Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 51
A pequena, grande verdade


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sumi. Semana passada, quando deveria estar postando o capítulo eu estava internada, então acho uma desculpa justa.
Os reviews ainda não foram respondidos; espero fazer isso durante a semana.
Aqui está um capítulo com plottiwst.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/294242/chapter/51

CAPÍTULO 51

THE SMALL, BIG TRUTH

Lily adorava cozinhar.

Desde quando era pequenininha, cozinhava o café da manhã para os pais e a irmã. Ovos mexidos e bacon eram sua especialidade, e se ela não conseguisse fazê-los durante a semana, compensaria aos sábados e domingos.

Foi uma das coisas da qual sentiu falta quando foi para Hogwarts. O internato disponibilizava comida e não precisavam dela, uma nascida trouxa, para cozinhar. Então começou a cozinhar nas férias, para os pais, até que ambos morreram no verão logo após ela completar dezessete anos. Tuny já havia se casado com um trouxa na época, e Lily só voltou a mexer na frigideira quando se casou com James, um ano depois.

Portanto, foi com prazer que ela cozinhou o café da manhã quando seu filho pediu, pouco depois do sol nascer. Ao contrário de James, o menino era como ela, um madrugador, e estava a toda.

“Aqui, bebê” murmurou, arrependendo-se imediatamente. “Me desculpe! Você pediu que eu não te chamasse de bebê.”

“Lily, você sabe que eu não gosto de ovos mexidos.”

“É claro que não. É seu pai quem gosta. Aqui, bacon. Estou preparando o feijão. Por que está me chamando de Lily?”

Seu menino suspirou. “Lily. Abra os olhos. Eu sempre te chamei de Lily, ou senhora Potter. Está se iludindo. Abra os olhos e veja quem eu sou, de verdade. Nick está no hospital, lembra?”

Olhos verdes encontraram olhos verdes idênticos e ambos suspiraram em uníssono. “Harry.”

“Lily. Eu não estou aqui para substituir Nicholas e você precisa saber disso. Eu não sou ele. Eu não sou o menino que vocês criaram. Você e James me chamaram porque sou tão filho de vocês quanto Nick, e agirei como Harry. Não. Como. Nick.”

“Eu sinto muito” murmurou Lily, chorosa. Ela correu até o fogão, onde o cheiro de queimado começava a se manifestar, e lançou uma série de feitiços para tentar reverter a situação. Ao constatar que aquela leva de comida estava perdida, limpou a panela, fungando. “O que você gosta de comer, Harry?”

O menino deu de ombros, não se lembrando da última vez que ele pôde escolher a comida fora de Hogwarts. Eles sempre comiam o que os elfos preparavam, e era assim que as coisas funcionavam. “Qualquer coisa. Pode ser os ovos e bacon, sei lá.”

Lily franziu a testa e conjurou um lenço para limpar as lágrimas. “Mas você não gosta de ovos mexidos.”

“É comida. Eu como o que tiver. Não desperdice comida, aqui.” Ele deu uma garfada, seu rosto mostrando o completo desagrado pelos ovos mexidos, e engoliu depois de mexer a comida na boca por alguns segundos. Afinal, ele já havia comido pior.

“Não, Harry. Qual é a sua comida favorita? Eu posso preparar.”

Harry pensou na comida mais difícil que podia imaginar, porém se impediu quando as letras começaram a deixar seus lábios. Lily estava frágil, e ele não estava ali para dificultar as coisas. Não agora. Afinal, ele havia perdido Regulus, e eles poderiam estar prestes a perder Nicholas, como acontecia todos os anos.

Todos os anos, eu os dava um motivo para se preocuparem com a vida do filho restante. Eu os colocava pelo mesmo sofrimento de quando meu pai morreu.

“Sinto muito” falou sem pensar. “Se puder me conseguir algum cereal com leite, vai estar ótimo. E é realmente a minha coisa favorita para se comer no café da manhã. Iogurte, se tiver. Ou então frutas frescas. Gosto de quase tudo.”

Lily sorriu entre lágrimas. “Menos ovos mexidos.”

“Exatamente” Harry concordou, levantando-se e indo até ela. “Deve ser uma coisa que eu e Nicholas temos em comum.”

E com a frase, o sorriso não estava mais lá. A ruiva apoiou-se contra a pia, respirando profundamente uma, duas, três vezes, tentando conter as lágrimas. Harry havia dito no dia anterior que não gostava de mulheres que choravam, e ela como mãe devia pelo menos realizar aquilo. Não deveria chorar perto do moreno.

Ainda assim, seus olhos verdes brilhantes encaravam os dela com tamanha melancolia que ela mordeu os lábios até sentir o gosto de sangue, encarando o filho, sem piscar, e perguntando-se o que havia acontecido durante o tempo que ficaram fora. “Me desculpe.”

“Está tudo bem” concedeu Harry, indo até o filtro purificador e pegando dos copos com água. “Beba, vai te acalmar.”

“É água. Água não acalma.”

“Deixe-me colocar algum açúcar nela, então.”

O Outro Potter cobriu o copo com o corpo enquanto colocava uma colher rasa de açúcar e dissolvia um comprimido que carregava no bolso da frente. Mexeu até que não houvesse vestígios, então entregou o copo para a mãe.

“Merda” Lily xingou, antes que pudesse se impedir. “O que colocou aqui, álcool?”

“Açúcar, mesmo. Quando se está ansiosa, o açúcar libera serotonina no cérebro e te deixa mais feliz ou alguma coisa assim” explicou Harry, como uma coisa cotidiana. “Beba tudo, e depois você pode me explicar o porquê de você estar tão chorona” ele pausou. “Não está grávida, está?”

A ruiva riu, voltando a enxugar as lágrimas que escorriam pelo rosto. “Não. Você e Nick já são problema demais, sozinhos. James iria pirar se eu aparecesse com mais um bebê em casa. Se pelo menos fosse uma menininha...”

Mas Harry se apressou: “Não, não, não, vamos tirar essas ideias da cabeça. Logo Nicholas estará em casa e você terá que cuidar de dois adolescentes de quinze anos. Adicione um bebê na equação e o resultado não é bom. Aliás, você poderia ter outro garoto. Aí, quando ele tivesse nossa idade, você já seria avó e teria que cuidar de filhos e netos ao mesmo tempo. Ideia ruim, Lily, ideia ruim.”

Compartilharam um olhar e riram juntos. Lily então chamou um dos elfos domésticos que tinham para manter a casa e pediu, conforme Harry instruíra: Cereais com leite, iogurte e frutas frescas.

Mãe e filho comeram o café em silêncio, ele, com medo de provocar um ataque de choro na mãe, e a mesma, evitando conflitos com o filho. Quando terminavam, ao que Lily colocava os pratos sujos na pia, James entrou, seus cabelos de corvo mais desarrumados do que o usual.

“Bom dia, Lily Flower” cumprimentou ele, sentando-se na mesa e se servindo da segunda leva de feijões que a ruiva havia cozinhado. “Temos que nos apressar. Estão começando a fazer os músculos da prótese do Nick e temos a consulta do Harry.”

O menino pulou: “Consulta do Harry? Que consulta é essa que eu não estou sabendo?”

“Querem saber como você está passando depois dos, hmm, eventos dos últimos meses, e te fazer algumas perguntas para melhorarem a pesquisa em poções de adoção” explicou Lily, entregando a James uma xícara de chá inglês. “Não vai levar mais que uma hora, e os professores te dispensaram junto com Nick dos deveres de casa do ano.”

Levantando uma sobrancelha (e detestando como parecia com James), Harry comentou: “Privilégios de ser irmão do menino-que-sobreviveu?”

“Privilégio de passar as férias internado” corrigiu a ruiva, tirando o avental. “Melhor se trocar. Já sabe o que vai vestir?”

Sua resposta foi instantânea: “Alguma coisa preta.”

James já fazia que não. “A família Potter se veste de vermelho quando sai, para mostrar a força dos Gryffindors. Utilize pelo menos um artigo vermelho, para combinar.”

Lily viu a careta do filho e assentiu, adicionando: “Eu fico terrível em vermelho, por causa do cabelo, então costumo usar sapatos. Para você, um boné vai servir.”

_

“Como está se sentindo?”

“Eu sei lá” soltou Harry, sendo o mais honesto possível. “Como eu deveria estar me sentindo? Não sei se vocês perceberam, mas ando sendo mantido no escuro.”

Jones sorriu para ele, e sua mão com seis dedos usava a pena, anotando as respostas. “Seu equilíbrio está normal?”

“Na verdade, ando tropeçando bastante, mas já está ficando melhor. E a dor já quase desapareceu.”

“Excelente” murmurou o medibruxo, molhando a pena no tinteiro e voltando a escrever. “Essa era a minha próxima pergunta. Alguma coisa está te incomodando?”

Harry fez uma cara divertida. “O modo como eu me pareço. É um choque toda vez que me olho no espelho. Assumo que você não possa fazer nada sobre isso?”

Olhando o antes e depois do menino e notando as claras diferenças, confessou: “Não acho que exista cirurgia plástica no mundo que possa de deixar como era antes, mas quem sabe algo mágico? Um glamour, talvez. E se estiver disposto a gastar um pouco de tempo todos os dias, pode dar um jeito nesses cabelos.”

O menino não estava interessado em falar sobre aquilo. “Doutor, por que está me fazendo todas essas perguntas? Eu estou bem.”

“Na verdade, Harry, é uma surpresa que você esteja bem. A poção que você tomou, ela é feita para te tornar da família do patriarca. Quando o patriarca... expira, entende o que estou dizendo? O adotado... expira também.”

A realidade acertou Harry como um caminhão a cem por hora.

Ele se tornou mais amistoso ao levar Harry para um quarto no quarto andar onde havia uma bacia de madeira com runas esculpidas. Dentro da bacia havia uma adaga afiada com a marca negra. Regulus desenhou um círculo no chão, e Harry foi posicionado no centro do círculo.

Regulus andou ao redor do quarto, reunindo ingredientes de poções e os juntando até que havia uma mistura líquida roxa em sua mão. Ele cuidadosamente depositou o líquido na bacia, que brilhou por um momento. Regulus então pegou a adaga e picou seu dedo, deixando uma única gota de sangue cair. Depois foi a vez de Harry, e quando o sangue se misturou à poção, ela ficou prateada.

“Beba” ordenou Regulus estendendo a bacia para Harry. “Beba até acabar. Isso fará você um Black, apesar de não aparecer na árvore da família.”

Harry levou a bacia aos lábios e sem respirar, começou a beber. A poção não tinha gosto, mas conforme as golfadas se alojavam no estômago de Harry, ele se sentia cada vez mais diferente por fora. Em um determinado ponto, o menino perdeu o equilíbrio, e quando caiu no chão viu que a mão que havia usado para se apoiar era maior e mais grossa do que a que ele estava acostumado.

O círculo ao redor dele enegreceu, impedindo Harry de ver além do círculo. Sua visão, sempre defeituosa, se corrigiu, e ele passou pela dor do crescimento forçado. Seu cabelo desceu até cobrir as orelhas, ele se sentiu ficar mais largo e alto.

Uma mão em seu ombro o fez voltar à realidade, e ele se levantou com a ajuda de Regulus. Harry testou seu equilíbrio, e deu um passo em direção a Voldemort, que parecia satisfeito com a mudança.

“Agora sou um Black?” ele perguntou, e parou ao notar sua voz. Era mais profunda, bonita, do que antes, e Harry percebeu que poderia ouvir sua própria voz por horas.

“Eu sei que é muito para se lidar, mas considere-se extremamente sortudo. O estranho é que - e eu preciso te perguntar isso – você morreu, na sala de emergência. Como você voltou? Fez algum... ritual?”

A respiração do Outro Potter ainda estava superficial, e ele fez de tudo para que seu choque não se manifestasse exteriormente. Engoliu em seco; as mãos estavam fechadas em punhos e tremiam. “Confidencialidade médico-paciente?”

“Pode apostar.”

“Sim, eu fiz um ritual. Pode me dar licença?”

Doutor Jones piscou, surpreso. “Claro. Está se sentindo bem? O que vai fazer?”

Harry olhou de volta para ele: “Vou dormir.”

_

“Me chame logo, mentiroso” resmungou ele, caminhando pela névoa branca que reconhecia como a de seus sonhos. “Quero te mostrar umas poucas e boas.” Porque ele era magro, mas já tinha testado sua velocidade. Se Harry considerava Revan rápido, ele ficou mais do que surpreso quando se descobriu mais ágil. Não era a toa que James sempre escapava dos feitiços.

Segurou o pendente, pensando com força no nome do mestre, e conjurou uma cadeira flutuante para se sentar. Depois de passados cinco minutos, ainda sem retorno, ele a equipou com massagens e desejou uma coca cola. Nada. Pipoca? Também não? Malditas leis que proibiam a conjuração de alimentos.

Finalmente, quando Harry já temia que fosse ser acordado, ele avistou o mestre caminhando solenemente até ele, como se não houvesse coisa pior do que a caminhada. O Outro Potter se levantou, punhos prontos e varinha na mão.

“Tom.”

“Harry.”

“Não é mais engraçado” anunciou Harry, mantendo certa distância. Ele era esperto o suficiente para ficar longe do alcance de Voldemort. “Não quando descubro que tudo em que acreditei era uma mentira.”

A face do lorde das trevas era cômica, o modo como se contorceu de tédio para respeito e desdém. “Não me diga que você realmente ouviu o que os Potters disseram? Harry! Eles te envenenam com mentiras desde quando nasceu!”

“Assim como você!” Harry acusou, apontando o dedo e só então notando como sua mão continuava a tremer. O que era aquilo, medo, frio, choque? Uma mistura de todos eles? “Eu tinha sete anos. Sete. Não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo.”

Não era possível descobrir nada pela expressão de Voldemort.

“Quer dizer, você planejando me matar desde o começo? Como você me fez beber uma poção que depois de um certo tempo iria me fazer morrer? Merda, eu estou surpreso que durei tanto tempo.”

O bruxo mais velho deu um passo cauteloso na direção dele. “Exatamente, garoto. Faz oito anos que eu poderia ter te matado matando um servo que não me valia de nada, uma carga aos meus ombros, e eu não o fiz.”

Harry não estava convencido. “Você me queria fora de casa quando Regulus morreu. Você não queria que eu me tornasse uma carga aos seus ombros, ao morrer na mansão. Merlin, você é um bastardo doentio. Como pôde fazer isso com uma criança?”

“Não me chame de bastardo!” Havia fogo nos olhos vermelhos de Voldemort, e Harry temeu por sua vida. “E eu não fiz nada. Regulus se matou em um duelo estúpido com seu irmão estúpido em uma batalha que não deveria ter acontecido! Eu disse Nicholas Potter, não a inteira armada de aurores!”

“Agora é minha culpa?! Os aurores são efeitos colaterais de se capturar o menino-que-sobreviveu!”

“Então que não o tivéssemos capturado!” Voldemort falava para o bruxo mais jovem como se ele fosse um bebê, enfurecendo Harry ainda mais. “Você não se chama de pequeno lorde? Que tipo de lorde faz algo tão ridículo? Oh, já sei: Alguém pequeno.”

“Cale a boca!” os joelhos de Harry cederam, e ele encarou o chão, prendendo as lágrimas de frustração dentro dos olhos. Quando falou, sua voz estava rouca, porém calma. “Eu confiei em você esses anos todos, cegamente, achando que você tinha o caminho para a grandiosidade. Mas você não tem nada, tem, Tom? Tem alguma coisa que não seja relacionado aos meus planos, ou aos de Regulus?”

Voldemort arrebitou o nariz. “Meus seguidores são os mais leais que se pode ter, e como um, não consigo acreditar que você esteja agindo assim, tão infantilizado, tão... pobre, rapaz. Eu não te ensinei...”

“Nada” frisou o menino. “Foi Regulus quem me ensinou tudo. Você... Merlin, eu te admirava, enquanto você planejava minha morte.”

“E que morte é mais gloriosa do que a do guerreiro caído?”

Harry tinha sua resposta na ponta da língua. “A morte onde não há. O desvio da morte. É nisso que você acredita, e olhe onde você chegou. Se sirvo a um lorde imortal, e sou como ele chamado de lorde, pois eu devo ser imortal também.”

“Você?” Voldemort riu alto. “O que faria com a imortalidade, garoto? Mal sabe lidar com a vida.”

Ele balançou a cabeça. “Viu? Você está me distraindo. Não consegue me dar uma simples resposta, Tom, depois de oito anos de serviço leal. Acho que eu mereço isso, ao menos.”

O lorde das trevas cruzou os braços. “Muito bem então, garoto, o que quer saber? Que dúvida é essa que te impede de dormir à noite, te atormenta, não sai da sua cabeça?”

“Como. Eu. Sobrevivi?” Seus dentes estavam pressionados tão fortemente uns contra os outros que Harry podia sentir uma dor de cabeça se formando. Não importava. Ele merecia aquilo. “Por que eu não morri, como todos os outros que sofreram do processo de adoção antes de mim?”

“Quer descobrir por que sobreviveu àquilo? Sobreviveu a tantas coisas, e quer saber justo dessa bosta de adoção? Você é mais tolo do que eu pensava.”

Harry sacou a varinha. A risada do Lorde das Trevas já estava levando-o para o caminho da insanidade. “Cale a boca, ou me responda!”

“Você tem um anjo da guarda, Harryzinho. Essa é a melhor resposta que eu posso te dar. Você morreu, depois que Regulus morreu, como deveria ter acontecido. Algo te reanimou depois. Descubra o que é, e terá a chave para a imortalidade.”

“É isso?”

“Sim.” O Lorde das Trevas confirmou, então parando para pensar bem. Em seguida, retirou a varinha do bolso. “Não. Crucio!”

A dor parecia ainda pior quando se estava dentro do sonho, e Harry se perguntou quem realmente tinha controle do que se passava. Ele cerrou os dentes com ainda mais força. Esse era o sonho dele. Podia parar uma Cruciatus, podia parar o que quer que fosse, se realmente tentasse. E depois de alguns minutos de extrema agonia, conseguiu. A dor era algo fraco e fácil de ser ignorada.

“Só mais uma coisa” sussurrou ele, concentrando-se nas tatuagens do rosto até que aparecessem. Elas queimavam tanto quanto a Cruciatus contra sua cabeça. Em um movimento de remoção, como quando alguém retira um colante ou algo do corpo, Harry rasgou a tatuagem e jogou-a, com uma camada de pele e sangue, aos pés de Voldemort. Para finalizar, cuspiu uma cusparada vermelha. “Fique com as suas tatuagens.”

Voldemort olhou para ele, finalmente entendendo. “Não ouse...”

“Já ousei” interrompeu Harry. “De agora em diante, não sou mais um comensal, um pequeno lorde, ou o que quer que pense que eu sou. E se você ousar ir atrás da minha família... Eu juro por Merlin, Tom, eu vou acabar com você.”

E, num momento de determinação, o Outro Potter abriu os olhos.

_

“Daph!”

A loira abriu um largo sorriso ao vê-lo fora da cama. “Harry! Que bom que você está... bem! Venha, entre. Astoria vai dar mortais para te ver, ela anda tão preocupada. Você sabe, você é o irmão que ela nunca teve.”

“E ela é a irmãzinha pirralha que eu nunca quis ter” disse Harry educadamente, para demonstrar que aquilo era uma brincadeira. “Obrigado por me deixar vir aqui para o jantar. Depois de tudo, você podia muito bem ter me largado e ido atrás de outro com melhor reputação.”

Daphne parecia ofendida: “Eu nunca irei te largar, mesmo com todas as coisas idiotas que fez ao longo da vida” ela garantiu, puxando-o para seu quarto. “Ok. Considerando o que você tem na mão, acho que quer discutir isso em privado.”

Harry carregava o colar que dera a Daphne durante o baile de inverno.

“Então você sabe.”

“Que você anda fazendo horcruxes e distribuindo-as por aí? Descobri quando parei para pensar o porquê de eu sempre sentir que você estava comigo, desde o baile. Fui até a área restrita da biblioteca, procurei nos arquivos da família. Mandei o colar para uma análise no Gringottes. Você não vai conseguir imaginar o quanto eu tive que lutar para conseguir o colar de volta, com um pedaço da sua alma, intacto.”

Ele sorriu: “Obrigado por não me delatar para Dumbledore, e por pensar rápido quando você me viu naquela situação. Salvou minha vida.”

“Uma âncora que te liga à Terra pode ser útil, às vezes” concordou Daphne, seu próprio sorriso brincando em seus lábios. “Quem você matou para conseguir fazê-la?”

“O ladrão que acabava de roubar o colar. Juro que foi um acaso do destino. E eu paguei pelo colar, depois. É totalmente legal” ele pausou, pensando em suas próximas palavras. “Você vai continuar a usar o colar?”

Daphne fingiu pensar por um momento, divertida, mesmo já tendo suas dúvidas prontas em sua cabeça. “Depende. Ele é lindo, mas não é perigoso?”

“Eu nunca te faria nada, Daph.”

“Claro, me fazer carregar um item que significa uma passagem só de ida para Azkaban não entra na equação.”

“Achei que... Você é a minha noiva, como frisou no hospital.”

Ela fez uma careta. Não queria fazer outra cena como a do hospital, mas precisava colocar o que sentia para fora. “Como a sua noiva, eu teria carregado a horcrux de bom gosto se soubesse sobre ela. É uma questão de confiança. Você não iria me denunciar porque a horcrux é sua, e tals. Acho que precisa saber de uma coisa, Harry: Eu não gosto de ser deixada no escuro.”

“E eu te entendo perfeitamente” garantiu o menino, puxando-a para perto e celebrando internamente quando ela não se afastou. “Foi errado da minha parte.”

“Promete não fazer isso novamente?”

Harry franziu a testa, e respondeu o mais honestamente que pôde: “Não posso prometer isso, mas prometo que vou tentar. Justo?”

“É o máximo que vou conseguir” resmungou Daphne se aconchegando contra ele. “E é ouro branco com diamantes. Pelo menos você não mentiu sobre essa parte.”

_

O pequeno lorde caminhava silenciosamente pelos quartos do refúgio de guerra Black, surpreso, e orgulhoso, que as alas de proteção ainda não haviam o detectado. Ou Regulus havia ido um passo à frente, prevendo que isso aconteceria, ou Harry era poderoso o suficiente para controlar a magia da casa.

Os dois pensamentos eram maravilhosamente bons para ele.

Ele encurralou Bellatrix quando esta saía do quarto para um lanche da meia noite. Com a varinha em seu pescoço, fez com que ela recuasse até que os cabelos longos e crespos batiam contra a janela.

“Pequeno lorde” cumprimentou ela com sarcasmo, fazendo uma reverência exagerada.

“Bella.”

“O Lorde das Trevas disse que você não é mais bem vindo aqui. Como entrou?”

Harry deu um sorriso sombrio. “Do mesmo jeito que sempre entro. Ele, você sabe de quem estou falando, esqueceu que eu tenho uma chave mestra. Ponto para mim. Agora, preciso saber de que lado você está.”

Bella fez uma careta idiota e arregaçou suas mangas, mostrando a marca negra.

“Muito bem. Obrigado pelo seu tempo.”

“Espere!”

Harry mordeu os lábios para não sorrir. “Sim?”

“Do que você está falando?” Bella parecia realmente confusa, o pequeno lorde podia concedê-la aquilo.

“Digamos que estou formando um outro lado da guerra. Está interessada? Que bom. Fico feliz. Saiba, que bem como seu lorde falou, eu não faço mais parte do lado negro, não depois que algumas verdades vieram à tona. Este lado que estou formando é mais seguro, sem aurores atrás de você, e por causa da corrupção do Ministério, nenhuma força tarefa será enviada atrás de nós, porque, surpresa! Nós não existimos no papel. Os mesmos ataques, princípios, sem um louco no comando.”

Harry viu que Bella nem mesmo considerava a oferta. Um louco no comando devia ser o que ela mais gostava. Ele só esperava, porém, que ela espalhasse a palavra. “Considere minha oferta, e espalhe-a para os que julgar leais. Mas boca fechada para seu lorde, Bella. Ele não vai saber... ainda.”

“Como você quer que eu mantenha tamanho segredo no escuro, pequeno lorde?” Bellatrix pegou sua varinha torta, fez um orbe de luz aparecer e apagou as luzes. Como esperado, o orbe ainda brilhava o suficiente para iluminar seu rosto. “Meu lorde é meu lorde. Você é apenas seu mão direita.”

Não sou nem mais isso, pensou ele, ponderando se sua decisão abrupta fora a correta. Para aquele momento, ele tinha certeza que sim; não podia confiar em alguém que esperava que ele caísse morto desde o começo, além de outras mentiras que Harry tinha certeza que havia ouvido do lorde das trevas no passado. Porém, algo tão abrupto, tão repentino... Daphne poderia entrar em problemas, ou a pequena Tory, ou Fleur, ainda, que devia estar convencendo o pai de apoiar as trevas...

“Não se esqueça que fui eu quem te tirou de Azkaban” ele falou, a voz mansa. “E que orquestrei todos os ataques. Seu lorde não é mais quem ele era, enlouquecido por ideias extremistas. Ele é apenas um homem louco.”

Bella olhou para ele, desafio brincando em seus olhos. “E você não é?”

“Sou, claro” com a voz ainda mansa, estendeu a mão até tocar o topo da cabeça de Bellatrix, mandando então pequenas ondas de magia. “Mas afinal, Bella, neste mundo, quem não é?”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aos que suspeitavam que Voldemort e Harry iriam seguir caminhos diferentes... Parabéns! Vocês provavelmente descobriram isso antes mesmo de eu ter a ideia.

Espero que tenham gostado, pessoal. Em Novembro a minha rotina estará menos caótica, espero compensar para vocês.