Eu o via ali caído. Uma grande poça de sangue lhe rodeando. Minha cabeça girou.

O que estava acontecendo?

Eu não sabia de nada, e aquilo aumentava minha aflição. Eu deveria tê-lo impedido de entrar em quadra hoje, ele estava passando mal, mas era tão malditamente teimoso que nem ouviu...

Meus joelhos se moveram. Eu comecei a andar e depois correr. Um tipo estranho de vontade chegava através de mim. Eu precisava chegar até ele. Meu coração pulsou quando consegui chegar a seu lado. Minhas pernas sederam e ajoelhei-me no chão sem importar realmente o líquido escarlate.

Olhei seu rosto. De alguma forma aquilo fez meu corpo ficar tenso. Kuroko estava tão sereno, que assustava. Minha mão foi parar em seu cabelo, logo descendo para a pele pálida da bochecha. Estava fria, sua temperatura caía.

Os murmúrios estavam se distanciando. Eu não ligava para todo aquele povo ao redor, somente Kuroko estendido ali. De algum jeito, me lembrei de verificar o batimento cardíaco. Mas não tinha coragem suficiente. E se eu não o ouvisse?

Lembranças passaram como um flashback. Eu brigando com Tetsuya, nós dois jogando basquete juntos, os momentos em que tivemos.

O primeiro beijo.

Ainda conseguia me lembrar perfeitamente. Seus lábios tocaram os meus timidamente. Eram quentes e aconchegantes. De algum modo, eu conseguia entender nossa conexão. Desde o começo, não éramos simples companheiros de time. Sempre haveria algo mais.

Nossa primeira noite.

Naquele dia, eu pude ver um lado de Kuroko que eu nunca havia visto. Estava tão feliz. Ele era um amante quente. Na cama se soltava, fazíamos loucuras, mas ninguém ligava. Buscávamos cada vez mais um do outro...

Minha cabeça se aconchegou em seu peito. Fechei os olhos. Me assustei, quando não ouvia nada. As lágrimas desceram, mas tentava segurá-las à todo custo. Precisava gritar, e foi o que fiz. Um rugido gutural escapou da garganta, um soneto de tristeza e aflição. A dor saindo, e eu o puxando mais para meu corpo. O segurava com tanta força, um abraço apertado, mas no fundo eu sabia, ele não estava mais ali.

Sem conseguir me controlar, chamava seu nome repetidas vezes. Quem sabe assim ele não acordaria? Quem sabe eu não despertasse, se fosse um pesadelo tudo aquilo? Porém, não era.

Meu peito subia e descia, a procura de ar. Não havia me dado conta mas parara de respirar no momento.

— Kuroko, acorda...Kuroko...amor, abre os olhos...Por...f-avor. — Eu sabia, estava lamentável, nem me importava. Eu implorava para que o impossível acontecesse. Sentia um pedaço de mim faltando. Era dolorido! Minha sombra se fora.

Uma mão envolveu meu ombro e virei o rosto na direção. Era Kyoshi que me olhava com compaixão e pena, além de lágrimas. Todos olhavam assim. Riko estava de pé, com o celular na mão. Seus olhos molhados pelo choro e sua boca repuxava tentando conter os soluços.

—Treinadora, faça alguma coisa... ele não respira e seu coração não bate. — Ela encarou o chão antes de voltar a me olhar. Eu tinha plena conciência de que ela não podia fazer nada, mas eu ainda pedi.

— Desculpe. — Murmurou e seu choro veio mais forte. Hyuuga a abraçou.

Seirin estava em volta de mim e Tetsuya quando algumas pessoas de jaleco abriram caminho.

Médicos.

De algum jeito, conseguiram tirar-me dele. Estava tão sem forças que nem pude relutar. Essa havia sido a última vez que o vi. Essa foi a última vez que beijei seus lábios tão doces. A última em que acariciei seu cabelo que tanto amava e a última que pude sussurrar "Eu te amo!" em seu ouvido.