P.O.V Daniel

Depois que sai da casa do Cam, que um dia fora meu amigo, fui até um ponto afastado da cidade e libertei minhas assas, simplesmente não estava mais aguentando tudo oque anda acontecendo, principalmente com a volta da Luce... De novo. Eu precisava voar para esclarecer a mente, ou melhor, tentar manter aqueles mesmos olhos que tanto me lembro de meus pensamentos.

Quando percebi já estava anoitecendo, e bom, eu cheguei agora na cidade, ainda não tenho uma casa para morar, mas isso vai mudar logo logo. Achei uma casa que estava a venda, é mais simples que a do Cam, mas é bem espaçosa e confortável, e por sorte ainda tinha um corretor de imóveis lá na frente. Cheguei perto dele, o fiz olhar em meus olhos e disse:

– Eu sou um velho amigo, que chegou a recém na cidade e precisa de uma moradia, e esta casa será minha, você irá me dar como um bom amigo. - Sim, eu tinha o poder de persuação nas pessoas, com um simples olhar e umas falas eu poderia ter tudo oque eu quiser. Embora eu não goste muito de usar isso nos humanos, há outros seres, além de anjos ou demônios, que ganham a vida apenas com isso, tiram tudo dos trouxas* .

Depois que eu falei isso o rapaz rapidamente entrou no carro e de lá tirou os papéis da escritura da casa, e passou-a para mim, indo embora logo depois.

Assim que cheguei na minha mais nova e solitária casa, dei graças a Deus por estar mobiliada, só que me lembrei de uma coisa, eu estava sem carro, e a escola é longe demais para ir apé, eu até poderia ir sem me cansar, mas as pessoas iam achar isso estranho e é melhor que ninguém descubra oque eu sou. Depois de pensar mais um pouco, algo que eu ando fazendo muito ultimamente, decidi olhar o andar de cima, já que a casa tinha dois pisos. Lá em cima eu achei duas suítes e um quarto, um banheiro no fundo do corredor e mais um ambiente onde tinha uma TV de 42 polegadas e dois sofás de cor clara. Decidi olhar os quartos, e acabei por me deitar na cama de das suítes, a que era da primeira porta da esquerda, a outra suíte ficava bem na frente, enquanto a segunda porta a direita tinha o outra quarto, a segunda da esquerda tinha a salinha, e por fim um banheiro grande no final. Assim que me deitei peguei num sono profundo, agradecendo mais uma vez por não ter sonhos, pois ultimamente quando eu tenho um, eram pesadelos, e passava a noite inteira me revirando na cama e acordava perturbado com eles.

~~

De manhã pude reparar melhor o bairro onde eu estou morando agora, é praticamente vazio, e como ainda não providenciei meu carro, se eu tomar muito cuidado posso ir voando até a casa do Cam e pegar uma carona com ele, para as pessoas não desconfiarem de que eu vim apé, ou voando. Liberei minhas assas e sai o mais rápido possível, sem nem comer nada, pois acordei sem fome e provavelmente Cam deve ter algo em casa, já que ele usa muito seu poder de persuação, embora eu ache errado.

Assim que cheguei na casa do Cam, com a maior liberdade entrei direto pela janela do quarto e o encontrei dormindo na cama, quem vê pensa que ainda é um anjo. Deixei esses pensamentos de lado e decidi acordar a Bela Adormecida, que esse sim, tem um mau humor matinal que é para matar, acordou já me dando bronca, mas eu tenho que ir para a escola e ficar de olho em Luce...

– Porra Grigori, sabe que horas são ? - Tinha certeza que ele ia falar isso, já vive essa mesma rotina muitas vezes.

– Sim, hora de levantar. - Respondi com pressa, querendo que isso acabe logo e eu não chegue atrasado no primeiro horário.

– E oque você está fazendo aqui? Posso saber? - Perguntou Cam já um pouco menos alterado.

– Claro que pode, você vai fazer uma grande ajuda para um amigo antigo e leva-lo para a escola naquele carro maneiro lá na sua garagem. - Falei com um pouco de ironia na voz.

– Sonhe Grigori, ou melhor, deixe eu sonhar aqui nessa cama, pode pegar o carro pra você se quiser, não me importo, hoje mesmo já consigo um melhor. - Disse Cam -Bom, pelo menos não vou precisar convencer alguém a me dar um carro . - Disse, e quando estava saindo, Cam continuou. - Só para sua informação, eu estava sonhando com um futuro próximo, onde Lucinda vai estar aqui, nessa mesma cama, gemendo pelos prazeres que eu lhe proporcionarei.

– Você não ousaria... - Disse já voando nele e agarrando seu pescoço, o tirando o ar.

– Paga pra ver. - Disse com o pouco fôlego que lhe restou, e dito isto eu o soltei, com mais raiva ainda, mas eu precisava sair daqui, antes que eu faça algo que vá me arrepender depois. Cam somente voltou para a cama, mas provavelmente não vai conseguir voltar a dormir, por mais que ele não tenha ficado surpreso com meu acesso de raiva, ele ficou com um pouco de medo quando eu fechei minhas mãos em torno de seu pescoço, pois usei muita força, e por pouco não acabava com ele ali, e por mais que eu gostaria de tirá-lo de vez da minha vida, eu não posso. Pelo menos não agora.

Assim que cheguei na garagem, percebi que era enorme, e que dava pra colocar uns 3 ou 4 carros lá tranquilamente, e conhecendo o Cam como eu conheço, aposto que até amanha esse espaço vai estar cheio. Peguei a única chave que tinha pendurada, destravei o carro, bom ao menos ele tinha bom gosto, aquilo era realmente uma máquina, e depois entrei dentro, gostando, e muito, do meu novo carro. Sai pelas ruas dirigindo feito louco, pois gastei tempo demais lá dentro, e quando cheguei já tinha batido, mas eu consegui uma licença para entrar.

Logo a primeira aula era de Biologia, com o professor Logan, ele até seria um cara legal, se desse outra matéria como aula, biologia era o pesadelo do pessoal do 3 ano do ensino médio nessa escola, só conseguia ser melhor do que ciências do ensino fundamental. Logo que entrei na sala, com o papel da licença na mão ele já me olhou feio, ele realmente odeia que as pessoas se atrasem, mas eu ignorei o seu olhar assim que me virei e à vi, ela estava especialmente linda hoje, com uma maquiagem leve, parecendo que queria disfarçar as olheiras de uma noite mal dormida, uma blusa que hoje em dia é moda, mas antigamente era quase um crime usar, de manga morcego como alguns chamam, e uma calça jeans escura, mas ela estava diferente de algum modo, o olhar estava distante, pensativa, nem se deu conta de que eu cheguei na sala, estava totalmente concentrada nos exercícios do livro que era para fazer.

– Sr. Grigori, pelo visto o despertador se esqueceu de tocar. Pode se sentar ao lado da Luce. - Dito isto eu gelei, já não bastava ser seu colega de história, agora de biologia também? Só pode ser brincadeira dele lá em cima, eu simplesmente faço de tudo para evitá-la de perto, querendo apenas observar de longe, e vou ter que sentar justamente ao seu lado, e em duas matérias. Drew, uma vadia como chamam atualmente, já veio até mim, me acompanhando até o meu mais novo lugar, e fazendo cara de nojo quando sentei ao lado de minha Luce. O pior de tudo, é que terei de fingir que não gosto dela, enquanto a verdade é que à amo mais do que mim mesmo, e todas as vezes que ela morre, oque me motiva a continuar é saber que daqui 17 anos ela irá reaparecer novamente para mim, essa na verdade era a minha única certeza na vida, não importa quantas vezes ela vá, ela sempre volta para mim, os nossos destinos sempre estiveram e sempre estarão ligados, pertencemos um ao outro. Bom, mais por enquanto tenho de fazer meu teatro.

P.O.V Lucinda

Ontem à noite quando cheguei em casa, depois de tomar meu relaxante banho eu deitei, achando que teria uma ótima noite de sono, mas foi um pensamento totalmente fútil. Acabei lembrando de minha conversa com o Cam no inicio da tarde, sobre meus pais, e a lembrança deles me causava dor, principalmente pelo fato de achar que foi tudo minha culpa, se eu não tivesse... Acho melhor não pensar mais nisso, ontem, quando estava na frente de Cam, consegui me controlar, mas à noite, deixei que as minhas lágrimas caissem, até não restar mais pelo oque chorar.

Estava imersa em meus pensamentos quando vejo Daniel Grigori e sua fiel cachorrinha Drew seguindo para a mesa ao meu lado, só oque faltava aquela nojenta da Drew sentar ao meu lado, ou pior, o próprio Daniel. Não é que eu não goste dele, mas ele simplesmente não falava, ou não falava comigo, e fora que ele mal chegou e já ficou entre os ''populares'' assim por dizer, e também já foi fisgado pela piranha, a quem devo todo o meu ódio mortal.

Daniel sentou-se ao meu lado, ele parecia pensativo, e por mais que eu quisesse eu não vou falar com ele, meu orgulho é maior, e eu, definitivamente, não vou dar uma de Drew e sair por ai seguindo ele, se ele quiser ele que venha falar comigo, coitada de mim, acho melhor esperar sentada, Daniel Grigori Não é o tipo de cara que se envolveria comigo.

Quando toca para o próximo período, sinto uma mão tocar de leve meu pulso, na mesma hora choques elétricos percorreram meu corpo, e senti uns formigamentos estranhamente familiar, levantei os olhos para ver quem que segurou meu pulso, quando olho em seus olhos, hoje eles estavam ainda mais violetas se possível, nunca vi nada igual.

–Hãn, oi, acho que se lembra de mim, Daniel, sou seu colega de história no primeiro tempo, lembra? - Como eu iria me esquecer? Obvio que lembro, também lembro de como você me tratou super bem aquele dia. Acho que ta na hora da revanche. - Sim, eu lembro. E dai ? - Respondi curta e grossa, ele chegou a levar um susto, acho que não esperava essa minha reação.

– Bom, é que você se esqueceu do seu livro de história na casa do Cam. - Disse com certa raiva no rosto, oque achei estranho, mas como ele é estranho, acho que é normal ele ter comportamentos estranhos, lógica não? Não.

–Brigada, achei que tinha perdido, mas como você sabia que estava lá ? - Disse totalmente desconfiada, afinal, tenho certeza que ele foi lá de tarde, mas foi de novo depois que eu sai? - Ah, é que... Eu fui visitar o Cam e acabei achando o seu livro no quarto dele, perto da cama, oque vocês estavam fazendo lá ? - perguntou, e pude perceber um certo... Ciúmes? Como? Mas se é para jogar, vamos jogar Grigori.

– Oque você acha que estávamos fazendo lá? Estávamos só aproveitando, e além disso, não sei oque você tem haver com a minha vida pessoal, aliais, minha e do Cam, obrigada por devolver o livro, agora com licença que estou atrasada. - ok, eu nem fui até o quarto do Cam, mas foi legal provocar um pouco , principalmente ver o estado que ele ficou, fervendo de raiva, a-m-e-i .

O resto do dia passou totalmente tranquilo, os professores não passaram quase nada, e com a chuva a gente foi mais cedo para a casa, uma pena só que o Cam tenha faltado, pois eu vou geralmente embora com a Penn, já que não tenho carro, não era por não conseguir comprar, mas eu tinha um certo trauma. Mas olha que maneiro, a Penn também faltou hoje, isso significa, que nessa chuvarada, vou ter que ir apé pra minha casa, e olha o mais legal de tudo, a minha casa é a umas 7 quadras desse colégio. Ai como eu amo minha vida.

E quando achei que ia ter que ir apé, me molhar, pegar uma gripe, faltar aula,perder matéria, tirar nota vermelha, rodar de ano, sim, eu sei prever o futuro, e por causa de uma chuvinha ia acontecer isso comigo, eu vejo o carro abençoado do Cam parando na minha frente e dando uma buzinadinha, eu, óbvio que não ia perder a carona e sai corendo de baixo da portaria da escola em direção ao carro, abro e porta entro e sento, tudo isso em tempo record, sim, quando eu quero consigo ser deflash . Assim que olhei para o banco de motorista, eu não vejo Cam, quem está dirigindo é o Daniel, ah claro, eu já disse alguma vez que esse guri é bipolar? Acho que já, mas não basta reforçar. Um dia ele nem fala comigo, dai hoje ele vem me fazer o favor de devolver o meu livro de história, bem querido, ai do nada fica fervendo de raiva, dai no final da manha me ofereçe carona no carro do inimigo dele? Sim, ele é bipolar. E como ele é bipolar, e eu uma pessoa muito inteligente, decidi seguir e viver o meu futuro de ir apé, me molhar, pegar uma gripe, faltar aula,perder matéria, tirar nota vermelha, rodar de ano, então sem nem falar nada eu saio do carro

–Hey, oque à com você? - Ele grita desprendendo o cinto de dentro do carro e saindo atras de mim, e eu logo apresso o passo na esperança dele desistir de vir atras de mim, e quando eu olho para tras ele estava parado, no meio da chuva bem longe de mim, mas quando me viro e olho pra frente ele está plantado na frente de mim

–M-as...ma-a-aas ... como você chegou aqui? - Burra, pra que gagueja, mas também, é praticamente impossível ele chegar tão rápido.

–Eu vim correndo, eu estava bem atras de você, você se distraiu e eu vim na sua frente - Disse bem calma, como se estivesse falando com uma criança de 5 anos, detalhe, eu já tenho 17

–Eu tenho 17 e não 5 anos para você falar comigo desse jeito, e eu vi, você num instante estava longe e no outro tava plantado aqui na minha frente. - Eu sei do que eu vi, isso não pode ser normal, não pode.

–Não tenho tempo para discutir com você. - Disse isso simplesmente e me pegou no colo, me jogando em seu ombro.

–Hey, não sou saco de batata pra você me botar no ombro desse jeito, me solta, me solta. - Eu estava quase implorando, por mais que seja ótimo sentir o contato de nossos corpos, a posição era ruim.

–Não. - Como? Não vai me soltar ? então ta. - Eu vou gritar. - Ameacei.

– Pode gritar a vontade, não tem ninguém aqui, e olha, já chegamos. - Sério? Agora que estava me acostumando com você me segurando. Então ele me colocou no banco de carona, botando até meu cinto, gente, que homem eficiente, leva no colo, bota no carro e ainda bota o cinto. Esse é pra casar.

–Precisava me trazer daquele jeito pra cá ? - Perguntei, não ia deixar barato. - Sim - Ele respondeu - Não posso deixar você pegar um resfriado . - Completou, ok, isso ta ficando cada vez mais estranho.

–Como assim, porque você não pode? - Deixei a pergunta no ar, mas acho que ele não faz questão de me responder. - Porque Daniel? - Insisti na pergunta.

–Porque você fez isso? - Tá, hoje entrou na minha lista dos meus dias mais estranhos.

–Isso oque, para ser mais preciso? - Eu não estou entendo realmente nada, agora ele tem que se explicar.

–Oque você tem com o Cam? - Oque? Ele muda de uma pergunta pra outra, mas acho que tudo está fazendo sentido, e ao mesmo tempo nada faz.

–Você quer saber...

–Oque rolou entre você e o Cam ontem na casa dele. - Ow, então era isso o tempo todo, ele só queria saber oque ouve? Mas porque ele está com tristeza nos olhos?

–Pensei que não se importa-se. - Respondi dando de ombros.

–Por favor, só responde a minha pergunta. - Disse cansado, e eu direi a verdade, não quero discussão, minha cabeça já está doendo

–Nada. - Respondi sinceramente. -Como? - Perguntou novamente, sério, ele é surdo ou só se faz? - Nada, não rolou nada entre mim e o Cam, e pra sua informação, nem no quarto dele eu fui, e não sei como aquele livro foi para lá. - Contei a verdade, afinal, não há pelo oque mentir.

–Sério? - Disse sorrindo, viu, eu e o Daniel se merecemos, ambos são loucos, mas ele ainda ganha. Depois do nosso pequeno desentendimento ele me levou para casa, e o clima tenso ficou no carro. Quando eu ia ir embora ele simplesmente me abraçou forte, como se eu fosse ir embora a qualquer momento, não consegui entender essa reação, mas deixei que ele me abraçasse, pois estava aproveitando do momento, onde não ouve palavras, apenas sentimento, pelo menos por minha parte. Quando ele encerrou o abraço parecia um pouco mais aliviado, como se quisesse fazer isso há séculos.

–Boa noite Luce. - Disse assim que sai do carro, arrancando logo em seguida, como se fosse errado oque ele estava fazendo. -Boa noite. - Respondi para onde ele estava segundos antes. - Meu amor.