Um Conto de Fadas Real escrita por Aki Nara
Um beijo molhado de seu amado acorda a Bela Adormecida de seu profundo sono para mais um dia cruel. O príncipe não vira sapo, mas é um saco de pulgas que atendia pelo nome de Kuro. Ela caminha sonolenta para o banheiro e escova os dentes e com a pasta ainda em sua boca, assusta-se com a imagem demoníaca refletida no espelho.
_ Ahhhh! – grita espalhando a espuma de menta que salpica o espelho.
“Quem é mais bela do que eu?”, a mente divaga após uma noite sem descanso.
_ A Cinderela de ontem que arrebentou o salto do sapato vermelho de tanto dançar – a criatura de voz rouca e garganta ressequida responde para si mesma.
“Mas... Não era de cristal? Pudera... Não é à toa que dancei a noite inteira, os sapatos vermelhos são mágicos.” Depois de bochechar e lavar o rosto, voltou para o quarto e diante do guarda-roupa tentava decidir, mas estava frio demais para usar a roupa do rei, isto é, da rainha. Olhou para o calendário e inconformada jogou-se na cama.
Era domingo. Desesperou-se com a hora matinal, ninguém merecia ser acordada às seis. O pior é que a barriga roncou alto, reverberando no silêncio do cubículo que era seu “apertamento”. Esticou os braços para abrir a pequena geladeira, o frio instantâneo que sentiu não precisava da Rainha da Neve para gelar-lhe a alma.
“Completamente vazia! Onde estava sua casinha de pão doce, com telhado de biscoito e janelas de chocolate?” E quanto mais pensava em quitutes e delícias, a fome corroborava com o vazio do estômago. O telefone... virou para o outro lado da cama estendendo a mão para o criado mudo, discando o número da salvação.
Uma hora depois... “Taim, tom” a campainha toca, fazendo-a utilizar o restante das forças que guardava para esta ocasião. Custa-lhe atravessar o quarto até a porta e quando finalmente chega... O coelho vindo diretamente do país das maravilhas aparece olhando o relógio.
_ Estou atrasado. Se demorar mais cortam-me a cabeça, moça. São vinte reais.
Depois de despachado, o aroma saboroso de pão torrado e um capuccino impregna sua narina terminando este conto surreal, inventando pela mente fértil de uma princesa em apuros.
“Hummmm! Delícia.” Não há palavras a serem ditas por uma boca cheia.
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