Be Alright escrita por Carol Munaro
– Você se incomoda de eu vir visitar a Mel?
– E por qual motivo me incomodaria?
– Bem, você sabe...
– Olha, na boa, vocês são amigos e eu não vou interferir nisso. Seria escroto e ignorante da minha parte.
– A gente também podia voltar a ser amigos. - Isso é algum tipo de piada?
– Escuta, você beijou minha namorada, inventou histórias sobre mim, fez uma pá de coisa. Acha que confiança é que nem fênix que surge das cinzas?
– A gente podia tentar, pelo menos.
– Sinceramente, não dá. Valeu. - Ele levantou as mãos, se levantou e saiu de lá. Terminei meu lanche e peguei outro. Terminei e fui pro quarto da Mel. A dona Claudia disse que se eu quisesse passar a noite com ela, tudo bem. Então, ficarei. Cheguei no quarto e ela tava trocando de canal impaciente.
– Onde tu tava?
– Comendo ué.
– Demorou.
– To aqui princesa. E vou ficar a noite toda. - Ela sorriu e estendeu os braços pedindo abraço.
– Mathew foi falar comigo agora.
– O que ele queria.
– Perguntar se podia visitar você. Como se ele não tivesse vindo. - Ela riu.
– Só isso?
– Ele quer voltar a ser meu amigo.
– Estranho. - Assenti e ficamos em silencio. - Será que vai dar tudo certo dessa vez? - Suspirei. - Tipo, não entre a gente, to querendo falar: será que vamos ter uma vida tranquila agora?
–Dessa vez vamos. - Ela sorriu e deitou no meu ombro, adormecendo um pouco depois. Dei um beijo na testa dela e fui pra um sofá pequeno que tinha lá e deitei. Fiquei pensando se eu contava ou não pra Mel do beijo. Na época que o Victor fez aquela merda toda com o traficante, prometi que não esconderia nada dela e que também não mentiria. Quando ela sair do hospital eu conto, é melhor.
Amanhã eu iria visitar o Victor. Faz tempo que não falo com ele. E aproveito e pergunto se o John tá sofrendo muito lá dentro. O Victor não iria pegar cadeia mesmo, isso eu sabia, ele só tava lá esperando o julgamento ainda, assim como o John. Mas nem sei se o John vai ficar vivo até o julgamento. Enfim, foda-se ele.
Acordei e a Mel tava dormindo ainda. Olhei no celular e era 10h00. Dei um beijo na testa dela e a mãe dela chegou. Me despedi, passei em casa, tomei banho e fui visitar o Victor. Cheguei lá e entrei numa salinha, tipo a que a Mel ia quando me visitava.
– Poxa, pensei que tinha esquecido de mim. - Ela disse entrando e eu ri.
– Não. É que a Mel tava no hospital, ainda tá, mas ela tá bem melhor.
– Acharam o John.
– É, eu sei. Eu que achei ele. - Contei a história pra ele. Terminei e ele olhou assustado pra mim.
– E ela tá bem?
– Tá. Acordou ontem. E o John?
– Você sabe o que acontece com o povo que faz esse tipo de coisa. Ainda mais aqui dentro. E como assim "acordou"?
– Quando o pai do James tava fugindo com ela, ele bateu o carro. E foi feio o acidente. Ai, ela ficou em coma. E sei como é que tratam presos que nem ele. - Bom, pra quem não sabe e não sei se já falei, os outros presos quando descobrem o que o "cidadão" que nem o John fez, torturam, batem, essas coisas.
– Soube que tu tá trabalhando num orfanato.
– É a minha pena. Provavelmente a sua vai ser a mesma coisa.
– E como tá sendo lá?
– Divertido até.
– Tem certeza? Pela sua cara...
– Uma vez eu fui passar o fim de semana na casa do pai da Mel com ela. E uma assistente dele que tava lá, ficava dando em cima de mim, até me beijou e tals. Enfim, a Mel bateu nela. E agora, ela tá trabalhando no mesmo orfanato que eu.
– E rolou algo?
– Ela me beijou de novo.
– E você?
– Eu retribui. - Falei um pouco envergonhado.
– A Mel sabe disso?
– Não. Não sei se conto ou não pra ela.
– Bom, sabemos que se você contar ela vai dar um ataque.
– Ela vai querer bater em mim.
– Eu sei. Mas acho melhor você contar.
– Por que?
– Do jeito que eu te conheço, se você não contar vai ficar com peso na consciência. - É, ele tem razão.
– Vou contar quando ela sair do hospital. É melhor. - Ficamos conversando durante mais um tempo e eu fui embora. Cheguei em casa só comi e fui pro orfanato. Fui mais cedo porque quero sair mais cedo de lá hoje. Pra eu ficar mais tempo com a Mel no hospital.
Cheguei no orfanato e entrei. Fui direto pros quartos arrumar as camas. Quando entrei no primeiro, a Jenny tava lá.
– Que susto, garoto. - Ela disse colocando a mão no peito e eu ri fraco.
– Tava fazendo o que de errado pra tá assustada assim?
– HAHA que engraçado. Tá alegre. O que aconteceu?
– A Mel acordou.
– Contou pra ela?
– A gente prometeu não tocar mais nesse assunto.
– Eu sei, mas se você contou, ela vai querer vim até aqui quebrar minha cara.
– Relaxa. E eu ainda não contei.
– Vai contar então?
– Não vou conseguir esconder dela. - Ela murmurou um "hmm" e terminamos de arrumar os quartos em silencio. O resto do dia foi igual aos outros. A diferença é que sai mais cedo.
– Ela tá no hospital ainda?
– Tá. Acho que ela sai em menos de uma semana.
– Vai direto pra lá?
– Não. Vou passar em algum lugar pra comer um lanche. Quer ir? - Ela me olhou estranha. - É revoltante comer sozinho, eu diria. - Ela sorriu e assentiu. Entramos no carro e fomos numa lanchonete que ficava lá perto. Fizemos o pedido e nos sentamos.
– Por que você foi despedida pelo senhor Holden?
– Eu pedi demissão. To fazendo faculdade de pedagogia e seria melhor eu trabalhar já com crianças.
– Entendi.
– Já sabe o que fazer? - Como eu tava mastigando, fiz com a cabeça que não.
– Acho que administração, mas não tenho certeza. Envolve muita conta. - Ficamos conversando sobre coisas aleatórias e, depois que eu terminei de comer, fui pro hospital. Cheguei lá e já fui direto pro quarto.
– Achei que ia chegar mais cedo, mo.
– Eu fui comer antes. - Disse dando um selinho nela.
– E como foi lá no orfanato com as crianças?
– Foi normal, que nem nos outros dias.
– Você pode me levar lá um dia? - Ela perguntou animada.
– Ah... Mel, eu não trabalho lá sozinho.
– Isso eu já imaginava né. Mas qual o problema?
– É a Jenny que trabalha lá comigo. - Ela passou de animada pra um pouco irritada.
– E você ia me falar quando?
– Ontem não deu né, princesa. Mas te levo lá sim.
– Ela tentou alguma coisa? - Engoli em seco. - Dá pra me contar?
– É, ela tentou. Mas a gente já se resolveu. Esquecemos o assunto.
– Você ia me contar?
– Só tava esperando você sair do hospital. - Ela assentiu.
– Mas ela tentou o que exatamente?
– Ela me beijou de novo, Mel. Pronto. - Ela arqueou uma sobrancelha fazendo cara de brava. - Não vai acontecer de novo.
– Se ela tentar algo de novo você vai me contar né?
– Claro. - Ela sorriu.
– Eu te amo.
– Também te amo, princesa.
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