Era Anthony.

                Na verdade, não precisei virar para saber, apenas de sentir o cheiro daquele perfume penetrando em minha pele já era o suficiente para identificar quem estava ali. Meus poucos pelos do braço logo se arrepiaram, virei e me deparei com um elegante homem usando uma máscara preta, combinava com a minha!

                - Você disse que não sabia se vinha. – Disse com aquele sorriso de lado que eu adorava.

                - Sou uma garota misteriosa. – Respondi me dirigindo para o jardim.

                Antes de sair pela porta, vi George e Eleanor aos beijos próximos ao bar, a cena estava engraçada, uma vez que Gabriel estava com sua bebida em uma mão e a outra estava apoiada em seu queixo apreciando, de certa forma, a cena próxima de si.

                Seguimos para fora e dessa vez Tom me guiou para o centro de um quiosque ao lado da grande piscina. Era um quiosque diferente, tinha flores e folhas por todo o lado e alguns galhos desciam pela pilastra.

                - Pode me conceder essa dança senhorita? – Tom pegou minha mão e ajoelhou levemente. Podia se ouvir a música abafada. Eu não gostava de dançar, nem ao menos sabia, mas não tinha ninguém ali para assistir os meus erros, apenas Tom, mas ele podia.

                O silêncio prevalecia ali, ao menos pela respiração que se tornara um som muito mais alto do que o som da música.

                - Eu consegui resistir uma coisa até agora, mas se passar de hoje, não sei se aguento. – Tom quebrou o silêncio finalmente.

                Eu olhei confusa. Então, ele veio e brincou com as mechas de minha franja e as colocou atrás de minha orelha. Ele tirou sua mascara e depois, delicadamente, tirou a minha, aproximou-se de meu corpo e colocou suas mãos em meu queixo e tocou seus lábios aos meus. Dessa vez eu não me afastei, não tinha nenhum dever para cumprir, nada melhor que me tirasse daquele momento. Dei passagem para a sua língua e foi algo suave e intenso, parecia que uma boca tinha sede da outra, eu não sabia explicar, seu beijo tinha gosto de menta e chocolate e tinha o poder de me deixar com as pernas bambas e o coração acelerado. Por mim, aquele momento poderia congelar, o tempo poderia parar e eu permaneceria ali, sem mudar nada, sem colocar, muito menos tirar. Eu não pretendia parar até ouvir a voz de Nick e Victor nos chamando.

                - Tom, So, venham aqui! É a hora da apresentação da banda.

                Fiquei esperando uma desculpa pela interrupção, mas não aconteceu. Olhei para Tom e apenas sorri, ele encostou sua testa na minha e fez o mesmo. Sem demora, ele pegou em minha mão e me guiou para dentro.

                A cortina estava fechada ainda, percebi uma movimentação estranha, pensei que tinha visto dois vultos pretos, porém Tom estava concentrado olhando para o palco que confirmei que ele não tinha visto nada do que eu vi.

                As luzes começaram a se movimentar e deu abertura à cortina. Nathan apareceu animado se direcionando para o piano. Achei que fosse ser a apresentação de uma banda, mas acabei sendo surpreendida.

                - Boa noite a todos. Antes de começar, queria chamar uma pessoa muito especial ao palco. Eu sei que não fui a melhor pessoa de todas, mas peço desculpas. Eu só quero que saiba o quanto eu penso em você, desde aquele dia no refeitório em que nos falamos pela primeira vez. Elizabeth?

                Fiquei boquiaberta. E Liza olhou para mim perguntando se eu havia ouvido a mesma coisa e eu sorri encorajando-a subir no palco. Nathan foi até a escada lateral e a recebeu, pegou em suas mãos e a levou até o piano. Eles cantaram “Two is better than one” assim como no primeiro ensaio, mas a diferença é que Liza não travou. Apesar da máscara, tinha certeza do brilho que estava em seu olhar, olhei para Nick e ela estava sorrindo e cantando junto aos dois, porém havia um detalhe: segurava firme a mão de Victor.

                Procurei Eleanor com os olhos e ela havia sumido. Por milésimos de segundo eu não teria visto aquela regata dourada entrando por trás do palco, vi uma sombra pela cortina e forcei meus olhos para poder enxergar mais duas pessoas. Eu fiquei com medo por Liza e por Nathan, então corri próxima do palco para poder alertá-los. Uma chama logo começou a se alastrar pela cortina, Nathan empurrou o assento do piano para trás rapidamente junto de Liza e logo em seguida um saco de areia repleto de fogo caiu em cima do instrumento. O salão logo se dava pela temperatura extremamente quente e as faíscas dançavam por todo o lugar. Pessoas saiam desesperadas pela porta, não se importando com quem ficasse para trás.

                Aquilo tudo acabava onde começou. Num Incêndio. Porém, com a consciência de que fora intencional, haviam culpados que precisavam pagar pelo que fizeram, por tudo o que fizeram. E esses culpados não perdiam por esperar.