- MAS QUE INFERNOS?

Abri rapidamente meus olhos, agora completamente acordada. Olhei a redor tentando entender o que havia acontecido até que finalmente notei a presença do homem olhando furiosamente para mim ao lado da cama.

- Eu perguntei, que infernos!? – falou novamente com a voz mais baixo, porém não menos raivosa.

Ethan tinha os braços cruzados, as pernas separadas em uma pose de comando e franzia o cenho, seus olhos estavam em chamas e após falar ele pressionou os lábios.

- Que infernos, pergunto eu – falei ainda deitada e sem nenhuma força de vontade para levantar.

- Você me pergunta? – disse a voz agora verdadeiramente baixa e eu não sabia se era bom ou ruim.

- Bom, sim – falei com cuidado, não querendo deixa-lo mais bravo ainda.

Eu sabia exatamente o que tinha feito e me amaldiçoei por ter esquecido de recolocar a intravenosa que, nesse momento, devia estar abandonada no meu banheiro.

- Disse para você descansar! E onde, infernos, está a intravenosa? – perguntou descruzando os braços e andando pelo quarto com passos duros.

- No banheiro – respondi ainda deitada, olhando para a cabeceira da cama e foi nesse momento que percebi que havia dormido de cabeça para baixo. O lençol agora era um emaranhado ao meu redor e eu sabia que teria dificuldade em sair sozinha.

- E que infernos estava fazendo no banheiro? – perguntou, voltando para meu campo de visão.

- Dá para parar de falar infernos? Isso é irritante e além do mais, o que as pessoas fazem em banheiros? – perguntei, ficando irritada.

- Não vou parar de falar infernos - respondeu bravo, passando a mão pelos cabelos. – Eu disse que era para descansar, mas você faz o algo que digo? Não, é claro que você não faz! – disse frustrado.

- Pode me ajudar? – pedi, desistindo de tentar sair da cama sozinha.

Ethan finalmente olhou para mim, logo me ajudou a me livrar da coberta e vi sua carranca se aprofundar quando notou as roupas que eu estava vestindo.

- Você trocou de roupa? – perguntou, me colocando de pé com um braço em volta da minha cintura me segurando.

- E tomei um banho – murmurei, encostando minha cabeça e em peito e suspirando ao sentir seu cheiro. Eu me sentia bem.

- E tomou um banho... – repetiu Ethan no meu ouvido.

- Sim, não foi tão difícil – menti, tentando agora me soltar dele já que seu aperto estava começando a ficar doloroso. – Não fique bravo.

- Não estou bravo – ele falou, finalmente folgando seu aperto. – Estou extremamente irado.

- Não precisa exagerar! – falei, passando com certa dificuldade as mãos ao redor de sua cintura.

- Você é impossível! – exclamou Ethan.

- Sinto muito – falei, tentando me aproximar de seu rosto, mas infelizmente sua boca estava muito longe da minha então me contentei em depositar um beijo em seu pescoço, o senti estremecer sob o toque dos meus lábios e meu coração estava martelando em meu peito, ainda não podendo acreditar que ele me amava.

- Evie...

- Pode apenas me beijar? – pedi em um sussurro, querendo aproveitar desse sonho que estava vivendo.

Eu tinha que aproveitar porque eu sabia que coisas boas como a felicidade não duram para sempre, não para pessoas como eu. A felicidade não foi feita para pessoas como eu, mas eu estava indo aproveitar essa pequena amostra, iria aproveitar cada momento que tivesse Ethan Ross para mim.

Senti os lábios de Ethan pressionar sobre os meus e logo abri minha boca para permitir a passagem de sua língua que me dava tanto prazer. Aprofundei o beijo, sentindo como meu coração batia forte, sentindo como minha pele se arrepiava com o contado do seu corpo colado ao meu, sentindo suas mãos deslizando sobre minhas costas e seus lábios de movendo tão deliciosamente sobre os meus.

Levantei minha mão, afundando ela em seus cabelos sedosos e ignorando que o movimento me causou certo desconforto. Puxei ainda mais para mim, pressionando mais meus seios contra ele e empurrando meu quadril para o seu. Pedindo silenciosamente algo que apenas ele poderia me dar.

- Evie – disse Ethan, se afastando de mim apenas o suficiente para falar. – Ainda não, pode machucar você.

Mordi os lábios em frustração mas entendendo o que ele queria dizer.

- Não disse que vou tirar o gesso em alguns dias? – perguntei impaciente.

- Não é apenas o gesso que me preocupa – falou, passando sugestivamente sua mão pelo meu abdômen. – Você ainda está fraca demais para isso, mal consegue ficar de pé. – disse, acariciando com a mão o meu cabelo e plantando um beijo no topo da minha cabeça.

- Eu estou forte o suficiente, se não estivesse forte não conseguiria tomar banho sozinha – resmunguei e imediatamente me arrependi ao vê-lo estreitar os olhos.

- Oh, sim. Eu me esqueci desse fato por um breve momento – falou cuidadoso.

- Estou com fome – falei inocentemente o olhando nos olhos. – Você trouxe comida? – perguntei.

Ethan ergueu uma sobrancelha, obviamente decidindo se deixava essa passar ou não. Depois alguns segundos ele finalmente suspirou negando com a cabeça, não tão feliz com a decisão que tomou.

- Ótimo, vamos falar sobre isso mais tarde – falou a contra gosto e não pude deixar de sorrir com isso, e ainda era tão estranho e novo sorrir.

- Onde está a comida? – perguntei, me separando mais um pouco dele e procurando sobre o quarto, mas não encontrando nada.

- Vamos comer no jardim. – informou me empurrando suavemente para a cama novamente. – Vou buscar um sapato para você.

- Ok – falei olhando pelas portas de vidro o belo jardim verde muito bem cuidado.

Logo ele voltou trazendo um par de botas pretas e se ajoelhando aos meus pés para coloca-los por mim. Não pude deixar de imaginar se ele estivesse nessa mesma posição, em uma situação complemente diferente.

Quando eu era pequena e ainda acreditava em ter uma família feliz e em contos de fadas, eu imaginava que em algum lugar no mundo existia um príncipe encantado como nas historias bonitas e falsas que Lara me contava, imaginava que ele viajava pelo mundo a minha procura e que um dia ele finalmente iria me salvar e então nos casaríamos e seriamos felizes para sempre, mas logo eu aceitei que minha historia não era um conto de fadas e que felizes para sempre nunca vai existir para mim. Minha historia nunca seria um conto de fadas e eu já havia aceitado isso.

- Pronto – falou Ethan se colocando de pé e me ajudando a levantar. – Vamos deixar a intravenosa quieta por agora – ele disse, passando o braço ao redor da minha cintura.

- Obrigada – falei inclinando-me e depositando um beijo em sua bochecha livre de barba.

Ethan apenas acenou provavelmente ainda bravo.

Assim que saímos do meu quarto e entramos em um corredor longo eu quase perdi o fôlego. Era lindo, havia alguns quadros nas paredes com as imagens mais lindas que já vi, se eu olhasse para baixo poderia conseguir ver meu reflexo no chão de mármore polido, o ambiente estava fresco e agradável.

Ficamos em um silêncio confortável enquanto Ethan me guiava pelos corredores da mansão luxuosa, não sabia se estava demorando tanto para chegar ao jardim por estarmos andando lentamente por conta da minha condição física ou se era simplesmente porque esse lugar era enorme.

Quando finalmente chegamos às portas de vidro que davam passagem para o jardim eu senti Ethan hesitar. Olhei para esperando que ele falasse algo.

-Evie... Tem uma coisa que deveria ter dito antes para você. – ele falou desviando o olhar de mim e observando o jardim.

- O que? – perguntei começando a me sentir receosa.

Mas antes que ele pudesse falar alguém abriu a porta vidro e sorriu para nós, parecendo extremamente satisfeita consigo mesma.

- Oh, olá Ethan! – Jasmine falou, com um sorriso no rosto. Ela vestia um vestido branco lindo que se agarrava a todas as suas curvas, joias caras e saltos altos, seus longos cabelos loiros caiam sobre o ombro a fazendo parecer ainda mais sofisticada e bonita do que era. – E Evie. Pensei que iriam chegar apenas depois do por do sol, já que faz algum tempo que Ethan foi buscar você – continuou com sua voz sonora e sensual piscando maliciosamente para Ethan.

Senti meu rosto ficar vermelho por conta da raiva e lancei um olhar a Ethan.

- Que infernos ela está fazendo aqui? – perguntei dividida entre a ira e a magoa.

Eu sabia que estava demorando demais para algo ruim acontecer.