Gabriela –

O jardim do instituto estava transbordando de tendas das mais diversas cores, as pessoas dormiriam mais um dia ali para aproveitar o “festival de comemoração”, na mesa central estavam os vencedores das modalidades e logo abaixo as pessoas dançavam em volta da fogueira, fiquei surpresa ao ver alguns bruxos famosos por ali conversando, de vez em quando Julieta, Newt ou Artur eram procurados pelos repórteres para darem “exclusivas”, aliás, um se mostrava mais exibido que o outro, um mostrava sua cabeça de grifo, outro mostrava seu olho de dragão e outro sua presa de Dente-de-Víbora Peruano.

Eu estava do lado de Helena e de Mila que usavam gorros e bebiam muita cerveja amanteigada, estava um frio enorme naquela noite e a cerveja amanteigada ajudava á nos esquentar e a molhar á garganta. Riamos como bobas falando dos bigodes de espuma que ficavam nos lábios, definitivamente não estavam em um estado normal, mas por algum motivo eu tinha mais resistência á bebida que as duas que já falavam como verdadeiras bêbadas.

De longe pude ver Alan Ackerman parado, escorado em uma árvore, ainda usando uma armadura leviana, fui até ele e o vi com os cabelos negros molhados, aliás, ele estava todo molhado, até mesmo sua camiseta vermelha que usava por debaixo da armadura se encontrava encharcada.

–Vejo que não teve tanta sorte na luta com espadas. – Sorri para ele sarcasticamente.

–Não tive tanta sorte... Fui agraciado com uma vasta inteligência, mas com um corpo que não permite cumprir meus pensamentos. – Alan nem mesmo me encarava, parecia ter seus olhos vidrados em Helena e Mila.

–Me contaram que você foi rapidamente ao chão... Contra o primeiro oponente. – Eu me segurava para não rir do atrasado Alan Ackerman que sempre estava na minha frente em várias matérias, mesmo sempre chagando atrasado e não mostrando o mínimo interesse sobre a aula, eu confesso que tenha certo ódio e ao mesmo tempo inveja do garoto.

–Aprendi hoje, da maneira mais árdua possível, acredite, que como espadachim eu sou um ótimo trapaceiro, afinal, minha espada não vingou, mas o dragão também não alçou vôo. – Ele finalmente esboçou um sorriso.

–Do que está falando? – Perguntei e pela primeira vez Ackerman me fitou com seus olhos verdes, olhos esses que me olhavam como se buscassem os meus piores erros, não encontraria muitos.

–Você não suspeitou em nenhum momento o dragão não ter alçado vôo e ter perseguido os jovens pelos céus...

–Artur o mandou dar uma poção que impedisse o dragão de voar... – Estava espantada.

–Não seja besta, ele não faria isso, não correria o risco de manchar seu perfeito currículo para entrar em um bom time de quadribol... Se quiser realmente saber, foi Tristan. Garoto ambicioso, até demais, pena ter sido traído por sua lança. – A verdade é que eu adoraria por isso no jornal, mas não podia, tinha que guardar para mim, não se deve mexer com aqueles que podem mudar o fluxo da natureza dos estudantes do colégio, me lembro de terem sido as primeiras palavras que ouvi quando fui admitida no jornal do instituto, malefícios de ser adolescente.

–Mas afinal, suas amigas estão muito bêbadas. – Olhei para trás e me deparei com Helena e Mila totalmente bêbadas e fazendo caretas estranhas, não me impressionaria se elas logo depois vomitassem. Pensei em ir gravar aquilo, mas Liam se antecipou com alguns colegas Araras e começou á filmar, tinha certeza que na outra manhã todos iriam rir com aquelas imagens... Mas tudo se esvaiu da minha cabeça quando comecei a ver tendas indo pelos ares e o fogo se espalhando, não demorou e logo aquela coisa estranha chegar até a mim, e pude ver nos olhos da besta, em seus imensos glóbulos oculares verdes e em suas feições felinas, o puro ódio.

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Jessica –

Há tempos eu esperava por isso, meus olhos estavam atentos, estávamos no fundo da floresta em meio á um monte de raízes, logo á frente Allicia estava parada segurando um embrulho branco e tinha uma pequena jaula no chão, do meu lado um lobo branco, Katherine em usa versão animaga, ela estava séria, e olhava com os olhos avermelhados de lobo para o que aconteceria ali.

–Eu disse que esse dia estaria marcado para sempre na história do instituto, e quando eu prometo, eu cumpro! – Falei e Allicia pegou um pequeno frasco que continha um líquido vermelho, sangue, e abriu á gaiola e lá de dentro saiu Lucky, meu gato preto, o amava tanto, ele era uma boa mascote e também uma boa companhia para meus momentos de solidão quando não queria estar com nem mesmo minhas amigas. Mas para se entrar na história, temos que fazer sacrifícios, e eu não seria uma exceção.

O sangue caia sobre Lucky e ele engoliu tudo aquilo, logo depois Allicia fez uma magia e as velas se ascenderam com um fogo azul em suas pontas e aos poucos as letras escritas em círculo das velas até o círculo menor em que a jaula de Lucky estava começaram a acender e quando chegou á jaula do meu tão querido gato tudo virou uma fogueira, e me condenei por não ter deixado cair nenhuma lágrima sequer.

Mas logo depois apareceu o que eu tanto precisava para entrar para a história do instituto, uma besta nascida do fogo*, era meu Lucky, eu podia ver em seus olhos, mas ele estava tomado por ódio, se eu fosse queimada por meu dono eu também ficaria.

–Allicia, o sangue é seu, você o invocou, ele deve respeito apenas á você, dê á ordem.

A morena hesitou por um momento, as grandes presas de Katherine transformada em loba se mostraram.

–Allicia, eles não descobrirão, apenas quando for á hora. – Eu disse tentando reconfortá-la, ela sorriu, era facilmente manipulável, talvez fosse por isso que sempre estava com algum garoto problemático ao seu lado, Deus! Nunca á vi com um garoto de futuro. Enquanto pensava isso Allicia deu á ordem e a criatura gigantesca e tomada pelo ódio ensandecida saiu pela floresta abrindo uma trilha entre as árvores até o local, tínhamos que nos retirar o mais rápido o possível.

–Vamos! – Disse e Katherine foi á primeira á sair, sua forma de loba a permitia ser á mais rápida. Virei-me de costas, mas antes que pudesse sair Allicia me chamou.

–Jess.

–O quê? – Perguntei virando meu rosto para fitá-la se aproximando com um maldito sorriso no rosto, que apenas mais tarde iria entender do que se tratava.

–Espero que a partir de amanhã eu tenha um cargo maior na hierarquia, afinal, você não gostaria de ter seu “pequeno segredo” revelado. – Ela falou me dando um ódio tremendo.

–Você não pode falar...

–É ai que você se engana querida. Lembra-se de quem fez os contratos? – Me lembrei de quando estava eu, Lucas e Artur naquela mesma mesa grande formulando o contrato para novos membros. Acenei com a cabeça positivamente para ela e a Von der Field se aproximou dos meus ouvidos.

–Você acha mesmo que eles ficariam a mercê de você... Que eles não criariam uma cláusula sequer que os permitisse que eles saíssem do grupo. – Minha cabeça ferveu, tiraria isso á limpo com os dois mais tarde, mas Allicia foi logo andando para fora da floresta, eu já podia ouvir os gritos e as tendas indo para o ar.

–Não se preocupe... “O único homem que nunca comete erros é aquele que nunca faz coisa alguma”. – Ela disse e de longe perguntei:

–Quem disse isso?

–Roosevelt.

–Agora você fala frases trouxas?

–Você mesmo disse que o grupo era para integração entre os dois grupos, bruxos e humanos. – Deu para ver seu sorriso de longe. – Até amanhã, espero que já tenha meu cargo preparado. – E Allicia desapareceu nas sombras enquanto meus olhos se enchiam de ódio.

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Helena Dawson –

Minhas pernas me traiam e de vez em quando eu caia. Meus olhos não viam com muita clareza, apenas podia ver á besta felina de pelugem negra e grandes olhos verdes se aproximar cada vez mais, Mila já estava bem mais á frente de mim e corria bem mesmo estando tão bêbada quanto eu, senti que cairia de novo mas senti um braço me segurar, era Liam que me segurava e agora me carregava por entre ás tendas, a criatura parecia não querer avançar para outro lado, me perseguindo, senti que á besta cada vez se aproximava mais, o lado esquerdo do rosto de Liam estava sangrando e estava todo sujo, olhei para trás e via besta ficar perigosamente perto, o suficiente para nos matar, mas por sorte vi uma luz descer e a criatura felina cessar o ataque, caímos sobre á grama e me virei vendo algumas casacas negras, homens á serviço do ministério, também reconheci um grande casaco de plumas róseo, logo mais bruxos começaram á se juntar até que derrubaram á criatura, que se transformou em pó.

Senti um desespero tão grande, estava deitada na grama lamacenta enquanto uma fina chuva caia, olhei para o lado e apenas vi Liam e sem pensar me abracei á ele e logo nossos lábios se encontraram, não era lá um beijo perfeito, aliás, não era um beijo que nenhuma garota sonharia em ter deitada na grama lamacenta, em volta por fogo e destruição, gritaria e com ambos sujos e sangrando, mas era um beijo doce e calmo que me deixava confortável no meio daquela situação, mas é óbvio que minha consciência começou á retornar, estava beijando Liam, abri meus olhos e me desvencilhei dele que ficou me olhando com uma cara de quem não entendia o que estava acontecendo e rapidamente saí dali correndo, precisava achar Mila e Gabriela, precisava saber se as duas estavam bem.