POV NESSIE

Depois de mais uma discussão com a minha mãe fiquei pensando e cheguei a uma conclusão. Realmente você percebe que está crescendo quando a sua razão começa a falar mais alto que o seu coração. Então eu parei e comecei a escrever mais uma carta, esperava dessa vez ter coragem para enviar...

Hoje eu pensei em ligar para você. Peguei o celular por diversas vezes, mas não deixei chamar nenhuma. Tentei ligar no seu aniversário, não sei se é porque sou educada ou se realmente bateu saudades de novo. Novamente estava desligado, não tentei mais. Foi até engraçado não conseguir falar com você uma das poucas vezes que tentei depois de tudo que acabou nos separando. Ironia que o seu celular nunca disponível e a sua visível falta de interesse foram os fatores que nos levaram a tudo isso.

 Mesmo assim você me procurou novamente e dessa vez, assim como tinha me prometido, não me deixei levar pelo seu jeito. Você não era nada parecido com o que eu sempre quis, mas, de uma forma estranha, era o que eu sempre sonhei. Ou, pelo menos, eu achava isso.

                Com o tempo percebi que você não era grande coisa, não consegui, realmente descobrir porque me apaixonei tão perdidamente por você. Não sei se era porque me fazia rir nos momentos mais impróprios, se era porque odiava me ver chorando mas estava ali por mim (as vezes), se era porque falava as piadas mais sem graça e conseguia arrancar riso de todos. Não sei se era porque contestava todos os meus limites, se era porque me fez enxergar um mundo diferente, ou melhor, me fez começar a ver a posição que eu queria ter nesse mundo. Não sei se era porque me mostrava que era mais forte que eu, não sei se era porque eu nunca sabia quando você realmente estava falando a verdade. Mas, em todo caso, você me marcou.

                Jurava já ter me apaixonado antes, mas foi seu o meu primeiro beijo. O segundo, o terceiro, e tantos outros que perdi a conta. Mas não foi o único, nem mesmo o último, por mais que eu acreditasse – da última vez que você voltou – que seria.

                Mas, dessa última vez que nos vimos, depois de passado um ano e meio sem que nos olhássemos, eu finalmente fui mais forte. Acho que amadurecer é isso: perceber que o passado, por mais que tenha sido bom, se tornou passado por alguma razão e que as vezes ele é bem melhor apenas como uma memória. Não sei dizer se o que tivemos foi o meu primeiro amor, eu acreditava que não, mas eu ainda tenho todos os sintomas. Foi muito intenso, machucou demais, sangrou infinitamente, mas agora apenas arde de vez em quando como uma saudade prazerosa – as vezes dolorida e incômoda, as vezes bonita como um conto infantil, mas sempre com a certeza que valeu a pena.

                Foi puro e intenso, foi bonito e apimentado, foi algo que um dia, quem sabe, valerá uma grande história. Meus medos ainda são os mesmos e a preocupação com a sua segurança e saúde continuam aqui. Não amo mais você mas essas coisas estranhamente continuam no meu peito. É verdade que eu não amo mais você, por mais que quem possa ler isso pense o contrário. Eu não o amo no presente, não o amo agora, mas eu nunca vou poder deixar de amar o passado, amar quem nós éramos no passado. A vida nos mudou nesses anos, tanto que eu nem consigo me reconhecer em algumas coisas e o mesmo vale para você, mas no passado, nós nos conhecíamos e amávamos daquela maneira. Nós sabíamos e entendíamos um ao outro, mas não é assim agora. Amo você no passado, como um bom filme antigo, mas não amo quem você se tornou. No presente parecemos outras pessoas, nem melhores nem piores do que éramos, apenas diferentes e eu não amo mais você.

Mesmo assim, um estranho carinho permanece e eu creio que nunca irá embora. Acho que isso faz parte da promessa que eu fiz de nunca odiar você. Eu não pude e não posso mudar os meus sentimentos dessa forma assim como também não posso ser totalmente indiferente a você. Eu não odeio, eu não amo, eu evito lembrar por muito tempo, mas vejo perfeitamente que o meu passado não se encaixa no meu presente.

Por mais que ainda exista carinho, por mais que ainda exista saudades, é melhor pra mim ficar longe de você. Por mais que eu ainda me preocupe e queira ver você bem, é melhor eu realmente não ficar sabendo. Por mais que eu planeje seguir com a minha vida e espere que você faça o mesmo, eu não quero ver você com outra. Ou seja, é melhor realmente não nos vermos ou falarmos mais. Saudades, claro que sim, mas as vezes é melhor deixar pra lá. Por isso peguei o celular mas o abandonei, deixei pra lá. É, acho que realmente eu não sou mais tão menina assim, minha avó avisou que isso iria acontecer. Ela sempre me apoiou a seguir meus sentimentos, por mais que ela soubesse o tanto que você me feria e por consequência feria a ela também. Ela sabia que eu só aprenderia por mim mesma e que não valia a pena tentar impedir o meu “trágico” primeiro amor.

Pra falar a verdade não sei se realmente amei alguém depois de você. O que eu sentia ainda parece mais forte do que tudo que eu vivi depois disso, mesmo sendo olhado pelas desfocadas e embaçadas lentes do passado. Foi intenso, foi verdadeiro, e durou o tanto que tinha que durar. Assim como essa carta que já está longa demais, a nossa história, para falar a verdade durou mais do que devia. Entenda, esse é o meu último adeus a você e peço que não me procure mais. Como eu disse, existem coisas que devem permanecer no passado e a nossa história, eu descobri, é mais bonita quando deixada lá.

Um pedaço do meu coração vai sempre estar com você...

Renesmee

POV DESCONHECIDO

Essa foi a carta que Renesmee escreveu a Nahuel, seu primeiro amor. Eles viveram muitos momentos preciosos juntos e ela não pode negar que ele lhe mostrou o que era o seu verdadeiro mundo, como ela se sentia bem. Não que os seus princípios mais importantes tivessem mudado, mas realmente ser a filha perfeita já estava lhe dando nos nervos. Tinha 17 anos quando conheceu Nahuel e começaram o seu romance, 19 quando terminaram e pensou que sua vida tinha acabado. Com quase 21 escreveu essa carta. Não era de se assustar que ela dissesse como se uma vida inteira já tivesse passado por seus olhos, ela sempre amadureceu muito rápido. Ela realmente se sentia uma mulher, mas não sabia como seria a sua vida e nem se realmente encontraria alguém, apesar que bem no fundo nunca perdeu a esperança de encontrar o seu “príncipe encantado” mas de uma forma mais moderna. Engraçado, mesmo quando criança achava o lobo mau mais divertido, apesar de ser assustador.