- Como foi?

- Segundo a Madame Kris, encontrarei a morte nas mãos dos revolucionários. – Disse o Rei, não demonstrando nenhuma preocupação, muito pelo contrário, estava rindo da situação.

- Sabe que as previsões dela são precisas! – a Rainha, por mais que estivesse preocupada, ainda confiava no marido.

- Não me importa, dessa vez ela errou. Dobrei a quantidade de guardas no portão do castelo, além disso, reforcei a segurança nas masmorras. Recrutei arqueiros para ficarem de olho 24 horas, e ainda dei-lhes permissão para matar qualquer indivíduo suspeito.

Silêncio.

- Papai, você vai morrer? – A pergunta do jovem Príncipe Shion tirou o Rei de seus devaneios. Estava com a mente em outro planeta, pois nem havia notado a presença de seu filho na mesa de jantar.

- Não é nada querido... Olhe, você tem 10 anos agora, e já começou as suas preparações para assumir o trono daqui a alguns anos. Como se sente?

- Ainda não sei o que dizer...

O Rei olhou um tanto decepcionado, afinal, bem no fundo, ele estava preocupado com a previsão de Kris. E quem não estaria? Desde o domínio do Rei Shion, a Madame Kris era uma figura de destaque. Previa ataques inimigos, catástrofes naturais, rebeliões etc. A nobreza reconhecia a importância dessa mulher, pois sem ela, o reinado provavelmente deixaria de existir há 30 anos, quando os vikings surpreendentemente formaram aliança com os piratas do Barba Negra, visando roubar toda a fortuna que, segundo boatos, ficam em uma sala secreta, além das terras. Madame Kris havia previsto todos os movimentos inimigos, o que deu a vitória ao Rei Shion. Ganhou status de nobre. E agora, ela acabara de prever sua morte.

5 ANOS DEPOIS

- Bom dia pai!

- Ah, filho... Venha, estamos indo neste exato momento fechar negócio com o Rei de Heavenfalls.

- É incrível como seu reino cresce cada vez mais!

- Nosso reino Shion, e breve será apenas seu.

- Pai, ainda está preocupado com a visão de Kris? Já fazem 5 anos. Nada aconteceu, e nada acontecerá. Ela errou!

- Eu sei...

Nos becos mais imundos, onde qualquer pessoa com um mínimo senso, não passaria nem perto, era possível ouvir uma baderna. Vindo de um bar que um estrangeiro julgaria como um prostíbulo. Mulheres nuas e bebida. Moedas. Roupas. Tudo espalhado pelo chão. Se ouvia o discurso de um homem.

- Finalmente chegou o momento, cavalheiros. Toda a humilhação pela qual passamos, o uso abusivo do poder da nobreza, que nos tratam como lixos. Isso tudo acaba hoje. O Rei Shion encontrará sua morte, e o nome dos revolucionários irá ecoar por todo o mundo!

Gritaria e golpes nas mesas.

- Esperem... Ícaros, explique-me. Há 5 anos nós tentamos invadir o castelo, e foi um fracasso total. Porque você acha que agora será diferente?

- Pois agora temos um aliado oculto. Alguém de dentro do castelo!

- O ministro? Isso é muito óbvio, acha que ninguém desconfiaria? Aquele homem mataria a própria mãe para salvar sua vida.

- Não, general... É alguém bem mais próximo do Rei. – Ícaros tinha um sorriso diabólico, quase perturbador. – Há alguns dias, essa pessoa veio a mim. Não escondi minha surpresa, mas decidi me aliar. Afinal, essa é a nossa única esperança. Essa pessoa nos trouxe grande quantidade de armamentos. Nós realmente podemos confiar nisso!

E agora, o rei de Shion acabava de comprar o reino de Heavenfalls. Estava pensando em mudar a família real para o novo território.

Já era noite quando o Rei decidiu apreciar o luar. Algo estava incomodando-o. Um pressentimento ruim. Talvez fosse melhor mandar uma vistoria, pensava ele.

- Pai...

- Príncipe Shion, o que faz acordado? Sabe que tem aulas amanhã cedo.

- Sinto-me tão honrado de ter seu nome. Quero dizer-lhe que farei de tudo para continuar honrando o nome de nossa família.

- Majestade! Majestade! – O ministro gritava desesperadamente.

- O que aconteceu?

- São eles, os revolucionários! Estão sendo comandados por Ícaro, andando em direção ao portão principal do castelo!

- Ao portão principal? No que estão pensando?

- Eu não sei...

- Mande todo o exército aniquilá-los!

- Farei agora mesmo! – O ministro saiu do mesmo jeito que entrou.

- Há necessidade disto?

- Pode fazer 5, 10, 50 anos. Madame Kris não deve ser ignorada. Era isto que me incomodava... Colocarei um ponto final nessa história!

- Pai, espere...

Não conseguiu pará-lo. O Rei Shion saiu determinado, e o príncipe sabia exatamente o que ele faria, e não pôde deixar de escapar um suspiro de tensão.

- Espero que dê tudo certo... – Sussurrou para si.

Extasiado, o Rei Shion vestiu sua armadura dourada, pegou sua espada e saiu do castelo, sem avisar ninguém. E em alguns minutos, chegava a seu destino. Uma casa incrivelmente bem feita, com móveis feitos da madeira mais cara, talheres prateados e cortinas da mais pura seda.

- Que honra receber sua majestade! Ainda mais a essa hora da noite.

- Poupe-me dos cumprimentos, Madame Kris. Eu preciso de um caminho.

- Não há!

- Não brinque comigo! – O Rei se alterou. – Eu a coloquei na posição de nobre, e posso tirá-la.

- Que faça! Só posso prever o futuro, e não mudá-lo.

- Maldita... – Sacou sua espada, e golpeou Madame Kriss diretamente no coração! – Gosta disso?

- Seu destino já está decidido, meu Rei... – Foram suas últimas palavras. Madame Kris caiu morta.

- O que está acontecendo? – A Rainha saiu desesperada de seu quarto em direção ao do príncipe Shion, mas ele não estava, o que serviu para aumentar ainda mais o seu desespero.

- Sua Majestade, o rei também não está no castelo.

- Como está a situação?

- De alguma forma, os revolucionários tomaram controle da torre central, e estão invadindo o salão principal!

No salão principal, uma batalha sangrenta acontecia. O exército real estava sendo massacrado. Destaque para um cavalheiro extremamente habilidoso. Vestia uma armadura negra que lhe dava uma aura demoníaca. Sua espada, ligeiramente maior que as convencionais, estava completamente suja de sangue. Havia matado mais de cem, isso era certo.

- Ícaros, vamos seguir por essas escadas, e chegaremos ao trono real.

- Ótimo. – Ícaros não conseguia disfarçar sua animação, andava com um sorriso no rosto enquanto decapitava soldados.

O Rei passou horas sentado na beira do rio. Levantou, lavou sua espada e caminhava de volta ao castelo. Chegando à vila, não pôde deixar de notar uma agitação fora do comum no centro. Abaixou seu elmo e aproximou-se de um camponês.

- O que está acontecendo?

- O exército revolucionário acabou de tomar o castelo completamente. – Gargalhou. – Conseguimos nossa liberdade, agora podemos viver com um pouco de dignidade. Viva Ícaros! – O camponês chorava de alegria.

Shion partiu em disparada para o castelo, chegando em poucos minutos. A cena que presenciou no salão principal foi perturbadora. Sangue por toda a parte, vários corpos caídos e decapitados. O que mais o espantava era o silêncio. Não se ouvia passos, barulho de espadas, nem mesmo um suspiro. Não se conteve e subiu as escadas em direção à sala onde ficava o trono. Estava em frente à porta, que devia ter cerca de 10 metros. Olhou para os lados e suspirou antes de entrar. Paralisou. Havia apenas um homem nesta sala. Era Ícaros.

- Vossa Majestade, estava lhe esperando!

- Porque?

- Sou o seu destino. Estou aqui para tirar-lhe a vida.

- Cale a boca, maldito!

- Veja como fala... Neste exato momento começa o reinado de Ícaros!

- Como conseguiu isto?

- Tive uma pequena ajuda! – Todos os guerreiros revolucionários apareceram ao lado do líder.

- Onde está Charlote?

- A rainha? Está morta!

- Desgraçado! – O rei sacou sua espada e ia em direção à Ícaros, mas foi surpreendido por um cavaleiro de armadura negra, que o derrubou! Levantou-se vagarosamente.

- Por quê? Eu sempre cuidei do meu povo com o máximo de atenção. Somos um povo próspero. Dominamos a economia mundial, temos o maior poder militar, além disso, somos sinônimo de poder. Nosso reino é o maior da história! Deveríamos ser felizes, e olha o que vocês fazem. Derrubam o próprio rei, aquele que trouxe tudo isso a vocês?

- Alguma vez você parou para pensar se o povo era realmente feliz?

Shion caiu de joelhos com seus olhos arregalados. Não podia acreditar no que estava acontecendo. O cavaleiro de armadura negra parou em sua frente, encarando-o. Lentamente, retirou o elmo, e o que viu fez com que o rei perdesse completamente a razão. O cavaleiro era o príncipe Shion.

- Meu filho... Porque?

- Pai, você deve morrer... Aqui e agora. – Disse calmamente. Pegou a espada, levantou-a. – Adeus! – E cavou a arma no peito do Rei. A exaltação dos soldados revolucionários pôde ser percebida por todo o reino.

Mais tarde, nesta mesma noite, Ícaros entra no quarto do príncipe. Estava tranqüilo, apesar de cansado.

- Bela performance, príncipe!

- Obrigado, Ícaros!

- Mas, me diga. Porque me ajudou? Quais os seus motivos?

- Isso não vem ao caso, revolucionário. Meu destino é obscuro, assim como o de meu pai foi...

- O que quer dizer?

- Que eu consultei Madame Kris aquele dia! Eu morreria durante a invasão, segundo ela.

- Então se uniu a nós, para evitar sua morte?

- Mais que isso. Está vendo essa marca. – O príncipe abaixou seu manto, virando de costas e ficando nu. Marcas indecifráveis estavam marcadas nas costas de Shion.

- Não me diga que...

- Sim, viverei na eternidade, Ícaros! Eu sabia do sofrimento do povo, e o ritual necessitava de um sacrifício. Alguém de parentesco próximo. – Os olhos de Shion adquiriram cores avermelhadas. – Decidi fazer minha última boa ação, dando a vitória ao seu exército.

- E o que fará a partir de agora?

- Me darei bem nesta nova vida... Ícaros...

- O que é?

Shion o encarou por alguns segundos. Andou alguns passos, e aproximou bem próximo do ouvido do novo rei. Sussurou:

- Faça um contrato comigo.