Eu estou em um precipício fundo olhando para a mais profunda escuridão, ela me chama parece tão convidativa, quente acolhedora, tão diferente de toda a dor que sinto em meus membros toda a dor que comprime meu peito, sinto que o breu me receberá de braços abertos e me apertará em seus braços dando-me o alento necessário para minha alma tão destruída pelo temor e pela dor.

Então simplesmente deixo um sorriso triste transparecer em meus lábios enquanto me deixo cair.

Acordo assustado. Colocando a mão no peito sob meus dedos meu coração bate descompassado, acelerado, arrítmico.

Somente algo causa tal sensação, ou melhor, somente alguém pode causar dor semelhante.

– Sasuke... – Murmuro com raiva e dor.

Por Deus!!! Por que não consigo esquecer esse maldito?!

Cada vez que fecho meus olhos eu lembro daquele corpo junto ao meu e dos seus lábios me tomando em um beijo duro e forte.

Eu queria ter nojo dele, eu queria poder odiá-lo no nível que o amo. Maldito! Por que me contaminou dessa maneira se depois ia fazer algo assim comigo?!

Eu não sou qualquer merda para ser tratado assim.

– Porra! – Digo revoltado.

Eu preciso esquecê-lo. Meu corpo ainda sofre as sequelas do que passei há três meses e meio, mas mesmo assim, eu preciso agir.

Já estou bem melhor, pelo menos fisicamente.

Mesmo sem vontade ergo-me da cama sem me preocupar com a nudez e puxo do armário o tatame e uma calça moletom cinza visto e passo a fazer flexões. Preciso cansar o corpo e tirar minha mente desse filho da puta.

Atualmente tudo que faço é estudar até cansar a mente e treinar o corpo até cansa-lo para então dormir e esquecer do mundo e da merda que é minha vida.

A única coisa boa da minha vida é dona Neiko e o senhor Ebune pais de Shino que me acolheram como filho deles e me matricularam nessa escola à distância.

Estudo com o intuito de me formar ir para a faculdade e mostrar para essa cidade o quão injustos eles forma, quero estudar e mostrar aos meus pais o filho que perderam, mostrar para meus novos tutores que fiz por merecer o voto de confiança, mostrar para Sasuke que consigo seguir minha vida sem pensar nele.

Uma merda de uma mentira, se eu conseguir passar mais de cinco minutos sem pensar nesse almofadinha eu saio no lucro.

Ele só não precisa saber disso certo?

Espero!

E por que perder tempo treinando esse corpo que sempre foi magrelo e quase sem músculos?

Porque ninguém tira da minha cabeça que se desse mais atenção aos treinos de capoeira, se desse mais atenção aos treinos de hóquei talvez fosse mais forte e tivesse impedindo a morte da Karin.

Eu sou culpado por aquilo, se não tivesse feito a merda de ficar com ele...

Se fosse mais forte para protegê-la.

Eu sou um bosta.

No entanto ninguém vai mais agredir um inocente minha frente, ninguém nesse mundo vai me bater e muito menos abusar do meu corpo.

Ao lembrar dessas coisas meu corpo da um solavanco e eu volto a chorar me rastejo até a parede de vidro do meu quarto que dá para uma varanda saio e ali fora choro sentindo o bafo da noite me tomar.

Nunca mais serei limpo para alguém me tocar, meu corpo foi maculado.

Eu já não pertenço mais a Sasuke.

Por que penso essas coisas? Nunca fui dele realmente, somente meu corpo foi... E isso já foi tirado de mim.

Choro por horas até que o dia começa a amanhecer respiro fundo levantando e apoiando meus braços no beiral assistindo aquele espetáculo.

A casa dos Aburame ficava ao pé das montanhas pouco depois dos limites da cidade, ainda bem mais baixa que as montanhas, mas relativamente mais alta que a cidade, e da varanda do meu quarto eu via o estupendo nascer do sol feito através dos montes além do vale caindo em raios sobre minha cidade tingindo tudo de laranja.

Assisto pacientemente sentindo o sol também me banhar levando minha escuridão embora. Talvez só por hoje, mas devo me erguer.

Tomo um banho gelado sentindo meus músculos reclamarem, mas era bom para afastar as dores dos machucados.

Sento a mesa abarrotada de livros e com um notebook a minha frente e passo a fazer os exercícios do dia para física, preparando uma lista de perguntas ao meu professor na vídeo-aula de hoje.

Essa aula seria somente à tarde, entretanto gostava de estar preparado, além de sentir necessidade de revisar tudo.

É eu sou nerd para caralho.

Fazer o que?! Nisso eu e Hinata combinávamos muito bem. Sinto saudades dela, abro meu e-mail e escrevo um para ela comentando o que faço agora e das saudades de estudarmos juntos sem preocupação, pergunto se ela ainda tem tempo de fazer todas as lições.

Sei que a resposta demorará a vir e será bem menos afetuosa do que estou acostumado, mas pelo menos ainda mantemos algum nível de contato, mas eu fiz por merecer esse distanciamento.

Eu destruí toda e qualquer confiança que aquela doce menina tinha em mim.

– Vamos Akamaru! – Chamo meu cachorro para correr comigo, e corro a manhã toda por dentro da trilha existente dentro do terreno dos meus tutores.

Sim eles eram ricos o suficiente para ter uma trilha particular.

Voltei para casa já perto da hora do almoço, comi um prato de salada e carne e passei a tarde estudando.

Após estudar, ia chamar Shino para jogarmos vídeo game quando ouvi ele e Ino discutindo no quarto, ou melhor Ino berrando e o silencio que deviam ser as respostas de Shino. Sempre calado.

A verdade é que eles se amam, mas Ino se sente jogada de lado por qualquer coisa, afinal Shino tem suas pesquisas com bichos, insetos; ajuda os pais, cuida de mim, e estuda... Mas pouco arranja o que fazer com a namorada. Ele não é muito criativo, adora estar com ela ir à floricultura ou a casa dela e ficar jogando ou lendo enquanto ela faz aquele monte de coisas de mulheres.

Só é desapegado de fazer coisas juntos ou a priorizar, pois na mente dele estar com ela é prioriza-la.

É difícil, pois em um namoro normal Ino estaria correta, mas estamos falando de Shino, que odeia contato físico, detesta aproximar-se das pessoas e abomina intromissão na própria vida.

Ele realmente mudou muito por ela. No entanto agora ela quer mais.

Sei que não me meto, só fico lá do lado dele quando precisa.

Pouco depois ouço Ino gargalhar e seus passos de saltos vierem até meu quarto.

– Kiba, convenci o chato do meu namorado a irmos ao teatro da cidade vizinha, você vai ficar bem sozinho?! Quer ir conosco?! – Sei que Ino convidou mais por educação e por se preocupar comigo, mas melhor não, até por que perguntou se ficaria bem sozinho ANTES de questionar sobre eu ir junto.

– Vai lá com ele! E se precisar eu digo para sua mãe que você está dormindo na Sakura!

Ela ri e me abraça dando um beijo na bochecha.

– Você é um fofo!

Resolvi me jogar na sala e ver um filme de terror, pouco depois do final do filme recebi uma mensagem no celular do Sr.Aburame.

“Iremos dormir aqui no acampamento para analisar os hábitos noturnos do louva-deus das montanhas, fiquem bem, qualquer coisa liguem que voltamos.”

Não me surpreendeu nada, eles quase sempre dormiam fora, eram presentes do jeito deles.

– Akamaru, como sempre só nos dois. – Falo com meu cachorro subindo para o quarto.

Fiz uma sequencia de exercícios para fadigar o corpo e tentei dormir.

Estava em um sono sem sonhos quando ouvi um estrondo. Me ergui assustado e olhei para a janela desacreditando no que via.

Desci correndo as escadas e escancarei a porta e o portão indo para a estrada.

Caído de baixo da arvore, em frente ao meu quarto, do outro lado do muro estava Sasuke.

– Sasuke?! – Pergunto surpreso.

– Por que o galho... se mexeu?! – Ele pergunta com a voz embolada.

– Sasuke, você está bêbado?! O que faz aqui?!

– Não, eu não estou bêbado! – Ele comenta tentando ficar de pé, mas desequilibrando, eu o seguro para dar sustentação. – Só levemente... Alterado, não que alguém se importe.

Passo a mão no rosto tentando manter a calma.

– O que faz aqui?!

– Ué não pode vir aqui?! Estamos... – Ele para e olha em volta e depois volta-se para mim com olhos tristes e perdidos. – Estamos na rua! Eu ainda... Ainda posso andar pela rua.

– Pode, mas o que faz aqui longe da cidade e ainda por cima em cima da árvore! – Digo e só ai vejo que ele está mole de mais para responder.

O carrego nos meus braços até meu quarto sentindo todo meu corpo doer pelo esforço. E o deito na minha cama. Desço correndo para fechar a porta e portão deixando Akamaru fora para ele não ficar em cima de Sasuke bêbado.

Pego um copo d’água dou para ele e depois molho seu rosto para acorda-lo.

– Ahn?! – Ele pergunta perdido, tocando em meu rosto com as pontas dos dedos, estremeço. –Kiba...

– Sasuke, o que fazia em cima da árvore bêbado no meio da madrugada?

– Oras o que eu faço toda noite! – ele resmungava. Deus como ele bêbado é chato.

– E o que você faz toda noite?

– Tentar dominar o mundo, não pera, esse é o cérebro... – Ele ri da própria piada e eu sou obrigado a segurar o riso. – Eu venho te olhar dormir todo lindo...

Fico vermelho e começo a tossir.

– Calma, tosse não.... Olha! – Sasuke ergue o copo vazio enfiando no meu rosto. - Toma água!

– Não precisa... Sasuke, você me ignorou depois que nos pegaram em flagrante, você não foi me ver no hospital...

– ISSO É MENTIRA! EU FUI! ... – Ergueu a mão mostrando três dedos. – três vezes!! E doei sangue três vezes!... Eu só não queria que você me visse, bobinho!

– Por quê?!

– Porque você é bom de mais! Se bem que merecia um beijo após doar três litros de sangue...

– Você o QUÊ?! É LOUCO?!

– Não! Você está machucado por minha culpa caaaacete! – Sasuke diz.- Ai o mundo gira...

– Merda! Vem Sasuke... – O pego e o levo para o banheiro. Ligo a água gelada dando nele um banho de roupa e tudo, ele reclama o tempo todo dizendo para não tirar suas roupas, mas ignoro.

Deveria ter ouvido.

Ele está horrível, totalmente magro, pálido, coberto de feridas e cicatrizes, e tem duas feridas nas coxas assustadoras, uma grande aberta e a outra... Eu conhecia essas marcas.

Não, ele não podia estar fazendo algo assim!

Amanhã com ele sóbrio teríamos uma boa conversa. Isso precisaria ser explicado, chega de esperar ele vir, chega de fingir que superei, precisamos conversar e por os pingos nos “ís” e, se for possível seguir a partir dai, o farei sem nada no passado.

O levei para o quarto e vesti nele uma calça de moletom negra.

O deitei na cama e ia levantando quando ele segurou minha mão.

– Kiba... – Ele diz mole de sono e bebida.

Não resisto e faço carinho em seu cabelo deitando ao seu lado na cama. O senti vir para cima recostando a cabeça em meu peito e me abraçando frágil, passei a fazer carinho em sua cabeça.

– O que aconteceu com você Sasuke?

Com ele finalmente dormindo chorei e dormi de cansaço.