Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 19
Capítulo 20 - Proposta


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora a atualizar todas as fics, essa semana estou tendo provas finais, então minha completa dedicação é o estudo. Espero que entendam e como eu já havia dito desculpe a demora.
Beijos



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A manhã trouxe lentamente a percepção do terror em que eu estava, afundada até o pescoço. Era como se a luminosidade perolada que descia das pequenas cavidades do teto abobadado iluminasse não só a ampla câmara vazia, mas também meu senso de ineficácia. Tudo que fiz foi em vão. Tudo pelo qual lutei foi inútil, e o preço que me seria cobrado era alto demais para que eu pudesse se quer cogitá-lo. E agora eu estava aqui, impotente e vulnerável, a mercê dos planos de Aro. Eu me sentia estúpida. Tola. Sentia-me arrastada pela correnteza e afogada em meu próprio orgulho. Quem era eu para salvar todos eles? Uma mestiça fraca e limitada brincando de heroína em um mundo de seres indestrutíveis, de seres que não necessitavam dormir ou comer. Seres que não sangravam como eu. Me sentia rasgada ao meio, limitada a cada membro pelas correntes do meu medo, do meu fracasso.
O que você fará agora, Renesmee? Você decepcionou todos eles. Você mereceu perdê-los.
Os passos de Alec interromperam meus pensamentos, mas não minha dor. Nunca julguei ser capaz de sentir uma dor tão abrasadoramente forte. Me queimava tanto que, agora, eu só podia sentir a dormência. A inércia crescente se espalhando por meu corpo e mente.
Alec se aproximou de mim, mas eu não ousei olhá-lo nos olhos. Eu tinha medo de que todos os meus pesadelos se tornassem mais reais se eu olhasse para aqueles olhos vermelhos e frios. Senti seus dedos gelados tocarem meu braço, e uma onda de choque desceu por meu corpo. Meu coração deu um pulo, como se seus dedos fossem fios desencapados.
– Fique calma. Eu vou te soltar, mas tem que me prometer que não vai tentar fugir. – Ele sussurrou em meu ouvido e sua voz era doce e macia. Como ele poderia me pedir algo assim? Daquele jeito tão condescendente? Eles mantinham minha vida em suas mãos e eu ainda tinha que cooperar? Eu tinha que aceitar meu destino e agradecer por isso? Não. Essa não era eu, eu morreria lutando...
Que estupidez – uma voz dentro de minha cabeça falou. O que você tem feito até agora? Pelo quê você lutará agora? Por sua vida? Eu não a queria sem Jacob, sem minha família, eles podiam tomá-la. Simplesmente não havia mais motivos para que eu continuasse a tentar manter minha cabeça na superfície. Não havia mais motivos para resistir. Talvez eu quisesse morrer, agora que tudo estava perdido. Morrer parecia mais fácil, uma opção mais plausível.
Senti as mãos de Alec percorrendo a extensão de meus braços e desatando minhas mãos das correntes. Eu estava mole, meus joelhos cederam sob meu peso, meu corpo também não queria resistir. Alec me pegou no mesmo instante, impedindo minha queda. Ele era patético, eu era tão indestrutível quanto ele – bem, quase. O que ele pretendia com aquilo? Será que ele levava seu trabalho tão a sério ao ponto de ser minha babá e cuidar de mim com tanto empenho? Bem, não me importava quais eram seus motivos, nem os motivos de Aro, nem quaisquer outros motivos, não mais...

***

Os dias passaram indistintos, inexoráveis. Eu não era mais capaz de distinguir o dia da noite, não percebia mais as nuances da claridade ao meu redor, talvez por quê eu me sentia mergulhada em trevas, uma escuridão que nada tinha a ver com o quarto amplo e bem arrumado que Alec me mantinha agora. Estávamos numa grande galeria subterrânea, o que conheci nos primeiros dias aqui, fora apenas o átrio frio e escuro. Alec me carregou pelas escadas e pavimentos de pedra e pelas pesadas portas de madeira maciça e me levou até um aposento longínquo, bem, pelo menos era o que me pareceu, mas eu não estava prestando muita atenção nas coisas ao meu redor.
Ele providenciou uma cama, lençóis e travesseiros, assim como as roupas que eu usava agora. Me trazia comida três vezes ao dia e sangue humano ao anoitecer. E eu o bebia.
Não tinha mais que honrar nenhum código de conduta, não valia mais a pena, não tinha mais motivos para ser um monstro melhor – como se isso fosse possível. Aliás o sangue era a única coisa que fazia eu me sentir um pouco mais viva, a única coisa capaz de aquecer meus membros e tonificar meu coração amortecido.
As vezes eu ficava sozinha durante todo o dia, ciente de que todas as saídas estavam lacradas, e apenas me sentava na cama e prendia meu olhar em um objeto inanimado por horas. Mas ás vezes Alec ficava comigo, na verdade isso era o que acontecia mais frequentemente. Ele se sentava em uma poltrona no canto do quarto e apenas me observava, silencioso e sereno, algumas vezes conversávamos, outras não.
Eu não sabia dizer o que estava se passando em minha mente. Talvez nada. Talvez eu estivesse com algum tipo de apagão mental, o que ainda assim, era melhor do que a dor intensa que me assolava todas as vezes que lembrava deles. Tantos dias em silêncio. Nenhuma notícia, nenhum veredicto. Nada.
– Não vai mesmo tentar fugir? – Perguntou Alec em uma das noites em que ficou comigo. Eu o encarei, e o vazio em meu olhar oscilou ao encontrar seu rosto, ele parecia atormentado com algo. A pergunta me pegou de surpresa, tive que pensar um pouco sobre aquilo, minha mente estava muito acostumada com o torpor.
– E por quê eu deveria? – Era a primeira vez que eu ouvia minha própria voz em dias e ela parecia... Diferente. Soava monótona e fria, e mesmo quando senti aquela dor aguda atravessar meu estômago, minha voz não oscilou em seu tom gelado. Alec sustentou meu olhar e a impressão que eu tinha, era que ele estava tentando enxergar através de um poço sem fundo e completamente vazio.
– E se eles não estivessem mortos? – Ele desafiou. – Tentaria fugir daqui? – Ele me olhou mais intensamente e seu rosto usualmente imóvel se torceu em uma máscara de curiosa apreensão. Senti as paredes oscilarem ao meu redor, eu não queria sentir esperança, não queria sentir aquela sensação sombria de que eu estava desistindo deles, que eu falhei e os condenei. Por quê ele estava perguntando essas coisas? Ele estava tentando sondar? Estava blefando? Estava brincando comigo?
– Por quê está me perguntando essas coisas? – Sufoquei meu desespero dentro de mim e tentei parecer o mais displicente possível. Alec hesitou um minuto, e havia um brilho estranho em seus olhos, que o deixavam ao mesmo tempo ameaçador e atraente.
– Por quê quero saber o que você faria se saísse daqui, sem sua família, estaria sozinha. Tentaria se matar como seu pai? – Aqueles olhos varreram meu rosto com uma avidez que me perturbou, como se meu destino fora daqui realmente o interessasse. Mas aquela pergunta penetrou em meu cérebro e se arraigou fundo em minha mente. O que eu faria? Se não houvesse nada mais para mim lá fora, se existisse uma chance de Aro me deixar ir, para onde eu iria? Não respondi aquela pergunta, por que primeiro, eu teria que encontrar uma resposta para dar a mim mesma.
Pensei muito nessas coisas durante toda a noite, tanto que me sentia fraca e sonolenta pela manhã. Eu sonhava com eles todas as noites, mas naquela noite em particular, eu senti que meu cérebro iria explodir. Acordei aos berros com Alec me segurando pelos ombros, os travesseiros estavam arruinados, penas e plumas espalhados por todo o quarto.
– Ness, acorde. – Eu ouvi Alec dizer, mas eu não conseguia abrir meus olhos. Ouvi-lo me chamando daquele jeito me fez lembrar Jacob e meu coração afundou no peito. Reunindo todas as forças que me restavam eu forcei meus olhos a se abrirem. A primeira coisa que vi, foram os olhos profundos e vermelhos de Alec a dois centímetros de distancia.
Fiquei olhando para ele, incapaz de me afastar daquelas cores intensas, nadando em sua íris. Era como um mar de sangue revolto e feroz, mas impossível de se resistir. Era lindo e aterrorizante. Mas eu não estava com medo. (n/a: uia *-*)
– Por que está me olhando assim? – Eu sussurrei. Minha voz estava frágil e atormentada, ele parecia pacífico, mas seus olhos não mentiam para mim. Seu inimigo não te olharia daquele jeito.
– Fuja comigo. – Seu hálito doce e suave acariciou meu rosto e por um momento eu pensei ter ouvido errado. Mas as palavras dele ainda ecoavam em meus ouvidos e seus olhos estiveram me pedindo isso o tempo todo, agora eu entendia. Só não conseguia entender o por que. Ele – juntamente com sua irmã – eram os braços de Aro, aqueles que tornavam possível qualquer sonho extravagante daquele velho ambicioso. Essa era a vida dele, isso é o que ele era.
– Está brincando comigo? – Foi tudo que consegui dizer, minha mente estava congelada com o choque. Alec sorriu e eu pensei estar vendo coisas, como isso aconteceu?
– Nunca falei tão sério em toda minha... Existência. – Ele disse. Deus do céu, ele estava realmente me propondo isso? Ele me seqüestrou, me manteve presa aqui todo esse tempo, e agora estava me propondo uma fuga romântica ao pôr do sol? No mínimo ele era louco. Agora eu entendia sua pergunta “e se eles estivessem mortos?”, ele estava tentando me dizer que, como eu não tinha mais nada mesmo, poderia muito bem fugir com ele. Era um absurdo. Seus olhos faiscaram nos meus com a intensidade do que ele estava prestes a dizer. Eu me encolhi, com medo do que ouviria.
– Pense bem Nessie. Eu poderia te tirar daqui, eu conheço todas as saídas, conheço essa cidade como conheço minhas próprias mãos. Eu poderia te manter a salvo... - Suas palavras saíram duras e suplicantes.
– Pare. – Eu não queria mais ouvir nada. Aquilo estava errado.
– Poderia te levar para longe deles. Acabou agora. – Ele continuou sem dar ouvidos a mim.
– PARE. – Gritei e me afastei dos braços dele. Eu estava furiosa, magoada e confusa. Eu não queria ouvi-lo dizer que eu não tinha escolha, que tudo estava acabado para mim, isso só intensificava a dor que me consumia por dentro. Eu sentia como se as paredes estivessem se estreitando ao meu redor, e em pouco tempo me esmagariam. Encolhi-me como uma bola na cama o mais longe dele que o espaço me permitia e tentei controlar minha dor e confusão. Ouvi-o se levantando e caminhando pelo quarto silenciosamente. Não ousei olhá-lo, não queria ver seu rosto e seus olhos me pedindo para fugir com ele. Mesmo que não me restasse nem uma folha seca, eu não poderia aceitar sua oferta. Isso seria uma traição das mais sujas e imperdoáveis.
– Não posso te deixar aqui para morrer. – Sua voz era fria, cortante, ele estava tentando me fazer ser razoável. Mantive minha cabeça abaixada nos joelhos, e tentei suportar as palavras dele me perfurando como facas. – Eles vão te matar, sabe disso. Sua sorte é que Aro é um dramaturgo insolente. Está jogando, fazendo seu teatro, se não fosse por isso já estaria morta. – Eu sabia que ele estava certo, só não entendia como Aro foi de pai supremo a dramaturgo insolente.
– Você e sua irmã o servem fielmente há séculos. De todos os membros da guarda, você e Jane são os mais fiéis à causa, se deleitam com o poder e prestígio dos Volturi. Por que isso agora Alec? – Eu não estava inteiramente certa de que queria a resposta, mas eu precisava saber, precisava entender o que estava acontecendo e bem, precisava tomar uma decisão. Ficar e morrer, ou fugir e viver eternamente com essa dor lancinante em meu peito?
Ele me olhou consternado, como se eu estivesse perdendo algum detalhe óbvio. Aqueles olhos cruéis não combinavam com sua expressão aflita.
– Eu... – Ele hesitou, dando as costas para mim. – Eu estou cansado. Cansei dos jogos de domínio de Aro, cansei das reclamações de Caius, cansei da obediência cega que Jane tem por eles, cansei dessa eternidade de servidão. O que eu tenho feito durante séculos é limpar a bagunça de outros imortais, mas agora, Aro parece querer ultrapassar algumas linhas que até então nós evitávamos. Eu não quero mais isso. – Ele se virou de frente para mim e me olhou com indiferença. Não deveria ser fácil para ele falar essas coisas, mas nenhum de nós estava iludido com a idéia de que qualquer escolha que fizéssemos seria de alguma forma fácil. Ambos estávamos escolhendo entre morte e traição.
– Criaturas como nós precisam desesperadamente de um propósito, mas o problema conosco é que nossos propósitos geralmente não são tão duráveis quanto nossas vidas. Eles acabam logo nos primeiros anos e o que nos resta é a eternidade buscando algo pelo que lutar e viver. – Disse ele, pensativo. – Mas pior do que viver uma existência vazia é descobrir que dedicou tempo demais em mentiras, coisas que nunca fizeram o menor sentido. – O silêncio que se seguiu me fez entender de uma maneira perturbadora o que ele estava querendo dizer. Esperei que ele continuasse.
– Você faz sentido pra mim. – Eu mal tive tempo de me chocar com aquelas palavras e Alec já estava a centímetros de mim. – Pela primeira vez em duzentos anos eu sinto que minha vida faz sentido. Sentar-me nesse quarto todos os dias e te observar durante horas tem sido a coisa mais importante que eu fiz em todos esses anos, eu faria isso por toda eternidade.
– Alec... – Arfei, era como receber um soco no estômago. Aquelas palavras eram absurdas e não faziam o menor sentido, mas mesmo assim me tirou o ar e a capacidade de pensar ou agir. Meu cérebro simplesmente não conseguia absorver a idéia de que Alec – um dos vampiros mais letais da guarda Volturi – estava me dizendo essas coisas. Ele pegou minhas mãos e isso me assustou de início, a pele dele era como seda fria e o calor da minha pele era um contraste agradável com a sua. Eu nunca tinha sentido nada como ele. Alec era ameaçador por natureza, mesmo quanto estava tentando ser gentil, ele tinha aquela elegância ofensiva, seus olhos escondiam tantos mistérios que se tornava quase impossível prever seus pensamentos. Ele era irresistivelmente nocivo, e eu não sabia se estava encantada ou apavorada com ele. Eu me sentia a própria Pandora, fascinada e aterrorizada com o conteúdo daquela caixa completamente intransponível que ele era.
– Fuja comigo. Por favor. – Ele sussurrou, apertando minhas mãos contra seu peito. - Por mais que me odeie, por mais desprezível que você me ache, me deixe salvar sua vida. Só salvando você eu poderei salvar a mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

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