Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 21
Capítulo 22 - Ligação


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, está difícil atualizar tudo ;s Mais de qualquer forma aí está o capitulo de vocês



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Chovia na superfície. Eu podia ouvir a água infiltrar-se pelas pedras e escorrer pelos túneis que circundavam toda extensão daquela galeria milenar. Cada gota fazendo um som distinto, as poças enegrecidas formavam pequenos lagos pelo chão, uma delas estava quase alcançando meus pés. A água era fria, as paredes eram frias, e além daquelas paredes não havia nada além da chuva para se escutar. Um silêncio que parecia ser impossível de se romper, arraigado no fundo de minha mente entorpecida.
Sentia-me tão humana... Era como se eu nunca tivesse passado disso. Uma sensação que um imortal jamais iria conhecer, a qual eu pensava ser impossível. Mas afinal eu era metade humana também, não era? E era essa a parte estúpida e frágil de mim que sucumbira a inconsciência após o ataque de Jane. Patético. Só não sentia-me com mais raiva, por causa da dor, rachando meu cérebro ao meio. Uma simples dor de cabeça, só que com a força de uma colisão de caminhões. O silêncio parecia elevar a dor dez mil vezes mais.
A consciência do que havia acontecido me atingiu aos poucos, lembro-me que quando acordei – há algumas horas – eu só conseguia sentir o torpor adormecendo cada parte de meu corpo, e as lembranças vieram como facas no escuro, cada uma delas atravessando impiedosamente meu peito.
Alec já deveria estar morto a essa hora, reduzido a cinzas por tentar me ajudar. Eu só desejava que o lado teatral de Aro falasse mais alto, assim talvez Alec teria um suposto julgamento, isso o daria mais tempo. Mas, do que adiantaria mais tempo? Ninguém nos salvaria. Alec estaria queimando no fim do dia ao lado de minha própria pira.
Sentada alí, naquele chão frio e úmido, encarcerada numa cela de dois por dois em algum lugar remoto da grande galeria subterrânea dos Volturi, eu comecei a pensar em como a vida era injusta. Pensei basicamente em como tudo acontecera tão rápido em minha vida, e em como tudo parecia ser extremamente errado, antinatural. Se o mundo fosse um lugar saudável, sem monstros ou aberrações da natureza como eu, talvez as coisas parecessem um pouco mais certas, ou talvez não. O fato é que eu não entendia o propósito da nossa existência, os seres imortais, afinal de contas para quê servíamos? Nossa existência contrariava a ordem natural das coisas, e no fim de tudo, éramos apenas predadores, lutando entre si por um espaço no mundo. E criaturas como Aro, eram apenas o que os humanos chamavam de ditador, só que com força e poder ilimitados e a eternidade a seu favor.
Esses pensamentos eram tão úteis quanto um guarda-chuvas furado no deserto, e eu me achava ainda mais tola por me importar com isso, justamente quando nada mais importava. Sentia-me quebrada e o silêncio apenas fazia com que tudo aumentasse de volume. Eu não queria mais escutar. Não queria mais pensar ou lembrar coisas que já se foram. Eu os perdi. Todos eles.
Esperei que viessem me buscar. Acho que lá no fundo eu ansiava por isso, um fim para todo desespero que eu tentava conter sem êxito algum, uma represa rachada prestes a inundar tudo. Eu olhava para o fim do túnel e lá eu enxergava uma fraca luz. Talvez fosse o fogo do inferno me esperando, e Aro não o deixaria esperar por mim muito mais tempo. Eu já até sabia o que ele diria em seu discurso final, podia ouvi-lo sussurrando em meu ouvido suas palavras gentis sempre cheias de falsas intenções, podia ver seus olhos brilhando de satisfação e seu rosto macilento contorcendo-se naquela máscara de escárnio. Sim, eu esperava por ele, esperava pelo fim. Mas ninguém apareceu nas primeiras doze horas, e isso me fez pensar sobre algo que Alec tinha me dito antes da fuga. Outra coisa inútil que ficava rodando e rodando em minha mente sem que eu concedesse minha permissão.
“Aro está tendo problemas internos, os novos membros não estão cooperando tanto quanto ele gostaria.” Essas palavras iam e vinham, remexendo-se insistentemente dentro de mim, e com elas vinha aquela sensação, como se deixassem um rastro, clamando para que eu o seguisse. Eu sabia o que era, e queria mais do que nunca ignorá-la. A mesma sensação que eu sentia toda vez que sonhava com Aro na campina, uma inquietude, uma coceira irritante em minha mente. Naquela noite, depois de muito tempo, eu sonhei de novo. Eu estava na campina, aquele mar verdejante que nunca tinha um fim. As vozes de Carlisle e de meu pai soavam longe, eu não podia vê-los. A risada felina de Aro trovejou ao meu redor, memórias turvas que dissipavam-se antes mesmo de ganharem alguma coerência. Eu sabia que estava sonhando. Eu sabia que fecharia meus olhos, e quando os abrisse eu o veria me encarando. Mas não eram os olhos astutos de Aro que me fitavam quando abri meus olhos, e eu demorei algum tempo até reconhecer o rosto anguloso e rígido que pairava diante de mim.
Zafrina, tal como eu me lembrava dela, olhava-me paciente, uma polidez que não condizia com suas feições selvagens e enérgicas. Eu estava mesmo sonhando, mas algo naquele sonho soava-me um tanto fora do normal.
– Zafrina. – Cumprimentei, e me espantou o fato de eu ainda ser capaz de sorrir, mesmo que em um sonho. Ela me olhava serenamente, sua imagem era como uma aparição.
– Você cresceu criança. – Disse ela com sua voz grave.
– É, eu cresci. – Olhei para minhas mãos. Era estranho, havia algo de errado naquele sonho, eu sentia isso de um modo muito pessoal. Uma sensação que eu conhecia muito bem.
– Zafrina, eu não estou sonhando não é mesmo? – Perguntei.
– Não minha criança, você não está sonhando. – Respondeu ela calmamente. Pensei um pouco sobre aquilo, mas não foi preciso muito para eu compreender o que estava acontecendo.
– Era você. – Suspirei. – Sempre foi você.
– Sim, era eu na sua mente esse tempo todo. – Zafrina olhou em volta e quando segui seu olhar eu pude ver todos alí. Minha mãe, meu pai, Alice, Jasper, Carlisle, Esme, Rosalie, Emmet, Jacob... Fantasmas sem forma girando em volta de mim.
– Por quê Zafrina? Por quê tem feito isso comigo? Você quase me enlouqueceu. – Fechei meus olhos, doía olhar para aquelas imagens desfocadas do que um dia tinha sido toda minha vida.
– Por quê era preciso criança, você precisava saber a verdade. – Disse ela.
– Que verdade? Sobre Aro? Sobre os Volturi? – Era tudo perturbadoramente real, a campina parecia estar bem alí, e isso fazia tudo parecer mais assustador, como um labirinto sem entrada nem saída, e a perspectiva de que todo aquele pesadelo era real, deixava um buraco dentro de mim.
– Você precisava saber a verdade sobre mim. Eu estou aqui Nessie, em Volterra. – Zafrina olhou em volta mais uma vez, e novamente o cenário mudou. A campina sumiu, e todo o verde desbotou até virar cinza. E havia tanta tristeza naquele novo cenário, tanta desolação. Eu podia sentir no ar, como se uma fumaça tóxica pairasse sobre nossas cabeças. Zafrina caminhou por entre os pilares de pedra esculpida, seus pés estavam descalços e suas roupas puídas e sujas. Eu a segui, observando os detalhes do saguão principal dos Volturi.
– Como você faz isso Zafrina? – Perguntei, perplexa com a exatidão de suas ilusões. – Eu estava do outro lado do globo.
– Não consigo fazer isso sempre, nem com qualquer pessoa. É por isso que tinha de ser você, Nessie. – Ela virou de frente para mim e pegou minhas mãos, a textura suave me sobressaltou. Eu esperava que, se eu tocasse nela, talvez ela se desvaneceria em uma nuvem de fumaça. Mas ela estava alí, perfeitamente palpável a minha frente.
– É incrível. – Sussurrei.
– Nossos poderes são similares, por isso tenho essa ligação com você. Eu não seria capaz de me conectar com ninguém a esse nível. – Ela me olhou nos olhos, como se procurasse alguma coisa neles.
– Meus poderes não são nem de longe tão abrangente quanto os seus. Bem, ultimamente eles têm se desenvolvido, mas... – Eu parei, percebendo a verdade em minha palavras. Verdade que até então eu não tinha me dado conta. – Foi você também? Na Floresta, quando eu e Jacob lutamos contra Félix e Heidi? Foi você não foi? – Ela me olhou confusa por um momento, ponderando minhas palavras.
– Não fui eu Nessie, mas acho que sei como meus poderes influenciaram os seus. – Disse ela, sorrindo ternamente. – Como eu disse, nós temos dons muito parecidos, acredito que, quando comecei a me conectar com você em sonhos, eu devo ter acelerado seu processo de desenvolvimento. Mas o que você fez naquela floresta, saiu de sua mente, não da minha. Eu só não entendo como se intensificou tão rápido. Expandir seus pensamentos para a mente de outras pessoas geralmente requer décadas de treinamento. – Ví sua face perfeita torcer-se num misto de admiração e espanto. Eu tinha uma boa idéia do que ajudou meus poderes a se expandir tão depressa. Na verdade, eu tinha duas teorias. O veneno de meu pai e o sangue humano. Duas coisas extremamente poderosas para um imortal.
As coisas faziam mais sentido agora, mas ao contrário do que eu esperava, esse novo entendimento não me fez sentir melhor. Eu duvidava que existisse algo que fosse capaz de fazer eu me sentir melhor.
– Você está tão triste criança, seu coração chora. – Falou Zafrina no tom brando que ela sempre usava comigo. Me espantou o fato dela sentir isso em minha mente, e eu comecei a entender o que ela queria dizer quando falava em nossa “conexão”. Era algo além de simples ilusões introduzindo-se em minha mente, era como se a realidade escorregasse para os pensamentos dela e então chegassem a mim. Era tão complexo e inacreditável... Se eu ainda fosse a Renesmee que costumava ser, eu ficaria excitada com a perspectiva de aprender com ela, aperfeiçoar meus dons. Mas agora, agora não havia muitas coisas que eu gostaria de fazer, e se eu ainda respirava, era por quê eu mantinha secretamente dentro de mim a esperança de vingar minha família. Esperança que se frustrava a cada minuto.
– Eu estou bem Zafrina. – Menti. – Eu vou fazer tudo ficar bem. – Outra promessa que eu sabia que não poderia cumprir, mas que escolha eu tinha? Eu precisava dar à ela algo em que se apoiar, uma parte da esperança que eu não tinha.
– Eu sei criança, você vai salvar a todos nós. É seu destino nos salvar. – Zafrina voltou a caminhar pela ampla câmara vazia, seus pés mal tocavam o chão. Eu queria muito dizer a ela a verdade, que eu estava condenada assim como ela e todos os outros, mas eu não podia admitir, não conseguia dizer as palavras em voz alta, era muito para mim.
– Onde estamos indo Zafrina? – Perguntei.
– Vou te levar até os outros. – Disse ela. – Eles também esperam por você.
– Outros? Alec disse que estavam quase todos mortos. – Não fazia sentido, por quê Aro correria o risco de manter mais prisioneiros aqui, no covil das cobras? Ela não respondeu, apenas deslizou pelas reentrâncias da galeria, descendo cada vez mais fundo nos túneis que, certamente, eram intersecções do túnel que levava a minha cela do lado oposto. Havia no fim daquele túnel lúgubre e estreito, na extremidade mais longínqua e mal iluminada, uma porta de ferro, com ferrolhos da grossura de meus braços. Zafrina parou a dez metros da porta e virou-se para mim.
– Vá até lá criança, ela está te esperando. – Disse ela com um leve sorriso na face perfeita.
– Quem Zafrina, quem está lá? – Perguntei, sentindo um tremor subir por minhas pernas.
– Ela me disse que você viria nos salvar. Vá até ela Nessie. – Ela segurou minha mão levemente e depois voltou pelo caminho em que viemos. Olhei para a porta, tentei sentir algum indício de quem me esperava, mas só havia o silêncio. Tive que me lembrar que aquilo era uma ilusão afinal de contas, por mais real que parecesse. Nada poderia me acontecer de fato, era apenas Zafrina em minha mente, tentando me dizer algo.
Eu pisquei meus olhos e já estava alí, parada em frente a porta, girando o ferrolho maciço com minhas mãos desnudas. O trinco cedeu e o rangido das dobradiças ecoou pelo espaço vazio. Real demais.
Ela estava bem alí, perfeitamente imóvel no meio do quarto frio e úmido, uma réplica de minha própria cela. Senti meu coração martelar em meus ouvidos quando coloquei meus olhos em seu rosto frágil e miúdo. Alice sorriu para mim e as lágrimas rolaram por meu rosto sem que eu pudesse contê-las. Eu queria abraçá-la, tomá-la em meus braços e nunca mais deixar que ela se afastasse de mim, mas meu corpo começou a se contorcer de uma forma que eu não conseguia controlar e a imagem doce e frágil de Alice foi se desvanecendo diante de meus olhos. Eu gritei para ela voltar, me sacudi tentando fazer meu corpo ir para frente, mas eu sentia-me presa, como se um abraço de ferro estivesse me segurando, contendo minha vontade de alcançá-la.
Ela se foi. No lugar em que ela estava havia apenas a parede tosca e úmida de minha cela. Eu comecei a chorar, não queria ter acordado antes de falar com ela, antes de saber se ela estava bem, se realmente estava aqui. Um dedo frio e suave tocou meu rosto, limpando as lágrimas de meus olhos. Os braços que me trouxeram de volta da ilusão de Zafrina estavam bem alí, em volta de mim, amparando-me no chão de pedra.
– Alec – Sussurrei. Ele sorriu pra mim e afagou meu rosto mais uma vez. As lágrimas rolaram incontroláveis de meus olhos e eu já não sabia pelo que eu estava chorando. Acho que chorei por todas as coisas que perdi, por tudo que passei desde o dia em que saí de casa com Jacob. Aquelas lágrimas continham todo desespero que eu havia sufocado dentro de mim, e naquela hora, eu agradeci silenciosamente por Alec estar alí. De alguma forma ele tornava minha dor mais suportável, e eu me senti aliviada por ele ainda estar vivo e por eu não ter sido a responsável por sua morte.
– Shhhh está tudo bem. Eu vou te tirar daqui. – Disse ele em meu ouvido. Ele estreitou seus braços em mim, e a força dele pareceu me fortificar também. Pela primeira vez em muito tempo, eu senti meu corpo reagir. Senti minha velha sede de justiça despertar como um vulcão adormecido. Se Alice e Zafrina estavam ali, se contavam comigo para salvar a todos nós, eu não falharia com elas novamente. Eu ia arrumar um jeito de nos tirar dali.


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Notas finais do capítulo

O que irá acontecer? REVIEWS



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