Pain, Love, Tears And Smiles escrita por Orihara Izako


Capítulo 7
Flutuando em seus Balões




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– Matthew, você gosta de balões?

Era uma pergunta simples, sem grande sentido por trás dela. Ele afirmaria a mesma coisa, se a verdadeira história onde esta frase fora dita não lhe fosse tão conhecida.

Ele perdeu-se no tempo, congelou-se em apenas um momento em sua vida. Quantos anos fazia? Seria um ou dois? Ele nem ao menos saberia responder uma simples questão como esta; parara de contar com a chegada de um outono especialmente frio que o jogara na realidade e congelou seus sentimentos como a neve que caía do outro lado da janela do quarto no qual trancara-se, cinco meses depois.

Fora um acidente não tão inevitável assim. Ele sabia sobre sua alergia a picadas de abelha, afinal de contas, não havia algo que ele desconhecesse em relação a ela. Ele sabia, sim sabia. Mas, ainda assim, atrasou-se para o encontro secreto que planejaram em meio a um bosque infestado de variados tipos de insetos. Ao ver-se cercada de abelhas, ela não pode correr, mas tinha a certeza de que ela gritara por seu nome enquanto agonizava de dor.

Quando finalmente chegou ao local, com o absurdo atraso de meia-hora, ele encontrou-se com ela. Porém, ali estava somente o corpo sem vida de sua amada. As flores tão bem selecionadas e de uma beleza que lhe custara metade de sua mesada foram jogadas ao chão, unindo-se aos balões estourados pelo tempo que ficara em contanto com a superfície coberta de terra e folhas.

Agora estava em uma situação que poderia ser facilmente classificada de miserável. Não tinha seus pais, já que fora entregue a um orfanato logo após seu nascimento, e tão pouco tinha sua amada, morta já fazia um bom tempo. A casa onde mora não poderia receber o nome de lar; as pessoas que detinham de sua guarda não poderiam receber o nome de família.

O tempo parou, as cores descoloriram e os balões de sua memória estouraram. Nem ao menos durante aquele dia, no qual decidira-se por levar um balão da cor favorita de sua amada até seu túmulo, nada fazia sentido.

Abaixou o olhar para a tela do celular em suas mãos, teclando em busca de uma boa música para escutar com seus fones.

Quando sentiu a corda do balão escorregar-lhes pelos dedos, toda a sua atenção se voltara para o objeto flutuante que começava a se afastar. Não pensou duas vezes antes de correr para fora da área segura, na calçada, e passar para o meio da rua. Ele também não pensara duas vezes ao sentir a aproximação ensurdecedora de uma buzina e dois enormes flashes de luz. Não porque não quisera, mas sim porque não lhe fora dado tempo suficiente para pensar. Ele apenas sentira a pancada, sentira a dor, sentira o sangue abandonar suas veias e artérias. Após isso, sirenes, gritos, choros e palavras chamando por sua consciência vieram pairar em seus ouvidos como sons indistinguíveis. Acabou por cair em uma tentadora e aconchegante escuridão.

- Garoto, aguente firme! – Uma voz chamou-lhe em tom suave, mas claramente preocupada, desesperada.

Ele não sabia de onde, não sabia de quem. Mas àquela altura não era algo de grande importância para ele.

Seus músculos não se moviam, a garganta estava incapaz de reproduzir algum som, as orelhas não captavam os ruídos ao seu redor. Sentia a dor de quatro ou mais ossos quebrados; talvez algumas fraturas na costela, ou talvez perdera a capacidade de utilizar suas pernas.

Ele não sabia o que lhe acontecera, e muito menos o que estava acontecendo, mas sinceramente, ele não queria saber. Ele não necessitava saber. Ele já tinha o suficiente, e ela não continha um sorriso de pura alegria que insistia em enfeitar seu rosto.

Ela estava ali, a sua frente; não queria mais nada, não precisava de mais nada. Flutuava perto a janela, presa aos finos cordões de seus balões coloridos, acenando docemente. E ele estava junto a ela, beijando-lhe os lábios como se não houvesse amanhã – ele sabia que realmente não havia um amanhã para eles.

Eles tinham suas lembranças do passado, um tempo a compartilharem, enquanto seguravam seus respectivos balões para que não fossem levados pelo vento. Não tinham mais o que viver, não tinham mais o que falar, não tinham mais o que ouvir. Apenas o toque um do outro, era mais que bastante, era o fim de tudo.

Antes que todos os balões estourem novamente.


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