“Munakata, pronto!

...”

Você sempre foi superior a mim. Enquanto para ativar minha força eu preciso falar; você, sem nem pensar, libera mais poder do que eu, em minha inocência, poderia imaginar; apesar de dizerem que nossos poderes se equivalem. Enquanto eu pensava que lutas eram apenas lutas; você pensava nelas como um modo de defender seus aliados. Enquanto eu pensava em guerras como apenas guerras; você pensava nelas em um modo de lutar pelos seus propósitos e objetivos. Enquanto eu era o Rei Azul, uma simples pessoa psíquica como todos os outros reis, apenas mais um medroso; você era o Rei Vermelho, diferente por si mesmo, aquele que não tinha medo de agir sem pensar. Eu era uma pessoa, enquanto... Você era você.

E o fato de você conseguir ser você mesmo em meio aos, na época, recentes acontecimentos; encantava-me.

“De acordo com o protocolo 120, levarei você sob custódia. Algo contra?

Nada, infelizmente. Cuide bem de mim.”

Por quê? Por que você aceitou, Suoh? Apesar de ter dito dessa forma; tudo o que eu queria era que você resistisse... Que usasse todo o seu potencial e poder. O poder do Rei Vermelho. Por que motivo você rendeu-se tão facilmente? Por que aceitou ser levado para uma pequena cela - onde ficaria enclausurado por um tempo que você ainda não sabia, pois sua sentença ainda não havia sido dada – pelo seu arqui-inimigo?

Eu só não entendo o motivo de você ter aceito algo que nem eu queria... Ter concordado tão rapidamente com algo que eu havia sido, após muito tempo de debate, forçado a lhe condenar... Tudo o que eu queria era que você resistisse...

“Olha só quem está aqui...

Suoh, vamos direto ao ponto. Seu nível Weismann está no limite. Se a espada Democles cair, teremos uma repetição da cratera Kagutsu. Caso você insista em extrair mais poder das placas Dresden, terei de matá-lo.

Não faço idéia do que está falando.

Estou dizendo para renunciar ao trono.

Você é um incômodo e tanto, não, Munakata?

Se essa é sua resposta, terei de pensar numa forma de mantê-lo preso a vida toda.”

Eu fiquei tão feliz quando você disse, indiretamente, que não iria renunciar seu trono. Tão feliz como não tinha ficado a minha vida toda. Você sabia que eu estava blefando? Você sabia que eu não teria capacidade de te matar? Não em questões de poder, os quais os nossos estão igualados, mas... Saberia você que eu não teria coragem de te matar? Que eu queria que você mantivesse seu trono, apesar do que aconteceria ao mundo, pois essa seria a única forma de eu vê-lo frequentemente?

Sabe... Eu queria mais é que o mundo se explodisse. Que a cratera Kagutsu se repetisse, por assim dizer. Pelo menos seria você, e não qualquer outro, o causador das mudanças no mundo dos reis.

É um fato: O Rei Azul e o Rei Vermelho sempre irão brigar, mas... Essas brigas apenas servem para esconder o que eu realmente penso. Meus pelos arrepiam-se, minhas mãos tremem, meu coração começa a bater mais forte, minha respiração fica descompassada... Não consigo ao menos manter minha espada firme em minhas mãos; seu punho chacoalha entre meus dedos. O que isso significa se é apenas quando te vejo? Quando luto contra você?

“Na verdade, existe uma forma de me manter preso aqui. Você poderia fazer isso, Munakata. O Rei Azul pode ficar de olho em mim pessoalmente. 24 horas por dia, dentro dessa cela. Se eu ficar violento, pode me reprimir a força.”

Ah! Você não sabe o quanto eu queria ter lhe escutado. Eu queria lhe observar a cada segundo do dia, te acalmar quando se estressasse, lhe reprimir quando ficasses violento... Mas, como sempre e mais uma vez, eu tive medo; e acabei cometendo o maior erro da minha vida quando disse aquelas palavras. As quais você respondeu a altura.

“A idéia de respirar o mesmo ar que você me enoja. E, além disso, estou bastante ocupado; não posso passar todo meu tempo com você.

É uma pena você pensar dessa forma, Munakata.”

Eu menti. Menti como nunca mentira na minha vida. Menti e por isso cometi o maior erro de todos. Por que eu tive tanto medo? Por que eu fiquei tão assustado? Por que eu só consegui dizer as palavras certas quando você já estava, novamente, adormecido?

“É... Também acho, Suoh.”

Agora é tarde de mais. Que frase clichê, não? Apesar disso, ela é a que mais combina com a situação: Uma despedida clichê, um sentimento clichê e uma frase clichê em um lugar clichê. Nada mais adequado a nós, não é? Eu era o seu amigo, que acabou tornando-se seu inimigo para, então, descobrir-se apaixonado por você. Sim... Eu te amava, Suoh Mikoto.

Deve se lembrar daquele convite que você me fez naquele dia; perguntando-me se eu não ficaria ali, ao seu lado, e eu recusei... Você sabia?...

Tudo o que eu queria era ficar.

Munakata Reisi