Abandono Imprudente escrita por dyingbreed


Capítulo 17
47 dias no escuro




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Abri meus olhos e a luz não era a do meu quarto. Ela era branquíssima. Retraí as pálpebras e rezei pra que eu não estivesse morta e indo pro inferno. Só o que me faltava, morrer assim, que idiota. "Você não está morta. Que alívio", disse uma voz masculina ao meu lado.

Ouvia sons soltos no ar mas não conseguia juntá-los para formar palavras, eu não entendia nada. Não consegui me mexer, meu corpo não seguia os meus comandos. Com esforço levantei uma das minhas mãos e coloquei mais ou menos na frente do rosto - o suficiente pra tapar a porra da luz e me deixar enxergar.

Do meu lado estava Declan segurando a mão que não estava levantada. "Desligue essa luz", eu pensei, "desligue agora". Mas as palavras pareciam não sair da minha boca. Ele levou minha mão ao seu rosto e eu o afaguei com carinho. Ele sorriu e eu retribui estantaneamente.

- Charlie já vem. Ela saiu daqui por um segundo e você acordou bem nessa hora.

Tentei me levantar mas minhas pernas pareciam não funcionar, elas não se moviam de jeito nenhum e isso me deu medo. Logo vi uma enfermeira entrando no quarto acompanhada por um médico. O dois cochicharam algo que não ouvi e depois ele veio falar comigo.

- A Bela Adormecida finalmente acordou! Você nos deu trabalho mocinha.

- Q-quanto ... t-tempo e-eu... eu ...

- Calma. - o médico me interrompeu. - Não deixe o pânico tomar conta. - ele deu uma pausa. - Você está bem.

- Quanto tempo eu estou aqui? Eu dormi o dia inteiro, é isso? - silêncio. - Dec? - disse olhando em seus olhos.

- Ontem foi seu quadragésimo sexto dia aqui Verônica. - ele falou cabisbaixo.

- Faz quarenta e sete dias que eu estou aqui? - me exaltei.

- Sim. - o médico respondeu. - Acontece que... você perdeu muito sangue e as transfusões falharam. Seu organismo parecia rejeitar de alguma forma os medicamentos até que achamos os remédios certos e seu corpo aceitou bem. Você entrou em coma por causa da batida da cabeça na escada e a perda de sangue só piorou tudo.

- Como assim? Vocês só podem estar me zoando.

- Não estamos, querida. Eu nunca faria piada de algo tão sério. Como está sua perna?

- Eu não sei, eu não as sinto. Parece que estão dormentes. Eu bati a coluna e estou paraplégica também? - eu disse com raiva.

- Não! Misericórdia. - o médico falou fazendo o sinal da cruz. - Você deslocou o joelho esquerdo e passou por uma cirurgia pra que não ficasse com problemas. - levantou a coberta pra que eu visse a tala.

- Eu vou mesmo ficar bem? - me preocupei.

- Sim, melhor impossível! Ah, e demos alguns pontos pelo seu corpo nos lugares em que os cacos entraram fundo. O ombro foi o pior deles. - abaixei a parte da camisola que tapava meu ombro e vi o tamanho do corte. Gigantesco. - Já passei o remédio no soro e você vai ficar em observação por pelo menos menos uma semana. Agora eu vou embora. Vou deixar você conversar com o seu namorado!

- Obrigada. - respondi seca. Quando ele saiu, olhei pra Declan e ele parecia estar longe dali. Resolvi quebrar o silêncio. - Se eu falar que não caí e sim fui empurrada você acredita? - disse séria.

- Me explica direito. - ele me encarou pensativo.

- Tipo, quando eu estava descendo a escada, senti mãos me dando um impulso pra cair e quando eu estava toda ferrada lá em baixo e abri os olhos, havia uma pessoa toda vestida de preto no começo da escada lá em cima.

- Você tem certeza disso? - ele segurou minha mão e eu a apertei forte.

- Sim, eu tenho. - duas lágrimas escorreram de meus olhos e ele as enxugou.- E se eles vierem aqui no hospital terminar o serviço? Eu estou em pânico Declan.

- Faz 47 dias que você está aqui e você não ficou sozinha nenhum minuto. Eu, a Charlotte e o Nolan - "Nolan, será que ele viu alguma coisa?" - revesamos cada um em uma noite pra não te deixar sozinha. Claro que a gente acabava vindo todo dia mas de noite a gente revesava pra dormir. Acho que a Charlie não dormia, porque ela me ligava de madrugada pra ter notícias.

- Charlie realmente se preocupa comigo. Ela devia ser minha irmã porque olha! Não sei explicar. - dei um sorriso de leve e ele pareceu se perder em meus lábios pois começou a encará-los. - No que está pensando?

- Não sei. - ele balançou a cabeça rápido como se quisesse afastar pensamentos. Como se eu pudesse ler sua mente e... ele não quisesse isso. - Acho que eu passei quarenta e sete dias pensando no que faria se chegasse a não te ver mais.

- Você não precisa mais pensar nisso. - passei meus dedos fracos em seu rosto e ele fechou os olhos como se quisesse sentir minha pele. Bem nesse momento a Charlie chegou.

- Viiiiiiiiiiiish! - Charlie soltou as palavras no ar. - Vejo que estou atrapalhando tudo aqui, mas foda-se. Que saudades de você amiga! - ela deu aqueles gritinhos histéricos de patricinha e veio me abraçar.

- Amor demais Charlotte, por favor, espaço pessoal ...

- Espaço pessoal é o caralho. Sabe como eu fiquei quando fiquei sabendo que você estava em coma? Eu quase morri. Nunca mais faça isso comigo.

- Claro, e eu planejei cama detalhe pra cair da escada.

- Cala a boca. Estou feliz demais pra começar a brigar com você. Senti sua falta pequena rabujenta. - lágrimas desceram no rosto da Charlie e eu não sabia o que dizer, ela me deixou sem palavras. - Nolan disse que ia vir te ver hoje de noite então eu nem avisei pra ele que você acordou. Vai ser uma surpresa.

- Ah, ele vai vir? - tentei não parecer empolgada.

- Sim, ele vem. Todos os dias depois do trabalho. - Declan fala irritado.

- Só faltava voar faíscas no ar quando ele chegava e Declan estava aqui. - Charlie ri e lhe belisco. - Ai idiota. - ela cerra os dentes pra ele não ouvir.

- Charlie, pode buscar um suco pra mim? Odeio esse chá. - ela cheirou o bule e sentiu o aroma. Erva cidreira.

- Argh! - ela fez cara de nojo. - Nem pra ser de frutas vermelhas? Vô lá buscar, já volto.

Ok, isso foi apenas uma distração pra ficar sozinha com Declan, que entendeu bem isso.

- Você tem certeza que isso foi planejado? - voltou no assunto.

- Eu... - Será que eu devo confiar o que sei pra mais alguém além de mim? - não sei. Só estou com medo. - Não, não vou dividir isso com ninguém. Nem mesmo com o Dec. Não seria seguro pra ele na realidade e me preocupo.

- Você sabe que pode confiar em mim, certo? - "Não sei", pensei.

Nesse momento, Nolan surge na porta e parece feliz em me ver com os olhos abertos - pois soltou um sorriso de orelha a orelha. Declan revirou os olhos. É, acho que não há possibilidade dos dois se darem bem. Eles se odeiam. Culpa minha.

- Acho que é melhor eu ir embora. - Declan disse segurando minhas mãos mais forte.

- Já tava na hora mesmo seu...

- Cala a boca Nolan. - o impedi de falar alguma besteira. - Sim Dec, sei que posso confiar em você! - disse quase num sussurro. - Mas você precisa mesmo ir? Tão cedo? - disse com cara de manhosa.

- Tenho que ir sim mas volto amanhã, você sabe disso. Hoje é a noite do Nolan... - ele levou seus lábios em meu ouvido e falou bem baixinho: Senti sua falta. Então ele selou nossos lábios.

Não posso dizer que não esperava por um beijo amoroso de Dec mas, quando ele afastou, eu segurei seu rosto, contemplei seus olhos pretos com meu olhar cansado e procurei o que me fazia sentir bem ao lado dele. Será que eu estou me apaixonando por ele?

- Te vejo amanhã? - não soltei seu rosto.

- O mais rápido que eu conseguir. - o puxei para um selinho mas o beijo acabou demorando mais do que o esperado. Soltei o rosto dele e ele saiu. Olho pra Nolan e quando ele percebe que eu o encaro faz uma cara de nojo e finge colocar o dedo na garganta pra vomitar.

- Que maduro!

- Me conta o que tu vê nesse pirralho, por favor. - ele sentou desleixado na poltrona e arreganhou as pernas.

- Seu coturno tá desamarrado.

- Não mude de assunto. A macumba dele é boa ou o que?

- Não fala assim dele. Quem me abandonou foi você Nolan. - ele pareceu pensar um pouco sobre o assunto pra depois responder.

- Mas eu voltei - ele agarrou a minha mão. - e estou pronto pra guerra.

- Guerra?

- Sim. - ele me encarou mostrando seriedade. - Estou em guerra. Vou lutar por você.

- Acho que é tarde demais.

- Nunca é tarde quando se vale a pena lutar.

- Talvez seja idiotice pensar assim.

- Talvez eu te ame o suficiente pra tentar, já pensou nisso? - ele se ajeitou na poltrona. - Eu sei que você ainda gosta de mim, mesmo que você negue até o fim, eu sei que você ainda se arrepia quando eu te toco. E eu sei que você quer me beijar tipo... agora. - ele encarou meus lábios fixamente por alguns segundos e graças a Deus a Charlie entrou com o meu suco.

- Você gostou da surpresa Nolan? - ela riu e me entregou o suco. Nolan não parecia feliz por ela ter chegado mas eu não liguei. - De laranja, seu preferido.

- Adocicado? - fiz cara de criança.

- Claro!

- Charlie, você é a melhor. - suguei o canudo e sim, estava do jeito que eu gosto.

- Já é 23:30. Como o Nolan chegou pra dormir aqui eu já vou indo mas... pausa dramática.

- Fala logo capeta!

- Mas, amanhã eu volto cedinho. - ela me deu um beijinho na testa, delicada como sempre, e saiu pelo corredor cantarolando.

- Vejo que te tenho a noite inteira. Só pra mim.

- Estou mal e olha no que você pensa. Sossega o facho aí. - me virei na cama ficando de costas pra ele. Estou fraca, falando pouco, minha voz fraqueja, que inútil.

Um bom tempo depois eu senti braços me entrelaçando por trás. Sua cabeça se acomodou em meu ombro. Fingi que estava dormindo e acho que ele acreditou pois adormeceu um tempo depois ao meu lado.

Agora eu já não sentia tanto medo do vulto preto que vi em minha casa, eu sentia segurança com ele, como se seus braços me protegessem de todo mal. Ele estava quente e seus braços eram confortáveis, sendo assim, fiz o mesmo que ele e apaguei.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido. Achei esse capítulo chato mas tá na boa parça. Talvez no começo as pessoas que curtem o Nolan e odeiam o Declan tiveram um pouquinho de raiva, mas calma gente! Espero que tenham gostado e sei lá, achem bizarro que ela tenha ficado tanto tempo em coma. kkkkkkkkkk, parece que ela realmente é azarada. Beijos, até a próxima ♥



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