- Não acredito que estás chorando, Daniel! – A voz de Arthur era debochada. Vinha da porta, onde ele se encontrava em pé – O que foi? Contou sobre a sua esposa? – Daniel o encarou e eu o soltei.

- De onde vocês se conhecem? – Perguntei tentando amenizar a situação o mais rápido que pude.

- Connecticut, 1864. Eu tinha uma bola e não deixei Daniel brincar.

- Tá – disse rápido – e desde quando não gostam um do outro?

- Ele não gosta de mim desde que percebeu que a Kalizia gostava – Eles se encaravam. Me pus entre a cama e a porta, para que me olhassem.

- Ah não... Os dois gostavam dela? – Perguntei receosa.

- Claro que não!

- Kalizia era irmã dele – Daniel completou.

- Vocês foram cunhados... Deveriam ser amigos!

- Eu quis ser amigo dele, começando por 1864 – Daniel continuou.

- Mais eu nunca gostei desse idiota, nem mesmo quando eu tinha 10 anos. Nunca entendi porque Kalizia se apaixonou por ele, tantos outros na cidade e ela se casou com o garoto que acabara de perder o pai!

- Arthur... – o chamei, um pedido de calma.

- Qual o seu problema? Eu amava ela! Eu a queria fazer feliz! – Ele vociferou, seus olhos passaram do esmeralda para o vinho, as veias ao redor estufaram. Eu nunca havia visto algo assim, mantive-me calma sei lá como enquanto ele encarava Arthur por cima dos meus ombros.

- Sim, a amava tanto que se alimentou dela, matou a minha irmã! Arthur vociferou. Caninos pontiagudos apareceram em sua boca aberta, seus olhos igualmente vermelhos ao de Daniel.

Dei dois passos para trás um pouco antes de Daniel voar com suas mãos no pescoço de Arthur. Cai em meio aos dois mais alguém me segurou e me carregou para a cama.

- Daniel! – Uma voz agora familiar gritou e pude ver Daniel soltar o pescoço de Arthur. Seus olhos voltaram ao normal e Arthur pulou pela janela sem dizer nada – O que deu em você? – O homem louro perguntou se virando para mim.

- Jorge? – Perguntei surpresa.

- Calma Emily – Ele pediu e eu apenas fiz que sim com a cabeça – Daniel... Eu não te vejo perder a cabeça desse jeito desde 1983. O bar no Rio de Janeiro, lembra? – Daniel concordou com a cabeça, a expressão em seu rosto era triste – Não pode perder a cabeça com Arthur! Vocês quase machucaram a Emily!

- Alguém pode me dizer o que esta acontecendo? Como Jorge te conhece desde de 1983, Daniel? – Perguntei atordoada, a resposta era óbvia, mais eu torcia pelo contrário.

- Converse com ela – ele pediu a Daniel enquanto me olhava – Eu conversarei com Christina. Ele saiu fechando a porta do quarto e Daniel sentou ao meu lado.

- Desculpe-me, Emily – ele me olhou nos olhos – Eu não podia ter perdido o controle dessa forma...

- Não foi culpa sua – eu respondi, era verdade – Mais Jorge... Ele também é...

- Vampiro. O conheci nos anos 20. Ele sempre me ajudou. Tem sido meu amigo desde então.

- Meu Deus... Christina sabe? – O perguntei pensando nela, se estaria sendo enganada por ele.

- Sabe. Escute, Emily – ele segurou minha mão – Jorge não é e nem nunca foi uma pessoa má. Ele sempre quis amar alguém de verdade, eu sei porque eu o conheço a bastante tempo. Acredite, ele ama a sua tia e a protege.

- Ela também é vampira? – perguntei.

- Não. Não é, mais quer ser. Eu não sei se deveria estar te contando, mais eles decidiram que quando ela fizer 30 anos, ele a transformará.

- Ela vai abrir mão de ser humana?

- Emily, quando você ama uma pessoa, você abre mão de muitas coisas por ela. Quando a pessoa que você ama é um vampiro, você abre mão da morte pra passar a eternidade com ela.

            Baixei a cabeça e me pus a observar o chão, absorvendo o que eu acabara de saber.

- O que foi? – Ele me perguntou – Está se sentindo mal?

- Não, eu estou bem... É que agora, são dois vampiros morando em casa.