Prostituta Do Governo escrita por Leticia, Lari Rezende


Capítulo 19
Casada com a noite


Notas iniciais do capítulo

Leitores fantasmas apareçam u.u Boa leitura (:



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Acordei por volta das quatro da tarde com uma movimentação estranha.
Levantei a cabeça com tudo e bati na parte de baixo do beliche.
-Ai merda! – gritei.
Lia estava agachada perto de uma tomada arrumando a antena de um radio portátil.
-O que esta fazendo? – perguntei.
-Bom – disse ela – eu acordei, tomei um banho e fui arrumar minhas roupas ali dentro – ela apontou para o móvel caindo aos pedaços que deveria ser o roupeiro – e achei esse radio portátil. Estou tentando sintonizar numa musica legal mais ta difícil.
Desci da cama esfregando a mão na cabeça.
-Eu vou tomar um banho – disse eu revirando minha mala e procurando uma toalha – tem alguém acordada já?
-Na hora em que eu fui para o banheiro não – disse Lia.
Peguei minha toalha, um par de roupas, sabonete, shampoo e condicionador.
Sai lentamente pelo corredor e por sorte não encontrei ninguém. Entrei no banheiro e tomei um banho não muito rápido. Lavei os cabelos, fechei os olhos e deixei a água escorrer pelas minhas costas pensando na reação do meu pai ao descobrir a minha fuga.
Desliguei o chuveiro, me sequei e enrolei a toalha no cabelo.
Sai do banho e dei de cara com uma mulher alta e morena.
-Quem é você? – perguntou ela.
-Oi, er... – eu estava nervosa – meu nome é Jessica – respondi.
-Oi – disse ela – eu sou Katy, da próxima vez não demore tanto no banheiro.
-Desculpa.
Passei por ela e corri para o meu quarto.
Lia ainda estava tentando sintonizar numa radio.
-Espera um pouco – disse eu indo até a minha mala. Revirei um pouquinho, peguei um cd e entreguei para Lia – coloca na musica cinco e deixa tocar.
Ela pegou o cd e colocou no radio, pulou as faixas até chegar a musica cinco.
A musica era uma das minhas preferidas:Ke$ha – Tic-Toc
-Essa musica é boa – disse Lia.

Aumentei o som e comecei a dançar.
-E então – disse eu – o que vamos fazer hoje à noite?
-Nós vamos agitar! – disse Lia.
Lia tirou da sua mala uma pequena bolsa com vários esmaltes de diversas cores. Em seguida jogou todas as suas roupas em cima da cama.
Passamos o resto da tarde pintando nossas unhas dos pés e das mãos e escolhendo nossas roupas para abalar a noite.
Eu peguei as roupas que roubei de Silvana, a saia, a meia calça arrastão e a blusa decotada mais o sapato ficaram um arraso em mim. Lia me ajudou na maquiagem e no penteado.
Ela escolheu um short curto por cima da meia calça, uma blusa sexy e apertada e um sapato parecido com o meu. A maquiagem estava linda e o cabelo bem arrumado.
Nos arrumamos para a nossa noitada e assim que começou a escurecer saímos do quarto.
Gioconda estava na sala da casa junto com mais quatro meninas. A velha senhora do sotaque italiano ficou surpresa quando nos viu produzidas. Fomos apresentadas as outras e meninas que pareciam ser bem legais. Vi uma vez numa serie de reportagens na televisão que as prostitutas eram mais unidas do que muita família perfeita de comercial de margarina.
Saímos da casa verde para rua.
-Sabe aonde ir? – perguntei.
-Vamos achar um bar e beber – disse Lia – só não sei onde tem um.
Parei e pensei um pouco.
-Quando passamos com o taxi – disse eu – eu vi algo parecido com uma bar logo mais ali na frente. Vamos ver se encontramos.
Eu dei um passo para frente e fui interrompida com um puxão de Lia.
-Jessica – disse ela – antes de qualquer coisa eu preciso te explicar duas coisas sobre essa vida. Primeiro, seu nome não pode mais ser Jessica.
-Por quê? – perguntei.
-Todas nós fazemos isso – disse Lia – a Jessica tem que morrer e outra no seu lugar têm que nascer. Uma mulher mais forte e com capacidade para enfrentar tudo. Todos os seus medos e seu passado têm que ser esquecido dando vida a novas lembranças e novas experiências.
-Tudo bem – respondi – vou pensar em algo.

-Tudo bem – respondeu ela sorrindo – a segunda coisa é que somos casadas com a noite. Por isso hoje você vai casar com a noite assim como todas nós fizemos.
-Como assim? – perguntei.
-Vem – disse ela andando - vamos encontrar o bar.
Enquanto andávamos por aquelas ruas senti uma emoção diferente percorrer sobre minhas veias. Pode parecer loucura, mas eu escutei sinos batendo ao longe, sinos de uma capela. Sinos de um casamento.
As ruas iluminadas pelos postes de luz ganhavam vida a cada passo que eu dava. Musica alta, festa na calçada, prostitutas andando de um lado para o outro e carros com os alto-falantes quase estourando passavam buzinando.
A fumaça de cigarro era forte e a rua era bem movimentada.
Uma coisa que você ainda não sabe sobre mim é que eu fui uma menina de igreja.Minha mãe ordenava que todos os domingos a família inteira levantasse cedo e fosse para a igreja. Nas aulas da catequese a professora explicou certa vez sobre uma cidade chamada Sodoma e Gomorra, a cidade do pecado, onde o diabo reinava sobre a vida de todas as pessoas que moravam ali. E voltando para a minha realidade naquele momento, olhando aquelas pessoas de um lado para o outro eu sentia o cheiro do pecado exalar fortemente, como se eu estivesse em Sodoma e Gomorra.
Eu não iria desistir da minha vida naquele momento, eu iria casar com a noite e viver como Maria Madalena, uma rainha apaixonada pelo pecado. Eu iria fazer amor severamente com a escuridão e lutar como o mais forte soldado luta contra seu próprio vazio. Aquela rua seria a minha rua. E nada dali ficaria sem eu explorar.
Paramos em frente ao bar que estava aberto mais ainda com pouca movimentação.
Arrumei meu salto alto e ajeitei a meia calça. Eu estava apaixonada por aquela rua. Eu estava apaixonada pelo pecado. Entramos no bar e fomos direto para o balcão.

Por um momento lembrei-me de meu pai e senti uma vontade louca de chorar. Mas eu não iria derrubar nenhuma lagrima nesta noite. Peguei o uísque e ergui lá em cima e ri. Estava tocando uma musica dançante e meu corpo lentamente começou a se mexer. Devolvi meu corpo vazio ao garçom que passava ao meu lado e beijei sua bochecha duas vezes.
Ele riu da minha atitude e seguiu com sua bandeja cheia de copos.
TocavaMarry the nightna pista e muitos dançavam freneticamente.
Então o mundo começou a girar lentamente para mim.
No canto do bar havia um casal se beijando lentamente. O garçom usava um jeans preto tão justo que o formato de seu pênis estava completamente à mostra. Sofás de couro serviam para fazer sexo e armas de esqueletos eram sinos de casamento no sótão.
Aquilo não fazia sentido. Será que eu já estava bêbada?
Lia me voltou para realidade.
-Está tudo bem com você? – perguntou ela – bebeu apenas um copo e já esta tonta? Você é fraca em Jessica.
Ela riu.
-A Jessica não esta mais aqui – respondi escutando aquelas batidas de sino ao longe – eu sou Jessye e estou casada com a noite.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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