Be Alright escrita por Carol Munaro


Capítulo 38
Depoimento




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Acordei e meu pai ainda tava do meu lado, acariciando meu cabelo. Sorri com isso e o abracei.

– Tá melhor?

– Um pouco. To com dor de cabeça.

– Isso é por causa do choro. Vou pegar um remédio pra você. - Eu assenti e ele saiu do quarto. Uns 2 minutos depois meu pai voltou com remédio e com um copo com água. Tomei o comprimido e me deitei de novo.

– Posso ouvir a sua versão? A sua mãe tava muito nervosa e acho que ela se equivocou em algumas partes.

Contei tudo a ele. Quando o Justin começou a fazer isso e porque voltou a fazer. Expliquei ao meu pai o porque dele ter se entregado também e o sobre a queixa contra o John.

Meu pai ouviu tudo atentamente e quando comecei a contar sobre o John, seu rosto mudou de expressão suave pra ele bufando. E seu rosto também começou a ficar vermelho, muito vermelho.

– Você devia ter contado pra alguém.

– Mas, se eu contasse...

– O Justin seria preso. Isso eu já entendi. Ele sabia o que o John fazia com você desde o começo?

– Não. Ele foi na delegacia quando soube.

– Sua mãe contou que proibiu você de ir visitar ele. - Senti um arrepio na espinha só em pensar que meu pai faria a mesma coisa. - Não vou fazer a mesma coisa. E mesmo se eu quisesse, sei que não adiantaria. - Abracei meu pai como nunca antes. E me deu um alivio tão grande. Fazia tempo que isso não acontecia comigo. - Vai ver ele amanhã?

– Eu prometi pra ele que iria todos os dias. - Ele assentiu.

– Acho que ele não vai demorar pra sair de lá. Na verdade, acho que ele não vai chegar nem a ir pra um presidio. - Olhei confusa pra ele.

– Como você sabe, ou acha?

– Antes de vir pra cá eu procurei pelo advogado do caso dele e perguntei. Ele é réu primário e ainda confessou seus crimes, não vai ser difícil pra ele sair rápido de lá. Ainda mais porque ele deu queixa do John.

– O julgamento dele é daqui a duas semanas.

– Tá nervosa?

– Claro. Até me embrulha o estomago só de imaginar o que vai acontecer lá.

– Fica tranquila, vai dar tudo certo. - Sorri fraco.

– Ah, e sua mãe falou agora quando eu desci pra pegar o remédio, que chamaram você pra dar depoimento do caso do John. Você era a vítima né.

– É... você sabe onde tá o John?

– Não sei. Não perguntei pra sua mãe. Mas não se preocupa, filha. Como eu disse, vai dar tudo certo.

– Mas e se não der? E se o Justin ficar mais tempo naquele lugar? E se nada acontecer com o John?

– Isso são só suposições. Alias, são mais seus medos. Nada disso vai acontecer. Dorme um pouco mais pra descansar, tá?

– Tá. Mas fica aqui comigo? - Ele assentiu e eu adormeci logo.

Acordei e meu pai não tava mais do meu lado. Olhei no relógio e eram cinco horas da manhã. Eu tava sem sono, dormi a metade do dia ontem. Fiquei na cama até dar a hora de eu levantar pra ir pro colégio. Por mais que eu soubesse que, se eu pedisse pra minha mãe, ela me deixaria em casa, eu queria ter algo com o que me ocupar e tirar tudo o que tá acontecendo da minha cabeça, pelo menos um pouco. E ficar em casa não ajudaria nisso.

Quando deu o horário, levantei, me arrumei e desci pra tomar café. Meu pai e minha mãe estavam lá já. Dei bom dia pros dois e me sentei.

– Achei que iria querer ficar dormindo hoje de manhã. Ou visitar o garoto na cadeia. - Minha mãe falou e eu senti um tom de provocação na voz dela ao falar do Justin. Mas eu não iria fazer a mesma coisa.

– Não, isso eu posso fazer de tarde. E preferi ir pra escola. Não to com saco pra ficar em casa sem fazer nada. - Ela não falou mais nada até o final do café da manhã.

– Se quiser, posso te levar. - Meu pai falou. Sorri e assenti. Uns 15 minutos depois entrei no carro dele e fomos em silencio até a escola.

– Qualquer coisa você me liga que eu venho pegar você. - Ele disse quando estacionou o carro pra eu sair. Assenti e entrei na escola.

No caminho até o meu armário fiquei pensando se as pessoas ali já sabiam do que tinha acontecido. Eu realmente esperava que não. Já foi difícil o suficiente ter que contar o que passei pros meus pais. Imagina pro povo da escola. E eu já tava sentindo pena suficiente de mim mesma pra não impedir que outras pessoas façam o mesmo.

Entrei na sala e senti olhares em mim. É, já sabiam. Não sei como, mas sabiam. Me sentei em uma cadeira e não tinha ninguém em dupla comigo. Melhor assim. Até que o Matt entra na sala e parece que não pensou duas vezes antes de formar dupla comigo.

– Se importa se eu ficar sozinha?

– Pra falar a verdade, me importo. Mesmo eu não gostando dele, eu gosto de você. E não vou deixar você sozinha agora. - Por impulso o abracei. O professor entrou na sala e começou a passar o conteúdo. Pra falar a verdade, não prestei muito a atenção. Mas dessa vez não foi porque fiquei pensando em como o Justin tava, foi porque o Matt só tava contando umas piadas escrotas pra mim, mas mesmo assim eu dava risada.

Acho que eu dava risada e sorria pelo fato de ele tentar fazer de tudo pra eu sorrir. Tudo bem que brigamos algumas vezes pela teimosia dele de tentar fazer eu terminar com o Justin, mas mesmo assim, agora, quando eu e o Justin estamos passando por problemas, ele é um dos únicos a querer fazer eu me sentir melhor. E honestamente, ele tava conseguindo.

As aulas foram passando normalmente, com exceção de praticamente a escola inteira olhar com pena pra mim e pra minha cara de choro.

Não tava sendo fácil como parecia. Eu via as pessoas cochichando de canto e até algo assim: "Tadinha dela. Mas ela sabia no que tava se metendo. Ninguém mandou namorar um marginal." Juro que a minha vontade era de voar no pescoço da menina que disse isso, mas preferi deixar passar. Não queria mais um problema pra mim.

Sai da escola e meu pai tava me esperando já. Entrei e dei um "oi" e um sorriso fraco de lado.

– Então, como foi hoje?

– Normal. Tirando de fato de todo mundo olhar com pena pra mim. Onde a gente vai? - Perguntei ao perceber que não estávamos indo pra minha casa.

– Vou te levar pra almoçar e depois vamos na delegacia, pra você visitar o Justin e também dar depoimento. O delegado ligou e sua mãe disse que depois do almoço você iria lá. - Engoli em seco. Por mais que eu soubesse que dar o tal depoimento seria bom, ao mesmo tempo eu tinha vergonha. Uma coisa é você contar sobre isso pros seus pais ou seu namorado. Outra é falar pra alguém que você nunca viu na vida. E eu tava com vergonha até de contar pros meus amigos, imagina pra um estranho.

Meu pai me levou no Mc Donald's. O mesmo que ele já tinha me levado antes. Comemos e fomos até a delegacia. Primeiro eu tinha que dar depoimento. Meu pai iria falar com o Justin e depois ficaria me esperando do lado de fora.

Entrei na sala do delegado já com o coração na mão. Não sabia por onde começar. Ele pediu pra eu me sentar e começou com perguntas. Até que tava tranquilo. Até essa:

– Você tem alguma ideia de quantos vezes isso aconteceu?

– Desculpa, não entendi a pergunta.

– Quantas vezes o John abusou de você? - Senti meu corpo estremer só de lembrar disso e quando deu por mim, já tava chorando.

– Não sei ao certo. Acho que umas 6, 8 ou até 10. Mais ou menos. - Falei com dificuldade.

– Quando o Justin soube?

– Ele desconfiou sozinho. Eu não contei nada pra ele. Quando ele soube, veio aqui.

– Alguém sabia?

– Só uma amiga minha. Ela soube do dia em que isso começou, só.

– Qual o nome dela? - Passei os dados da Mari pro delegado e ele disse que ela iria ter que ir lá depor também.

Pra mim, a pior parte do depoimento já tinha passado e eu tava mais tranquila. Sai da sala do delegado e fui falar com o meu pai. Não sei ao certo quanto tempo fiquei lá, só sei que eu tava com fome.

– Como eu disse que faria, falei com Justin. Ele tá preocupado com você. Disse que você tem chorado muito ultimamente.

– É, eu sei.

– Vai falar com ele agora? - Eu assenti e entrei na mesma salinha que ontem. Esperei uns minutos e ele entrou pela porta. Me levantei e o abracei. Ele me beijou e nos sentamos.

– Como você tá, princesa?

– To melhor.

– Foi pra escola hoje?

– Fui. Tá horrível lá.

– Falaram alguma coisa pra você? - Ele perguntou já vermelho de nervoso.

– Não, claro que não. Mas odeio quando eles ficam me olhando com pena.

– Isso vai passar logo. As pessoas esquecem em 2, 3 dias esse tipo de coisa. E seu pai me disse que você tava dando depoimento. Como foi?

– Constrangedor. Tipo, eu tive que contar uma coisa que é motivo de vergonha pra mim pra uma pessoa que nunca tinha visto na vida.

– Por que vergonha? Você não fez nada de errado. - Eu não falei nada e ele me abraçou.

– E sobre o que você e meu pai conversaram?

– Sobre tudo um pouco. Ele disse que você contou tudo pra ele e disse que não tinha duvidas do que eu sentia por você. E que, ao contrário da sua mãe, não impediria você de vir me ver ou de continuar namorando comigo quando eu sair daqui. - Sorri e ele me beijou.

– Confesso que to um pouco ansiosa.

– Pra quando eu sair daqui?

– Também. Mas eu tava falando do julgamento. Se tudo der certo lá, você já vai tá livre. - Ele sorriu.

Ficamos conversando durante mais um tempo sobre qualquer coisa que não tivesse a ver com esses problemas. Depois disso, meu pai me deixou em casa. Entrei e minha mãe disse que queria falar comigo. Eu realmente espero que não seja a mesma ladainha de ontem.


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