My Doorbell escrita por AHB


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/29406/chapter/1

Merope Gaunt caminhava pela estradinha que levava ao poço do Little Hangleton. Era uma menininha mirrada e demasiado suja para os seus doze anos e muito estranha também. Ela passou pelas outras crianças, com um esboço de sorriso, mas as meninas simplesmente a ignoraram e seguiram o caminho do poço, balançando seus baldes. Não que Merope fosse ruim, mas só havia uma escola primária no raio de quilômetros, o que obrigava as crianças – as filhas do juiz, do médico, do dono da venda, do pedreiro e etecetera – a se misturarem. “Uma lástima” dizia a senhora Riddle e todos concordavam, mas a linha divisória tinha que ser traçada em algum lugar e foi traçada na “menina Gaunt”. O que não era esforço nenhum, pois todos sabiam que a garota era filha do Marvolo Gaunt, o vagabundo da cidade. O "velho Gaunt", como era conhecido, vivia de bicos, andando para cá para lá com o filho, Morfino ( “Esse mais louco ainda” diziam). Os dois discutiam e sibilavam o tempo todo, quando não começavam a esbravejar que eram remanescentes da “nobre família” exibindo os últimos, e podres, dentes que lhes restavam. Ah, e o rapaz Morfino vivia bebendo e botando fogo nas caixas de correio.

Só que as críticas simplesmente resvalavam nos dois e quem sofria era a Merope, que ia para escola. Todo o santo dia ela ouvia comentários, a sua maioria vindos de Cecília Logan, do tipo “Seu pai maluco fala com as cobras, é Merope?” ou “Vocês não tem chuveiro em casa?” Isso quando não lhe faziam caretas ou simplesmente lhe ignoravam.

Mas Merope nem ligava, simplesmente sorria tolamente e continuava seu caminho. Se aborrecia, é claro, mas também sabia que se realmente quisesse poderia machucar Cecília de verdade!

É que a estranha menina Gaunt era uma bruxa, com poderes bem fraquinhos, diga-se, mas mesmo assim poderes que descendiam de uma família bruxa bastante nobre, por isso não se importava e sonhava que um dia alguém a sua altura viria lhe salvar. Imaginava um príncipe elegante, a cavalo, rico e bonito que a levaria pela mão para longe desse “povinho” de Little Hangleton (e para longe do pai e do irmão também). Um belo dia esse príncipe tomou forma humana, na pessoa de Tom Riddle, um ano mais velho, filho dos Riddle, os ricos senhores do povoado. Merope caiu de amores pelo garoto e toda a vez que ele passava por ela, a garota deixava escapar um imperceptível suspiro. Parecia que ela nem notava que Tom vivia às voltas com Cecília, os dois indo, rindo e vindo.

***

Merope entrou em casa, fraquejando sobre o peso do balde cheio d’gua. Chamou, a voz aguda:

- Pai?

Nada.

- Morfino?

Menos ainda.

O coração de Merope deu um salto. Não havia ninguém em casa, ou seja: estava sozinha!

Merope adorava ficar sozinha, não tinha que cozinhar, nem pegar água, nem varrer e todas essas coisas que fazia desde que sua mãe morrera de turbeculose, isso há uns sete anos atrás.

Saltitando pela sala suja, a garota arrancou os sapatos surrados e rodopiou até a cozinha; cantarolando foi até o próprio quarto, pegou uma boneca de pano muito velha e voltou pelo corredor. Deteve-se na porta do quarto de seu pai. Não podia entrar lá, nem para a faxina. Será que Marvolo demoraria a chegar? Era domingo... Com certeza estava em algum bico. Trêmula, a garota estendeu a mão para a porta e entrou. Lá estavam a cama velha, o colchão puído, o armário torto e... O baú de relíquias!

No baú eram guardadas as heranças de família, coisas muito valiosas e envoltas de magia, pois todo o resto a muito tinha sido penhorado. Não havia necessidade de chave, bastava ter sangue-puro para abrí-lo. Dito e feito: com uma agulha, Merope furou a ponta do dedo e deixou a gota de sangue cair sobre a fechadura. Com um estalo, a tranca foi desfeita.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "My Doorbell" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.