Thunders And Cleaners escrita por LuluuhTeen, Luisa Druzik


Capítulo 1
One... Talvez.


Notas iniciais do capítulo

Songfic: Runaway - The National
http://letras.mus.br/the-national/1679869/traducao.html



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O vento cada vez mais forte, maltratando o vidro da janela com a potência de um martelo, a chuva junto, marretando habilmente o vidro frágil, única coisa que a protegia do temporal forte que massacrava a cidade há dias. De súbito, a televisão desligou.

Com um suspiro, ela se levantou da poltrona em frente a janela e foi desligar os eletrônicos das tomadas. Os apagões nunca foram tão frequentes quanto neste verão, isso não a incomodava, adorava a chuva e o clima sombrio que ela criava nas tardes quentes. Não que precisasse de mais coisas sombrias na sua vida, mas esse tipo de esquisitisse a agradava imensamente, era algo natural. A chuva. Uma coisa natural, que poderia trazer vida ou morte, nascimento ou destruição. Impossível saber. Sempre começa com uma simples nuvem, cobrindo o sol quente, produzindo uma sombra onde o vento poderia finalmente dar o ar da graça; poderia evoluir para algo mais, uma garoa fina, refrescante, agradável para quem está à lazer e não precisa estar sempre impecável; logo depois os pingos engrossavam, produzindo assim uma chuva fraca, uma garoa grossa, nunca se sabe. Nessa etapa você saca o guarda-chuva, abre e se protege. Engraçado como a mesma palavra pode servir para uma ação de proteção e de ataque, sacar a arma, o guarda-chuva... Quando estão todas as sombrinhas abertas, a vista de quem está acima da rua, nas janelas ou nos aviões, é espetacular. Afinal, são dezenas de formas, cores, estampas, todos sendo usados para proteger as pessoas da coisa mais vital de todas: a água. Depois dessa chuva, vem as mais fortes, mais potentes, mais ameaçadoras, mais mortais. Afinal, junto de uma tempestade, um temporal, pode vir também um furacão, um ciclone, um tornado. Não que isso seja uma rotina, mas nunca se sabe.

Repentinamente uma luz iluminou a saleta, agora escura pela queda de luz na cidade. Trovões. Sempre lhe disseram: Antes vem a luz, depois o som. E ela sempre detestou a segunda parte. O estrondo foi amedrontador, arrepiou-a por completo. "Por que diabos os trovões fazem tanto barulho?", pensou. É, por quê? Será que eram uma demonstração do nascimento? Antes a vida, depois o choro. Ou talvez como os apagões? Antes a chuva, depois a televisão desligada e o entretenimento tomado. Droga. Não tinha nada mais para se fazer naquele casebre, no meio do nada. Quem dera que ainda tivesse a mesma vida, pudesse voltar para casa, rever seus antigos amigos, a família, até mesmo os professores. Mas tudo isso lhe foi tomado, junto com suas noites tranquilas.

Outro suspiro. Tentou acessar a internet pelo celular, mas como o esperado, não havia sinal durante aquele temporal, onde a impressão que dava era de que o céu estava caíndo. Mas várias vezes havia chovido daquela forma, e ela ainda não havia sido esmagada por uma estrela, então, poderia concluir que era somente mais uma chuva mesmo. Forte, mas uma chuva. Tudo bem, pelo menos tinha a música, aquela que lhe consolara em tantas outras tardes como aquelas, e noites, e manhãs, e madrugadas... Selecionou uma playlist já conhecida e se deitou no fino colchonete esticado no chão, a poltrona não era confortável, longe disse, não passava de um amontoado de molas e espuma, coberta por um pano gasto que a acompanhou por muito tempo. Esticou o braço e, de uma caixa de isopor grande o suficiente para uma semana de mantimentos, pegou uma lata de refrigerante. O gás respingou em seu rosto quando abriu o lacre, puxando pelo anel. A temperatura fria da lata foi um choque contra sua pele quente, semi-febria, começou então a cantarolar uma música que combinava com sua situação: rítimo depressivo, letra depressiva. Estalou a lingua quando sentiu o sabor já conhecido, junto com os estalos do gás em sua boca. Perfeito.

Ouviu os barulhos na parede externa da casa, vários passos compassados, comandos. Estavam ali. Haviam achado-a. Mesmo com toda a chuva, que maltratava seu telhado frágil, abrindo várias goteiras sobre sua cabeça, eles haviam andado, até achá-la, encontrá-la para matá-la, claro. Era isso que ela esperava, que a matassem. Fácil. Rápido. Era assim que via a morte, um fim para seus problemas, não que pensasse muito nisso, afinal, sabia o que acontecia com quem tirava a própria vida. Vira isso uma noite ou duas, e não era agradável. Esticou a mão por debaixo da poltrona e puxou de lá um revolver, fácil, rápido. Não que pretendesse usar isso em si mesma, era um mecanismo de defesa, em último caso. Apontou para a porta, se recostando com cuidado e silenciosamente na parte inferior da poltrona, talvez não fossem eles, talvez não haviam encontrado-a. Quem sabe não era um engano? Alguns adolescentes já tinham cometido o erro de tentar entrar na casa. Não queria lembrar daquele dia, do dia em que teve que usar o seu dom para o mal, como concluiu, do dia em que machucou pessoas inocentes.

Os Limpadores. Era como os chamavam. Ou como se auto-denominavam, não sabia ao certo, só sabia que era assim que deveria chamá-los, pois era isso que fariam com ela, limpariam todo e qualquer resquício de que havia existido, e, droga, ela não queria que isso acontecesse! A porta se abriu com um estrondo e um a um foram entrando, ela permaneceu imóvel. De que adiantaria um revolver de 5 tiros contra tantos Limpadores? Mesmo que pudesse, ou quisesse, ou tivesse coragem de usar seu dom, ficaria fraca de mais para acordar antes deles, já sabia as consequências que utilizá-lo em tal magnitude traria para ela. Desmaios, dores de cabeça, tonturas, comas... Definitivamente, não queria isso, pelo menos, não naquele momento. Porém, se entregar não era uma opção. A própria música dizia, não era verdade? "Não haverá fuga, pois não irei correr." Respirou fundo, chutou a arma para longe de si e se pôs de pé, mãos na cabeça, estava pronta para ser levada, para onde quer que fosse, nem que esse lugar fosse o túmulo. Seguraram seus braços, sem dizer uma palavra para a sua pessoa, só entre si, em celulares, mas jamais dirigiram a palavra para ela, que continuava quieta e com a cabeça baixa, o braço pulsando de dor com a força do aperto.

Subitamente a porta se abriu mais uma vez, mas dessa, dois garotos de sua idade entraram correndo, um fechou a mão de uma forma esquisita e metade dos Limpadores caiu inconsciente, a outra metade se voltou para os dois jovens, preparando as armas, que soltaram fagulhas, brilharam e explodiram com um estrondo. "Como os trovões...", refletiu, finalmente achando a comparação mais plausível. O primeiro pegou em sua mão e a levou para fora da casa, a chuva e o vento os arrastando com força, os empurrando em direção a descida íngreme do morro onde ficava o casebre. O garoto gritava algo, mas não era possível ouví-lo, já que a cada momento a chuva ficava mais e mais forte. Ela pode ver seus lábios se movendo em um "Pule!", desesperado e repetitivo, obedeceu e se jogou sentada no barranco, sendo seguida pelos seus dois salvadores. O vento a fazia ir mais rápido, a chuva permitia com que escorregasse facilmente, o final dessa atitude seria desastroso, ela previa. E geralmente se presta atenção no que alguém como ela pré-vê. Mas não foi o que aconteceu, sentiu uma mão em seu braço e segurou firme o pulso do garoto, que tentava inutilmente amenizar a velocidade com que escorregavam. Tentou invadir a mente deles, gritando com toda a sua força: "Eu não estou gostando da ideia de ter pulado!" e recebeu uma resposta irônica de volta, mas não conhecendo a voz dos garotos, não sabia de qual deles veio a mensagem. "E o que faz você pensar que estou gostando de ser levado pelo dilúvio?". Sorriu ao perceber que esse era um trecho da mesma música. Bom, pelo menos, fossem quem fossem os garotos que a salvassem, têm bom gosto musical.


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Notas finais do capítulo

Até minhas outras fics, ou a continuação dessas.
Recomendações:
Código do Amor - Nãomelembroaautora,sorry.
Cat, Meu Amigo Piscicopata - Nãomelembrotambém,souburra.
Couer Faible - NaiaRamiro essaeulembropqéminhamega-amiga.
:8:



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