Deep-sea Girl escrita por Lyssia


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Eu preciso dizer que fiquei muito feliz pelo número de comentários ^^ esperava receber dois, como quando postei o prólogo e quando vi tive quase que um surto de alegria... obrigada!
Espero que gostem. Boa leitura.



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Deep-Sea Girl


O rapaz de olhos e cabelos azuis a olhava com espanto. Se dissessem que ele ouvira o que menos esperava no mundo, não seria uma grande mentira ou exagero. Estar de frente a uma aparentemente mal-humorada Hatsune Miku que lhe pedia desculpas era simplesmente inacreditável. Aliais, apenas ser respondido por ela já o era. Seus amigos e colegas de classe já lhe diziam para deixar de fazer papel de bobo e sempre procurar a garota, ele até mesmo já pensava em realmente parar de fazê-lo, contudo, ali, sentiu-se recompensado por sua insistência. Poderia, enfim, tentar fazer aqueles belos olhos esmeralda com toques cerúleos deixarem de ser tão tristes. Kaito sempre se sentira na obrigação de ajudar pessoas com aquele tipo de expressão.

- Não se preocupe com isso. - finalmente a contestou, ao perceber que passara quase dez minutos apenas processando o acontecimento. Miku, todavia, não parecia se incomodar. - Mas porque mudou de ideia tão de repente? - não pôde se conter, deixando-se perguntar, pelo bem de sua curiosidade.

- O que quer dizer? - a resposta, porém, lhe desanimou um pouco. A garota voltara a escolher os vegetais que levaria para casa.

- Bem... até ontem de manhã, você não parecia disposta sequer a me dar bom-dia... que dirá se desculpar ou ir falar comigo na padaria... - coçou a nuca, tentando falar de forma descontraída, embora certo nervosismo insistisse em permanecer em sua mente.

- Eu estava com uns problemas... acabei deixando isso me afetar muito. - Kaito se pôs pensativo por um segundo. Então ela realmente tinha um motivo para agir daquela forma...

- Nos falamos na faculdade? - perguntou lhe dedicando um sorriso, ainda refletindo, sobre as atitudes alheias.

- Claro. - a esverdeada contestou com um meio sorriso nos lábios, observando como o mais alto ia-se com seus tomates.

Soltou um suspiro, recriminando-se por não ter conseguido manter uma conversa. Aquele rapaz... tinha um sorriso realmente radiante, que a confortava, fazendo-a se sentir bem. Também possuía uma voz agradável e sua própria expressão corporal era mais relaxada e informal do que da maioria de seus antigos amigos. Por isso era uma ótima pessoa para recomeçar seu círculo social. Embora aquele sorriso houvesse lhe feito julgar o rapaz de uma forma diferente do que ele era.

“Ele é mais sério do que eu pensei.” Concluiu enquanto voltava para casa, com mais de cinco sacolas. “Parecia em dúvida, também... não queria que eu respondesse? Ou não soube como reagir por surpresa?” perguntava-se internamente, procurando alguma lógica por trás dos atos daquela pessoa que tentara por meses aproximar-se de si. Ao fim abriu a porta de seu apartamento, chutando algumas coisas em seu caminho até a cozinha.

Quando já estava para dar duas da tarde, a Hatsune já almoçara um copo de lámen e deitara-se no sofá, tentando convencer a si mesma que devia levantar para arrumar o apartamento. Afinal, sua mais fiel cliente não podia ver aquele caos. Foi quando a campainha tocou. Sentiu um imediato frio na espinha, se sentando bruscamente. Teve o impulso de começar a juntar os objetos jogados, porém deteve-se ao perceber que demoraria e deixaria quem quer que fosse esperando tempo demais.

Correu até a porta e soltou um suspiro de alivio ao ver quem estava esperando. Uma jovem menina que ainda cursava o ensino médio, de cabelos ruivos, presos em marias-chiquinhas, assim como os seus, que faziam um gracioso e perfeito encaracolado e quase alcançavam os ombros. Usava um simples short e uma blusa branca, acompanhada por um casaquinho jeans, dobrados até os cotovelos, e tênis. Seus lábios lhe dedicavam um sorriso bonito, porém Miku não podia dizer se era para saudá-la ou porque via algo de engraçado naquela situação completamente banal.

- O que faz aqui, Teto-chan? - perguntou, finalmente, abrindo espaço para a ruiva entrar. Esta olhou para toda a sala, com uma sobrancelha arqueada, mas o sorriso ainda vivo.

- Uau, isso está horrível! O que você faz, joga tudo o que toca no chão? - perguntou em tom zombeteiro, andando na ponta dos pés, em uma tentativa de não esbarrar em nada.

- Teto-chan! - insistiu Miku, em um tom mais firme. A garota se virou para ela, e seu sorriso se tornou mais discreto.

- Vim buscar o quadro no lugar da minha mãe. - respondeu simplesmente, mas logo voltou a um tom brincalhão, pondo as mãos na cintura. - Porque você não pode ter achado que só porque falou umas gracinhas eu ia deixar de querer notícias!

A esverdeada acabou sorrindo. A família Kasane era conhecida de seus pais. Sempre viram seus quadros e, quando passou a vendê-los, se tornaram compradores. Mas aquela jovenzinha era mais do que apenas a filha de seus melhores clientes. Teto fora a única que não encarara sua tentativa de suicídio como um "surto adolescente". Sentou-se ao seu lado, perguntou o que aconteceu e escutou todas as coisas que Miku tinha a dizer, mesmo as mais estúpidas, sem rir. E era apenas uma pré-adolescente de 12 anos.

Mesmo assim, havia cerca de dois meses, haviam tido uma terrível briga. No dia seguinte ao término de seu namoro, quando Teto havia ido a visitar, acabou descontando sua raiva e frustração na menina. Se surpreendera ao ver, pela primeira vez na vida, um olhar de ódio verdadeiro naquele rosto doce, e sua amiga, que podia até mesmo ser considera a melhor, apesar da diferença de idade, saiu batendo a porta, gritando um estressado “Eu acho melhor ir embora antes que quebre a sua cara”.

- Você demorou bastante tempo para se acalmar dessa vez, Teto-chan. - brincou, observando a garota se sentar em seu sofá.

- Me acalmei no mesmo dia, Miku. - respondeu. - Estava me escondendo para evitar ser mordida. Por alguma criatura mal-humorada de cabelos azuis, sabe.

A mais velha não pôde evitar franzir o cenho.

- Você é uma sem graça. - e a ruiva riu, sem se importar. - Hoje eu falei com um garoto no mercado.

- Você está esquecendo o imbecil, e isso me deixa feliz, mas... no mercado? Não existem maneiras melhores para se conhecer pessoas?

- Ele é da minha faculdade. Eu ia falar com ele ontem, em uma padaria perto do campus, mas... ele acabou aparecendo por lá... - viu o olhar inexpressivo e avermelhado sobre si.

- Venha cá, Miku-chan. - pediu a mais jovem e a Hatsune sentou-se ao seu lado, no sofá. - Pode começar a falar. - falou tranquila, apoiando o cotovelo no joelho e o rosto nas mãos.

E Miku falou. Contou até mesmo como estava se sentindo naquela casa, contou sua crise de choro ao chegar, contou do vinho, de como se sentia ao olhar as marcas de tinta no chão, de como foi horrível ver o ex-namorado, como o sorriso do Shion era bonito e como ele parecia alegre. Também expressou sua dúvida sobre a aparente falta de interesse do rapaz e terminou concluindo que sua vida era uma merda. Teto a observou seriamente em todo o processo.

- Primeiro de tudo: não estou defendendo o imbecil, Miku, mas existem pessoas que não deixam que seus sentimentos transpareçam, assim como existem pessoas que recuperam-se mais rapidamente. Não é porque ele estava sorrindo que não sofreu com a separação.

- Não é esse o caso! É que... ele estava sorrindo e eu... bem... eu... - recebeu um sorriso gentil da amiga.

- Eu acho que ao invés de sentir raiva por ele, devia tomá-lo como exemplo. Pode até sentir inveja. Deixe o que passou para trás...

- É mais fácil falar, Teto-chan.

- Sim, eu sei. Também é mais fácil sofrer do que mudar, certo? - e aquele sorriso pareceu maldoso, naquele momento. Um pequeno silêncio iniciou-se e as duas se encaravam quase ferventemente.

- Eu vou tentar.

- Ótimo! Não se esqueça de que é mais forte do que pensa, Miku. - a mais velha soltou um suspiro.

- Se isso fosse verdade, eu não estaria nessa situação. - os olhos vermelhos da outra giraram.

- Se você não luta, não usa a sua força. Não é que os fortes não caem, é que os fortes se levantam, não é? Você pode chorar, desde que seque suas lágrimas e sorria depois. - deu uma piscadela, falando em tom de brincadeira uma frase que ecoou na mente de Miku.

- Você acabou de dizer algo bem legal... - sussurrou, gostando de ver aquele sorriso se tornar meigo. Teto podia não ter o mais expressivo dos olhares, mas seus sorrisos falavam por si só.

- Segundo! - exclamou repentinamente, estralando as costas antes de continuar. - Você não tem que pensar muito sobre as reações do Shion-san. Ainda está muito cedo para isso.

- O que quer dizer?

- Todos tem que passar por isso. Pela insegurança de um inicio de amizade. Vocês precisam se conhecer melhor, conversar e só então você vai ter a resposta para o porquê de ele ter agido dessa forma - fez um gesto de desdém com as mãos. - Não se preocupe com isso.

- Eu não tenho certeza se quero correr o risco, Teto-chan. Não me agrada muito a possibilidade de ser amiga de alguém que só estava tentando parecer uma vítima me cumprimentando. - a ruiva deu uma risada alta.

- Quanto a isso, eu acho muito difícil que seja verdade. Se ele quisesse parecer um pobre coitado, teria ido falar com você em público para levar um fora. E, pelo que me descreveu, Shion-san não me parece esse tipo de pessoa. - Miku soltou um suspiro baixo.

- Ainda não estou muito confiante... mas, tudo bem, vou tentar isso também.

- E tem mais uma coisa. Algo sobre essas marcas. - apontou para as manchas de tinta, coloridas, espalhadas pelo chão. - Você precisa limpá-las.

- Ah... Teto-chan... isso é realmente importante para mim... - hesitou ao ter aqueles olhos vermelhos e, no momento, sérios, sobre si.

- É exatamente esse o problema. Se você não limpar as manchas antigas, não vai conseguir novas. O coração é como uma tela: se já estiver ocupada, não há como ser preenchida por outra pintura. A única coisa que poderia sair de uma tentativa de fazê-lo seriam borrões confusos e tristes. - Miku suspirou profundamente.

- Não estou pronta.

- Miku...

- Não estou pronta, caramba! Você só diz essas besteiras porque não tem ideia de como é difícil! - a mais nova suspirou, olhando para baixo. A dona da casa imediatamente se levantou. - Vou buscar o quadro. - sussurrou, correndo até seu ateliê e embrulhando a pintura de fundo do mar. Ao voltar, a amiga já estava novamente com sua típica expressão gentil.

- Aqui a pagamento. - pôs-se de pé, estendendo um envelope para a azulada e tomando entre suas mãos o grande embrulho. As duas iniciaram uma lenta caminhada até a porta.

- Como você vai carregar isso até em casa? - perguntou a Hatsune, preocupada, quando a garota já estava no corredor. Recebeu um sorriso divertido.

- Vou dar meu jeito. - Teto viu a outra balançar a cabeça em desaprovação. - O que foi?! Eu sempre dou o meu jeito, mesmo!

- Eu sei, Teto-chan, eu sei. - acabou correspondendo ao sorriso. - Tome cuidado. Isso pode chamar atenção.

- Pobre do que tentar se meter a besta comigo! - deu uma piscadela e pôs-se a caminhar em direção ao elevador.

- Tchau, Teto-chan!

- Até mais, Miku! - a ruiva olhou-lhe seriamente, com um sorriso gentil no rosto. - Você sabe que pode me ligar.

- Sim, Teto-chan... eu sempre posso te ligar. - e a Hatsune se sentiu estúpida por ter se esquecido disso.

Quando fechou a porta, sentiu o ar mais leve. Não dava muita atenção a estas coisas, porém não pôde evitar pensar que toda vez que desabafava com sua amiga ruiva, aquele lugar parecia ficar mais amigável, mais parecido a um lar. Talvez devesse perguntar sobre isso à amiga, na próxima vez que se vissem. Com passos tranquilos, rumou até o ateliê, deixando sua bagunça para trás, evitando olhar para as manchas no chão. Posicionou uma tela grande e em branco e pegou seu lápis, tentando rascunhar o quadro que deveria entregar na semana seguinte.

Ela esperava que até lá sua vida parecesse um pouco menos cinza.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo já estava pronto tem um tempinho. Mas eu hesitei muito em postar por causa desta conversa de Miku com a Teto. Até pensei em tirar, mas então percebi que se fizesse isso, ia desanimar de refazer mais da metade do capítulo e ia acabar atrasando DEMAIS. Espero que não esteja muito ruim, de verdade. Ah, sobre o tamanho dos capítulos. Eu tenho a média de 1500~2500. Ou seja, vocês não vão ver um capítulo de 3000 ou mais palavras, mas também não vão ver um de 1000 XDDDD
Hoje estou meio desanimada, então as notas finais ficam por aqui -q deixem comentários, por favor.



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