Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 34
Capítulo 35 - A canção continua a mesma


Notas iniciais do capítulo

Meninas estou com um bloqueio criativo horrível, mal estou conseguindo escrever. Vou me esforçar para voltar aos eixos e atualizarei todas as fanfics esta semana! Desculpe a demora...
Boa leitura



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POV Jacob

O plano havia corrido com perfeição até aqui. Enquanto eu cravava minhas patas na terra úmida, acelerando silenciosamente para o ninho dos sanguessugas, eu podia ouvir os corações barulhentos e excitados de meus irmãos atrás de mim.
Tanto tempo sem lutarmos lado a lado... Tantos dias desde a última vez que fomos para batalha juntos, e essa noite, no entanto, aqui estávamos nós, longe de nossa terra, lutando pelo mesmo motivo de sete anos atrás.
A mesma canção soando sem parar no disco quebrado de minha vida... E quantos anos mais eu não lutaria por ela? Minha vida inteira se fosse preciso. Todo e cada ano de minha eternidade, nem que fosse apenas para estar com ela uma vez mais, para pôr os olhos nela novamente, e se fosse preciso que eu morresse para isso, mesmo assim eu faria. Deus sabe que eu faria...
Não importa o que isso me custou nesses tantos anos. Nada... Tudo... Eu não me importava. O problema nunca foi o que eu sentia, era tudo por ela, para ela, e eu faria de novo. Diria cada palavra mais uma vez, lutaria as mesmas batalhas, derramaria cada lágrima novamente. Hoje eu sei que faria de novo, mesmo me arrependendo de tantas coisas que fiz ao longo de minha vida, ela sempre será a parcela imutável de mim, e de qualquer forma, prefiro isso a me lamentar por não ter feito nada.
Jake, concentre-se. Estamos quase lá. - Disse Sam em minha mente, a voz branda soando como um eco. Tê-lo novamente dentro de minha cabeça era bem melancólico, me lembrava do tempo das patrulhas pelas florestas de Forks e La Push, atravessando as noites e muitas vezes partes do dia. Eu sentia falta daquela época. Do garoto sem preocupações que vagava por La Push durante todo o dia, da garagem minúscula na qual eu me isolava com meus projetos de sucata. Era estranho perceber o quanto minha vida havia mudado desde então, e descobrir que eu me recordava dessas coisas com cada vez menos freqüência, fazia eu me sentir outro homem, alguém estranho a meus próprios olhos.
Se apressem. - Disse a eles, aumentando o ritmo de minhas passadas.
O túnel que percorríamos começava num beco estreito no centro da cidade. Era um buraco disfarçado de esgoto, com grades de ferro fundido e profundidade de cinco metros sob o pavimento rochoso. A largura da entrada nos obrigou a permanecer em forma humana até o final da queda escura e úmida, desembocando depois em um túnel largo o bastante para permitir uma corrida tranqüila para o maior de nós - no caso, eu.
As pontas de minhas orelhas roçavam o cimento úmido acima de nós, e nossas patas afundavam nas poças do chão, borrifando gotas de água negra nas paredes rústicas. A pedra parecia sangrar na escuridão que nos envolvia.
Não foi possível trazer todos, nem era sensato optar por tal investida. A cidade inteira precisava ser varrida em apenas uma hora, e isso exigia uma divisão nas matilhas. Sam, como sempre, liderou muito bem os que trouxe de La Push: Paul, Jared, Embry, Quil, Seth e ..., dividindo-os novamente quando chegamos aqui. Quil e ... ficaram incumbidos de não deixar nada passar dos portões da cidade, a não ser aliados. Minha pequena matilha de sete anos atrás reuniu-se novamente, sendo a maior surpresa da noite a presença repentina de Leah, que veio ao nosso encontro quando já estávamos na Itália. Eu sinceramente não contava com ela. A última vez que estivemos em contato, eu estava no Canadá com Rosalie. Estava desesperado.
Quando senti Leah em meus pensamentos após tanto tempo eu quase tive um ataque cardíaco, e o alívio por não estar mais sozinho tingiu meus pensamentos, o que deixou Leah irreversivelmente presunçosa. Naquela noite eu contei tudo a ela, e mais do que isso, Leah compartilhou comigo a dor que eu até então carregava sozinho. Nós conversamos em silencio por um longo tempo, mas Leah não pôde me socorrer, e sinceramente, acho que não poderia pedir isso a ela.
Leah estava bem, tinha uma vida normal pela primeira vez, tinha um trabalho de que gostava, uma casa, tinha amigos normais... Como eu poderia pedir a ela que abandonasse tudo aquilo que tinha conquistado e corresse de volta para a vida da qual ela tinha fugido, a vida que ela odiava? Eu não podia, pelo simples motivo que sempre entrega a todos nós: eu sentia a dor dela também, eu entendia. E naquela noite eu senti o quanto ela havia melhorado, a leveza na alma dela.
Ela se desculpou, disse que não podia ajudar, que não conseguiria. Eu disse que estava tudo bem, contei a ela o plano, falei dos aliados que estávamos reunindo, das idéias revolucionárias de Carlisle, seria uma luta e tanto, mas Leah desculpou-se e deixou meus pensamentos e eu fiquei novamente naquele silêncio desesperado, olhando para a cara amarga de Rosalie sem realmente ver algo. Leah disse que sentia muito por mim, por minha falta de sorte, e nos pensamentos dela eu provei novamente a pontada amarga que sempre diferenciou Leah de todos os outros do bando. Nessas horas eu preferia Seth em minha mente, mas o garoto estava em casa, estava com Sam, estava fora da matilha dos desgarrados. Leah e eu. Nunca houve um par tão ferrado...
E agora, com ela ladeando meu flanco direito novamente, eu sentia-me satisfeito, sentia-me mais o Jacob que fui um dia. Era bom correr com ela novamente.
"Eu sempre soube que você ia sentir minha falta." - A voz de Leah entrou como um sino em minha mente, e mesmo agora eu não conseguia me acostumar com aquela voz irritante que por tanto tempo ficou fora de minha cabeça. Bem, Leah podia ter mudado em alguns aspectos, mas definitivamente ela ainda era a incoveniente-chefe, velhos hábitos não se perdem, não é?
"Argh! Olha só quem fala. Você ainda é o mesmo Jacob chorão e implicante." - Rebateu ela. Eu poderia ficar brigando com ela a noite toda, apenas para ter um pouco mais das velhas coisas, mas essa noite... Essa maldita noite estava me enlouquecendo.
O cheiro dela ficava cada vez mais fraco, como se fugisse de mim, como se uma brisa gelada o tivesse soprado para longe, e eu corria, forçando cada músculo de meu corpo até sentir o fogo lamber meus membros. Só Leah conseguia me acompanhar de perto, e de hora em outra, Sam pedia-me calma, mas isso era tudo que eu não teria essa noite, não enquanto não a encontrasse.
Aquele túnel bolorento se estendia infinitamente, parecia um círculo infinito, a corrida demorou mais do que eu poderia suportar até chegarmos à câmara que Edward nos especificou. Os primeiros sanguessugas nos aguardavam ali, seus rostos de pedra passaram como um borrão por mim.
Eu passei como um foguete pela luta, deixando meus irmãos para trás, eu não tinha tempo para perder com aqueles serviçais inúteis. Nem bem eu saí da câmara e mais da metade dos sanguessugas já estavam em pedaços. Mesmo assim, eu não me sentia bem fazendo aquilo, deixar minha matilha lutando enquanto eu corria, era algo que ia contra minha natureza, todos os meus instintos gritavam. Mas eu não tinha escolha, tinha que encontrá-la, tinha que acreditar que eles ficariam bem...
Aquele covil fedia, eu mal podia me concentrar no leve traço do cheiro dela em meio aquele fedor me queimando o nariz.
Eu estava quase adentrando a segunda ante câmara quando senti Leah e Seth atrás de mim.
"O que está fazendo Leah? Eu mandei você ficar com Sam e os outros." - Minha mente estava entorpecida, eu mal conseguia me concentrar nas palavras, colocá-las em ordem.
''Sam e os outros ficarão bem, eles já terminaram por lá, estão indo para os andares inferiores da câmara. Você precisa mais de ajuda do que Sam, ele não precisa de mim... - Senti uma pontada aguda atravessando minha mente, um eco da dor mil vezes maior que Leah sentia. Eu não pude contestar, embora quisesse.
"E por quê trouxe Seth?" - Tentei rapidamente mudar de assunto, clarear minha mente, espantar as nuvens que encobriam minha visão.
"E você consegue fazer esse garoto obedecer? Bem, pelo menos eu posso ficar de olho nele." - Os velhos hábitos... Lá atrás Seth nos seguia com um pouco de dificuldade, mas eu tinha que admitir, o garoto estava se saindo muito bem. Desde de que as matilhas se reuniram para a invasão, eu não vira nem mesmo uma vez o garoto molenga que vivia me seguindo por La Push. Seth afinal havia crescido, não era mais uma criança e também não era mais um novato. Os mais novos foram deixados em La Push para proteger a tribo em nossa ausência, ou melhor, na ausência de Sam e os outros, por que eu... Eu estava ausente já havia muito tempo.
Aquele labirinto sem cor me deixava nervoso, eu me guiava pelo cheiro dela, já quase apagado, mas aonde quer que entrássemos não havia nada além de mais sanguessugas nojentos. Meu olfato ardia e quanto mais nos embrenhávamos entre aqueles cômodos gelados, mais difícil se tornava encontrar novamente o rastro dela. Meu coração martelava enlouquecido em meu peito.
Continuamos correndo pelos corredores cheios de pompa, sujando os carpetes com nossas patas enlameadas, colocando portas e mais portas abaixo. Encontramos mais três sanguessugas pelo caminho, e desses eu cuidei pessoalmente, meu instinto protetor aflorava muito mais quando aqueles dois estavam comigo, eu me sentia responsável por eles, e isso de alguma forma jamais mudaria.
Eu forcei minha mandíbula na garganta do infeliz enquanto ele se debatia, guinchos metálicos escapavam de sua boca. Os outros dois estavam sendo desmembrados por Leah e Seth, eu tinha feito o serviço sujo, mas eles fizeram questão de participar.
Arremessei o corpo inerte contra as portas duplas que pairavam no fim do corredor, ele arrebentou a madeira grossa, abrindo o espaço que eu precisava para entrar no grande salão que se acendeu a minha frente.
Jake, olhe. Chamou Leah, e antes mesmo que eu olhasse, eu vi palpitar na mente dela a figura asquerosa pairando como um fantasma nas sombras daquele salão. Estava tudo destruído, o chão de mármore estava rachado, buracos e pilhas de pedra, vidro e corpos desmembrados atravancavam o caminho. Aquilo era sinal de que o plano estava correndo perfeitamente. Jasper e os outros já haviam passado por ali...
Corri em direção do sanguessuga, pulando os montes de escombros, em quanto dava ordens a Leah.
Fique alerta, não abra a guarda. Eu pensava, repetindo isso como um mantra, sem me dar conta de que estava também lembrando a mim mesmo de não vacilar, simplesmente por quê a vida dela dependia do meu sucesso.
A criatura branca ficou imóvel, me encarando com olhos vermelhos opacos, tão mortos quanto ele próprio. Tudo no rosto dele gritava eu não me importo. Ele simplesmente observava minha aproximação como quem observa uma mariposa voar em volta de si.
Deixei apenas cinco metros nos separando, enquanto colocava a matilha em formação. Eu à frente, Leah em meu flanco direito, Seth circundando o inimigo pela lateral esquerda, essa era a formação de batalha...
Se quer me matar vá em frente, mas tenho que lhe dizer que quem você quer não está aqui. A criatura falou, no tom mais frio e sem vida que eu já ouvira na vida. Aquele ali parecia realmente um morto-vivo. Seria um jogo? Ele estava blefando?
Não havia mais ninguém. Nenhum sanguessuga num raio de dois quilômetros em qualquer direção que meu nariz conseguia farejar. Ao invés disso, um cheiro acre e pesado tomava o ar, vindo das partes inferiores do castelo. O cheiro dos corpos queimando, o cheiro da justiça sendo feita...
Enquanto o sanguessuga de cabelos cor de mogno apenas nos encarava como bichos de pelúcia, eu tentava decidir o que fazer.
Minhas opções eram estreitas, eu tinha que tirar informações dele, mas não podia me dar ao luxo de ficar em forma humana. Demoraria apenas meio segundo para mudar novamente, talvez até menos, mas eu não podia dar essa brecha. Contudo, como lobo eu não podia falar e não poderia arrancar dele a informação da qual eu precisava. O quê fazer? Arriscar meu pescoço? Arriscar perder a chance de encontrá-la? A resposta veio mais rápido do que eu conseguia processar.
Jake, é muito arriscado. Disse Leah, vendo minha mente trabalhar.
Eu não tenho escolha. Disse-lhe. Quero que vocês me cubram. Se ele se mover, vocês atacam. Havia resignação na mente de Leah enquanto eu lhe dava as instruções, e nesse meio tempo, a criatura não se movera nem uma polegada, até seus olhos se estagnaram no salão destruído que servia de pano de fundo a meu plano suicida.
Respirei fundo, fechando meus olhos e tentando encontrar dentro de mim a fonte de calor que queimava constantemente. Abafei-a, acalmando as chamas que fluíam por meu corpo.
Quando meus pés humanos tocaram o chão, e eu pude sentir a ar frio vir de encontro a meu peito nu, eu sabia que aquela era provavelmente a coisa mais insana que já havia feito.
A criatura nem ao menos me olhou enquanto eu mudava de forma.
Ei. Chamei-o. Um rápido deslocar em suas pupilas opacas, nenhuma uma expressão em seu rosto poeirento. Diga-me onde está a garota. A mestiça Cullen que vocês roubaram. As palavras saíam tortas de minha boca, talvez por quê eu as mastigasse como barras de ferro. Aquele rosto... Sim, ele era um dos anciões, agora eu me lembrava daquele rosto inanimado no meio daquele trio de mantos negros. Mas onde estariam os outros dois?
Eu lhe fiz uma pergunta. Rosnei.
E por quê eu deveria lhe dar a resposta? A voz grave e fria combinava perfeitamente com seu semblante moribundo. Por um momento eu não soube o que dizer, principalmente por quê ele não parecia se importar em morrer, ele quase parecia desejar isso, embora seu rosto pálido não tivesse nenhum traço de desejo algum.
Me parece que você não teme a morte, não é? Os olhos leitosos pararam em meu rosto e pela primeira vez eu vi uma centelha brilhar no fundo daquele mar morto. Continuei. Você é um ancião, deve estar muito zangado por termos destruído tudo que você governa. Vocês perderam tudo. E eu não me refiro apenas a esse castelo que está em ruínas, nem a seu exército reduzido a cinzas... O mundo todo já sabe sobre as mentiras de vocês, e adivinhe só... Boa parte do mundo está aqui em Volterra essa noite para destruir vocês. Deixei um sorriso sádico brincar no canto de meus lábios, só para incitá-lo.
Garoto... Ele sussurrou. Você não conhece nada do mundo, principalmente desse mundo. Você viveu o quê? Uns vinte anos? Acha que entende a dor? Acha que entende a guerra? Eu não sabia o por que, mas aquelas palavras, proferidas com tanta frieza e indiferença, abriram um buraco em mim. Por um momento eu vi a fenda infinita na alma daquele ser. Ele continuou com ar cansado. Esse não é mais meu exército, e embora eu tenha construído esse castelo, a dona dele já não está entre nós há muitos séculos. Tudo que você vê aqui, tudo que destruiu aqui, são frutos da ganância de Aro, e eu sempre soube que terminaria assim, eu sempre soube que chegaria o dia em que eu caminharia por entre as ruínas do meu castelo. A voz dele tornava-se mais audível, como uma torrente que ameaça romper a barreira. Eu não conseguia desviar meus olhos daquele rosto, e não podia deixar de sentir a dor amortecida que pairava em volta daquele ser, eu me perguntava o que acontecera a ele para ter secado assim, como uma fruta colhida antes da hora.
Acha que eu me importo com que você procura aqui? Acha que sua busca e sua vingança são importantes para mim? Isso não significa nada para mim...
Então creio que não se importe em morrer aqui e agora, assim como não se importará que eu mesmo faça isso. Na verdade eu só vou terminar o que começaram, por quê você já está morto. Eu só vou formalizar. Eu cuspi as palavras num lembrete de que eu não podia vacilar. A conversa precisava terminar.
Ele me olhou, os olhos sem vida me fitando sem se perturbarem.
Vai me dizer onde está ela? Dei-lhe a última chance, mesmo sabendo que seria inútil.
Vá para o inferno.
Deixei o fogo me tomar, subindo por minha coluna como uma serpente de calor. Os tremores já subiam por meus ombros quando uma voz clara como cristal rompeu o silêncio.
Jacob Black, pare! Não o mate. Eu olhei em direção a voz, e meus olhos encontraram uma cena que certamente era a última que eu esperava ver por aqui.
Um sanguessuga que eu nunca vira na vida vinha arrastando uma humana que mancava. Ele tinha várias marcas de mordida, iguais a de Jasper, e suas roupas estavam rasgadas e parcialmente queimadas. Ele sentou a humana num degrau, e com todo cuidado do mundo disse-lhe ao ouvido.
Fique aqui. Está tudo bem. Shhh, eu vou ficar bem. A humana tentava detê-lo, não queria que ele chegasse perto de nós. Leah se inquietou, e Seth estreitou o espaço entre mim e os dois sanguessugas.
Jacob Black. Disse o sanguessuga. Meu nome é Willian, e este que você está prestes a matar é meu pai. Ele se aproximava cauteloso, o rosto liso e pálido contrastava na escuridão. Olhei-o, tentando chegar a alguma conclusão, tentando entender por que uma humana estaria ali, e por que diabos ela ainda não tinha virado almoço.
Primeiramente. Eu não ligo. Ele é um Volturi, e todo Volturi que eu encontrar hoje vai morrer. E Segundo. Me dê um bom motivo para não matar você junto com ele e levar essa humana que você carrega para um lugar seguro. Eu estava ficando confuso com aquela situação, meu tempo corria mais rápido que eu, que estava aqui, parado entre essas criaturas nojentas.
Eu sei, eu sei... Mas eu lhe peço, não nos machuque. Quanto à humana, a única coisa que quero é tirá-la daqui com segurança. Disse ele, aproximando-se cada vez mais.
Aí está bom. Rosnei. Ele parou.
Desculpe. Disse ele.
O quê está fazendo, seu idiota? Grunhiu o sanguessuga mais velho. Eu não quero sua ajuda. Saia daqui com essa humana patética.
Eu não vou deixar você aqui para morrer. Respondeu o outro.
Como se você se importasse se eu vivo ou morro.
Pare de tentar se matar. Isso não vai trazê-la de volta.
Cale-se seu bastardo.
Calem a boca vocês dois. Gritei. Os dois me olharam. Eu estava decidido.
Leah, Seth, esses dois vão se entender na fogueira. Quando acabarmos aqui, quero que um de vocês leve a humana para os portões da cidade. A humana soluçou, o rosto abatido molhado de lágrimas.
Espere Jacob. Disse o sanguessuga mais novo.
O tempo de vocês acabou. Deixei o tremor subir por meu tronco novamente, incitando o calor.
Jacob, eu sei onde a Ness está.
Meu sangue esfriou na mesma hora, cessando os tremores e fazendo meu coração dar um salto. O sanguessuga sabia o apelido dela, o nome que eu a chamava desde o dia em que nasceu. Olhei para ele, meus olhos quase pulando das órbitas.
Onde? Onde ela está? Perguntei, enquanto me aproximava dele sem me importar se era um truque ou não. Ele sorriu.
Você é exatamente do jeito que ela descreveu.

O túnel que Willian descreveu surgiu em minha frente como uma centelha de esperança. Eu acelerei ainda mais, e enquanto atravessava o fogo que consumia quase todo aquele andar, eu sentia o cheiro denso no ar. Eu mal podia respirar.
Jake, o castelo inteiro está em chamas. Dê um jeito de sair logo daí. Disse Leah. Ela e Seth escoltavam Willian e a humana chamada Lavínia para fora do castelo. Sam e os outros já haviam saído e agora perseguiam o rastro de Aro, as imagens na cabeça de Sam me dizia que eles estavam perto.
Leah, procure Bella, diga a ela que estou perto. Eu não conseguia pensar em mais nada. Tudo estava acontecendo tão rápido. Como eu poderia imaginar que o tal Willian, filho de um ancião Volturi, estava ajudando minha Ness? Eu não tive tempo de ouvir a história inteira, mas pelo que pude entender, eles ficaram próximos por quê ambos queriam a mesma coisa. Mas certamente ele se encantou com ela, quem não se encantaria? O mais bizarro nessa história, era a tal humana que Willian não largava nem por um minuto. Eles me lembravam Edward e Bella...
O túnel era estreito demais para meu tamanho, eu quase tive que me espremer em alguns trechos. Em minha mente eu repassava as palavras de Willian. O túnel que Ness encontrou desabou, é impossível até para mim atravessá-lo. Você vai entrar três metros no túnel e logo vai ver o buraco que abri na parede ao lado, foi por lá que escapei. Ele desemboca diretamente numa passagem da tubulação da cidade, igual aos que a guarda geralmente usa para se locomover pela cidade. Se puder alcançar essa passagem você só precisa correr até encontrar uma saída. E eu estava correndo agora. Do fogo à água fria, minhas patas afundavam, mas eu já podia sentir a corrente de ar em meu rosto.
Quando cheguei à superfície, percebi que tinha desviado muito do local onde Willian disse que ela iria. A igreja. Eu já me preparava para correr quando uma brisa gelada soprou do leste, e um leve traço do cheiro dela me alcançou. A chuva atrapalhava, me confundia, tornava cada rastro mais ameno, mas aquele era um cheiro que eu poderia rastrear até no meio de um furacão. E o rastro ia para leste. Ela não estava na igreja.
Saí em disparado pela chuva, contornando as casas e os becos estreitos, encontrando por todos os lados os aliados que o doutor trouxe de todas as partes do mundo. O mesmo plano de sete anos atrás, o melhor que tínhamos em mãos. Infelizmente, Aro foi mais esperto dessa vez, e tratou logo de silenciar as testemunhas que estiveram conosco naquele inverno.
Sobraram poucos, muito poucos...
Fiz a curva numa esquina escura, e logo que adentrei na rua o cheiro me nocauteou como um punho de ferro. Ela estava perto, e não estava sozinha.
Algum maldito Volturi estava levando ela enquanto nós lutávamos, teria sido um bom plano se eu não existisse.
Fui o mais silencioso possível, o mais paciente possível. Era preciso ter calma agora, eu não sabia quem era o Volturi que estava com ela, não sabia se tinha alguma habilidade, eu não poderia falhar.
Ele parecia distraído, algo incomum nessas circunstâncias. Não deixei a oportunidade passar.
Ele entrou num beco, ela estava logo atrás. Era minha chance.
Ele parou quando me viu, eu me agachei, sentindo meus pêlos se eriçarem nas costas e não pude conter o rosnado que escapou por minha garganta.
Como eu queria olhar para ela, como eu queria me ater apenas por dois segundos para admirá-la, mas eu não podia desviar meu foco do inimigo. Eu teria de matá-lo agora.
Avancei diretamente para ele, a ouvi gritar lá atrás, ela devia estar tão assustada... Isso só inflamava mais meu ódio.
Minha mandíbula quase o pegou, mas o desgraçado era rápido. Ele desviou para esquerda, mas eu consegui pegá-lo. Minha pata dianteira alcançou o ombro dele, meio milímetro a mais e era menos um braço. O sanguessuga caiu entre as latas de lixo, fazendo um barulho dos infernos. Avancei, deixando o ódio calibrar meus músculos, dando tudo de mim naquela luta.
Nessie correu em minha direção, e por pouco eu não a tirei dali correndo. Mas eu não podia, eu tinha que terminar aquilo. Saltei sobre ela, e parei bem em frente ao desgraçado. Eu já não ouvia mais nada. Só enxergava o ponto onde eu devia acertar.
Ele se levantou mais rápido do que eu previa e quando eu já me preparava para abocanhar, meus olhos escureceram completamente. De repente, eu estava completamente desorientado, eu não ouvi nada, não via nada e não sentia cheiro algum. Um desespero latente tomou conta de mim e com um estalo eu percebi que aquele era o Volturi que a levou naquela noite. O ódio era a única coisa pulsante em mim.
Ataquei mesmo sem saber nem mesmo para onde ia, contando apenas com um pouco de sorte. Ele estava perto demais, se eu fosse rápido, talvez o alcançasse. Era tudo ou nada.
Eu mordi algo sólido, e isso era algo que eu ainda podia discernir. Quando senti a coisa maciça entre meus dentes, eu chacoalhei, apertei com força. Poderia ser uma lata de lixo, mas também podia ser a garganta dele.
Arremessei, e por meio segundo minha visão voltou parcialmente. Eu estava certo, era a perna do maldito o que eu alcancei. Saí em disparado, eu não podia perder tempo, sanguessugas só param quando tem a cabeça arrancada, e infelizmente a dele ainda estava no lugar. A escuridão tapou meus olhos novamente, e eu fui obrigado a adotar uma ofensiva violenta. Ele poderia tentar se aproximar por traz, ele poderia tentar qualquer coisa. Eu ataquei tudo a minha volta, eu não iria facilitar para ele. Enquanto corria na direção em que ela estava na ultima vez que o vislumbrei, eu senti uma presença se aproximando de mim rapidamente. Eu joguei meu corpo, me debati, e continuei correndo.
Senti uma pressão violenta em minhas costelas e o entorpecimento em meus sentidos aumentou de uma forma tão densa que eu já não sabia se estava de pé ou caído no chão.
Eu estava perdido, me afogando numa escuridão sem cheiro, sem tempo e sem espaço. Eu sabia que minhas costelas estavam quebradas, mas eu não sentia nada, não sentia nem mesmo meu coração batendo. E embora estivesse tão perto da morte, eu só conseguia pensar nela. A dor de perdê-la novamente era a coisa mais forte que eu era capaz de sentir, e apenas isso me dava a certeza de que eu ainda estava vivo. Debati-me, tentei encontrar minhas pernas, tentei encontrar meu corpo, mas ele parecia ter sumido.
Não sei quanto tempo se passou, era impossível saber, parecia à eternidade. Subitamente, como quando a gente fica muito tempo embaixo dágua, eu encontrei o céu escuro sobre mim. A chuva caía em meu rosto e pinicava contra minha pele quente, eu estava em forma humana, o lobo dentro de mim sucumbiu ao escuro, me deixando aqui, vulnerável como um boneco. Minha respiração estava fraca, doía... Devagar, mas com um grito de desespero preso em minha garganta, eu me levantei, já sentindo o cheiro de sangue me alcançar. Shhh, vai ficar tudo bem meu amor. A voz sussurrava para ela, como se estivesse cantando. Eu vi uma estaca de ferro atravessando a perna dela, o sangue dela se espalhando pela rua, eu vi os olhos dela presos nele como alguém que observa um milagre. Ele a beijou. Com carinho, cheio de um amor que só eu era capaz de compreender. Com cuidado, como se ela fosse de cristal, como se ela pudesse quebrar sob o mais leve toque. Ele pressionou a ferida, estancando o sangue, como se aquele líquido que tingia as mãos dele nada significassem, como se sua garganta não queimasse feito brasa de sede. Então eu entendi. Ele a amava também, quem não a amaria? E ela... Ela estava tentando proteger ele, não queria que eu o matasse.
Mas eu poderia atender esse desejo? Eu seria o cara maduro e forte mais uma vez? Eu teria forças para sair do caminho, para ser o altruísta? Que maldita sina era essa?
Presenciar o amor dele não foi o pior. Eu poderia viver com aquilo, era suportável. O que me matou foi escutar o coração dela martelando enquanto ele a beijava foi ver no rosto dela um consentimento absoluto para aquele beijo. Ela o queria...
Ela me olhou, desvencilhando-se das mãos dele como uma criança que é pega fazendo besteiras. Os olhos dela ainda tinham um leve traço de vermelho, mais estavam mais humanos do que estavam da última vez que a vira. Marrom, aqueles olhos que me esquentavam.
Jake... Ela falou, e por um momento eu tive que segurar as lágrimas. Aquele era o som da minha vida, o som mais importante, o mais precioso. Eu me sentia um nada, e por um breve momento eu entendi como alguém poderia ficar como aquele pai do Willian, aquele ancião Volturi morto-vivo, uma casca oca.
Eu não podia culpá-la, não tinha direito de me sentir traído. Ela nunca me prometeu nada. Uma noite, foi tudo que ela me deu, e embora tivesse significado tudo para mim, eu não podia esperar o mesmo dela. Eu também não podia matá-lo, assim como nunca pôde matar Edward quando pensava estar apaixonado por Bella. Esse era o tipo de armadilha da qual só se escapa dando um tiro no próprio pé.
Eu não podia fazer nada, e no momento não conseguia pensar. A coisa mais importante: ela estava segura. Seria levada para a família, Bella e Edward chegariam logo. Leah viu toda a luta, ela cuidaria disso pra mim. A coisa estava terminada, a cidade estava em chamas, os sanguessugas italianos estavam fritando. Eu não tinha mais nada para fazer aqui.

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