Nico Di Angelo

Provavelmente Thalia Grace só me beijara durante nossa confraternização com os bichos hippies, porque estava sobre o efeito de ervas alucinógenas. Eu sentia uma grande atração física por ela, e talvez mais do que isso.

Estava praticamente em cima dela com uma mão em sua cintura e a outra em sua coxa, ela com a mão dentro da minha camisa e cravando as unhas vermelhas no meu cabelo. Os hippies não pareciam incomodados, ao contrário, curtiam suas vibes naturalmente. E o ar começava a faltar.

- Grace! Di Angelo!

Rezei para ter associado a voz a pessoa errada.

Me separei da Thalia que parecia confusa ao reconhecer o nosso professor de ciências.

Professor Stevans estava parado junto com um cara que havíamos visto durante o passeio. Usava sua calça jeans largada, camisa frouxa, botas triangulares e esfarrapadas, e os óculos redondos iguais aos do John Lennon - Harry Potter. Ele não parecia nada contente.

Estávamos ferrados.

- Bodão? - indagou Janne.

Janne era a única hippie que vestia saia florida e comprida ao invés de calça boca de sino. E tudo o que não precisávamos era dela tendo delírios e mostrando ao nosso professor que estávamos chapados. Porém o senhor Stevans encarou-nos, principalmente a Janne, catatônico e um sorriso formou-se em seus lábios.

Esperava que sua reação fosse gritar conosco, mas ele agia como se estivesse pouco se lixando para Thalia e eu. Ele e Janne olhavam um ao outro com os olhos marejados (N/A: Nico, é brilhando. E não, não fica muito gay assim) e acreditados.

Bob - cover do Jimi Hendrix - começou a tocar Here Comes The Sun.

Little darling, the smiles returning to the faces

(Queridinha, os sorrisos estão voltando aos rostos)

Little darling, it seems like years since it's been here

(Queridinha, parece que foram anos desde que esteve aqui)

Here comes the sun, here comes the sun

(Lá vem o sol, lá vem o sol)

And I say it's all right

(E eu digo que está tudo bem)

Eles - Janne e Stevans - caminharam um na direção do outro e deram um abraço. Em poucos segundos tornou-se um grande abraço coletivo, com todos os hippies abraçando meu professor e dando tapinhas em suas costas.

Thalia pigarreou.

- Vocês se conhecem? E quem é bodão?

- Quem não conhece o bodão? - suspirou Linda.

- Bodão é o apelido do Stevans nos velhos tempos. - explicou Bruce, o louco que constatou que nossa áurea é bacana - Ele sempre estava de bode por causa de algum broto.

- Verdade. Bons tempos quando nós cruzamos os Estados Unidos na velha vã psicodélica do David. - confirmou o professor encarando o céu em seu momento nostalgia - Espero que vocês não tenham drogado meus alunos.

Eles começavam uma conversa empolgada quando o guia do parque, que acompanhava nosso professor, disse:

- Chamarei a polícia, essas pessoas invadiram a reserva! - ele correu para perto do telefone. - Temos inva...

O homem desabou sobre a relva sem concluir a frase. Atrás dele o hippie chamado John segurava uma seringa de dardos tranquilizantes, que ele provavelmente pegou em uma das cabines com utensílios veterinários. Tinha dopado o funcionário do parque.

Todos os olhares focaram-se em John.

- Relaxem, bichos. Ele só vai dormir por algumas horas. - defendeu-se agachando perto do cara e pegando um pedaço de papel do seu bolso - E agora vocês tem um mapa.

- Talvez eles não sejam tão paz e amor. - sussurrou Thalia.

- Por Jáh, o que nós fizemos? - gritou o professor Stevans escondendo o rosto nas mãos - Thalia, Nico, onde estão o restante dos alunos?

- Podemos levar você até onde está o restando do pessoal antes do anoitecer, mas precisaremos do mapa. E eu não vou carregar a bela adormecida aí não. - disse apontando para o cara deitado babando.

Finalmente eu era o navegador. Thalia e o Professor Stevans vinham comigo na frente, atrás vinham os hippies, e atrás dos hippies John e Billie sustentavam o corpo do funcionário do parque.

- Olha só no que a brincadeira de vocês deu! Provavelmente o colégio e o parque serão processados e eu demitido por justa causa. - criticou. - Dá para explicarem o que vocês estavam pensando quando se embrenharam na mata?

- Sexo, bicho. - respondeu Duff do seu jeito lerdo.

Não contive a risada.

- Estava falando com essas crianças.

- Adolescentes. - Thalia corrigiu. - E pela milionésima vez já disse que nós nos entretemos em uma conversa animada e nos distanciamos do restante dos alunos, não foi proposital. Devemos ter entrado em um trilha paralela.

Não contaríamos a verdade tão facilmente. Se dedurássemos os Stoll por terem roubado o mapa do professor nós todos seriamos expulsos (N/A Ou mortos, considerando que Travis tem uma Winchester), é mais conveniente dizer que nos perdemos por acidente.

- E essa é seu explicação de como acabou se atracando com o Di Angelo?

- Primeiramente eu não sou um animal para me atracar com alguém, bicho. Sou uma pobre adolescente que foi induzida a usar drogas que alteraram minha percepção. - a Punk fez-se de vítima enquanto caminhávamos pela trilha. - Nico, você não diria que estava fora de mim?

Realmente eu não cheguei a entrar em você. Pensei.

- Diria que nunca fez nada mais sensato. - respondi recebendo um olhar diabólico daqueles olhos azuis elétricos.

- Vocês deveriam ter previsto que se perderiam!

- Ninguém poderia prever tudo isso. - falei.

Adentramos a mata por mais alguns metros até chegarmos a clareira onde era nosso ponto de encontro e ... nos chocarmos. Quase não podíamos enxergar através da névoa formada pelo fumo. Oito adolescentes com um cigarro verde amarelo entre os dedos e muito chapados. Annabeth deitada sobre a relva gargalhava. Rachel divida o tempo entre tragar e balbuciar coisas sobre duendes. Havia garrafas de uísque e vodka atiradas na relva, uma Winchester 22 e uma gilete cor-de-rosa.

Eram informações demais para mim.

Aceitei entrar na mata com os irmãos Stolls. Nos perdemos. Thalia era minha dupla. Nos perdemos dos perdidos. Encontramos invasores hippies cantando mantras dentro da mata. Thalia teve alucinações com pássaros. Thalia me beijou. Meu professor de ciências nos interrompeu. Os hippies chamaram o Bodão. Meu professor era o Bodão. Eles se conheciam. Eles rodaram o país em uma vã psicodélica. O funcionário do parque queria prender os hippies fãs do Led Zeppelin. O xará do John Lennon dopou o funcionário do parque com um dardo tranquilizante. Achamos nossos amigos. Todo mundo estava vendo gnomos.

- Ou Ou ... - exclamou Leo ao notar nossa presença.