Palavras escrita por Máh Scary Monster


Capítulo 1
Palavras


Notas iniciais do capítulo

Essa história eu escrevi acho que no final do ano passado e a encontrei. É muito engraçada lê-la agora pois, a oitava temporada veio me deixando de cabeça pra baixo de como tudo o que eu escrevi aqui mudou... Espero que gostem!



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Nessa noite interminável em um quarto de motel barato de final de rodovia, Dean poderia ser descrito exclusivamente em uma palavra: Raiva.

Tudo bem, convenhamos, ele era muito mais que isso, tinha ódio, fúria, ira e no topo de seus sentimentos bagunçados, existia o medo. Aquele que formalmente ele rotulava de "falta de coragem".

– Sam! Como você pôde? Seu... Seu... - Dean gritava, não se dando conta que a cada fôlego tomado ele socava seu irmão na bochecha e na testa, os socos vieram com mais força e a cada lugar vitimado a pele lisa do caçula começava a se arroxear e a sangrar. - Beber sangue de demônio?! Você tem ao menos idéia do que fez?... Do que anda fazendo? - O cansaço veio aparecendo aos poucos, embora ele não abaixasse o tom de voz ela passou a carregar um certo rancor.

Dean inspirava rapidamente, os olhos arregalados e a mente confusa, ele pulou no pescoço de Sam e o empurrou fortemente contra a parede dura e fria. O irmão mais novo apoiou com uma das mãos no armário ao seu lado e limpou o sangue venoso que escorria de seu nariz e lábios rachados com a manga da blusa comprida, ele estava trêmulo e suando frio, mas não queria retribuir tais atos. Tentou dizer meio tonto:

– Eu... Não tive escolha... - Sua voz era rouca e falhada.

A decepção pousou nos punhos fechados de Dean, talvez seu irmão estivesse certo, ele não tinha escolha mas sabia que Sam era forte e esperto e poderia muito bem negar tais tentações, então, acreditou que não tinha motivos para concordar com ele. Contudo, era seu único irmão, aquele que protegeu durante a vida inteira, aquele que agora estava se afundando em um cenário infernal que Dean conhecia muito bem.

Ambos podiam imaginar onde tudo isso tinha os levado, e mais, faziam idéia de como acabaria, Dean sentiu-se nauseado só de pensar em um futuro apocalíptico. Passou a respirar com dificuldade, pois caiu a ficha. Seus destinos estavam sendo traçados em formas, linhas e cores diferentes, eram destinos opostos que só seriam cruzados no final. E diferente de tantos outros, esse final não seria feliz.

Sam estava perdido, desnorteado, a cabeça girando e o sangue amargo escorrendo pela garganta, ele tentava não pensar em nada, em tudo, ao mesmo tempo.

– Você tinha como mudar, Sam! - Dean quebrou o silêncio. Os olhos verdes começando a se encher de lágrimas salgadas. Ele falava segurando o mais novo pela gola da blusa, pois Sam parecia prestes a desmaiar. - Poderia confiar em mim, como sempre fez. Me dizer a verdade... Eu jamais o machucaria. Jamais... Iria desapontá-lo. Você é meu irmão, droga! - Ele gritou com os dedos cravados no tecido.

Sam virava o rosto desviando o olhar de menino choroso de Dean, não queria se sentir mais culpado ainda, pois algo que no fundo ele sabia que não era errado. Ele inspirou fundo a boca tremendo.

– Desculpe-me! Eu...

E antes que pudesse continuar foi interrompido: - "Desculpe-me?" - O mais velho disse com sarcasmo - Você não entendeu? Desculpa não muda nada, não volta atrás - Passou a gritar, pressionando Sam mais ainda na parede. - Eu não quero suas malditas desculpas. - Ele disse entre dentes e abaixou a cabeça.

Aquilo fez o estômago de Sam doer, não é pra menos... Ele sentiu os joelhos moles, não imaginou que Dean poderia ser tão cruel assim. Na verdade, ele gostou disso, é como se o tapa na cara fosse necessário.

– Dean, eu queria que soubesse que me arrependo. - Ele disse com sinceridade e seu irmão percebeu isso - Que me arrependo... E me amaldiçoou por...

– Nem precisa se amaldiçoar. - Retrucou com sarcasmo.

– Por não ter confiado - Ele continuou, ignorando-o. - Por ter desconfiado de sua palavra. Me perdoe. - Ele tentou suavemente tirar as mãos pesadas de Dean dos seus ombros mas parecia impossível e desistiu da resistência.

Dean levantou a cabeça, os olhos avermelhados do choro de ingratidão.- Você não desconfiou da minha palavra, você a trocou. - Ele cerrou mais ainda os dentes. - Você a trocou por uma putinha-demônio. - Ele desajeitado limpou suas lágrimas com a palma da mão, e com a outra pousou no rosto machucado de Sam, podia sentir seu suor quente pelos dedos e a bochecha inchada.

Sam estava cansado mas isso foi substituído pelo alívio de Dean ainda estar ao seu lado. Ele tirou a mão de seu irmão do seu rosto e o abraçou e fez isso sem pensar, mas logo em seguida veio a retribuição e o choro em silêncio de ambos os corpos, no lugar de adrenalina havia agora o remorso.

Eles conseguiram entender, aprenderam a sentir a dor um do outro, nesse abraço eles haviam trocado de lugar e isso gerou a compreensão. Não eram as semelhanças que os uniam, e sim as oposições, não era o fato de serem irmãos, era o fato de serem únicos na vida do outro. Era a possível perda que os aproximavam a cada segundo, e isso gerava alguma valor. Dean assim que sentiu o corpo de Sam intacto e o coração batendo o abraçou ainda mais forte.

– Achei que fosse perder você. - Ele disse sufocado.

– Não vai! Não vai! - Respondeu rápido antes que pudesse ser interrompido ou Dean murmurar alguma coisa. - Estou aqui, com você... Como você sempre esteve por mim.

O abraço foi quente e confortador, o tipo de abraço que precisamos quando queremos esquecer dos problemas, do mundo. Eles se soltaram devagar, como se não quissesse isso e tentaram disfarçar os risos com caretas graciosas. A felicidade estava brilhando novamente.

– Perdoe-me Dean, eu fui um tolo, um...

– Um imprudente, um idiota, um impulsivo... - Dean completou a frase com mais adjetivos que Sam planejava, ele ficou sem graça e encarou o chão, os ombros contraídos.

– ... Mas, está vivo... E isso basta pra mim. - Sam ergueu o rosto abrindo um sorriso e Dean beijou sua testa, deixou os lábios frios parados por alguns segundos, depois limpou com os dedos os ferimentos do nariz de seu irmão, que estava estático, "Dean demostrando um afeto assim, precisamos brigar mais vezes", ele sorriu desajeitado com a idéia.

Eles arrumaram seus casacos amassados e sujos, Dean tomou a chave do Impala girando em seu indicador.

– Vamos! Temos um chefe para caçar. - Ele disse caminhando até a porta.

– Es... Espera. - Sam o segurou pelo cotovelo - Sabe, isso não será como matar meros demônios. Precisamos de muito mais... - Dean piscou algumas vezes e por algum milagre, deixou Sam continuar - Teremos que ser melhores, mais fortes... E... Eu não sei se estou preparado. - Ele abaixou a cabeça mordendo o lábio inferior.

Dean se aproximou em pequenos passos– Estamos prontos! Ou, aprenderemos a ficar. - Ele sorriu arqueando uma sobrancelha e erguendo o rosto do irmão. - Vamos conseguir, Sam. Temos algo que nos une mais que toda essa loucura. - Sorriu encarando os olhos marejados de seu irmão caçula, como se estivesse esperando uma resposta.

Silêncio.

Ele pigarreou, se tinha algum momento para ele ser sincero e deixar seu jeito machão de lado, era esse. - Temos fé, amor... - Ele levantou os ombros. - Temos um ao outro, Sam. E eu acho que isso é o bastante para acabar com eles. - Os dois sorriram - Você está comigo, não está?

Sam inspirou e concordou com a cabeça.

– Sempre!

Eles sorriram novamente.

– Agora vamos neném, temos o mundo para salvar! - Dean terminou dando um soco leve no ombro firme de seu irmão, a porta foi fechada e o Impala preto rugiu na rodovia.



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