Rachel P.O.V

Eu estava chocada, abismada, sem conseguir formular uma palavra sequer. A primeira coisa que aconteceu foi Jake e Beth saírem correndo, se atirando nos braços da versão mais velha de Quinn, que começou a chorar beijando a cabeça dos dois.

_ Meus anjinhos, meu anjinhos... – sussurrou ela os afastando e encarando seus rostos – Meu Deus, quanto eu rezei por isso... Dez anos longe de você Jacob. Nunca mais ouse fazer isso.

_ Dez? – ouvi Marley – Mas Ryder e Beth disseram ser só 5...

_ E mais cinco se passaram princesa. – ouvi o Finn mais velho – Agora venha cá e me dê um abraço.

A garota correu e se atirou sobre ele, que a ergueu alguns centímetros. Logo Ryder estava junto deles, e Finn apertava os dois, emocionado.

Fiquei esperando que os dois corressem para “meus” braços, mas apenas Ryder o fez, apertando minha versão mais velha emocionado. Marley por sua vez desviou o olhar, apertando o pai mais forte.

Observei que Beth estava abraçando Puck, enquanto Jake encarava o chão, Quinn o olhando com um olhar suplicante. Quando eu ia abrir a boca para falar algo, a voz do Puck mais velho apareceu.

_ Jacob... – sua voz era rouca e doente, combinando com o aspecto físico que ele tinha – Podemos conversar?

Jake P.O.V

Deus sabe quantos anos fazia que eu não via o meu pai, e mais ainda, quantos anos ele não me via. O homem a minha frente não tinha nada a ver com o de minhas lembranças, nem com o que estava ali perto, encarando tudo com visível assombro e espanto.

Eu assenti com a cabeça, soltando minha mãe e caminhando para fora da sala de aula, com meu pai a poucos passos de mim, num caminhar mais lento. Pensei em ir até as arquibancadas, mas o outono já estava bem frio e meu pai aparentava estar bem doente. Por fim entrei em uma sala vazia qualquer e me sentei sobre a mesa do professor. Ele parou a minha frente, me encarando por um longo tempo.

_ Está bem maior do que da última vez que o vi. – suspirou ele e eu revirei os olhos.

_ Não ficaria tão surpreso se tivesse estado lá. – comentei e ele apenas confirmou com a cabeça, parecendo derrotado – É só isso que você tem a dizer? Ou fazer? Concordar? Depois de anos longe, depois de ter ido embora e deixado eu, mamãe e Beth?

_ Se você baixar a guarda, eu explicarei tudo. – disse ele calmamente – Mas com você assim, não vai ter jeito.

Suspirei, cruzando os braços em frente ao peito e dando sinal para que ele falasse. Ele se sentou em uma das mesas de estudo, inspirando profundamente antes de começar.

_ Você não conheceu meu pai, certo? Nicholas Puckerman? – perguntou ele e eu neguei – Bom, era de se esperar, levando em conta que ele foi embora quando eu tinha pouco mais de quatro anos.

_ E você pelo visto, seguiu seu exemplo. – comentei ácido e ele me repreendeu – Desculpe. Prossiga.

_ Pouco antes de você completar seu terceiro ano, ele entrou em contato comigo depois de quase quatro anos. Ele estava na Carolina do Norte e, naquela noite, eu, sua tia Sara e meu meio irmão, Nathan, fomos para lá. – continuou ele e eu arqueei a sobrancelha. O que isso tinha a ver? – Meu pai tinha câncer e estava à beira da morte. Ele mandou nos chamar porque queria se despedir. Quando eu perguntei se ele se arrependia de ter nos abandonado, ele disse que seu único arrependimento havia sido o que ele deixara de fazer na vida. Quando eu rebati que não seria com ele com você e Beth, ele riu e disse que, mais cedo ou mais tarde, meus genes Puckerman iriam vir a tona e eu iria decepcionar vocês, decepcionar Quinn, fazer vocês sofrerem. Eu neguei e fui embora irritado, jurando que não o faria.

“Nas semanas que se seguiram, isso martelou muito na minha cabeça. Eu podia ouvir meu pai a cada segundo do dia dizendo isso, me dizendo que eu iria decepcioná-los. Naquela noite em que eu coloquei você e Beth para dormir, e você me pediu para cantar... Você lembra? Você sempre me pedia para cantar para você dormir.”

Eu concordei sentindo a garganta apertar e funguei, vendo-o secar distraidamente os olhos.

_ Você gostava muito de rock clássico, para o desespero da sua mãe. – eu ri da afirmação e ele abriu um sorriso – Quando vocês dois adormeceram, eu fiquei os observando. A verdade era que... Sua mãe havia se formado na faculdade, mesmo tendo interrompido o curso em Yale e começado outro aqui, em Lima. Ela tinha um emprego garantido no jornal, enquanto eu ainda limpava as piscinas da região, sem ideia do que seria meu futuro. Eu sempre sonhei em ser um astro do rock e trabalhei para isso, sem ter um segundo plano. Logo, me tornaria alguém amargo, você e sua irmã precisariam de mais dinheiro, sua mãe teria que me sustentar... Todas essas ideias me martelavam enquanto eu observava vocês dois e eu chorei, como nunca havia chorado na vida.

As lágrimas marcavam seu rosto enquanto ele falava e eu sentia algumas quentes e teimosas descendo pelo meu, por mais que eu quisesse evitar.

_ Ir embora foi a coisa mais difícil que eu já fiz Jacob, por favor, não duvide disso. Enquanto eu arrumava minhas coisas, eu sentia meu coração saindo pela garganta. Dar adeus a você e sua irmã foi como morrer um pouco, mas eu queria o melhor para vocês. E o melhor não era eu.

“Quando eu parti, fui a todos os lugares que você possa imaginar. Rodei o país, tocando em bares e casas noturnas, tentando afastar minha mente de vocês, forçando-me a acreditar que vocês estariam melhores sem mim. Vivi assim por quase dez anos, quando afinal, o câncer de meu pai me pegou.”

Engoli em seco com a ideia de ele ter câncer e ele sorriu torto.

_ Se eu tivesse continuado em casa, sua mãe teria me obrigado a fazer exames a cada seis meses. Na estrada, não fui ao médico uma única vez. Quando descobrimos o câncer, já não havia mais solução. Fui para a Carolina do Norte, onde eu vira meu pai pela última vez e comecei um tratamento lá.

“Perguntei a alguns médicos e após alguma pesquisa, descobri que meu pai havia falecido alguns dias depois de minha visita. Foi cremado e suas cinzas jogadas de um penhasco por Nathan, o único que cedeu às vontades dele. Mas meu irmão jamais retirara os pertences de meu pai, que estavam lá até aquele dia. Quando eu vi o que era, havia uma carta para mim... Entre outras coisas, ele pedia perdão, dizendo o quão difícil seria dizer aquilo olhando para mim, e garantia que eu estava certo, que eu seria um pai melhor que ele.”

“Mas eu já havia partido há quase 12 anos nessa época, e vocês estavam melhores sem mim, eu sabia disso. Então fiquei lá, me tratando, esperando melhorar um pouco que fosse para que eu pudesse procurá-los e pedir que me perdoassem. Mas sua mãe chegou antes...”

_ Porque eu sumi? – perguntei e ele negou, com um sorriso triste.

_ Foi algumas semanas antes de você e Marley sumirem. – disse ele tristemente – Ela apareceu uma tarde no hospital e entrou no meu quarto. Não dissemos nada, até que ela atirou uma pasta a minha frente e mandou que eu assinasse os papéis de nosso divórcio, para que ela se casasse com Finn. Creio que ela esperava qualquer coisa, exceto eu perguntar como você e Beth estavam. Aquilo a desarmou e ela começou a chorar, gritando tudo que estava entalado em sua garganta por quase treze anos. Logo depois me mandou enviar os papéis pelo correio e saiu como um furacão.

“Eu não assinei os papéis, esperando que ela voltasse. E ela voltou, mas não por isso. Quase dois meses depois ela apareceu nervosa, chorando como louca e se jogou nos meus braços aos prantos. Quando ela se acalmou, me disse que você havia sumido, voltado para o passado. E eu senti como se mais um pedacinho meu morresse naquele momento.”

_ E então você voltou para casa? – perguntei e ele confirmou – Você sabe o quanto eu sofri? O quanto eu chorei? Quantas noites eu passei em claro, tentando entender porque você nos deixou? Eu olho para o seu eu do passado e não sei o que pensar, porque você parece amar tanto Beth, estar pronto para dar a vida por ela e...

_ E eu estou. – garantiu ele se levantando e se aproximando – Jake, eu entraria na frente de uma bala por você e sua irmã sem pensar duas vezes. Tente entender meu filho... Eu nunca tive um pai, eu nunca soube o que era essa relação. Você não sabe o quão maravilhoso e ao mesmo tempo assustador era o amor que eu sentia por você e o quanto me doeu imaginar você passando por tudo que eu passei com o meu pai. Eu posso ter errado, mas eu te juro que não foi com a intenção de te ferir.

Eu fiquei encarando o homem a minha frente, me olhando com cara de dor e piedade, os olhos lacrimejando tanto quanto os meus, antes de atirar meus braços ao seu redor e abraçá-lo. Ele logo me envolveu em seus braços magros e choramos juntos, lado a lado.

_ Eu senti sua falta papai. – solucei.

_ E eu de você campeão. – garantiu ele – Eu sei que é tarde, mas eu prometo que enquanto eu puder, eu nunca mais vou sair do seu lado.

E dessa vez, eu sabia que era verdade.

Marley P.O.V

Assim que Jake e o pai saíram, o clima na sala ficou bem desconfortável. Todos do passado nos encaravam num misto de emoções, mas eu só conseguia sentir o olhar de minha mãe sobre mim.

_ Marley... – começou ela e eu neguei.

_ Não.

_ Marley, você prometeu. – pediu meu irmão e eu o encarei.

_ Filha, por favor... – pediu minha mãe e eu explodi.

_ Agora eu sou sua filha? Quando você nos deixou para ir para Nova York você não pensou nisso? Ou quando mentiu dizendo que Ryder era filho do Brody? – gritei e ouvi algumas exclamações de surpresa – Você esteve ausente por quase onze anos da minha vida, e agora vem me chamar de filha?

_ Meu anjo, escute sua mãe, por favor. – pediu meu pai abraçando meus ombros, enquanto minha mãe chorava a minha frente. Eu bufei contraria, numa expressão digna de Rachel Berry, antes de concordar e indicar que ela me seguisse. Saímos em silêncio, ainda sobre olhares curiosos e eu caminhei até o auditório, parando no meio do palco, esperando que ela falasse.

_ Estava muito bonita hoje. – ela elogiou após algum tempo – Não sabia que me observava tanto quando eu cantava as músicas, já que recriou muitos de meus gestos e expressões perfeitamente.

_ Eu costumava te idolatrar. – disse simplesmente e ela concordou – Até ver que você não era a rainha que eu sonhava.

_ Eu sei que errei. – disse ela – Eu mereci o jeito que Ryder me tratou quando descobriu a verdade, como seu pai me tratou, como você está me tratando. Mas saiba, eu quis voltar no momento em que parti. Seu pai me disse uma coisa na noite em que você nasceu e eu só fui entender quando senti o que era te perder. Ele me disse que a Broadway era um sonho passageiro, algo efêmero, que não duraria. Mas aquilo que nós tínhamos, aquilo que nosso amor tinha gerado... Aquilo seria para sempre.

“Mas eu havia passado minha vida sonhando com os palcos, em orgulhar meus pais, em ser uma estrela... Não era fácil me contentar com ficar em casa cuidando de você enquanto seu pai trabalhava. Eu fui me tornando amarga e isso começou a interferir no nosso casamento, mas você era pequena demais para perceber. Quando veio a chance, eu a agarrei, já crente que eu e seu pai não daríamos mais certo.”

“E então, eu perdi você... E não havia palco no mundo, não havia solo que fosse, que compensasse essa falta. A falta de você entrando em casa correndo e chamando meu nome. Ver seus olhos se fechando enquanto eu cantava para você dormir... Mas seu pai estava ferido e eu sabia que demoraria um tempo para ele conseguir superar isso.”

“Só que o Ryder aconteceu e tudo mudou, as coisas se desencaixaram, tudo se desencontrou e quando meus pais me contaram que você disse que eu não era mais sua mãe, foi como se o mundo ruísse para mim. Eu nunca consegui o sucesso da Broadway, eu perdi você, perdi seu pai, criei seu irmão numa mentira.”

Enquanto ela falava, ela chorava. Eu também chorava, não sabia de raiva ou de dor.

_ Os papéis do divórcio chegaram pelo correio e quando meu advogado entrou em contato com o do seu pai, soube que ele e Quinn iam se casar, para dar a você e Jake uma família melhor. Eu tentei um acordo sobre sua guarda, para que eu pudesse te ver... Mas seu pai me ligou e... Falou tanta coisa. Falou sobre como você sofreu, como ainda sofria, por ter crescido sem eu, por eu ter trocado vocês por outra família. E ele me perguntou porque eu queria te fazer sofrer mais.

“Quando eu ia assinar os papéis, algumas semanas depois, ele apareceu, me avisando do seu desaparecimento. O resto, creio que Ryder já lhe disse. Desde então, eu e Brody nos separamos e eu voltei para casa, onde ficamos esperando Artie conseguir uma solução. Então Ryder e Beth se foram sem aviso prévio e sua tia Quinn quase morreu de desgosto. Desde então cinco anos se passaram e Artie afinal consertou a máquina, para que nós pudéssemos voltar.”

Ela terminou com um suspiro, secando os olhos e se aproximando de mim, pegando minhas mãos.

_ E eu to aqui Marley, caio de joelhos se você quiser, te pedindo perdão minha filha. – disse ela me encarando – Você foi meu maior sonho, minha maior conquista, minha maior vitória. Você nunca vai poder entender o que eu senti quando você se mexeu dentro de mim, quando eu te vi pela primeira vez, quando eu toquei seu rostinho, quando você me chamou de mamãe... Se eu pudesse mudar qualquer coisa, a única que eu jamais mudaria seria o seu nascimento. Eu te amo tanto que chega a doer, e eu não preciso que você me aceite de volta na sua vida, por melhor que isso viria a ser. Eu só preciso que você me perdoe Marley. Diz que me perdoa, por favor.

Ela soluçava e eu também, quando a puxei para mim e a abracei. Ela me apertou forte e ficamos aos prantos, uma no ombro da outra por um longo tempo.

_ Nunca mais vá embora mãe, por favor. – sussurrei e ela concordou com a cabeça – Eu te amo muito.

Ela me apertou mais e logo eu senti dois pares de braços a nossa volta, anunciando que meu pai e Ryder estavam ali. Aquele era o primeiro abraço em família que dávamos e eu sabia que não seria o último.