-Quione? A deusa da neve? –perguntei incrédulo. Lyra assentiu.

  -Sim, Quione, a deusa da neve.

  -Mas nunca houve relatos de filhas ou filhos dessa deusa, ou teve?

  -Sim, quer dizer, não, os filhos de Quione nasceram séculos atrás, são raros os que nascem no smundo moderno.

  -Mas se você é filha de Quione...? –deixei a pergunta no ar.

  -Eu tenho poderes sobre a neve? Poucos, eu posso produzir neve.

  -Tá, quem é seu pai mortal? –perguntei, instantaneamente percebi que tinha tocado num ponto sensível, ela abaixou a cabeça triste.

  Coloquei minha mão em seu queixo e levantei sua cabeça.

  -Ei, Lyra, não precisa chorar, me desculpe, não queria te magoar.

  Ela enxugou os olhos, com as costas da mão.

 -T- Tudo bem, é que  ele morreu quando eu era pequena, e desde então eu moro com minha tia, mas... Mas ela não me trata bem ela me bate, me trata como lixo.

  Fiquei meio que chocado, eu quase nunca ouvi falar de semideuses que não foram criados pelos pais, fora eu, é claro. Mas nas palavras de Quiron, eu sou um caso especial. Falando em Quiron eu me lembrei do acampamento.

  -Éééééé, Lyra, você vai ter que ir para o acampamento.

  Ela me olhou confusa.

  -Que acampamento?

  -O Acampamento Meio-Sangue, o acampamento para semideuses.

  Seu rosto se iluminou.

   -Ah sim, minha mãe me falou dele.

  Foi a minha vez de ficar confuso.

   -Você fala com sua mãe?

  Ela sorriu.

   -Claro, você não fala com seu pai?

   -Não, ele no máximo me chama para jantar uma vez por mês, mais ou menos, mas também é só.

   -Nossa, minha mae sempre conversa comigo.

  -Como?

  -Bem, por MI – ela explicou.

  -Mensagem de Iris? – eu perguntei, ela assentiu – Então você sabe tudo sobre mitologia grega?

  Novamente ela assentiu.

  -Então como vamos para o Acampamento? – ela perguntou intrigada.

  Dei um sorriso.

  -Você confia em mim?

  Ela ergueu as sobrancelhas.

  -Vamos ver, eu te conheci há cinco minutos e você me salvou de um ciclope que queria me matar, mas eu acabei matando ele com sua espada, e estamos a cinco minutos conversando em um beco escuro, se você quisesse me matar já teria o feito, não?

  -Ótimo, tem medo de cavalos?
  Finquei minha espada no chão, a terra começou a tremer, Lyra se apoiou em uma das paredes.

  Uma rachadura surgiu da espada e formou um circulo em torno de mim, a terra se quebrou formando uma pedra que subiu uns dez metros do chão. Uma espécie de vapor negro subia da terra.

   -Pai, eu quase nunca te peço nada, mas por favor, mande um dos sete cavalos da vida e morte*, só um, se for possível, mande Erwin. – pedi em grego antigo.

  A terra tremeu novamente, mas bem mais fraco do que antes.

  A pedra em que eu estava em pé se encaixou novamente na terra e tudo ficou calmo.

   -E? – Lyra perguntou incrédula.

  Fiquei quieto, esse pequeno esforço tinha consumido todas minhas energias.

  -Acho que não deu certo.

  Como se esperasse uma deixa, a terra tremeu, só que bem mais violentamente, tanto que as pessoas que passavam na rua caíram no chão.

  Uma luz negra explodiu em minha frente, me postei na frente de Lyra e abri os braços protegendo-a, mas foi tamanha a força que me jogou em cima dela.

  Quando a luz cessou, me vi deitado por cima de Lyra.

  -Acho que a segunda vez que você me salva hoje – ela sussurrou em meu ouvido.

  -Bem, está medevendo uma – também sussurrei.

 Aproximei meu rosto do seu, ela inclinou seu rosto para o lado, mas fomos interrompidos por um relincho.

   Olhei para trás, um cavalo negro estava empinado, tinha a crina prateada, e ferraduras douradas. Tinhas olhos brilhantes como rubis.

   Sai de cima dela e me aproximei de Erwin, meu cavalo favorito.

   -Erwin, meu garoto – fiz carinho em seu focinho.

   Lyra recuou assustada.

   -Quem... O que é essa coisa?

   Erwin relinchou indignado.

   (Essa coisa? O que essa garota tem na cabeça?)

   -Lyra, tome cuidado com o que diz – repreendi-a – Esse é o quarto cavalo, o cavalo da Morte, um só toque e ele te manda direto para os Campos da Punição.

  Ela engoliu em seco.

   -Então como você não morre?

   -Bem, eu sou o Rei Fantasma...

   -Rei Fantasma? – ela perguntou.

   -Depois explico.

   -Tá, mas como vamos para o acampamento?

   -Montado nele.

   -Então – ela gesticulou com as mãos – Se um toque dele pode me mandar para o Mundo Inferior, como eu posso montar nele.

   (Faz sentido, como não pensei nisso? Posso matar ela?)

   -Não, Erwin, Não – falei para o cavalo – Assim ó.

   Peguei uma corrente que eu usava, um sol e uma lua, presentes de Apolo e Artemis.

   Apertei a lua pensando: Carruagem.

   Imediatamente larguei o colar no chão, ele começou a se transformar em uma carruagem prateada.

   -Então senhora – imitei um motorista de carro de madames – Pode entrar.

    Ela sorriu tímida e entrou na carruagem. Sentei-me ao seu lado e ordenei mentalmente para Erwin: Acampamento Meio-Sangue, Long Island, rápido.
    Ele relinchou provando que entendeu e esfregou as ferraduras no chão deixando um pó dourado.

    Erwin saiu correndo pelo beco direto para uma parede, a mão de Lyra encontrou a minha e a apertou.

   -Nico, isso é seguro?

   -Feche os olhos – falei fechando os meus.

   -Mas...

   -Feche os olhos – repeti.

   Quando íamos bater- Lyra gritou e apertou mais ainda minha mão – Erwin saltou e abriu enormes asas de morcego, enquanto levantávamos vôo, a silhueta dos prédios de Nova York ficavam para trás.