Era um dia quente a ameno de verão. Nem parecia que dali a um mês todo o meu distrito estaria reunido numa praça do centro para sortear um casal que estaria caminhando para
os dedos ágeis da morte.

Meu nome é Rue. Rue Jackonsmith. Eu vivo no distrito 11 junto com meus 5 irmãos, Ana, Jeila, Forf, Gurie e Manday. Eles são muito legais, mas eu acho que seria melhor se um
deles fosse da minha idade. Ana, que é a mais velha dos 5 que vieram depois de mim, só tem 8 anos. E Manday, a mais nova, não fez nem 5 meses. Eu tenho 12 anos, é meu 1º ano na colheita, e eu já decidi: Eu vou pegar pelo menos duas tésseras esse ano. Nós estamos no periodo de safra, então recebemos mais comida e não temos que ir a escola. Aqui no 11 as pessoas são divididas em setores na hora de trabalhar na plantação.
Meu pai fica no setor de frutas pesadas. Ele carrega e poe na carroça tudo que é colhido lá. Todo ano, na época de safra, nós deixamos ele se servir primeiro nas refeições. Eu sempre sou a última, às vezes até fico sem comer. Mas não me importo, eu consigo comer alguma coisa nas árvores. Eu, Ana e Jeila, trabalhamos juntas nas árvores. De todas nós, eu sou a mais familiarizada com elas. Com elas e com os animais que vivem lá. Existem muitos, como GaiosTagarelasTeleguiadas e Tordos. Ah, Tordos. São meus favoritos. Eu amo música, e todos já sabem disso. Ou por que trabalham comigo, ou por que descobriram isso. E todos adoram me ouvir cantar e assobiar. Eu amo animar os dias de trabalho na safra aqui no 11. É difícil alguém se animar com tanto trabalho pela frente. São 3 meses sem escola, agente só trabalha na Safra para a Capital. Os únicos
dispensados são as famílias do casal dos tributos.

Por um lado eles até são sortudos, é claro que se agente não contar que provavelmente terão um membro de sua família morto.

Voltando aos setores, Forf e Gurie trabalham nos morangos. Uma vez, no ano passado, Gurie levou para casa 8 morangos, um para cada um lá de casa. Eles estavam deliciosos, mas ralhei com ele por ter roubado. O expliquei, quase em sussurros, para que ninguém ouvisse, que não deviamos roubar coisas da Capital. Ele ficou abismado:

–Mas Rue, nós colhemos, nós plantamos, nós regamos, nós adubamos... não eles! Então porque não podemos pegar?- Perguntou ele, intrigadissimo.

–Você não entende, Gurie.

–Entendo sim- Eu ri baixinho.

– Ok, ok, você entende, né Gurie? Então é simples. Sabe aquelas pessoas que são chicoteadas na praça? Se você fizer isso denovo, pode acabar que nem elas!

Eu também tenho amigos. Dois na verdade. E eu os conheço desde que me entendo como gente. Anak e Dake. A Anak é minha vizinha. Já o Dake conheço da Safra. Desde que
éramos pequenos...