O carro segue o seu percurso, e eu sigo escutando as músicas. - Filho, você poderia desligar um pouco o MP4? Quero falar com você. - minha mãe diz, eu escuto bem baixo, pois estou de fone, então o tiro e desligo o aparelho. - Sim? - pergunto. - Então... eu vou te deixar na aula de violino, mas vou te entregar um dinheiro para voltar de ônibus, pois terei que fazer uma coisa depois que eu te deixar lá, OK? Seu pai não pode vir pois está no trabalho. - ela diz. Percebo que a palavra "trabalho" foi pronunciada de uma forma diferente. O que seria aquilo..? Minha mãe estava estranha há uns dias, meu pai também. Eu decido ignorar e olhar a paisagem pelo vidro do carro. Logo alguns minutos depois, chegamos na escola. Saio do carro, dou um beijo nela. Ela me entrega o dinheiro e me despeço. Sigo em frente. Meu celular toca. Enquanto vou subindo as escadas, olho o que era. Uma mensagem. Abro-a...

         " Oi, olha, a festa da Amanda vai ser amanhã às 19h, tá?? Abraços, Diego "

         – Que cara chato... pelo menos Emily estará lá. - digo para mim mesmo, e entro na sala onde a aula já tinha sigo iniciada. - Olá, Charles. Trouxe suas partituras? - o professor pergunta. Eu fiz um rosto de hesitação. - O que houve? - mais uma pergunta. Eu abro a mochila e mostro uma folha rasgada e as outras amassadas, sujas. - Meu Deus... o que aconteceu?! - ele pergunta. Eu tinha prometido trazer as partituras que meu avô me deu quando eu tinha 6 anos, e tinha uma enorme consideração. - Uns garotos lá no colégio fizeram isso. - digo, baixo. O som de violino ecoando ao longo da sala para. - Olhe só, você pode contar comigo e com toda a sua turma para resolver esse tipo de problema, OK? - será que o que eu senti naquele momento foi felicidade? Nunca achei tanto motivo na minha vida para ser feliz - nem triste -... Está mais para uma vida tediosa. Eu apenas vivo estudando violino, as matérias da escola... Meus pais só sabem trabalhar e eu quase não saio de casa... - Tudo bem, grato pelo apoio de todos vocês. - e todos sorriem e voltam a tocar. O professor pega um durex e junta as duas metades da primeira partitura. - Chaconne de Bach, é? - ele pergunta. - Sim... eu tentei tocar esses dias e ainda estou treinando. - digo. - Então... sente-se e mostre o que conseguiu. - ele diz e eu sento em um banco da sala. Pego o meu violino - que fica guardado na sala, para não haver riscos de o quebrarem no colégio - e começo a tocar. Eu me complico algumas vezes, mas a expressão do professor e da maioria da sala é de felicidade, admiração. Ao terminar de tocar, até o ponto que eu consegui, todos batem palmas.

         – Nossa, Charles... parabéns! - uma garota - Andréa - diz. - Obrigado... deu bastante trabalho conseguir tocar essa música... - digo. Então a aula segue. Praticamos uma música, Orfeo ed Eudirice. Discutimos opiniões sobre músicas futuras, notas, avisos e tudo mais... Após o término da aula, vamos embora e eu sigo para o ponto de ônibus. Lá eu paro para pensar o que eu faria nesse dia de hoje, já que eu ficaria sozinho em casa. - Ela me ama... - sigo a dizer para mim mesmo. Já sei. Acho que já é hora... então o meu ônibus chega. Subo e sigo em direção a minha residência. Ligo o MP4 e começo a escutar - Heartbeat Clocktower, do KAITO -... Eu quase durmo escutando essa música, mas não posso senão eu acabarei perdendo o ponto. Então chego em casa. Pego as chaves na mochila, abro a porta e entro. Tranco e sigo para o meu quarto. Ligo o computador, jogo a mochila na cama e sento na cadeira... Agora que estou sozinho posso fazer o que eu quero (não, não irei fazer nenhuma besteira). Sigo para um site de redes sociais e procuro o perfil de Emily. Já que ela me ama, nada melhor que eu saber tudo sobre ela, certo? Nome completo, data de nascimento, gostos pessoais, altura, peso, ver fotos... tudo. Absolutamente tudo. E a busca naquele site se completa. Vou para outro e procuro qualquer informação que eu possa saber, e sigo a anotar tudo em um papel. Vou imprimindo cada foto em que o rosto dela apareça. - Ela me ama, ela me ama, ela me ama... - sigo a dizer na minha mente. Emily... tão perfeita... obrigado por me defender hoje. Abraço uma das fotos dizendo isso. - Eu também darei o meu melhor para demonstrar o meu amor por você. - digo.

E assim segue a tarde toda. Ao total, em torno de 15 folhas escritas, mais de 300 fotos impressas - tive que recarregar o cartucho de tinta, claro - e bastante informação. Mas não é o bastante... eu preciso saber mais. Muito, muito mais. Nada disso é o bastante, pois quem ama tem de saber tudo. O que ela come, almoça, lancha, janta... Com qual sabonete toma banho, pasta de dente, marca favorita de blusa e calça.

         PARA.

         – Eu estou ficando psicótico...? - só me tomei conta disso agora. Ah, não tem nada a ver. Quem ama sabe desse tipo de coisa. E ela me ama. Agora eu estou deitado, apenas repetindo a mesma frase na mente. "Ela me ama, ela me ama"... eu tenho que realmente me convencer disso - que é verdade, de qualquer modo -. Para quê ficar arrancando pétalas de flores..? Eu sei que ela me ama... A minha imaginação irá se tornar realidade. E não permitirei que ninguém destrua todo esse processo de amor - seja quem for - e farei o possível para saber tudo sobre ela. E provar que sou o melhor amor da vida dela.

Certo...

         Emily? - sigo a olhar para as fotos na mesa.