Como Salvar Um Amigo escrita por UzuKeiko


Capítulo 1
S-S-Soluço...?


Notas iniciais do capítulo

Itálico = Dragonês ;*



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Disse Banguela, aproximando-se de seu mestre vagarosamente. Seu minúsculo corpinho se estremecia a cada passo que dava em meio uma imensidão vazia e terrivelmente barulhenta. Os ventos congelantes uivavam ao seu redor ocultando qualquer outro tipo de som, fazendo as escamas de sua nuca se eriçar. O pobre dragãozinho tentava manter seus olhos verdes brilhantes bem abertos em meio ao frio, tentando ver qualquer coisa... Qualquer coisa... Mas não havia nada, nada além de uma densa névoa branca de trincar os dentes, dos quais por sorte Banguela não tinha.

Por fim, Banguela conseguiu enxergar a silhueta de um corpo próximo a ele.
-M-M-Mestre...? Ele se aproximou. Manchas vermelhas espalhavam-se à neve ao seu redor.
De fato, era Soluço, ali, caído ao chão, coberto com seu sangue humano.

-Mestre? Banguela correu em direção ao garoto e pulou em seu peito.

Ele arquejou. A cena que ele agora via era quase tão espantosa quanto à de poucos minutos antes.

Soluço estava sombrio. Seu rosto sardento e corado agora estava alvo como a neve, e frio como um cubo de gelo. Suas roupas estavam sujas com sangue verde de dragão.

-S-S-Soluço...? – a voz de Banguela finalmente saiu. – Acorda! B-B-Banguela quer ir pra c-c-casa! B-B-Banguela está congelando! Banguela está f-f-faminto! Banguela muito c-c-cansado! Acorda!!

Ele corria, gritava e guinchava da maneira mais irritante possível. Mas Soluço nem sequer se moveu. Por fim ele mordeu o nariz do menino com suas gengivas duras e afiadas. Isso costumava funcionar no meio das noites em que Banguela acordava faminto exigindo que seu mestre o trouxesse ostras para comer. Mas desta vez, Soluço não deu nenhum gemido.

Um dragão nessas condições iria embora. Simplesmente abandonaria seu chefe e partiria de volta à liberdade e à independência, como um dragão de verdade. Mas Banguela ainda estava lá, ele por alguma razão não partira quando tivera a chance. Ele sentia algo estranho... Um forte aperto sufocava seu coração, e o medo bloqueava sua mente.

Por um momento o sangue que vazava da testa de Soluço deixava Banguela nauseado, mas ele logo não se importou mais.

Seu corpo não sentia mais frio, o vento se cansou de gritar e se calou ,e logo tudo desapareceu. Tudo o que ele via era Soluço, caído ao chão... Morto...?

Mas depois de alguns segundos o garoto também foi sumindo conforme a visão de Banguela se embaçava de uma maneira que nunca acontecera antes. Era como se ele estivesse afundando e a água começava a cobrir seus olhos. Sua garganta doía, a sensação era a de um rato que fora engolido vivo estivesse tentando sair pela boca do dragão.

Banguela estava inquieto, porém, paralisado. E então, ele começou a ficar zangado, queria que este sentimento horrível sumisse, era doloroso. Ele odeia dor.

Dragões são egoístas de coração verde, dragões não tem sentimentos bons por humanos.

Era o que Banguela repetia para si mesmo. Mas aquele sentimento o prendia, um sentimento estrando, porém familiar... O mesmo que o fez rastejar na narina de Morte Verde, invadir um navio romano, distrair Dragões-Tubarões, e talvez, o mesmo sentimento que fez Soluço, um menino cauteloso e astuto, fazer algo tão imprudente.

Devo encontrar alguém. Devo pedir ajuda...

Mas ele não podia deixar Soluço naquele estado, a neve logo o cobriria, e ele sumira para sempre. Além disso, algo prendia Banguela para perto de seu mestre, como se os dois estivessem acorrentados. Ele mal conseguia desgrudar suas patinhas do corpo dele.

Soluço estava cada vez mais gelado. Banguela deitou-se no peito do pobre viking , tentando manter seu coração aquecido. Um coração que, mesmo estando quieto, Banguela sabia que ainda estava lá.

Banguela não podia negar que, no fundo, estava com medo. Com medo de nunca mais comer a maior lagosta no jantar, ou ser acariciado entre os chifres, ou ser carregado no ombro. Banguela estava inexplicavelmente com uma enorme vontade de pegar vários e vários peixes para Soluço, não fazer mais cocô no chão da cozinha, ou na cama de Stoico, pai de Soluço. Enfim, ser um dragão mais bonzinho.

Mas havia algo que Banguela, naquele momento, queria mais do que tudo isso. Mais do que todos os peixes, ou a maior lagosta do mundo. Banguela torcia para que os humanos, assim como os dragões, tivessem a habilidade de entrar em “Coma por Adormecido”. E assim, o coração de Soluço logo voltaria a bater, e o garoto logo abriria os olhos...

-S-S-Socorro... – disse Banguela, mesmo sabendo que ninguém o podia ouvir...


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Notas finais do capítulo

Continua =D