Fim de mais uma manha de treinos exaustivos, sim, sou uma vitoriosa, mas porque continuo treinando? Para ficar perto dele, meus pais tem trabalhado duro para nos manter afastados, não tenho certeza do motivo, mas mesmo assim é bem irritante. Enobária e Brutos também praticamente nos obrigam a continuar treinando, eles falam que isso ajuda a acalmar o estresse, e é totalmente verdade. Mas finalmente chegou o dia que isso vai acabar, daqui a pouco eles estarão em minha casa, os repórteres, as equipes com as câmeras, e Charlotte, minha antiga acompanhante dos Jogos, vindos direto da capital ao distrito dois. E logo então começará a turnê da Vitória. Haverá outras pessoas também, minha equipe de preparação, minha estilista Beatriz,... A Turnê da Vitória é feita estrategicamente entre uma edição dos Jogos Vorazes e outra, para manter a coisa presente. Minha rotina tem sido meio chata ultimamente, pelas manhas eu treino com Cato e ajudo futuros tributos, pela tarde raramente saio com Sílvia ou Emma, elas agora têm estudado muito mais e me deixado sozinha, felizmente fiz amizade com a minha vizinha de frente, o nome dela é Anelise, ela foi vitoriosa na 67° edição dos Jogos Vorazes, ela é parecida com a Glimmer, só que muito mais bonita, e com certeza muito mais inteligente, ela é loira, mas possui olhos cor-de-mel. No começo achava que ela seria terrivelmente irritante, mas ela é legal, não fala de mais e ás vezes é uma ótima companhia para uma caminhada. Não sei se por ela ser bonita a capital faz ela se vender como fazem com Finnick, um vitorioso do distrito quatro, não falamos sobre isso, mas ela me dá algumas dicas de como ser uma boa mentora, apesar dela mesma dizer que odeia ser uma, então geralmente é Enobária, mas no próximo ano tudo indica que eu e Cato seremos mentores. À tarde, Cato treina, ou fica em casa, não tenho muita certeza, mas nos dias que conseguimos “fugir” vamos para uma pequena floresta que existe perto do centro de treinamento, lá é realmente agradável, principalmente pelo fato de estarmos sozinhos. Começo a andar em direção a minha casa com passos pesados, mas ainda estou a cerca de 15 minutos da Aldeia dos Vitoriosos. Pelo que sei Katniss e Peeta ainda estão brigados, não falo com eles desde dos jogos, mas Peeta ligou para Cato uma vez mês passado, não lembro direito do que eles conversaram, mas os veremos de novo na Turnê.

-- Clove! – Ouço alguém atrás chamar. Me viro e encontro Cato a cerca de 50 metros de onde estou. Não respondo, apenas fico parada no meio do caminho. – Porque não me esperou?

-- Achei que fosse treinar mais. – respondo e espero ele me alcançar, fazemos o caminho até a Vila dos Vitoriosos em silêncios.

A Vila dos Vitoriosos do nosso distrito é a que mais tem moradores, na verdade acho que nunca falei com todos eles, mas pouco me importa. As casas tem uma aparência agradável, quase exalam vida, isso me irrita um pouco, porque parece que elas estão mais felizes do que eu.

-- Enobária e Brutos vão conosco para a Turnê – ele comenta.

-- Eu sei como funciona. – respondo – eles já saíram do Centro de Treinamento?

-- Enobária vai sair daqui a pouco, Brutos saiu mais cedo porque tinha que resolver uns problemas na Noz.

-- Se eles não se atrasarem por mim tudo bem.

-- Cloveee! – Berra uma pessoa saltitante, levo alguns instantes para perceber que é Emma.

-- Estou na lista de despedidas, certo? – ela pergunta com um sorriso radiante ignorando a presença de Cato.

-- Ah, está eu acho.

-- Vou para minha casa me arrumar, até depois – ela fala e segue caminho para sua casa.

Concordo com a cabeça e continuamos andando até chegarmos à frente da casa de Cato que é antes da minha. Nos despedimos rapidamente, nos veremos de novo em breve. Continuo até a minha casa que é ao lado da dele, respiro fundo antes de abrir a porta.

-- Ainda bem que chegou filha! – Minha mãe fala vindo ao meu encontro – Como estava o treino?

-- Relaxante. – respondo revirando os olhos.

-- Ótimo! Seu pai teve que ir com Brutos resolver um problema na Noz, mas logo estará aqui também, suba e tome um banho, tem que ficar apresentável para as câmeras da capital – minha mãe fala com um sorriso triunfante.

Não discuto, apenas vou ao meu quarto, pego a roupa que está separada em cima da minha cama e tomo um banho demorado. Não lavo meus cabelos, minha equipe de preparação fará isso, me seco e me visto com um vestido bege de meia manga, e sapatos de salto marrom, que minha mãe diz que é perfeito para uma pessoa de meu status. Sílvia ainda deve estar se arrumando quando vou até a sala, minha mãe preparou biscoitos para quando o pessoal da capital chegar, decido pegar alguns escondido. Fico sentada na sala até o telefone tocar.

-- Sra. Rivers? – Uma voz pergunta antes que eu possa dizer que sou eu.

-- Não, ah, Clove – respondo.

-- A Katniss me ligou. – Identifico a vos, é Cato.

-- Achava que ela não gostasse da gente. – respondo revirando os olhos apesar dele não poder me ver.

-- Acho que você que não gosta dela – ele suspira – é importante, ela recebeu uma visita do presidente, não posso dar detalhes agora, apenas, se cuida.

-- Tudo bem – respondo ainda digerindo suas palavras – nos vemos depois, certo?

-- certo.

Desligo o telefone quando ouço buzinas e gritinhos histéricos típicos da capital. Minha irmã abre a porta e meus pais vão conversar com Charlote. Fleur vem até mim e olha com uma expressão assustada.

-- O que você fez com o seu cabelo?

-- Nada – respondo.

-- E as suas unhas? Esses seus treinos estão acabando com as suas unhas! Vou ter que usar unhas postiças em você!

-- Tudo bem, sei que você vai dar um jeito nisso – Beatriz fala sorridente e me abraça – Já estava com saudades de você.

Minha equipe começa a me arrumar, meus cabelos, minhas unhas,... E como de costume não param de falar, já estou atordoada quando o assunto passa a ser o massacre quaternário.

-- Você é uma sortuda! – Eleonora exclama com um sorriso, percebo que ela pigmentou sua pele que agora tem uma coloração verde.

-- É, vou ser mentora em um massacre quaternário – falo com falsa emoção.

O massacre quaternário acontece a cada 25 anos, neles são feitas mudanças nos jogos, nunca presenciei um, mas são muito comentados o mais incrível é que no ultimo massacre foi o ano que o mentor bêbado do distrito doze ganhou, e tinha o dobro de tributos. Depois o assunto muda para eventos que aconteceram na vida deles, eles comentam algo sobre uma festa que a aniversariante pediu para todos usarem penas e isso foi um erro. Logo minhas unhas postiças estão sendo pintadas e meu cabelo está sedoso e macio. Beatriz me entrega um vestido preto e branco, o visto e coloco saltos pretos.

-- Vamos começar as filmagens! – Charlotte fala me puxando.

E assim passamos o resto do tempo, eu fico como uma marionete fazendo o que está escrito nos cartões que me foram entregues, também tenho que falar a respeito do meu “talento” é uma coisa que todos os vitoriosos devem ter, já que não precisamos trabalhar e precisamos de algum assunto para entrevistas. O meu é um pouco tolo na verdade, mas é algo que me sai bem. São estudos de plantas medicinais, é um pouco tedioso também, eu poderia ter feito como Katniss, alguém fazer tudo por mim, mas pelo menos assim tenho alguma distração quando nada mais serve. Quando a entrevista termina fomos sentar e tomar chá até a equipe do 12, incluindo Katniss e Peeta, chegarem. Não demora muito para eles chegarem, quando já estão aqui tivemos outra pequena entrevista, agora os quatro juntos, é estranho ter que parecer novamente apaixonada, acho que ainda estou, mas a coisa não está igual a antes, talvez tenha sido o tempo que tivemos que ficar afastados. Tivemos um pequeno tempo para conversar antes de ir para o trem, então resolvemos falar com Katniss a respeito de Snow.

-- O que ele falou exatamente? – Cato pergunta a ela enquanto estamos no jardim, longe de todos e Peeta, por algum motivo não querem contar ele.

-- Foi uma ameaça, ele descobriu da minha farsa – ela responde um pouco aflita.

-- Ela falou de nós? – pergunto receosa.

-- Falou que vocês tem que ficar mas próximos novamente, e que a Capital não gosta de nos ver como inimigas. – ela responde calmamente.

-- Vamos dar um jeito nisso. – Cato fala e Charlotte vem nos chamar.

-- Vamos para a estação -- Effie Trinket nos chama.

Assim seguimos em carros pretos até a estação de trem do Distrito dois, ela está com uma multidão, fotógrafos e moradores daqui, consigo ver Emma lá abanando freneticamente. Cato me abraça para as fotos, acenamos para eles, até que finalmente conseguimos entrar no trem.