-Filha eu te amo – disse ele quase como num sussurro.
Quando papai começou a contar a historia eu pedi para que ele parasse para não se cansar muito, mas ele resolveu continuar narrando com muita dificuldade toda à dor que eu lhe causei.
Lágrimas transbordavam de meus olhos e me doía ouvir aquilo. Por muitas vezes e eu não conseguia mover um músculo dali, eu precisa ouvir todo o sofrimento que ele havia passado desde o dia em que decidi fugir de casa.
-Pai – disse a ele – você não fracassou, você me ensinou uma coisa muito importante na vida.
Ele me fitava, mas eu não sabia se estava acordado ou dormindo.
-Me ensinou – continuei falando – que sempre vai existir amor entre pai e filha não importa o tempo que passar.
Um leve e fraco sorriso formou-se em seus lábios brancos.
-Eu te amo – repetiu ele.
Fiquei olhando meu pai ali deitado ate um estranho som parecido com um apito dominar todo o quarto.

O som vinha dos aparelhos dele.

O mesmo som que eu ouvi quando Pedro morreu.
-Pai – disse eu mexendo em seu baço – pai me responde!
O desespero tomou conta de mim.
-Paaaaaaaaaaaai! – gritei com todas as minhas forças.
Os médicos entraram e tentaram reanimá-lo, mas tudo foi em vão.
Ele já havia partido.
Me senti tão culpada. A culpa da morte dele era realmente minha. Se eu não tivesse fugido talvez nós estivéssemos em uma das belas praias de Florianópolis, Ricardo talvez fosse meu e Silvana talvez pudesse ser minha amiga.
Mas meu pai havia morrido. Na minha frente.
Fechei os olhos e senti sua presença ali naquele quarto, como se ele viesse até mim e me abraçasse.
Respirei fundo engolindo as lagrimas.
-Eu também te amo papai – sussurrei.