Seus beijos eram ardentes e suas mãos estavam por todos os lugares. E por mais que tentasse não gostar de seu toque eu gostava, gostava da textura de sua mão sobre minha pele, gostava do modo como sua língua brincava com minha, gostava do modo como me sentia amada.

NÃO! Amada não, eu nunca seria amada por ninguém.

Ofeguei quando seus beijos desceram para meu pescoço, e tentei limpar a mente, eu tinha que limpar a mente, mas pensar era difícil com ele me beijando daquele jeito e por mais que soubesse que no final eu iria me arrepender e se não fosse eu seria ele, não conseguia botar meus pensamentos em ordem.

Com apenas alguns toques e eu já estava submissa, eu não gostava da submissão, não gostava de não estar no controle, não suportava mais não está no controle sobre mim mesmo.

– Pare – suspirei tentando me afastar de Ethan, mas eu estava muito bem presa embaixo dele e por mais que minha mente negasse o meu corpo aceitava e pedia por todas e cada uma de suas caricias.

Sua boca cobriu a minha novamente e quase perdi a força de vontade de acabar com isso, quase.

Agarrei forte na camisa que Ethan usava e o joguei para o lado, para fora do sofá, e eu disse a mim mesma que não tinha culpa por estar tão presa a ele que cai junto.

Nós caímos sobre o tapete peludo e não pude evitar gemer de prazer por essa nova posição. Eu estava sentando escarranchada em cima dele, suas mãos apertavam agradavelmente meus quadris.

– Eu disse para parar – falei novamente, mas seu olhar sensual venceu minha resistência.

– Não recebo ordens suas Evie – disse ao girar por cima de mim, me colocando novamente embaixo dele.

Ele me encarou de cima, suas mãos estavam pouco acima da minha cabeça, apoiadas no chão para ele poder me olhar melhor.

Senti meu rosto ficar vermelho, mas não pela vergonha e sim pela fúria.

– Você não pode simplesmente fazer isso! Não pode! – exclamei furiosa.

Não sei se Ethan ficou mais confuso por minha fúria ou por minha afirmação, talvez pelos dois, eu não estava nem ai, se tivesse uma faca nesse momento, ela estaria enterrada bem no fundo da barriga bonita e sensual daquele otario!

– Não posso fazer o que? Isso? – ele se abaixou lentamente até que sua boca tomou a minha novamente, em um beijo quente que quase me fez perder a cabeça.

Ele se separou de mim apenas o suficiente para que eu pudesse respirar e responder sua pergunta.

– Sim, não pode fazer isso novamente – falei recuperando minha própria máscara - Não pode ser gentil comigo em um momento e então me desprezar logo após, não pode fazer isso – minha voz saiu impassível, a voz de alguém que não sente.

– Evie... - ele tentou falar.

Eu não suportava isso, não suportava ouvir a pena preencher sua voz novamente, não suportava.

– Pare! Já disse antes e vou dizer novamente, eu não preciso da sua pena. Não preciso que pense que pode me machucar, por que não pode, não há nada em mim que se possa machucar, está tudo quebrado, não sobrou nada em mim que possa ser recuperado, lembra? Você mesmo disse que isso jamais aconteceria com alguém como eu.

–Sinto muito, eu sinto muito por ter dito aquilo. É apenas estranho para mim sentir esse desejo por você – sua voz era uma tortura para mim, pior do que qualquer faca afiada me cortando.

Desejo. Ele me desejava.

Senti algo em mim, eu estava odiando sentir, eu estava começando a odiar cada sentimento novo em mim, principalmente a esperança de não estou tão perdida assim, aquele terrível sentimento de esperança que apenas serviria para me deixar frágil, me deixar vulnerável a qualquer ataque e então toda a armadura que construí para me manter sã iria ser quebrada, despedaçada até quase não sobrar nenhuma migalha do restou de mim. Se a armadura fosse quebrada eu iria perder a única coisa que ainda me pertencia, a única coisa que não foi tomada de mim, iria perder minha sanidade.

– Talvez não seja desejo, talvez Jerry tenho feito algo com você que fez sua cabeça ficar bagunçada – falei o olhando nos olhos.

– Não foi Jerry que fez isso comigo então você não vai fugir de mim até que eu descubra o que fazer – afirmou me fitando com seus olhos azuis.

Como ele pode mudar de opinião em tão pouco tempo? Como ele pode me desprezar a apenas algumas horas e então decidir que talvez possa me querer?

A campainha tocou nos tirando de nossa conversa.

– Nós ainda não terminamos com essa conversa – disse se pondo em pé.

Ethan estendeu a mão para me ajudar a levantar e por um momento pensei em recusar sua ajuda mais minha recusa apenas o faria pensar que a ideia de o tocar me perturbava e eu não estava me tornando fraca então aceitei sua mão.

Ethan me lançou um sorriso largo e sensual antes de andar até porta.

Voltei a me sentar no sofá e peguei meu pedaço de pizza abandonado.

– Ethan Ross, a cada dia que passa você fica ainda mais lindo! – exclamou uma voz melosa e fina.

– Sabina, não sabia que já tinha voltado de viajem – a voz de Ethan era charmosa e adorável.

Senti mais um sentimento novo e irritante me preencher, mas uma droga de sentimento para por na minha lista de coisas que acabariam me tornando fraca.

– O Caribe estava muito chato e a única coisa que podia pensar era no meu querido vizinho sozinho aqui, sem ninguém para lhe fazer companhia.

Olhei por cima do ombro a ponto de ver mão da vagabunda descer sensualmente pelo peito de Ethan. Eu o odiei nesse momento. Como ele podia deixar uma mulher o acariciar assim se há apenas alguns segundos ele estava se agarrando comigo?

Tola! Achava mesmo que ele estava falando sério?

Infernos!

– Sabe eu estava pensando se eu poderia entrar e...

– Ross! – exclamei me levantando do sofá – Você se importaria se fosse até o banheiro vomitar? Essa conversa está me dando náuseas.

Não sei o que me deu, talvez fosse essa nova liberdade o que me fez falar isso ou foi apenas ver como a mão de Sabine vagaba descia ainda mais pelo corpo de Ethan e ver como ele não fazia nada para impedi-la.

– Quem está ai? – perguntou Sabine entrando de vez no apartamento.

A primeira coisa que eu notei foi seus peitos, seus enormes peitos, logo olhei sua cabeleira loira e suas pernas longas, ela estava vestida em um vestido tão curto que deveria ser mais um top, seu salto alto era enorme e fino.

Como uma mulher com peitos desse tamanho conseguia se equilibrar em um salto tão alto?

– Sabine essa é a Evie – apresentou Ethan com tranquilidade.

Senti meu sangue ferver de raiva, raiva de Ross e dessa Sabine e de mim mesmo por está sendo uma tola.

– Se o que você quer é transar com ele talvez tenha mais sorte se vestir uma roupa parecida com a da Koda Kumi, ele gosta muito das musicas dela. – disse com minha voz impassível encarando aqueles enormes peitos, eu quase podia jurar que eles estavam tentando se comunicar comigo.

– Oh! Ethan! Quem-quem...? – ela pareceu chocada.

Ela até era uma boa atriz, seus movimentos eram obviamente propositais, como o modo como botou a mão na boca com parte de seu braço esmagando o seio direito chamando mais atenção ainda para o decote de pedaço de pano vermelho.

– Não se finja de chocada, duvido que tenha alguma coisa em seu corpo que seja virgem ainda!

Ignorei sua exclamação afogada que mais parecia uma gemido das prostitutas de baixo escalam que estavam sempre vadiando perto do galpão do Jerry e peguei uma caixa de pizza antes de seguir para o “meu” quarto, afinal eu ainda estava com fome e nunca tive a oportunidade de comer uma pizza tão boa antes.

Entrei no meu quarto como um furação e apesar da raiva fechei minha porta com cuidado para não fazer barulho. Botei a caixa de pizza em cima de cama e deitei de barriga para baixo assim como eu tinha visto garotas fazerem na televisão.

Abri a caixa e finalmente consegui comer a pizza. O sabor era bom, nada como a comida gosmenta e ruim que Jerry me dava para comer, era ainda melhor que a comida do hospital, só não mais que chocolate.

Não pensei em nada enquanto comia, ou ao menos tentei não pensar em como esses novos sentimentos estavam me deixando confusa e frustrada, nunca havia me sentindo tão furiosa assim antes e era ridículo me sentir assim apenas por ter uma mulher acariciando o Ross. Ele não era nada para mim a não ser meu carcereiro e iria me levar contra minha vontade para ver a mãe dele!

– Aquele cretino, miserável, pedaço de....

– Trouxe uma coca para você

Meu coração quase surtou ao ouvir a voz de Ethan atrás de mim.

– O que está fazendo aqui? Geralmente os homens de Jerry demoram um pouco mais de tempo para terminar... – falei me virando e sentando de frente para ele.

Ethan ergueu uma sobrancelha parecendo levemente irritado.

– Sabine gosta de conversar, não consegui me livrar dela tão rápido. – disse jogando a latinha de coca para mim.

– Obrigada – agradeci pegando a coca e o observando encostar-se à porta fechada do quarto.

Ele apenas assentiu com a cabeça e continuou me olhando. Sentindo-me desconfortável com seu olhar levantei da cama enquanto abria a coca.

– Evie, amanhã nós iremos visitar minha mãe com o Loki – disse com a voz calma – E você não irá reclamar.

Senti toda a raiva voltar.

– Não pode me obrigar a visitar sua mãe! – falei calmamente apesar de sentir a fúria percorrer minhas veias.

Essa discussão era ridícula!

Eu não queria visitar ninguém, a única coisa que eu queria era ver Jerry morto e eu não iria conseguir isso indo visitar a mãe dele!

– Eu não estou aqui para visitar sua mãe, Ross – falei tentando manter o tom da minha voz calmo.

– Eu sei muito bem o porquê de você está aqui, Evie – disse no mesmo tom de voz calmo que eu tinha falado.

– Quando Jack virá para terminar o interrogatório? Quero terminar logo com isso, quanto antes você pegar Jerry, melhor.

– O que te faz pensar que já não o pegamos ainda? – perguntou franzindo o cenho.

Dei um sorriso cruel antes de responder.

–Por que Jerry não é burro, eu duvido que ele sequer tenha voltando para o galpão aquela noite, não irão pegar ele tão facíl assim.

Ethan pareceu considerar minha resposta por um momento antes de falar em um tom frio.

– Amanhã iremos passar na central, você vai ser interrogada e farão alguns testes em você.

Testes?

Senti meu corpo gelar, eu não gostava de como soava isso.

– Esse não foi nosso trato – disse igualando seu tom frio com o meu.

– Como acha que vamos acreditar em você se não tivermos provas? Precisamos de provas de que você realmente pode memorizar qualquer coisa apenas com um simples olhar.

– Eu não gosto disso.

– Não tem que gostar disso, não vai ser nada demais, apenas vai ter que memorizar algumas coisas, do mesmo jeito que fazia antes.

Mordi o lábio inferior enquanto pensava sobre o que ele disse. Eu não gostava da ideia de fazer testes, Lara já tinha contando que algumas pessoas iriam querer se aproveitar de mim ou me estudar por conta da minha habilidade, uma prova disso estava aqui, os federais queriam fazer testes e Jerry havia se aproveitado de mim durante anos.

– Tudo bem – eu tinha que continuar a ser forte – Vou fazer o que me disser – semisserrei os olhos antes de continuar - Até mesmo visitar sua mãe, mas assim que tudo isso acabar eu quero ir embora e quero todos os documentos que eu irei precisar para viver sozinha, entendeu? – perguntei erguendo uma sobrancelha do mesmo jeito que ele fazia.

– Sim, eu entendi – algo brilhou em seus olhos e tive que desviar o olhar para evitar sentir aquele sentimento ridículo novamente. – Vamos sair cedo amanhã, então é melhor botar o despertador para despertar.

Olhei para o relógio em cima da mesinha e me perguntei como eu faria isso. Eu nunca tive contado com nada tecnológico enquanto estava com Jerry, apenas a televisão, então eu não sabia mexer em quase nada do que tinha no apartamento de Ethan.

– Não sei mexer nisso – admiti olhando o relógio digital e caro.

Senti meu rosto ficar vermelho pela vergonha, não importa se eu tinha vários livros ou formulas salvo na minha mente, era ridículo não saber programar um simples despertador e mais ridículo ainda me importar com o que Ethan achava de mim.

– É muito simples, venha vou te mostrar – falou se aproximando.

Observei em silencio como Ethan programava o despertador.

– Consegue fazer? – perguntou quase gentilmente.

Repeti o que ele fez enquanto assentia.

– Bom, Boa noite – disse antes de sair do quarto.

Vi a porta se fechar e pensei no que infernos eu me meti ao fugir do Jerry.