In My Time Of Dying escrita por Lgirlsclub


Capítulo 1
One shot




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   "Se você pode fazer alguém sorrir hoje faça. Se puder fazer alguém que você ama se sentir amado hoje, faça. Se puder evitar que suas lágrimas caiam, evite. Evite, pois você tem pouco tempo. Não gaste seu tempo com arrependimentos e lágrimas. Não evite as pessoas. Só dê a elas bons momentos, para que tenham um pouquinho de ti quando você se for. E que esse pouquinho, seja a mais pura representação de um sorriso."


   Ela se sentira a garota mais azarada da Terra. O mundo deveria estar desmoronando. Limpou umas lágrimas. Engoliu em seco.


   "Isso vai fazer com que eu viva mais?".


   "Não, provavelmente não. Mas com certeza dará a quem te ama paz de espírito."


   "Como pode querer agir como se soubesse o que eu estou passando?", a jovem soluçou, enquanto o médico pegou o resultado de um exame e colocou suavemente sobre a mesa.


   "Só dois meses".


   Chorou mais e saiu do consultório. Pouco tempo. Muito pouco tempo. E muita confusão. Piscou os olhos e olhou ao redor. Vida. Em todos os lugares. Não sabia que aquilo lhe era tão importante. Não sabia que doeria tanto sentir que ela se esvaía por suas mãos. Sentou num banco de praça. Odiou admitir, no entanto o médico estava certo. Não queria gastar seu tempo chorando. Assim secou as lágrimas e decidiu também não contar a ninguém. Não queria ver a dor nos olhos de quem gostava. Não queria preservar esse sentimento.


   Levantou e forçou um sorriso. Abraçou de leve a família, beijou-lhes a face, murmurou palavras de carinho e ouviu sobre as coisas tão ínfimas da rotina – coisas que ela sentiria falta. Fez planos que não poderia concluir. Sonhou mil planos que não sairiam do papel. Mas projetou em seu coração mil anos de vida ao lado de quem amava. E talvez só isso bastasse. Correu para os amigos. Espalhou sorrisos, riu e brincou. Falou sobre a faculdade, fez mil e uma caretas, distribuiu abraços e esperanças. Correu pelas ruas com eles, lembrou-se de quando era criança e tomou sorvete, sentiu o atrito da areia nos pés descalços quando cismou em apostar uma corrida na praia com eles.


   E então só sobrara uma pessoa. Uma pessoa que ela gostava. Uma pessoa que ela tinha afastado de sua própria vida. Dizendo sempre não agora. Falando de se formar. De se tornar estável. De planejar o futuro. Um futuro pelo qual ele esperou. Um futuro que ela não podia ter se dado ao luxo de esperar. Ela se dirigiu a casa do rapaz. Ele talvez não abrisse. Ela não sabia. Mas tinha que tentar.


   Nesse mesmo momento, numa outra parte da cidade, sem que ela pudesse saber, seu médico saía do consultório. Ele entrava em casa e abraçava a esposa. Beijava-lhe a testa, murmurava palavras de carinho. Falava baixo, em confidência. Fazia carinho na barriga grande, de oito meses. Sonhava o futuro de seu filho. Nesse momento, ele e sua paciente pareciam descobrir uma magia antiga da vida. Pareciam descobrir que sonhar é viver. Ele sonhava com seu menino, já tão amado, e ela com suas possibilidades, que apesar de ínfimas, pareciam se tornar gigantescas aos olhos sonhadores.


   A paciente bateu avidamente na porta do apartamento rezando para que o rapaz que ela gostava resolver abrir. O rapaz apenas abriu a porta, desavisado, com os óculos pendendo do rosto e o dinheiro da pizza na mão. A moça se jogou nos braços dele, o abraçando, enquanto ele encostava a porta e deixava cair o dinheiro no chão, com um leve barulho das moedas caindo.


   Ele a abraçou forte e tentou ajeitar os óculos: "Mas o quê...?"


   "Eu não podia."


   "Não podia o quê, meu amor?", ele murmurou, tirando os fios de cabelo que grudavam no rosto dela, agora molhado pelas lágrimas, que ela não conseguira impedir.


   "Eu não podia partir sem te ver antes. Eu não devia ter colocado minha profissão tão a frente de tudo. Perdoe-me."


   "Partir? Você vai viajar?".


   Ela riu de leve, secando as lágrimas. "Vou. Por um bom tempo." Ela selou os lábios dele o abraçando, enquanto acariciava os cabelos morenos do rapaz, logo começou a dizer sem medir as palavras, o quanto ele importava para ela. Ela disse que o amava – perdeu a conta de quantas vezes o disse. Mas aquele não podia ser a última parada dela da noite. Ela não queria que fosse. E nisso, ela o beijou, enquanto pedia desculpas por ter que ir e murmurava um "eu te amo" final.


   Seguiu para o consultório novamente. O médico também voltara. Pusera a esposa na cama, a beijara, acariciara seus cabelos, e voltara a sair. Já estava na clínica quando a jovem batera. Ele abriu a porta e a deixara entrar. Deu um olhar complacente e fechou a porta atrás dela.


   - Vinte e quatro horas. – ela murmurou.


   -Aproveitou?


   - Você já não tem dois meses, não é? Seu exame estava amassado, quando o pôs sobre a mesa essa manhã. Quanto tempo falta para você, doutor?


   - Hoje....eram minhas últimas vinte e quatro horas.


   - Também não queria morrer ao lado deles.


   -Não. Não na frente deles. Não para causar-lhes dor. - O médico secou uma lágrima de leve. Escreveu uma mensagem numa folha, e encostou a mão nela, enquanto se sentava numa cadeira. Instintivamente, a paciente fez o mesmo, se sentando na cadeira mais longe.


   -Então é aqui que acaba.


   -É só onde começa. Deixamos marcas. Vamos continuar vivendo. No coração de quem amamos. Só gostaria de ter visto meu filho nascer.


     - Sua esposa está grávida?


   -Oito meses.


   -Parabéns.


   -Eu sei.


   Os dois fecharam os olhos. Pela manhã acharam dois diagnósticos de doenças em fases terminais. Acharam dois corpos sem vida. E duas cartas aos familiares e aos amigos. Duas cartas definitivamente escritas separadamente, mas de teor surpreendentemente parecido. As duas pareciam dizer: "Não chore pelo que eu não sou mais, sorria pelo que eu fui. Continue acreditando e siga em frente, porque se teve algo que eu quis fazer antes de minha morte, foi te fazer muito feliz. E obrigado, muito obrigado por ter me feito feliz, durante toda a minha vida. "


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