O fim do jogo estava se aproximando. 93 a 42 para Shutoku. Eu estava no meio da quadra, com a bola em minhas mãos e tudo preparado para mais três pontos, enquanto meus companheiros de time já estavam voltando para a defesa. Porém, milésimos de segundos antes do arremesso, meus olhos passaram pela arquibancada de encontro ao camisa 10 que não pode participar do jogo por uma pequena contusão por um esbarrão com nosso senpai, Miyaji (que também saiu contundido). Esse pequeno tempo foi o suficiente para ver aquele escorpiano sorrindo enquanto dava um leve tapinha no ombro de Miyaji senpai. Bom, aquilo não tem nada a ver comigo ou com o jogo, então arremessei a bola e me virei para voltar e ajudar a defesa até que fui surpreendido não por aplausos, mas por um silêncio geral no ginásio. A bola passou a mais de um metro da cesta. O que estava acontecendo comigo?!

– Shin-chan, o que aconteceu com você? Esta com febre? – Takao disse já no vestiário, colocando a mão na minha testa. Aquele toque fez com que meu corpo levasse um tipo de choque, e por reflexo me afastei rapidamente, como se tivesse tomado um susto. – É, você realmente não esta normal... O que está escondendo Shin-chan?! – E deu aquela risada de sempre.

–Não há nada de errado e nem estou escondendo nada, Takao. Deve ser porque deixei meu item da sorte no vestiário. – Bem, o erro deve ser por isso mesmo, mas essa coisa estranha que estou sentindo hoje não deve ser.

– Bom Shin-chan, seria estranho deixar 15 sacos de arroz do lado da quadra... Mas não faça essa cara, vencemos o jogo não é?

– Idiota. Essa é a 2ª vez que erro em toda minha vida. Me deixe em paz.

– Ok ok Shin-chan. Vou indo na frente então, senão vou chegar atrasado...

– Espera, Takao!

– Diga.

– Me ajude com esses sacos de arroz.

– O QUÊ?!!! NÃO OUVIU O QUE EU DISSE?

– Ande logo.

Hoje alguns familiares vieram ver o jogo, então não iria embora com Takao. Se curiosidade matasse, provavelmente já estaria morto... Para o quê ele estaria atrasado? Alias, por que isso me importa? Mas...

– P-para onde você vai? – Perguntei enquanto levávamos os últimos quatro sacos para o carro.

– Ah, Miyaji senpai me chamou durante o jogo para ir ver um filme hoje. Não sei como mas ele ficou sabendo que eu também gostava. Quer vir junto, Shin-chan?

– Não, meus familiares estão em casa. B-bo-bom filme. – Por que raios me envergonhei por dizer isso?! Não me reconheço mais.

– Eh, Shin-chan é você mesmo? É bom que você vá para casa e durma direito...

– Quieto Takao. Até amanhã.

– Até! – Falando isso, Takao ficou na ponta dos pés e deu um beijo no meu rosto. Corei imediatamente.

– O QUE É ISSO?!!

– Só estou brincando – Sorriu. – Até amanhã!

Chegando em casa, não conseguindo me concentrar nos estudos, deitei e pude sentir o local do beijo ainda quente. Aquilo me pegou de surpresa bem no dia em que tudo estava estranho. Câncer estava em segundo, então deveria ocorrer tudo bem, mas tudo parecia de ponta cabeça. Ainda deitado, toquei o lugar do beijo com minha mão direita, e sem perceber, a encostei em meus lábios. “MAS QUE DROGA É ESSA QUE ESTOU FAZENDO?!” – Levantei e saí correndo em direção ao banheiro, abrindo a torneira e lavando minhas mãos. “Acabei de... de... de dar um BEIJO INDIRETO NO TAKAO!!” – Pensei.

No dia seguinte, tentei de todas as maneiras evitar qualquer tipo de encontro, conversa, olhar ou qualquer outra coisa que fosse com o Takao, mas logo quando entrei pelo portão do Colégio, o vi. Ele estava lá, sorrindo e conversando novamente com Miyaji senpai. Parece que minha alma saiu do corpo, pois de novo sem perceber, fiquei parado como uma estátua, apenas sentindo o peito ficando cada vez mais apertado. Então, vi Miyaji senpai colocar seu braço em volta do Takao, que permaneceu sorrindo.

“Pare de sorrir, idiota. Não deixe ele te tocar assim. Eu... Eu...”

– Com licença. Takao, vem aqui por favor. – Disse, o puxando pelo braço.

– Calma Shin-chan! Até depois, Miyaji senpai...

Como isso aconteceu por puro impulso, não sabia o que fazer a partir daquele momento. Alguma hora teria que parar de andar e encará-lo, mas não tinha nenhuma desculpa até então. Ficamos andando por alguns minutos, até que aquele escorpiano resolveu quebrar o silêncio.

– Shin-chan, quantas voltas você planeja dar pela escola hein?

– Calado.

– Se não tem nada pra dizer, eu vou indo. Miyaji senpai queria me falar algo importante.

– ESPERA! – Quase gritei, segurando-o pelo braço. Pela primeira vez vi aquela expressão de surpreso no rosto do Takao. Tinha que pará-lo! Não sei o por quê mas tinha que pará-lo de qualquer jeito. E se Miyaji senpai se confessasse? Ou pior, se Takao aceitasse seus sentimentos? Ah sim, uma desculpa...

– O que foi Shin-chan? – O armador perguntou-me, visivelmente confuso.

– Aqui. – Estendi minha mão, com um pequeno leão de pelúcia. – Escorpião estava na última colocação, e o item da sorte era um leão de pelúcia, depois de dar cinco voltas por um colégio. Apenas isso. – Mesmo com essa desculpa “perfeita”, não consegui olhá-lo nos lhos e acabei corando ainda mais que no outro dia. Como comprei dois leões, somente para garantir minha sorte já que era o item da sorte para os cancerianos, minutos antes de ir para o colégio, não reparei em todos os detalhes, então um deles, justo o que eu entreguei...

– Shin-chan... – Takao segurou meu rosto, virando-o para si. Então, pude ver algumas lágrimas saindo de seus olhos enquanto ele puxava minha cabeça, fazendo com que nossos rostos ficassem cada vez mais próximos. Mesmo prevendo o que podia acontecer, simplesmente não pude fazer nada. Foi um beijo suave, simples e calmo, diferente do abraço que recebi em seguida, que quase partiu minhas costelas. – Não precisava inventar toda essa história para me entregar isso.

– O qu... – O vermelho do meu rosto deu lugar ao branco. Aquele leão de pelúcia tinha algo que não percebi. No seu pescoço, havia uma coleirinha em que o pingente era um coraçãozinho escrito “eu te amo”. – Isso... Isso é... – Só então que tudo fez sentido para mim. Aquelas palavras eram as únicas coisas que se encaixavam perfeitamente com tudo o que eu estava sentindo não somente nos dois últimos dias, mas desde entrei nesse colégio. – É isso mesmo. – Virei o rosto com toda vergonha que podia existir no mundo, mas Takao me puxou para um outro beijo.

– Também de amo Shin-chan! Muito! Não, demais! Exageradamente! – Aquele até então, foi o sorriso mais bonito que já vi no rosto dele. – Ah, agora entendo! Shin-chan é ciumento!

– CALADO! P-por que esta dizendo isso? – Oras, quanta vergonha teria que passar nesse dia?

– Você tinha que ver a cara que fez, encarando Miyaji senpai hoje. Agora que fui entender o por quê. – Estava quase explodindo nesse momento. – Mas sabe Shin-chan, não sei se é muito bom ficar mentindo sobre seu amado horóscopo...

– Co-como você sabe?

– “Primeiro lugar: Escorpião! Hoje possivelmente será o melhor dia do ano para os escorpianos, principalmente no amor! ~ Item da sorte: Chaveiro com uma bolinha de boliche. – Falando isso, Takao tirou o tal chaveiro do bolso.

– Seu... – Não sabia mais como lidar com tanta vergonha. Meu rosto estava queimando como se estivessem fazendo 250ºC. Apenas fechei meus olhos. Foi então que Takao sussurrou aos meus ouvidos:

– Hoje eu também escutei o Oha Asa, Shin-chan. Parece que deu certo, Ace-sama. – Sorriu.

– Eu sempre acreditei no destino, Takao. – Sorri.