Eu tinha certeza absoluta de que não era acaso. Eu e Gabriel íamos muito naquela sorveteria, e bom, ele sabia que era minha preferida.

- Que raça de menino. – Reclamei.

- Por que ?

- Eu disse que viria aqui com você hoje. – Expliquei. – Bom, na verdade não disse em que sorveteria exatamente, mas ele sabia que seria aqui.

- E tá tudo bem pra você ? – Ele perguntou parecendo inseguro.

Era óbvio que só por ter Gabriel por perto, eu me sentia completamente atraída por ele. Era uma coisa que eu não conseguia evitar – e nem queria - .

- Sim. – Sorri pra ele. – Apenas vamos fingir que não os vimos, tá ?

- Por que tão mau educada ? – Ele se aproximou de mim enquanto ria.

- Não reclama, você gosta. – Disse rindo com ele, e talvez pela primeira vez no dia não tenha sido algo forçado.

Dessa vez eu fiz questão de selar nossos lábios, mas ainda assim foi um beijo rápido e discreto.

- Hm. – Escutei alguém pigarrear em frente a nossa mesa.

Quando olhei, obviamente, eram Gabriel e Bianca. Gabriel não tinha uma expressão amigável, e isso me divertia.

- Oi. – Disse sorridente. Queria esfregar a nova realidade na cara dele.

- Oi. Tá se divertindo aí ? – Ele foi direto ao ponto, o que não me surpreendeu. Ele sempre foi assim.

- Sim, estou. – Sorri, chegando mais perto de Lucas. – Quer sentar aqui com a gente ?

Nessa hora o queixo de Gabriel caiu alguns metros, o que me fez sorrir orgulhosa. Lucas me olhou perplexo, e eu gostei do que estava sentindo.

Eu sabia que ele também iria revidar toda essa provocação, mas eu estava preparada.

- Claro ! – Bianca disse sorrindo e se sentando de frente para Lucas. Consequentemente, Gabriel ficou sentado de frente pra mim.

- Mas que coincidência vocês por aqui. – Bianca disse sorrindo, parecendo ser sincera.

- Pois é ! – Lucas concordou sem graça.

- Também acho... – Disse. – Mas então, o que levou vocês a virem aqui ? Achei que iam assistir um filme ou algo assim.

- Pois é, eu também achei, mas de ultima hora o Gabriel resolveu mudar. Disse que estava com vontade de tomar sorvete e conhecia uma sorveteria que era legal.

Depois disso era fácil perceber que por dentro, ele estava morrendo de ciúmes. Sempre fui a garotinha dele, sempre estive disponível pra ele a hora que ele precisasse, e não que agora alguma coisa mudaria.

Eu não sabia o que se passava na cabeça dele. Não sabia se ele tinha ciúmes, medo de que alguém me machucasse ou se ele queria que estivesse ali com ele apenas como um apoio.

- Estranho, não ?! – Disse irônica e sorrindo a Gabriel, que manteve seus olhos fixos nos meus.

Quase me arrependi do que estava fazendo, mas sabia que eu precisava porque ele não pararia.

- Vou pedir os sorvetes. – Ele disse se desprendendo do meu olhar e voltando a atenção a Bianca. – Qual sabor você quer ?

- Vou pedir os nossos, Lucas. – Disse o encarando enquanto Bianca pensava no sabor que iria escolher.

- Tem certeza ?

- Sim, preciso conversar com ele. Quem sabe longe de vocês dois ele fale alguma coisa, já que depois que brigamos não passamos nenhum tempo juntos.

- Tudo bem. – Ele deu um sorriso sem graça.

- Acho que pode ser ciúmes. – Disse rindo, e depois lhe dei um selinho rápido.

Levantei da mesa rindo e fui ao balcão, esperar minha vez. Gabriel ainda estava na mesa, e eu rezava pra que ele viesse logo.

Quando olhei pro lado, ele estava ali. Ele não me olhava, mas estava ao meu lado.

Se não houvesse toda aquela situação, ele provavelmente estaria me provocando por alguma coisa idiota que eu falei, o que era típico de mim: falar idiotices.

Voltei a encarar a tabela que havia em nossa frente com preços e sabores.

- Hm. – Ele pigarreou.

- Oi ?! – O encarei, e parece que ele havia ficado muito mais lindo do que eu lembrara.

- Tá... tá tudo bem ? – Ele estava nervoso, e a muito tempo não o via assim.

- Sim. – Respondi rindo. – Nem parece que somos melhores amigos com você todo nervoso. Calma, não sou uma celebridade ainda.

- Você sabe que não é engraçada. – Ele riu sem humor.

- Poxa, to tentando trazer nossa amizade de volta e você me fere com uma dessas ? – Fingi ficar triste.

- Em compensação já pode virar atriz. – Ele disse rindo. E que saudade dessa risada.

- E você sempre me iludindo. Eu sabia.

- Sempre dramática. – Ele chegou mais perto e me abraçou forte.

Passei meus braços em volta dele e o apertei forte. Sempre gostei do abraço dele, e isso nunca mudaria.

Me separei de Gabriel e o olhei sem graça.

- Agora me explica como você faz isso.

- Isso o que ? – O olhei confusa.

- Lá na mesa eu tava morrendo de vontade de te fazer ciúmes e ver sua cara, e agora eu to aqui de novo no seu pé.

Comecei a rir.

- Tem coisa que você não precisa entender. – Dei de ombros e fui pro balcão fazer os pedidos.

Assim que terminei, esperei ao lado pra que ficassem prontos, e Gabriel fazia os seus pedidos.

Ficamos conversando, como se fizesse muito tempo em que não nos falávamos, e percebi que era horrível passar um dia que seja sem falar com ele.