Me explica, mais uma vez, o por que de eu estar na frente do prédio  dele, Deus? Nem você sabe, não é? Eu queria saber. Com certeza eu sou muito masoquista. O idiota me troca por aquela coisa comedora de doces e eu venho atrás.

Tá, eu sei que eles terminaram... Mas, mesmo assim, Deus.

De qualquer forma, vou subir, já estou aqui mesmo.

Olha, que interessante... Não venho aqui faz um mês e o porteiro ainda se lembra de mim. Ele é um senhorzinho gentil e fofinho, que sempre me oferecia um pão-doce.

Entro no elevador e me olho no espelho. Caracouws, eu tô um lixo. Como eu vou chegar com essa cara pra falar com ele? Tá, eu tô chorando faz 27 dias e 26 noites, mas ele não precisa saber. Tenho que dar um jeito nessa minha cara inchada antes de chegar no 20º andar. Maquiagem, pra que te quero!

Deus, me diz quem foi que inventou o corretivo, preciso erguer uma estátua no centro de Tokyo para este ser. Acho que deu uma melhorada. Uma melhorada mínima, mas foi uma melhorada.

Sair do elevador foi uma luta, juro. E ficar aqui olhando pra porta do apartamento dele é pior ainda. Aperto a campainha e escuto sua voz gritando um ‘estou indo’. Estou começando a cogitar a hipótese de ir embora daqui.

Oh, não! Minhas pernas viraram gelatina! Escuto a porta ser destrancada. Que tortura! A maçaneta roxa começa a ser girada. Lembrem-me de perguntar o por que dele ter trocado a maçaneta verde pela roxa.

A porta é aberta e revela a figura um tanto quanto detonada daquele que tanto amo. Ele me olhou e arregalou os olhos.

- Oi... – Sussurrei com a voz fraca. Senti meu corpo tremer por inteiro quando ele se jogou em meus braços e me abraçou forte. O abracei de volta, meio sem saber o que fazer.

Ele se soltou dos meus braços, devo dizer que reprimi um suspiro insatisfeito, e me puxou para dentro. Me fez sentar no sofá e foi até a cozinha, voltando um pouco depois com dois copos de suco de maçã. Meu favorito por sinal.

Deus, o que houve com meu amado? Ele parece ter chorado por dias. O que aquela criatura loira fez com ele?!

Sinto algo gelado em minhas mãos, e percebo ser o copo, que ele colocava entre elas. Era um pedido mudo para que eu não falasse, e eu entendi. Comecei a beber o suco devagar, evitando falar e dando isso como desculpa.

Fico observando meu amor, que estava de cabeça baixa, olhando para os joelhos. Nunca senti tanta vontade de abraçá-lo e sussurrar em seu ouvido que estava tudo bem. Mas, não podia falar isso... Não ainda.

- Trouxe para você... – Coloquei uma caixinha branca no colo dele, e ele me olhou curioso. – Abra...  –Sorri de leve.

Observei a curiosidade infantil dele se alastrar e ele começar a desfazer o laço da fita roxa em torno da caixa. Vi a sombra de um sorriso assim que meu amorzinho viu um monte de biscoitos em forma de ursinho.

- Obrigada... – A vozinha dele saiu fraquinha, e mais do que nunca, eu queria abraçá-lo. Ele só era grande, mas por dentro era uma criancinha.

- Eu comprei essa forminha ontem e lembrei de você...

 Observei os lábios dele tremerem e ele começar a piscar várias vezes. É, ele vai chorar. Com um pouco de autocontrole, ele colocou a caixinha sobre a mesinha de centro. Sem aviso, jogou-se em meus braços, mas eu já esperava. Abriguei-o em um abraço firme e deixei que desfalecesse em lágrimas, até que sentisse que estava melhor.

- Me des...desculpe! Po-Por favor! – Ele pedia, entre soluços.

- Se acalma... Me conte o que aconteceu aqui, onegai.

- O que aconteceu aqui não... O que aconteceu faz um mês. Eu preciso de você!

- Como é? – Juro que não entendi.

- Eu fui um babaca total. Eu descobri que preciso de você. Você é o meu anjo, e eu preciso de você pra conseguir viver. Você cuida de mim e me conhece melhor que ninguém. Eu fui TÃO idiota! Eu nunca deveria ter feito o que fiz! Mas, eu aprendi. Te juro que aprendi. Não tenho direito algum te de pedir que volte comigo, mas pode, por favor, me perdoar? Por favor, Kai! Eu realmente preciso que você me per...

Calei-o com um beijo doce. O senti sobressaltar em meus braços, mas logo correspondia ao beijo de maneira sôfrega.  Apartamos o contato depois de um tempo.

-Kai...

- Você é um bobo, Miyavi. – Eu disse, sorrindo. – Você vai sempre me ter, mesmo que você me troque por um certo vocalista loiro e viciado em doces.

- Eu nunca tive nada com o Maya, te juro! Era só um plano pra colocar ciúmes no Aiji... Mas, você entendeu errado e eu fui idiota demais pra desmentir aquilo. Mas, anjo... Eu, realmente, preciso de ti.

- E você me tem. Hoje e sempre. Eu sou seu anjo, e vou ser eternamente.

Observei o sorriso infantil do meu amor se abrir, e logo ele me beijava intensamente. Depois de um tempo, que mais me pareceu um milênio, nos separamos e senti Miyavi me abraçar mais forte ainda.

O que eu posso fazer, Deus? Eu sou o anjo da guarda desta criança, e não pretendo parar de sê-lo nem após a morte. Por que ele é a minha criança e eu sou o anjo dele.