Prostituta Do Governo escrita por Leticia, Lari Rezende


Capítulo 14
Prostituta do Governo


Notas iniciais do capítulo

Aqui está, como prometido, o capitulo que explica o nome da Fic u.u Boa leitura :3



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Os dois dias em que fiquei de observação no hospital passaram rapidamente. E eu pude voltar logo para a minha casa.
Tudo já estava em andamento, minha avó já sabia da minha ida para Porto Alegre e já estava me esperando, a passagem de ida já estava comprada e minhas malas já estavam prontas. Papai me deu uma boa quantia em dinheiro e disse que vovó estaria me esperando na rodoviária quando eu chegasse.
Naquela noite Sabrina fez lasanha para o jantar e todos comeram fingindo que as coisas estavam normais.
Todos menos eu.
Quando as luzes se apagaram e todos foram dormir eu esperei passar mais ou menos uma hora, desci do meu beliche cuidadosamente e fui ate a cozinha. Abri a porta dos fundos sem fazer barulho e sai para o quintal.
Era meia noite e a lua que estava brilhando naquele céu escuro era impressionante. Fechei os olhos e respirei aquela brisa fria de primavera.
Fui até a frente da casa e sentei no meio fio da calçada observando a grande quantidade de estrelas que havia no céu. Certamente o dia seguinte seria bem quente.
Um poste de luz próximo iluminava um bom pedaço da rua. Tudo estava calmo, mas era possível ouvir ao longe, ruídos de musicas em alto volume.
Um vulto se aproximava de mim rapidamente, descia a rua e eu só pude ver que era uma mulher quando ela chegou próximo onde à luz do poste clareava.
Era uma mulher alta e magra, tinha os cabelos negros e curtos, seu rosto era oval e seu nariz arrebitado. Usava um sapato de salto alto preto, uma saia curtíssima e uma camiseta regata com uma estampa estranha. A boca era dominada por um batom vermelho extra forte e suas unhas eram bem compridas.
-Tem fogo? – perguntou a mulher assim que chegou ao meu lado.
Olhei para ela assustada.
Ela exalava um cheiro estranho. Cheiro de suor, cigarro e algo mais.
-Como? – perguntei.
Ela me olhou curiosa.
-Fogo, criança. – disse ela – pra acender meu cigarro. Perdi meu isqueiro com o ultimo carinha que eu sai.

-Tenho ali dentro de casa - disse eu apontando para a minha casa – eu posso ir ali pegar se você quiser.
Ela me olhou feliz.
-Faria isso por mim? – perguntou ela num tom bobo.
-Claro – disse eu me levantando – já volto.
Fui rapidamente até a cozinha e peguei a caixa de fósforos que estava em cima da geladeira.
Voltei para frente da casa e encontrei a moça sentada no meio fio tirando um cigarro da carteira.
-Está aqui – disse eu entregando a caixinha para ela.
Ela pegou agradecida.
Sentei de frente para ela.
A moça tragou o cigarro e logo em seguida bufou a fumaça para o ar.
-Quer um? – me ofereceu ela.
Fitei indecisa para o cigarro na mão dela.
-Quero.
Ela tirou outro cigarro da carteira que estava em cima de seu colo e me deu um.
Peguei-o meio desajeitada, coloquei na boca e acendi o fósforo.
Suguei o bico do cigarro desajeitada e me afoguei com a fumaça.
Ela começou a rir e me mostrou como fazer. Analisei e fiz o mesmo conseguindo fazer a fumaça sair pelo nariz. Não era tão ruim como diziam.
-O que faz uma hora dessas na rua? – perguntou ela – pelos seus trajes eu não diria que você é umaHooker.
Olhei para as minhas roupas. Eu estava usando um shorts preto e uma camisa xadrez.
-O que é umaHooker? – perguntei.
Ela deu mais um trago no cigarro e bufou a fumaça para o ar. Lembrei que estava segurando um cigarro também e fiz o mesmo.
-Prostituta – disse ela – é o que sou.
Olhei para seus olhos e notei que o delineador estava muito forte.
-Porque você vive essa vida? – perguntei – você gosta?

Ela me olhou com um olhar triste, seu rosto não era tão jovem vendo mais de perto. Ela deveria ter um pouco mais de trinta anos de idade.
-Gostar eu não gosto – disse ela – mas é o que eu posso fazer no momento. Eu não tenho estudo, não tenho emprego, ralo toda noite pra conseguir dinheiro pra mandar dinheiro pro meu filho, minha mãe não fala comigo há anos e eu tive todos os meus sonhos roubados pelo destino.
Houve um breve silêncio.
Grilos cantavam ao redor de nos duas.
-Mas eu tenho esperança que as coisas mudem – disse ela sorrindo – eu estou indo hoje para uma cidadezinha no litoral norte do rio grande do sul, próximo a Porto Alegre.
Olhei bem dentro dos olhos daquela mulher.
-Que horas você vai? – perguntei.
-Um ônibus sai daqui por volta das sete da manhã – disse ela jogando a ponta do cigarro no canto da calçada.
Respirei fundo.
-E qual a diferença de ser prostituta aqui e lá?
-Ouvi dizer que lá é melhor – respondeu ela – é uma cidade com grandes reuniões políticas e essas coisas ligadas ao governo. Os caras ricos do governo gostam de se divertir depois de um dia de trabalho – ela bocejou – estou juntando dinheiro há um tempo pra ir pra lá.
-E seu filho? – perguntei.
-Ele mora com a minha mãe – respondeu – eles estão em Porto Alegre, eu vou poder vê-lo com mais frequência – disse ela com brilho nos olhos.
Fumei o resto do cigarro e olhei decidida para ela.
-Posso ir com você? – perguntei.
Ela me olhou assustada.
-Não – respondeu – essa vida não é pra você querida, não jogue suas oportunidades fora.
-Por favor – insisti – é importante para mim. Eu tenho dinheiro e eu quero muito ir.
Ela me olhou reprovando minha decisão.
-Você é quem sabe – disse ela – o ônibus sai as sete lá da rodoviária.
-Eu estarei lá – respondi animada.

-Não faça nada que te traga arrependimentos depois – disse ela – se eu pudesse escolher, eu não escolheria essa vida.
Respirei fundo animada.
-Tudo bem – respondi – eu não pretendo me arrepender.
A moça se levantou.
-Tenho que ir – disse ela – foi um prazer te conhecer, eu sou Lia – ela estendeu a mão.
Levantei e apertei a mão dela.
-Eu sou Jessica – disse – a futura prostituta do governo.
Ela riu e seguiu estrada abaixo sumindo na escuridão da noite.
Olhei para aquele céu estrelado imaginando se alguém também estivesse olhando para ele e pensando em mim.
Respirei fundo e voltei para dentro de casa.


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Notas finais do capítulo

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