– Sempre foi assim, Vida... Não há como mudar. - diz a Morte, ceifando com sua foice um punhado de plantas.

– Mas por que te odeiam e amam a mim? És tão magnifica quanto eu. - pergunta a fabulosa e bela Vida, sentada no chão ladrilhado que manchava seu doce vestido branco – Poderias me explicar?

– Igualmente me pergunto, porém já sei a resposta. À sua vista posso ser um esplendor, mas eu sou vista pelos outros como sinônimo de destruição, perda. Você, como um dom, um ser esplêndido que nos dá a chance de conhecer o mundo e ver como ele é, vivê-lo e apreciá-lo. Eu, ao contrário, a tiro, desfaço. Decomponho seus corpos e os mando ao outro mundo, tirando deles o que você concedeu.

– Mas Morte, varias pessoas vão ao Paraíso, que diz-se ser um lugar melhor. Ainda assim és vista como um terror.

– Desculpe-me jovem e bela vida, mas mesmo sabendo o motivo, não sei explicar-lhe o porquê. Sei que sou terrível e afasto pessoas de seus familiares, amigos, paixões entre outros, mas trago-lhes a libertação de sua alma e a purifico, assim como seus pecados.

– Sim, entendo agora o motivo de tudo isso... - a Vida levanta-se e vai até o local ceifado pela Morte – Mesmo que vivam ao extremo, em condições péssimas, dão glória por estarem vivos e poderem enfrentar esse desafio como milhares de outros, e se este desafio lhes for tirado, nunca poderão “vencer” por assim dizer.

A Morte pondera sobre a simples explicação que a Vida lhe dera e avista um pequeno ninho sobre uma árvore. O observa e vê que os pequenos passarinhos estavam aprendendo a voar. Derruba o ninho e os dois passarinhos morrem, após um tempo a mãe vem e procura pelo ninho, com o alimento em seu bico, percebendo a decepção da mãe ao não reencontrar os filhos, a Morte a mata cortando seu peito, como um mísero ato de piedade.

– Sim, exatamente assim Vida, agora entende o porquê? Sou odiada por tirar os competidores de seus desafios.

– Mas isso poderá mudar, as pessoas poderão entender o seu significado, querida Morte - a Vida agora levanta seus pálidos braços, brancos como leite – O mundo entenderá seu valor um dia, Morte. Serás respeitada assim como sou!!

– Não Vida, não será assim – a Morte abaixa os braços da Vida – Sempre fui odiada, sou odiada neste instante, e serei odiada eternamente pelos vivos... Até que eles morram e entendam seu próprio significado.