Eu observava o movimento do lado de fora, carros passando, grupos de amigos sorrindo e casais entregues à beijos apaixonados a luz do luar. Minha visão era um tanto embaçada devido ao vidro fumê das paredes transparentes do restaurante. Virei-me em direção ao bar e ela foi ofuscada por uma vermelhidão conhecida. Cass estava detrás do balcão. Ele manuseava algo com as mãos. Parecia uma garrafa de inox, sendo lançada ao alto e agilmente pega por uma das mãos, enquanto com a outra ele pegava um copo e o girava no ar. Algumas garotas tamparam-no com corpos agitados e risadas exageradas, outras debruçavam sobre o balcão. Seu semblante estava calmo e distante, seus lábios tinhas pequenas e sutis curvas que se escondiam em um olhar tristonho. Ele olhou para mim e sorriu de forma maldosa, certamente por minha cara que devia estar suficientemente idiota. O garoto serviu o drink às moças que ali esperavam, tirou o que parecia ser um avental da cintura e caminhou até minha direção. Ele era a ultima pessoa que eu queria ver naquele momento, mas, no entanto, apreciei sua aproximação. Reparei em seu cabelo que estava meio preso, com mechas caídas devido ao pouco comprimento. Seu corpo era coberto por uma camisa branca no estilo social e um colete cinza. No pescoço uma gravata borboleta. Sua calça era preta e um pouco apertada. Em seus pés, um sapato social com um pequeno aro metalizado. Parecia um verdadeiro cavalheiro.

— A senhorita deseja algo? — perguntou-me debochado. Ao que parece ele trabalhava ali. Não pude deixar de sorrir. A palavra senhorita soava estranha e falsa em sua voz. Ele percebeu minha reação e acredito que decifrou meus pensamentos. Olhou para as cadeiras ao redor da mesa. — Está esperando alguém? — aquilo parecia um interrogatório e eu não conseguia responde-lo. Estava em choque com sua brandura incomum. E meu coração ainda estava ferido por suas palavras rudes. Lembro-me como se acabasse de ser pronunciadas. “Você não presta mesmo, depois de tanto desprezo continua se humilhando pra quem não liga em nada pra você”. Aquela lembrança cortou-me e uma lagrima ameaçou cair. A contive com dificuldade.

— Já não sei se devia mesmo estar aqui. — foi tudo que consegui dizer.

—Posso saber o motivo de tal duvida?— perguntou-me gentilmente enquanto sentava na cadeira a minha frente. Seus braços apoiaram-se na mesa. Não parecia o mesmo Cass que todos conhecíamos. Era como se outra pessoa tivesse tomado seu lugar.

—Seria uma ironia responder isso. — falei em um sussurro que emanava minha dor.

— Não responda então.— ele disse gesticulando as mãos em sugestão. — Mas me ouvir não seria irônico seria?— perguntou.

— Talvez. — respondi asperamente.

—Não queria que fosse desse jeito.— começou vagaroso. — Não queria ter... — interrompeu-se avaliando o que diria. —Na verdade eu quis sim te magoar. Mas foi coisa de momento. De raiva. Fiquei possesso quando te vi naquele estado deplorável. E ainda pior por ter me ignorado. — confessou num tom que não o pertencia.

—Eu... Olha, você não me deve nenhuma explicação e tampouco eu a você. — disse levantando-me dali. Ele levantou-se em mesma rapidez e pôs-se em minha frente. A mão fechada em meu braço.

—Por favor, não vá. — sussurrou próximo a meu ouvido. Meus olhos se fecharam, eu estava confusa. Aquilo me feria categoricamente. Uma hora ele era doce, outra era acido. Eu realmente não sabia que atitude tomar. Desvencilhei-me de suas mãos e segui rumo a porta de saída. Sai dali com seus olhos presos aos meus passos. Então, nada mais vi. Somente escuridão.