Peeta Mellark.

─ E aqui, é onde a gente treina. ─ falou Madge, abrindo uma porta que dava para um grande ginasio com duas quadras.

─ Treina o que? ─ perguntei.

─ Você pode escolher, tem futebol, dança, vôlei e natação, mas a pisicina fica lá perto do jardim.

─ Interessante.. ─ falei. ─ Você treina algo?

─ Bom, eu e minhas amigas fazemos parte da companhia de dança aqui do Colégio Capital... Você é bom em algo? ─ ela indagou.

“Não, eu não sou bom em nada” quis responder, mas para não ser grosseiro com a garota, que estava se mostrando tão bacana, respondi:

─ Futebol, eu sou bom em futebol. ─ ela sorriu.

─ Que otimo, a maioria dos meninos treinam futebol, você poderá fazer amizades nos treinos..

Antes que eu pudesse responder, uma sineta estridente soou.

─ Ah, já está na hora de irmos, o diretor Snow irá se aprensentar no auditório, precisamos estar todos lá. ─ falou ela, caminhando rapidamente para fora do local de treinamento.

Andamos por alguns varios corredores, e logo chegamos a uma grande porta dupla da cor vermelha.

─ É aqui? ─ perguntei.

─ Sim, a partir do momento em que ele subir no palco, silencio total, Snow não gosta de ser interrompido. ─ ela disse e abriu a porta.

Era um grande auditório abarrotado de estudantes, com muitas poltronas também da cor vermalha, Madge andou com habilidade entre elas, e eu a segui, esbarrando em uma ou outra ocasionalmente. A garota parou abruptamente, fazendo-me quase colidir com ela.

─ Annie! ─ exclamou, abraçando uma garota muito bonita, de cabelos negros e olhos profundamente verdes.

─ Que saudade, Mad. ─ respondeu a tal Annie.

Então Madge se virou para mim.

─ Annie, esse é Peeta Mellark, um novo aluno daqui. ─ a garota estendeu a mão para mim sorrindo, eu apertei.

─ Prazer, Annie Cresta. ─ disse ela.

─ Prazer Annie. ─ respondi com meu melhor sorriso.

─ Onde está Katniss? ─ perguntou Madge, olhando entre as cabeças a nossa frente.

─ Não sei, mas ela logo chegará, Haymitch sempre se atrasa.. ─ respondeu Annie.

Antes que Madge pudesse responder, uma voz ecoou, fazendo todos os alunos se calarem.

─ Atenção aqui, por favor! ─ falou Snow, se colocando no centro do palco ─ Sejam todos muito bem-vidos, tanto os novos quanto os velhos. Como todo primeiro dia, eu irei citar as regras básicas. É terminantemente proibido qualquer contato intimo entre meninos e meninas, eu não me importo se seus pais aprovam seu parceiro ou não, é probido namorar. ─ eu sorri nessa parte, eu jamais namoraria mesmo ─ Garotas são proibidas de irem ao dormitório dos garotos e garotos são proibidos de irem ao dormitório das garotas, por isso os funcionarios da escola, ocasionalmente, farão rondas pelos distritos. Às nove horas da noite todos devem estar em seus devidos distritos. Todos. Sem exceção. Sem brigas. Discussões acontecem, porém violências ou insultos são proibidos, não importa quem tenha começado. Sem bebidas alcoolicas, sem drogas. Só lembrando que caso algum desses seja encontrado, você será expulso imediatamente. Uniforme é obrigatório nos dias de semana, nos finais de semana poderão ser dispensados, mas lembrando as garotas que usem roupas com bom senso, qualquer roupa estravagante demais será confiscada até o final do ano letivo. Vocês têm direito à café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. O café da manhã é servido das seis às sete da manhã. O almoço de meio-dia à uma hora. Café da tarde das quatro as cinco e Jantar das sete as oito e meia. Sem nenhum atraso. Lembrando que a aula de vocês vai das sete da manhã às cinco da tarde, com pequenos intervalos entre cada três aulas. Os esportes ensinados aqui são futebol masculino e feminimo, vôlei feminino e masculino e natação. Temos aulas de dança, e as garotas que se destacarem farão parte da Companhia de dança do Colégio Capital, chamada Vida e Movimento que participa de concursos todos os anos. Temos uma piscina na extremidade do jardim, que pode ser usada apenas para as aulas de natação. Creio que seja só. O resto vocês vão descobrindo ao passar do tempo. Como já passa das nove, vocês poderão ir daqui para os seus distritos, as aulas se iniciam amanhã, tenham uma boa noite.

O diretor caminhou lentamente para a extremidade do palco, e sumiu através de uma cortina preta.

─ Vamos logo para o nosso distrito. ─ falou Annie.

Elas sairam e eu sai logo atrás, pois Effie já havia confirmado comigo que eu realmente ficaria no doze.

Assim que chegamos no andar, um alto som de conversas invadiu meus ouvidos, a balburdia na sala de estudos era grande.

─ Nós vamos para o nosso dórmitório, nos vemos amanhã, tchau! ─ falou Madge.

─ Tchau. ─ falei, e vi as duas sumirem em uma escada em espiral a minha esquerda.

Comecei a andar entre aquelas pessoas todas, e cada passo que dava, odiava mais meu pai.

Como pode me jogar num lugar desses? Eu não conheço ninguém aqui, estou totalmente sozinho! Se o que ele queria era arruinar minha vida, ele conseguiu.

Decidi que não adiantaria nada continuar ali, então fui andando em direção a escada em espiral à direita, que levava ao dormitório dos meninos. Assim que cheguei no topo, dei de cara com um corredor com inumeras portas, cada uma delas continha um numero e três nomes. Andei devagar, procurando o numero 125, que era o que Effie havia me dado. Logo achei a porta com o tal numero, e no centro dela estava escrito: Finnick Odair, Gale Hawthorne, Peeta Mellark.

Então esses seriam meus colegas de quarto. Suspirei e abri a porta, e assim que o fiz, uma almofada me atingiu no rosto.

─ Ah, me desculpe, era pra acertar no Finnick. ─ falou um garoto de cabelos negros e olhos cinzentos.

Eu dei de ombros e entrei.

─ Você deve ser Peeta, não? ─ falou o outro garoto. ─ Eu sou Finnick Odair. ─ me estendeu a mão.

─ Peeta Mellark. ─ falei apertando-a.

─ Eu sou Gale Hawthorne. ─ falou o que tacou a almofada em mim.

─ Prazer. ─ disse apertando sua mão também.

Me sentei na única cama desocupada do quarto, e tirei a camisa.

─ Então, você é novo não é? ─ perguntou Finnick.

─ Sou sim. ─ respondi. ─ Vim da Flórida.

─ Meus pesames, caro amigo. ─ falou Gale. ─ Isso aqui é quase tão ruim quanto um reformatório.

─ Ah, pelo menos as garotas são bonitas. ─ respondi, e vi um sorriso sacana se formar no rosto de Finnick

─ Ah, com certeza, e as do doze são as melhores! ─ falou ele, e Gale rolou os olhos.

─ Ninguém leva a sério esse lance de “terminantemente proibido qualquer contato intimo entre meninos e meninas” não é? ─ falei, fazendo aspas no ar.

─ Ah não, isso ai é só formalidade, o proprio Snow sabe que varios alunos se pegam nos cantos da escola. ─ falou Gale.

─ Melhor assim. ─ falei me jogando na cama.

─ Deixa eu adivinhar, é do tipo pegador, né? ─ perguntou Gale, estreitando os olhos.

─ Bom, gosto de pensar que sim. ─ respondi.

Finnick gargalhou.

─ Até que enfim um dos meus, não aguentava mais o Gale politicamente correto. ─ falou ele.

─ Eu só não curto esse lance de ficar com garotas pelas quais não sinto nada. ─ respondeu ele.

─ Sério? ─ perguntei. ─ Ah, corta essa.

─ Gale, isso é muito gay. ─ disse Finnick, reprimindo uma risada.

─ Cala a boca, Finnick. ─ ralhou Gale. ─ Eu só não gosto de tratar garotas como objetos.

─ Cara, eu já te disse, elas gostam de serem tratadas assim, pelo menos a maioria delas. ─ Finnick deu de ombros.

─ Concordo com o Finnick, claro que tem algumas meninas que simplesmente não se deixam ser tratadas assim, que são diferentes, mas a maioria não dá a minima para essas coisas. ─ concordei.

─ De qualquer forma, apenas uma garota me interessa. ─ disse Gale, deitando na cama ─ Boa noite.

─ Que garota? ─ perguntei.

─ Nem adianta, ele nunca fala, mas eu tenho leves suspeitas. ─ falou Finnick, com um sorriso sacana, deitando-se também. ─ Boa noite.

Dei de ombros.

─ Boa noite. ─ respondi.

Algumas horas já haviam se passado, eu rolei e rolei na cama, porém o sono parecia fugir de mim. Eu queria sair daquele quarto, queria tomar um ar, mas parece que desrespeitar as regras no primeiro dia na escola não é uma coisa muito racional.

Mas eu poderia ir na sala de estudos. Não é grande coisa, mas pelo menos eu sairia daquele quarto, que parecia me sufocar.

Desci sorrateiramente as escadas, e logo cheguei a ampla sala, agora vazia de alunos, com varios pufes, sofás, mesas e etc.

Me sentei em um sofá, ainda com a sensação de estar preso, olhei para os lados procurando uma janela, quando avistei uma pequena mesa no fundo sala, e nela uma garota estava debruçada.

Me aproximei o bastante para ver que ela dormia, e também que era exageradamente linda. Sua pele era clara, e os cabelos negros caiam em cascata, pelas costas, enquanto alguns fios caiam sobre o rosto, seus olhos estavam levemente inchados e vermelhos, o que me fez questionar o motivo pelo qual ela chorava. Ela dormia em cima de um caderno, e a mão segurava uma caneta frouxamente, certamente estava tentando escrever algo e acabou adormecendo.

Era uma cena tão linda e pura, que decidi desenha-lá.

Não mencionei que sou otimo desenhistas? Pois é, apesar de praticamente ninguém saber, eu sou, e adoro isso, mas é um talento que guardo apenas para mim.

Peguei um papel e um lapis que estavam sobre um mesa do meu lado e comecei a desenha-lá, observando atentamente seus traços, retrando com o maximo de delicadeza que a cena representava.

Pensei em como seria estranho se a garota de repente acordasse e desse de cara comigo, olhando atentamente para o seu rosto.

Ela certamente gritaria ou coisa assim.

Sorri imaginando a cena.

Com esse pensamento terminei o desenho, o coloquei em cima da mesa que a menina dormia e caminhei em direção a escada que levava ao dormitório dos meninos. Assim que deitei em minha cama, adormeci rapidamente em um sono sem sonhos.

Katniss Everdeen.

É realmente impressionante o poder que Haymitch tem de se atrasar, já passa das nove horas e nós ainda nem saimos de casa, certamente Snow já deu o discurso habitual dele, e todos já estão em deus distritos.

─ HAYMITCH! ─ gritei, caindo no sofá da sala. ─ ESTAMOS ATRASADOS.

─ Estou indo, lindinha. ─ falou ele, descendo as escadas, e arrumando o nó da gravata.

─ Tudo isso é para a Effie, Haymitch? ─ perguntou Prim, risonha.

Por incrivel que possa parecer, ele enrubesceu.

─ Claro que não, vamos logo, Katniss está atrasada. ─ falou rispido.

Eu e Prim rimos.

Depois de alguns minutos, estavamos na frente do Colégio Capital.

─ Vou sentir saudades patinha, nos vemos daqui um mês. ─ falei abraçando minha irmã. ─ Tchau Haymitch. ─ falei abraçando meu tutor.

─ Se comporte querida, não aguento nem ouvir a voz de Snow reclamando de você. ─ falou ele.

─ Eu nunca arranjo problema, Haymitch. ─ brinquei.

─ Quem não te conhece que te compre, srta. Everdeen. ─ ele disse me soltando.

Então entrei pelo portão, enquanto o carro dos dois desaparecia pela estrada deserta.

Eu andava sorrateiramente pelos corredores escuros, torcendo para não ser vista por nenhum funcionario ou professor, quando trombo com alguém.

Droga, enquencra logo no primeiro dia.

─ Katniss? ─ perguntou uma voz familiar.

─ Cinna! ─ exclamei aliviada, olhando para meu professor de dança.

─ Atrasada de novo? ─ ele peguntou, mas o tom de sua voz era gentil.

─ Você sabe como Haymitch é. ─ falei.

─ Então corra para o seu distrito, antes que outra pessoa te veja. ─ disse ele.

─ Obrigada Cinna! ─ murmurei, e corri para o elevador.

Eu realmente adoro Cinna, pelo simples fato de que ele não é apenas um professor, ele também é um amigo, que consegue compreender e ajudar cada jovem aqui do Colégio. Ele é maravilhoso.

Logo eu estava na sala de estudos (já vazia) do Doze, abandonei minha mala em um canto após pegar meu diario, e me sentei em uma mesa proxima para escrever. Eu queria escrever ali por que certamente as meninas ainda estão acordadas, e se eu for para o meu dormitório agora, não vou conseguir escrever nada.

Escrevi algumas linhas, que falavam sobre Prim, Haymitch e meus pais. Eu escrevia por ordem do meu psicologo, era como uma terapia para colocar tudo pra fora, mas as vezes relatar os fatos que me prendiam no passado era doloroso demais, e eu acabei debruçada em meus braços, enquanto derrubava lagrimas silenciosas. Não vi quando adormeci.

A luz do sol penetrava por entre as cortinas fechadas, eu abri os olhos lentamente com uma forte dor nas costas. Droga, isso que dá dormir em uma mesa. Esfreguei os olhos e peguei o meu diario, quando vi um papel dobrado ao meio, bem ao lado do meu braço.

Peguei o papel o abri, dando de cara com um belo desenho, um desenho de mim.