguns assuntos importantes da Cullen Enterprise, já que tanto Emmett quanto eu nos recusávamos a sair do hospital.

— Mamãe mandou uma mensagem avisando que Rosalie já está acordada e está nos chamando. Você vem? – Alice inquiriu, olhando preocupada para o namorado que parecia atordoado com alguns papéis na mão.

— Irei tentar ajudar Jasper e ver se há alguma notícia sobre o maldito Hathaway.

Ela acenou e saiu cabisbaixa em direção a um dos quartos do corredor. Aproximei-me de meu cunhado e toquei seu ombro.

— Precisa de algo, Jazz? Quer ajuda? – perguntei, me sentando ao seu lado.

— Bree me passou a nota que será lançada amanhã me anunciando como CEO interino. – ele passou os olhos pelo papel que segurava – Mas, todas essas palavras estão me deixando com um gosto amargo na boca. Ser CEO não me parece certo, não por essas circunstâncias. – ele olhou para Charlie que estava concentrado lendo algo em seu iPad e abaixou seu tom de voz – Eu ainda não creio que papai vai me colocar nessa posição. Após algum tempo, eu descobri que aquela competição ridícula que tive com Isabella para assumir a empresa era apenas meu ego não querendo ser novamente deixado à sombra da minha irmã caçula.

— E quem disse que você vive à sombra de Isabella? – questionei confuso – Cada um de vocês possui uma personalidade diferente, é claro, mas tão únicas que é impossível não se destacarem por onde passam. Isabella te tem como braço direito e sabemos bem que ela não deixaria essa posição com uma pessoa na qual ela não confiasse plenamente. E se alguém pode substituí-la, com certeza, esse alguém é você.

— É engraçado quando ouvimos a perspectiva de alguém que observa tudo de fora. Rosalie sempre foi a pessoa mais linda do mundo inteiro, sabendo usar isso da maneira mais confiante que uma mulher pode. Ela soube desde os nossos 12 anos de idade que sua beleza seria usada contra ela, mas ela abraçou isso e mesmo contra todas as expectativas, Rose se formou como a primeira da turma em Engenharia Mecânica pelo MIT. Já Isabella, bom, ela é brilhante desde os dois anos de idade e sua mente funciona de uma maneira tão fascinante que é até difícil acompanhar. Eu sempre me vi entre as duas. A Bela e a Fera, como as chamavam quando éramos crianças. Eu nunca tive um apelido como esse ou me destaquei de alguma forma quando estávamos juntos. As pessoas sempre perguntavam delas antes de lembrarem-se de mim. Eu vivi como a sombra de duas pessoas, Edward.

— Você com certeza precisa se ver com mais clareza, meu amigo. Rosalie tem a beleza, Bella tem a genialidade, mas você tem algo que ambas desejam ter mais do que tudo isso... Empatia. Você tem uma personalidade cativante justamente por saber se colocar no lugar do outro, por saber criar vínculos e demonstrar afeto de maneira tão simples. Talvez você não saiba Jazz, mas tem a habilidade de mudar os sentimentos de todos em uma sala com uma pequena frase, por saber exatamente o que cada pessoa precisa ouvir no momento. Isso diz muito sobre um líder. Um grande CEO.

Um pequeno sorriso brotou nos lábios de Jasper e seus olhos brilharam, enquanto ele acenava em agradecimento.

— Srta. Tanner! – Jasper chamou a mulher que digitava em um notebook — A declaração está aprovada, obrigado.

— Ótimo, sr. Swan. – ela recolheu os papéis – Preciso também que o senhor aprove a liberação da nota médica assim que ela ficar pronta.

Jazz acenou com a cabeça e suspirou cansado. O primeiro boletim havia sido liberado às 09h30 da manhã, omitindo partes das condições reais de Isabella. Sua segunda parada cardiorrespiratória não havia sido divulgada, para que não iludisse James que sua tentativa de assassinato havia quase dado certo duas vezes.

A paciente Isabella Marie Swan deu entrada no Mount Sinai Hospital às 01h22 a.m., vítima de um grave acidente de carro na rodovia I-95. Os paramédicos fizeram os primeiros atendimentos ainda no local, tentando estabilizar sua pressão arterial. Ao dar entrada no hospital, a Srta. Swan foi encaminhada para o centro cirúrgico para conter uma hemorragia interna ocasionada pela perfuração de seu baço, o que resultou em uma esplenectomia de emergência após uma parada cardiorrespiratória. O procedimento foi realizado pelo chefe da equipe de cirurgia, Dr. Richard Allen, que acompanhará a evolução do quadro da paciente, que é estável, porém delicado.

Eu tinha a nota gravada em minha memória, após ouvi-la sendo lida inúmeras vezes nos noticiários. Aliás, nenhum jornal comentava o nome de James, já que a polícia não divulgou que o acidente havia sido provocado intencionalmente. Charlie estava fazendo de tudo para abafar os rumores sobre o assunto, até que fodido do Hathaway fosse apreendido.

Infelizmente, eu sentia que era meu dever conversar com meu sogro sobre as reais motivações de James em tudo isso.

22h48

— Eu já sabia disso, Edward. – Charlie disse, me surpreendendo, enquanto encarava sem expressão os papéis que eu havia lhe entregado a pouco – Na verdade, eu suspeitava que Isabella havia feito algo que agiu como um gatilho para James desde o dia do ataque contra você e seus irmãos.

Ele bebeu um gole de seu café expresso e continuou olhando os papéis, como se quisesse memorizar cada transição bancária. Estávamos sozinhos em uma pequena sala perto do CTI, com uma luz que tremulava no corredor e dava um aspecto levemente sombrio ao local.

— Quando Bella tinha cinco anos de idade, ela se irritou quando a professora de piano cometeu um erro em uma das sinfonias de Bach que ela havia memorizado na semana anterior. Naquele dia, ela brigou com a professora, bateu a tampa do piano e saiu andando da escola de música. Um dos seguranças que a acompanhava a viu saindo e conseguiu pegá-la. Quando chegou em casa, ela foi direto para a sala de música e tocou a mesma sinfonia por três horas seguidas, até Renée intervir e tirá-la chorando do piano. A obsessão de Isabella sempre foi um grande problema para nós quando ela era criança e continuou sendo conforme ela foi crescendo.

Ele pegou a carteira e retirou uma foto, me entregando. Era Bella com um rosto mais cheio e jovial, olhos brilhantes como grandes ágatas marrons, usava um collant rosa e um tutu da mesma cor, sapatilhas de ponta e os cabelos estavam escondidos em um coque trabalhado. Ela estava em frente ao Metropolitan Opera, com um sorriso genuíno, que transmitia uma felicidade que parecia ser inalcançável.

— O ballet foi uma forma que ela encontrou para extravasar toda sua energia, o que fez muito bem ao temperamento explosivo dela. Às vezes me arrependo de tê-la feito escolher entre os negócios da família e aquilo que ela amava realmente. Ver Isabella dançando era algo de outro mundo, ela se entregava sem pensar, seus movimentos fluíam naturalmente, sem qualquer tipo de raciocínio lógico, apenas seu coração a guiava. Eu sei que ela ama ser CEO da Swan Company, mas não pelos motivos certos. Sua posição apenas alimenta seu ego e obsessão.

— Bella me contou sobre a competição entre Jasper e ela para o cargo. – comentei.

— Eu sei ser um idiota quando quero. Talvez essa competição tenha sido um dos meus maiores erros na vida. Coloquei um contra o outro, porque ao mesmo tempo em que eu queria estimular Jasper a sair de sua concha, eu acabei incentivando Isabella a voltar a ser o que era.

Um silêncio se fez presente enquanto eu absorvia a culpa que Charlie exalava em cada palavra e nas singelas lágrimas silenciosas que saíam de seus olhos.

— Eu fiz de meus meninos produtos a serem comercializados. Eles tiveram uma infância em que eu proporcionei todos os brinquedos, eletrônicos, viagens... Mas sempre deixando claro que eu procurava um sucessor acima de tudo. Errei com eles a mesma coisa que meu pai errou comigo, aquilo que prometi a mim mesmo que eu nunca iria repetir. – Charlie limpou suas lágrimas – E só Deus sabe o quanto me dói que seja Isabella a pagar o preço pelo meu erro.

Pousei minha mão em seu ombro, tentando lhe passar algum conforto, mesmo sendo claro que nenhuma palavra ou atitude minha mudaria seu pesar.

— Ela vai sair dessa, Edward, eu sei que vai.

Eu apenas meneei a cabeça em concordância e o deixei, pegando todos os papéis e os tirando da vista de um homem atormentado pelos próprios pensamentos.

(James POV)

 

Terça-feira, 00h20min

Minhas mãos tremiam mesmo dentro do bolso do grosso casaco de neve. O frio perfurava a pele de meu rosto como pequenas agulhas e eu sentia até mesmo as pontas dos meus cabelos congeladas. Eu girava a pequena caixa de fósforos em meus dedos e contava os segundos em minha cabeça.

“Aguente só mais um pouco, James. Só mais duas horas.”

Eu continuava encolhido como uma bola ao lado da lareira apagada, sentindo a madeira fria do chão abraçando cada vez mais meu corpo. Eu não podia deixar que me descobrisse por causa da fumaça na chaminé, não não não, eu deveria aguentar só mais um pouco até a polícia ir embora.

Meu estômago fez novamente o barulho característico da fome, mas meus músculos estavam duros como pedra, eu não conseguiria atravessar a sala até a sacola com mantimentos.

Uma lata de atum, duas barras de cereais, duas garrafas de água e um pacote de Lay’s.

Eu soltei um riso seco pensando na adorável refeição que me esperava dentro de uma sacola barata de uma loja de um dólar e lembrando de todos os restaurantes três estrelas Michelin em que eu havia comido.

Um relâmpago iluminou a sala da pequena cabana em que eu estava escondido e pude ver o lobo empalhado me encarando acima do sofá. Ele parecia rir de mim, prevendo que a chuva que estava sendo anunciada traria apenas mais frio. Seu pelo lhe protegeria, mas eu? Eu continuaria encolhido girando a caixinha de papelão cheia de fósforos e sonhando com as chamas da lareira.

Só mais duas horas.

O trovão veio como uma gargalhada e fechei os olhos, sentindo que meu corpo já não conseguiria mais parar de tremer. Será que com a chuva, a polícia interromperia sua busca? Talvez sim. Eu poderia acender as tão desejadas chamas, não poderia? Mas, e os seguranças pessoais da família Swan? Com certeza eles não parariam. Charlie Swan jamais permitiria que alguém descansasse enquanto eu ainda estivesse à solta. Então, não... Eu teria que deixar a umidade que a chuva irá trazer adentrar ainda mais, até atingirem meus ossos, mas não, eu não poderia me aquecer. A caixa continuaria em meu bolso. Rodando, rodando e rodando. E o lobo, sorrindo cada vez mais.

Ah, Isabella... Será que a sua morte significa a minha própria?

É você quem virá me buscar?

“Só mais um pouco, James... Duas horas”.

“Só duas”.

 

(Bella POV)

 

— Os sinais da Srta. Swan estão estáveis, porém ainda há certa fragilidade em seu estado. O corpo dela passou por muito estresse e precisamos deixá-la descansar.

 

— Me desculpe, minha menina. Me desculpe.

 

— Acorde, minha filha. Por favor, abra os olhos para a mamãe. Por favor.

 

— Soube que o pai dela doou uma quantia enorme para o hospital, o diretor até reuniu todos que trabalham nesse andar para falar sobre ela. Moça importante, de família rica. Coisa que a gente só vê em filme.

 

— Não ter você todos os dias ao meu lado dói tanto, Bella. Volta logo, maninha.

 

— Vamos tentar acordá-la aos poucos, ver como ela reage. Ela terá que fazer algumas sessões de fisioterapia e também recomendo que ela seja acompanhada por um psicólogo, já que as chances de desenvolver estresse pós-traumático são altas.

— Você tá perdendo muitas fotos de ultrassonografia. Seu sobrinho ou sobrinha já tá do tamanho de uma ameixa! Acorda logo para curtir essa gravidez comigo, titia... Por favor, acorda.

Tantas vozes ecoavam praticamente ao mesmo tempo em meus ouvidos, mas eu não conseguia responder. Meus lábios pareciam costurados e minha garganta não conseguia reproduzir os gritos que eu tanto queria soltar.

O que está acontecendo?

Eu quero acordar.

Eu preciso acordar.

— Oi, sweetie. Eu estou aqui.— algo quente e macio apertava minha mão – Consegue apertar de volta?— Não, não consigo. – Por favor, me dê um sinal.— algo molhado encostou na minha mão e uma angústia me dominou — Não, não, não se agite. – um barulho começou a soar de forma impertinente, abafando a voz que fazia meu coração aquecer – Enfermeira, chame o médico, por favor! – alguém desligue esse barulho, eu quero ouvir essa voz linda – Bella, por favor, volta pra mim. Volta pra mim. Eu te amo.

 

— Senhor Edward, por favor, nos dê licença enquanto cuidamos da Srta. Isabella.

Edward?

Edward!

Edward, eu estou aqui!

Eu também te amo.

In another life, I would be your girl.

(Em outra vida, eu seria sua garota).


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Notas finais do capítulo

Gostaram?

Deixem um comentário e me digam quais são suas expectativas para a estória... Que está chegando ao fim!

Beijos!