Eram duas e meia da madrugada. As ruas estavam todas iluminadas, mas as casas escuras, talvez algumas pequenas luzes acesas para não ficar completamente escuro. Em uma das casas, bem no fim da rua, uma das maiores, dormia dois meninos de sete anos no mesmo quarto, um em sua própria cama, e o outro em um colchão posto pela mãe do outro garotinho, perto da cama. Os dois pareciam dormiam tranquilamente quando um deles acordou com um barulho esquisito.

Se sentou no colchão, bocejou e esfregou os olhos azuis, olhou para os lados, como se pudesse descobrir desse jeito o que tinha o acordado. Olhou para cima e viu seu amigo deitado na cama.

– Sasuke? Você tá acordado? – nenhuma resposta. Então não tinha sido o outro menino a fazer aquele barulho.

Estranho. Podia jurar que ouvi um barulho esquisito. Parecia alguém pulando...

Decidiu ignorar o barulho que tinha ouvido, ficando apenas bravo por ter acordado. E agora? Estava completamente sem sono!

Percebeu então que estava muito suado e ofegante. Achou estranho, não costumava ser tão “calorento”, ainda mais estando no inverno. Teve a ideia de ir ao banheiro.

Saiu da cama com cuidado para não fazer barulho e acordar o amigo, nem percebendo um travesseiro a mais no seu colchão que não deveria estar ali, e abriu a porta do banheiro, fechando-a e depois ligando a luz rapidamente. Escuro para ele não era uma coisa muito boa. Era comum naquela idade.

Olhou-se no espelho, vendo que estava um pouco corado. Abaixou uma das sobrancelhas em dúvida, mas depois deu um sorriso para si mesmo, os dentes branquinhos aparecendo. Como estava com muito calor, e ainda ofegante (aquilo não ia passar não?!) abaixou o rosto, abriu a torneira, e lavou o rosto, sentindo-se bem melhor com a água gelada.

Mas o barulho da água o fez perceber que também estava apertado, então aproveitou para se aliviar. Abaixou a bermuda e ficou de frente para o vaso sanitário. Mas ficou confuso.

Estava apertado, mas o xixi não saia. Olhou para baixou, tentando entender o que estava acontecendo naquele banheiro, e levou um susto.

– AHHHHH COMO ASSIM ‘TEBBAYO!!!

Sasuke levantou em um pulo, totalmente assustado. Ouviu que seus pais também tinham acordado assim como seu Aniki, e com certeza em instantes estariam em seu quarto.

Pulou da cama, indo direto ao banheiro.

– Naruto, oq-

O menino, já descontrolado, não deixou o amigo entrar no banheiro, o empurrando e se trancando.

– NEM VEM!

– DOBE! Não me testa! Abre logo essa porta se não eu vou-

– VAI O QUE?! HEIN?! ABRIR A PORTA COM O PODER DA MENTE? ACHO QUE NÃO!

– PARA DE GRITAR, VAI ACORDAR A VIZINHANÇA INTEIRA, ESTRUPÍCIO!!!

– Que tal vocês dois pararem de gritar? – Sasuke olhou para trás e viu seu irmão parado na porta, encostado na mesma despreocupadamente.

– É assim que você vem salvar a gente? E se tivesse um ladrão aqui? E se ele tivesse ameaçando a mim ou ao Dobe? O que você ia fazer depois? Servir café e falar sobre como a vida é linda?! – disse o menor batendo o pé, com a cara mais raivosa possível, e um biquinho nos lábios. Itachi, o irmão mais velho, suspirou e olhou para o menino incrédulamente. Não é que ele era dramático? Com certeza aprendeu com a mãe.

– Talvez Otouto, apenas talvez, eu tenha percebido que nada disso estava acontecendo, é apenas mais uma das loucuras de vocês dois, então sim, estou calmo.

O menor já estava prestes a reclamar, quando seus pais chegaram totalmente afoitos.

– O que tá acontecendo?- Perguntou Fugaku, pai dos dois meninos presentes, totalmente preocupado.

– Onde está o naruto-kun?- Mikoto olhava em todo o lugar mas não encontrava o amigo de seu filho mais novo.

Sasuke, que já tinha se esquecido do amigo por causa da pequena briga com o irmão girou o corpo e voltou a bater na porta.

– Usuratonkachi, saia já dai!

– Não! – respondeu com um soco na porta.

– Não é assim que você resolve as coisas Sasuke, fique calmo! – Mikoto via que o filho estava com muito raiva, e sabia por que.

– Mãe, esse troço resolve dar a louca no meu quarto no meio da noite, e ainda se tranca no meu banheiro, to perdendo tempo com ele que eu poderia tá usando pra dormir, eu to muuuito nervoso! Não dá pra ficar calmo... - virou novamente para a porta do banheiro -SAAI!

– Sasuke! Fique quieto! – Fugaku era outro que já estava perdendo a paciência.

– Tá! – disse cruzando os braços e fazendo beicinho. Não era bom contrariar o pai. – E o que a gente vai fazer?

– Já experimentou perguntar o que tá acontecendo pra ele em vez de xingá-lo? – Perguntou Itachi.

– Humpf... – apenas virou o rosto para o outro lado, empinando o nariz. Seu irmão era tão irritante!

Mikoto se aproximou da porta, batendo de leve para chamar a atenção do menino lá dentro.

– Naruto-kun? O que houve querido? – perguntou mais docemente possível.

– E-eu... eu... acho que estou doente.

– Doente? Mas não tem problema, venha aqui fora para eu poder te dar um remedinho, que vai passar logo logo.

– Não! Eu nunca tive isso antes e nem ouvi falar sobre isso... Tô preucupado Mikoto-san! Será que eu vou morrer?!

“AiAi, todos dramáticos.” Pensou Itachi, revirando os olhos e sorrindo de leve.

– Mikoto, você resolve sozinha esse problema? Ou quer que eu fique?

– Não querido, pode ir dormir.

Fugaku então saiu do quarto, batendo nas costas do filho mais velho como despedida e voltou para o próprio quarto.

– Dobe! Você não pode ter ficado doente assim de repente! – Disse Sasuke revoltado.

– Adivinha! Eu estou!- respondeu o outro menino atrás da porta com a mesma revolta, mas mesclada com desespero.

– Naruto- kun, meu amor, sai do banheiro para eu poder te ver e saber o que você tem.

– Tia Mikoto, me desculpe, mas acho que dessa doença você não entenderia. Pode chamar o tio Fugaku, por favor?

– Pode falar pra mim Naruto. – Itachi se aproximou mais da porta do banheiro, pronto pra acabar logo com aquilo e voltar a dormir. Sabia o que o irmão estava sentindo. Também não estava no melhor humor, mas paciência é uma dádiva, né?

– Ok então, vou deixar você cuidar disso, Itachi. – Mikoto se levantou e parou na frente do filho – se for sério me avise.

– A gente nem sabe se ele tá doente mesmo! E eu posso cuidar do Dobe sozinho, pode ir dormir, Nii-san. – o pequeno começou a empurrar os dois para fora, mas Itachi girou o corpo, se livrando do toque do irmão e entrando novamente no quarto. Já a mãe dos garotos seguiu caminho.

– Vamos fazer assim Otouto, vamos ouvir o que o Naruto tem a dizer. Quem descobrir primeiro, obviamente vai ganhar, e quem perder, vai ter que pagar uma prenda.

– O vencedor escolhe? – Perguntou o garotinho, gostando da ideia. Mil coisas passava pela sua cabeça.

– Não. Naruto vai escolher. – disse Itachi dando um sorriso desafiador para o menor. Estava apenas fazendo aquilo pra irritá-lo. Por que quando ele ganhasse – Era óbvio que ia – o menor ia ficar uma fera.

– Estão apostando em cima da minha doença?! Seus... seus... bobos!

– Bobos, Naruto? Foi o melhor que conseguiu? Bom, não importa... aceito, Nii-san!

– E eu autorizo a aposta tá!- disse o menino loiro ofendido – Parece que vai ser interessante mesmo...

– Ok então. Naruto, qual seu problema?- Itachi perguntou, olhando pra porta. Se sentiu idiota.- Primeiro, por que você não saia dai?

– Não, não posso. Se for pegajoso não vou querer ter a culpa de matar uma família inteira por causa disso, mesmo tendo um Teme no meio dela.

– ...

– ...

–Pegajoso? – Perguntou os dois irmãos, se encarando. – você quer dizer contagioso?- continuaram falando juntos, até se olharem e o menor desviar o rosto, empinando o nariz e decidindo ficar calado.

– Dá no mesmo! – Disse o outro contrariado.

– Não dá não!- respondeu Sasuke, se esquecendo do plano de manter a boca fechada. Pelo menos o seu irmão não decidiu falar também.

– Tá bom vocês dois, não importa no momento! Só fala então Naruto.- Sim, Itachi tinha paciência, mas era limitada, principalmente no meio da noite.

– É que... aquilo... vocês sabem...

– AQUILO O QUE CRIATURA?!

– Sasuke! Nossos pais já estão dormindo! Quer que o papai venha aqui “conversar” com você?

Parecia ter funcionado. O menino respirou fundo e tentou manter a calma.

– Aquilo o que, Naruto?- os dois falaram juntos novamente, Itachi com calma, e sasuke num sussurro para não perder a paciêcia.

Mas ele tinha falando de novo ao mesmo tempo em que o irmão, coisa que já deu pra perceber, ele odiava. Então se jogou no colchão, mordendo o travesseiro e esperneando, tamanha sua raiva. Itachi decidiu ignorar seu irmãozinho. Era até cômico.

– O meu... negócio... sabem.- Sasuke levantou da cama, prestes a gritar novamente, mas Itachi apenas o empurrou de volta, jogando o edredom em cima dele. Diante do silêncio dos dois lá fora, Naruto se desesperou. - o meu pipiu!

– Ahhh tá.- concordaram os dois. Itachi riu, tendo já uma ideia do que poderia ser. Sasuke apenas puxou os cabelos.- Parou com a palhaçada, tá bom?- ele continuou a falar, se referindo ao fato de falarem ao mesmo tempo, olhando para o irmão.

– Mas a culpa não é minha! – Disse Itachi, fingindo estar ofendido. – O que tem ele Naruto?- voltou-se novamente para a porta.

– Ele tá... estranho... – e continuou num sussurro - tá maior, entende.

– Há, ele era pequeno é? – O humor de sasuke mudou instantaneamente para diabólico – que coisa hein Naru... kukuku

– Fica quieto! – a porta começou a ser esmurrada.

– Naruto, pode sair, você não tá doente.

– Não?!- um sorriso magnífico se espalhou pelos lábios do garoto. Não ia morrer afinal!

– Não, e isso vai passar a ser comum na sua idade, pode sair daí por favor? – Aquele negócio de ficar conversando com porta não combinava com ele. Estava mesmo se sentindo um idiota.

Então Naruto destrancou a porta, e saiu de lá mais feliz que nunca, saltitando e cantarolando.

– Que coisa...- Sasuke se mostrou decepcionado com a notícia, e aquilo foi suficiente para acabar com a felicidade de Naruto, a raiva tomando conta.

– Seu Teme, você tá frito na minha mão, o Itachi descobriu o que eu tenho, você perdeu e eu vou escolher seu castigo!

– Quem disse que ele descobriu? E se ele estiver errado? E não é castigo, é prenda!

– Tanto faz! E ele é um irmão mais velho! Irmãos mais velhos sempre estão certo, você mais do que ninguém deveria saber disso! – apontou o dedo acusatoriamente para Sasuke, e este suspirou derrotado. Naruto estava certo. Seu Nii-san sempre acertava em tudo mesmo. – Então Itachi, o que é isso?

– Vai passar, pode ter certeza, amanhã quando você voltar pra sua casa, fala pro seu pai o que aconteceu, e ele te explica melhor.

– Mas eu quero saber agora!

– Acredite Naruto, vai querer ouvir sobre isso com seus pais. – Itachi falou e se levantou. – Mas posso falar que isso foi causado por uma pessoa que você gosta muito, que estava bem próximo de você.- Naruto não entendeu muito bem o que aquilo significava, mas Itachi não tinha falado aquilo para ele, mas sim para o outro garotinho presente no quarto, que estava agora com as bochechas muito vermelhas. De alguma forma, Sasuke parecia ter entendido, mesmo ainda estando um pouco confuso. – Bom, agora vamos voltar a dormir, amanhã vocês dois ainda vão brincar muito.- disse se levantando.

– P-por mim ele podia ir embora agora! – Disse Sasuke olhando pro chão, ainda tentando entender.

– Teme!

Itachi riu saindo do quarto. Quando estava quase chegando ao seu, sentiu ser parado por duas mãozinhas.

– Fui eu que fiz aquilo nele?- Falou com um tom culpado – eu não queria, Nii-san! Não sabia! Eu só tava abraçando ele... –corou a admitir aquilo. Mas sabia que seu irmão ia ajudar, mesmo o irritando depois.

Itachi sorriu para o pequeno, batendo dois dedos da sua mão esquerda na testa de seu Otouto, se abaixando um pouco para ele entender melhor o sussurro.

– Sasuke, a culpa é sua sim- o menino arregalou os olhinhos, a culpa bem visível- mas fica calmo, não tem problema não, vai descobrir mais tarde que aquilo ali é exatamente o que você quer do Naruto, não é ruim, só quer dizer que ele gosta tanto de você, quanto você dele, entendeu?

– Você acha? – Um pequeno sorriso se estampou no rosto de Sasuke. Naruto também gostava de si!

– Acho. Agora volta pra sua cama. E não se esqueça de pegar seu travesseiro que você esqueceu de pegar antes de Naruto acordar, ainda está no colchão dele.

– Ai meu Deus! Ele não pode saber que eu estive na cama dele! - e saiu correndo se esquecendo de agradecer ao irmão mais velho. Mas este nem se importou voltando para o quarto e deitando na cama. Suspirou dando um pequeno sorriso.

Era óbvio que algum dia aquilo iria acontecer com seu irmãozinho. E tinha certeza que iria ser justamente com o menininho loiro.

E assim continuou aquela estranha noite na casa dos Uchiha, os dois adultos dormindo tranquilamente, assim como um adolescente e um menininho loiro. Mas o menor dos Uchiha continuou lá, apenas observando o Dobe, o seu Dobe, como gostava de chamar, dormindo. Era uma coisa que gostava de fazer. Gostava mais ainda quando estavam na mesma cama e Sasuke podia tocá-lo, não de um jeito malicioso, como vocês talvez estejam pensando, mas apenas abraçar o loirinho já o fazia se sentir muito bem.

Mas como o próprio Itachi disse, com o tempo eles iam descobrir que um toque mais malicioso não ia atrapalhar em nada na vida dos dois.

...

– Espera aí! E a seu castigo, bastardo?! – Disse Naruto se levantando uma segunda vez naquela noite. Sasuke pegou de surpresa mais uma vez, apenas fechou os olhos tentando manter a calma, falhando miseravelmente.

– Usuratonkachi... MEU CASTIGO É ESTAR COM VOCÊ!

– TEME!

– VÃO DORMIR!- Gritou Itachi, dessa vez sem paciência nenhuma. Sasuke sabia que era perigoso testar a paciência do pai, mas não chegava nem perto do que poderia acontecer se testassem a paciência do seu Nii-san. Apenas deitaram novamente, desta vez pegando realmente no sono.

E dessa vez, com cada um em sua respectiva cama.