A casa estava quieta e escura, nenhuma mosca se quer tinha a audácia de fazer um misero bater de asas para não quebrar o silêncio da madrugada na casa de Bobby Singer.

No primeiro andar, o dono da casa havia acabado de acordar, no relógio não marcavam nem 6h00 da manhã, mas o velho não tinha mais sono. "Quanto mais velho, menos se dorme." Pensava Bobby, que se dirigia até sua escrivaninha com uma xícara de café preto sem açúcar, se juntando ao seus velhos e empoeirados livros.

Na sala de estar, dois homens dormiam, ou pelo menos um deles. Dean estava estirado no colchão estendido no chão da sala, enquanto Sam estava deitado no enorme, e velho, sofá, porém dormir era a ultima coisa que se fazia.

No andar de cima, subindo as escadas de madeira, que insistia m em ranger com apenas um toque dos pés, seguindo pelo corredor, a terceira porta a esquerda, havia uma mulher em sono profundo.

Alexia dormia numa cama de solteiro, coberta por um cobertor xadrez vermelho, preto e verde. Seu corpo estava totalmente entregue ao cansaço e, se não fosse pela sua respiração acelerada, quase não se mexia. Mas porque sua respiração estava acelerada? Esta tendo um pesadelo? Uma lembrança ruim?

Ao sentir seu peito sendo perfurado em seu sonho por uma faca de prata, a caçadora acorda num pulo e totalmente assustada passando suas mãos sobre o peito para ver se estava inteiro, para sua alegria ele estava, somente seu coração batia fortemente sobre ele. Menos mal, sinal de que estava viva e que tudo aquilo não passava de um pesadelo.

A caçadora se levantou e, cambaleando de sono, se dirigiu até o enorme banheiro de Bobby. Ao se olhar no espelho, Alexia percebe u o quanto havia mudado desde a última vez que esteve ali, fazendo a mesma coisa. Não só sua fisionomia havia se modificado, como seu modo de pensar sobre pequenos detalhes. Depois de um ano, (talvez um pouco mais) se virando sozinha, Alexia tinha cultivado um espirito de luta até o ultimo fio de cabelo e, por isso, vivia em alerta, e quando a janela se abriu com bastante força, logo a caçadora se virou em direção a mesma puxando um canivete de cumprimento mediano. A pergunta é: o que ela fazia dormindo com um canivete entre sua camisola? Coisas de caçador, coisas de caçador...

Alexia descia as escadas fazendo de tudo para que os degraus não rangessem e assim que chegou no final dela, a caçadora ficou satisfeita em ter conseguido.

Ao ouvir um barulho de papel, a caçadora percebeu que não era a unica que tinha perdido o sono.

– Bom dia. - cumprimentou Alexia ao se deparar com Bobby em meio a vários livros.

– Se pelo menos eu tivesse dormido... - resmungou o velho caçador.

– Continua ranzinza como sempre, não é Bobby? - comentou Alexia se aproximando da mesa de madeira escura.

– Que graça teria envelhecer sem poder reclamar?

– Não sei. Ainda não entrei nesse estágio. - provocou a caçadora.

– Pois não queira que isso chegue tão rápido, pois não é como dizem. A terceira idade, definitivamente, não é a melhor. - comentou Bobby arrancando um leve sorriso da caçadora a sua frente.

– Se eu chegar a terceira idade já vou ficar agradecida.

– Seria idiota se não agradecesse.

– Mais pesquisas? - perguntou Alexia se pondo atras da mesa, ao lado de Bobby, e fitando uma pagina de um livro qualquer aberto, em uma página qualquer.

– Essa é minha vida. Quero ver quando eu morrer, como o universo dos caçadores vão ficar sem mim.

– Uma verdadeira bagunça. - disse Alexia colocando sua mão direita no ombro de Bobby.

A caçadora finalmente dirigiu seu olhar para a sala, onde um barulho, alto o bastante para ser ouvido no silencio da casa, chamou sua atenção. Ao aproximar do batente da porta, Alexia se depara com Dean e Sam dormindo. O barulho era feito por Dean, que se mostrava ter um sono profundo e calmo. O mesmo não poderia falar de Sam.

A mulher se aproximou do homem deitado ao sofá, e ao perceber que suas pálpebras se mexiam incessantemente, ela percebeu que o homem não estava dormindo.

– Sam? - sussurrou Alexia - Qual é, eu sei que você não esta dormindo.

Um dos olhos do homem deitado ao sofá se abriu e encontrou com a face de Alexia a sua frente.

– Por que ta fingindo? - ela perguntou.

– Por que a outra opção é pior. - Sam respondeu.

– E qual é? - continuou ela em meio a sussurros

– É não sentir sono. - sussurrou ele

– Como assim, você não sente sono?

– Não. Nenhuma vez.

– Por que? - perguntou ela e Sam subiu com os ombros deixando claro sua falta de conhecimento sobre aquilo. - Desde quando não sente sono?

– Desde que voltei.

- Dean sabe disso? - tornou a mulher e Sam não teve reação alguma.

Alexia o encarou. Algo estava errado com ele e a caçadora sabia disso, mas não fazia a minima ideia do que era.

– Por que não falam mais alto? - surpreendeu Dean ao acordar. - Que horas são?

– Hum... deve ser umas 6h00 - respondeu Sam

– Hora de caçador levantar! - exclamou Alexia - Vamos, temos uma longa viagem. Se demos sorte, amanhã, a essa hora estaremos chegando. Vou preparar alguma coisa pra gente comer. VAMOS! LEVANTANDO! - concluiu Alexia batendo palmas feito uma general e se dirigindo até a cozinha.

– Sim senhor! - murmurou Dean se levantando.

–

– Mais uma xícara de café e nós saímos. - disse Alexia pegando a cafeteira pela segunda vez e enchendo seu copo até a borda.

– Assim você vai ficar mais acesa do que vagalume - comentou Bobby entrando na cozinha.

Sam e Alexia tomavam o café da manhã antes de seguir viagem até Oregon. O irmão mais novo revirava seu laptop em busca de mais detalhes que pudessem ajudar a solucionar o caso, mas não era tão fácil encontrar noticias recentes de uma cidade tão pequena.

– Essa é a intensão. - disse Alexia - A viagem daqui até Oregon é de aproximadamente um dia inteiro. A essa hora quero estar, pelo menos, chegando lá.

– Então vamos rápido. - disse Dean entrando na cozinha com uma mochila nas e outra na mão - Só faltam essas mochilas e nós estamos prontos. E você, Alex?

– Eu só tenho que pegar minha mala no andar de cima. - respondeu a caçadora.

– Tudo bem, eu pego pra você – propôs Sam fechando seu laptop.

– NÃO! - disse Alexia quase dando um pulo - Eu pego. Eu já vou pegar.

Alexia saiu em disparada até o andar de cima. Nem de brincadeira os Winchesters poderiam ficar sabendo do que tinha naquela mala.

A caçadora abriu sua mala para se certificar do que ela tanto zelava ainda estivesse lá. Ao vasculha-la, revirando todas as peças de roupas, a caçadora teve certeza de que o objeto ainda estava lá. O objeto era um medalhão bastante reluzente com alguns símbolos estranhos gravados nele.

Alexia fechou a mala e a arrastou até o porta malas de seu carro mais feliz do que nunca. A caçadora estava adorando a ideia de viajar com seu carro para encontrar um novo caso.

– Pronta? - perguntou Sam se aproximando de Alexia, sendo acompanhado de Dean.

– Sim, e vocês?

Os irmãos assentiram e cada um seguiu até seu lado do carro. Bobby surgiu na porta de sua velha casa e disse:

– Assim que chegarem, me liguem!

– Pode deixar, Bobby. - prometeu Dean entrando em seu carro.

Após baterem as portas, Sam e Dean já estavam preparados para seguir viagem, mas ao ver Alexia abrindo a porta do carro vermelho, o irmão mais velho se manifestou.

– O que está fazendo? - perguntou ele.

– Entrando no carro. Porque? Pensou que eu ia voando? - brincou Alexia.

– Pensei que iriamos no mesmo carro. - tornou Dean.

– E deixar meu xodó aqui? Não mesmo. - Alexia se posicionou para entrar em seu carro - E tem mais uma coisa: se eu for nesse carro, iremos chegar daqui uma semana em Oregon.

– HEI! - Dean se irritou - MEU CARRO CORRE MAIS QUE ESSE SEU AI.

– O que adianta ter um carro potente, se vocês param de 20 em 20 minutos para fazer xixi? - Alexia entrou em seu carro e, batendo a porta, resmungou - Parecem dois velhotes com problemas na próstata.

Bobby sorriu ao ver os dois carros sumindo em meio ao seu quintal e levantando poeira.

–

*Música http://www.youtube.com/watch?v=WBQODlM__14*

A estrada estava deserta, somente dois carros corriam a toda velocidade no quilômetro 86 de uma estrada secundária. Os motores estavam a toda potência, como se eles dependessem disso. Dean estava na frente com seu Impala 1967 preto, com um sorriso radiante estampado no rosto. “Agora quem tem o melhor carro?” Pensava ele.

Logo atrás vinha Alexia com seu Charger 1968 vermelho. Ao ver o braço de Dean para fora do carro, como se tivesse sendo muito fácil e tranquilo manter a posição de primeiro lugar, a caçadora resmungou.

– Ah! Que filho da mãe! Se é guerra que ele quer, é guerra que ele terá.

Alexia pisou fundo no acelerador arrancando um grunhido de seu motor e o carro começou a tomar mais velocidade.

Ao ver um vulto vermelho o ultrapassando, Dean olhou para ele com um ódio em seus olhos e pisou no acelerador emparelhando seu carro com o de Alexia, que sorria satisfeita.

– É impressão minha, ou vocês estão apostando corrida? - perguntou Sam indignado com o que via.

– Se ela pensa que meu bebe não é de nada, vou faze-la engolir esse pensamento.

– Hei! - gritou Alexia de seu carro em meio ao barulho de motores, chamando a atenção dos homens no outro carro – Não vai desistir?

– Não mesmo! - Dean gritou de volta – É melhor você desistir, pois seu carro daqui a pouco vai pedir arrego e você vai ter que deixar o seu “xodó” na estrada.

– É... vocês estão apostando corrida. - cochichou Sam

– HAHA! - Alexia forçou uma gargalhada – Não mesmo! Meu carro nunca me deixou na mão. Ao contrario desse seu ai. Desculpe, seu carro é muito bonito, só acho que está em mãos erradas. - debochou a caçadora soltando um sorriso de Sam, que recebeu um olhar de reprovação de seu irmão.

– OK! - disse Dean – Se é isso que você pensa, o que acha de uma aposta? Quem chegar primeiro até o próximo posto de gasolina ganha.

– E o que esta em jogo? - perguntou Alex

– O que acha de quem perder vai servir de isca para pegar a criatura do caso? - sugeriu Sam

– Por mim ta beleza – topou Dean

– Então vai se preparando para correr esse risco, por que essa esta no papo! - disse Alexia acelerando e ultrapassando Dean novamente.

Não demorou muito para que os dois carros sumissem no horizonte.

Um pouco mais de trinta minuto se passaram até que Alexia estacionou seu Charger em frente a uma bomba de gasolina, logo depois, Dean fez o mesmo. A caçadora desceu de seu carro com um sorriso aberto no rosto e foi em direção ao Impala, onde Dean saia com uma cara carrancuda e Sam ria da situação.

– E ai, Dean? Pronto para servir de isca? - perguntou Alexia tirando sarro.

– Você roubou! - disse Dean indo de encontro com ela.

– Não roubei nada, você que não sabe dirigir direito. Não é culpa minha se na última curva você derrapou logo depois de eu te ultrapassar.

– Eu derrapei porque você bateu no meu carro! Isso não se faz!

– Você nunca viu corridas não é, Dean? - perguntou Alexia o encarando – É normal um carro tocar no outro na ultrapassagem.

– Não daquele jeito! - retrucou Dean.

– CHEGA! - gritou Sam ao ver a discussão se aumentar – Não temos tempo para esse tira teima. Temos que reabastecer para voltar a estrada. - continuou ele mais calmo – Felizmente essa corrida de vocês valeu de alguma coisa, conseguimos alguns minutos de antecedência por isso se quiserem comer alguma coisa, fiquem a vontade.

– Eu vou comprar algumas coisas para a estrada, pois não preciso abastecer. Meu carro não bebe muito. - comentou Alexia provocando Dean, que ia carrancudo e resmungando em direção a mangueira de gasolina abastecer seu carro.

–

O dia amanhecia quando os carros vermelho e preto cruzaram a fronteira de Oregon e logo chegando á uma cidade pequena com construções parecidas com a do século XIX. Não tinham muitas pessoas andando pelas ruas e muito menos carros. Os carros se emparelharam e Dean começou a falar:

– Vamos encontrar um hotel para nos acomodar. Assim que descaçarmos um pouco, nós começamos a investigação.

– Por mim tudo bem.